31.1.12

A transumância, em tempo frio e seco…

Quando um funcionário cria uma plataforma digital para registo (e gestão?) da avaliação do desempenho docente e lhe é, simultaneamente, conferida competência para interpretar o quadro legislativo regulamentar, corremos o risco de meter no mesmo saco quem coordena todo o processo de avaliação e avaliados.

Vem isto a propósito da impossibilidade de atribuição das menções qualitativas de excelente e de muito bom aos membros designados  pelo conselho pedagógico para constituírem as comissões coordenadores de avaliação de desempenho docente. Pensar-se-ia que essa escolha resultaria do mérito dos designados para a tarefa e que competiria ao referido órgão, concluído o processo, avaliar se, efetivamente, tinham desempenhado a função com isenção e rigor.

Mas não! Qualquer diretor, ao submeter a avaliação por si determinada, depois de ouvido o departamento de cada um dos docentes em causa, e não o conselho pedagógico, vê-se confrontado com a proibição de não poder ir além da menção de bom, caso o professor (membro da CCADD) não tenha requerido aulas observadas pelo mesmo diretor.

Em dois anos, o ministério da educação não foi capaz de compreender a incongruência de aplicar o mesmo critério a situações distintas. Hoje chega ao fim um processo de avaliação insustentável!

Pelo menos, para e por mim!

(De qualquer modo, esta minha crítica não faz muito sentido, pois há muito que conheço a qualidade do informático e, sobretudo, a sua capacidade de vender maçãs podres aos amigos, sejam eles de sindicato ou de partido.) 

28.1.12

Os símbolos

Antes era cerração, depois esplendor; agora é só bruma! De repente, os credores ficaram com pressa!

E nós, que fazemos? Matamos os símbolos, em nome da produtividade. Mas, de verdade, o que se passa é que os credores detestam  palavras como “independência”, “liberdade”, “república”, “democracia”…

E nós, fazemos-lhes a vontade!

/MCG

24.1.12

Falta de visão…

O euro da periferia vale cada vez menos porque o país faz apostas erradas há mais de 30 anos, designadamente na vertente educativa. Voltámos as costas ao Atlântico, abraçámos sofregamente o euro, sem qualquer interiorização da identidade europeia. Turistas apressados, eliminámos a fronteira, caindo de chofre nos braços dos credores.

A falta de cultura europeia impede-nos de dialogar, olhos nos olhos, com os dirigentes europeus, e, mais grave, impede-nos de desenhar um sistema educativo transnacional capaz de nos tornar parceiros e não pedintes…

As apostas de Crato são empobrecedoras porque visam recriar um nacionalismo bacoco imbuído de rigor positivista e, sobretudo, porque a escola pública programa a desigualdade entre os portugueses… A Crato falta visão europeísta e sem ela qualquer revisão curricular não passará de um ersatz…

22.1.12

O silêncio

Há dias tão longos, tão pesados que o melhor é matar-lhes a palavra!

Há palavras tão nuas, tão cruéis que o melhor é calá-las!

16.1.12

O escritor e o sátiro

Rui Zink foi à Escola Secundária de Camões, no âmbito da Semana das Profissões, falar sobre o prazer de escrever e sobre a precariedade do ofício da escrita. Explicou que escrever é um ato que exige cultura, talento, técnica, persistência e, sobretudo, vontade de desmontar os mecanismos de manipulação das consciências.  Soube escolher os exemplos, adequando-os e explicando-os a um público pouco familiarizado com a profissão de escritor, mas que soube entender o tom satírico, e terá registado a sugestão de leitura dos novos autores portugueses: Hugo Valter Mãe, José Luís Peixoto, Gonçalo M. Tavares, Dulce Maria Cardoso…

Da construção do discurso oral sobressaiu a capacidade de associar dados distantes e insólitos desencadeadores do sorriso dos interlocutores,  reforçando a ideia de que o riso é a melhor resposta à crise que nos é imposta.

No entanto, por detrás do tom jocoso e lúdico, foi possível notar o desencanto de quem sente que os portugueses continuam a reconhecer em Rui Zink não o escritor mas o sátiro.

PS: A iniciativa dos “camonianos” revela que estes jovens têm futuro!

14.1.12

A cinza!

É apenas uma rua sem princípio nem fim, dois ou três portais alçados; por eles sobem (ou descem?) três irmãs declinadas, e desde sempre enlutadas…

Perdidas as três irmãs, ficaram-me, indistintos, vários atalhos… e uma rua sem princípio nem fim!

11.1.12

Atonia

Faltam as cartas e as recomendações

os amigos escasseiam

e as abelhas esquecem a polinização

atónito

raciono as horas

10.1.12

Iníqua justiça

«Porem compre aos Reis seer justiçosos, por a todos seus sogeitos poder viir bem, e a nenhuum o contrairo.» Fernão Lopes, Crónica de D. Pedro I

Fernão Lopes, se hoje vivesse, estaria certamente boquiaberto face a um Estado que permite que os cidadãos da Madeira, ao dirigirem-se a uma farmácia, estejam a ser tratados de modo diferente dos do Continente.

Outrora, o Rei D. Pedro I procurava a todo o custo assegurar a equidade, independentemente dos afectos; hoje, o Presidente da República passa ao lado da iniquidade que grassa neste pretenso Estado democrático, perdendo definitivamente o direito a ser considerado um «homem bom».

« … porem a justiça he muito necessaria assi no poboo como no Rei, por que sem ella nenhuma cidade nem Reino pode estar em assessego.» ibidem

8.1.12

A vertigem do pó

O sonho da ascensão materializa-se, na maioria dos casos, em objetos utilitários e / ou simbólicos. Estes representam o poder e a vaidade humana - e exigem criatividade.

Hoje, ao atravessar a Praça D. Luís (Lisboa), repeti a sensação que, outrora, sentira no Largo Sá da Bandeira (Santarém): a arte, em regra, serve a megalomania do homem e o criador pouco mais é do que um servo.

Entretanto, entre estes dois tempos, experimentei e desafiei a profecia, sem nunca ter realizado a sonhada ascensão familiar, sem nunca ter compreendido a vaidade humana, pois, cedo, saboreei o pó de que somos feitos…

Desfeito o oráculo, a vertigem do pó entranhou-se definitivamente em mim, tornando-me estranho a tudo o que deriva do TER / do PODER.

5.1.12

Quebrada a linha, só a proa esfíngica se inscreve na memória. Quebrada a espera, só a elegia sossega …

A partir de agora, já não há regresso!

(Nova nau se vislumbra no cais da partida…)

2.1.12

Um dia à espera…

Um dia à espera… campos desertos e nas ruas, poucos transeuntes. Só nas superfícies comerciais, na zona da restauração, o movimento de gentes se faz notar. As lojas irremediavelmente fechadas…

Para além da espera, ruínas – prédios que implodem no interior da cidade ; o castelo imponente, encerrado.

Nas Urgências, o povo manso; o resto são regras de manchester (Quem as verifica?) No SO, 2 B, a humanidade presa por fios, ligada à máquina – sinal sebástico do milagre da ciência! A voz ininteligível, a certeza do nome, a VIDA!

Na espera, o chilrear dos pássaros e, neste longo intervalo, algumas ideias. Afinal, o Menino Jesus de Alberto Caeiro é uma adaptação do Cristo lusitano de Guerra Junqueiro. - Quem o diz? - Unamuno, sem ainda ter conhecimento da existência de Pessoa / Alberto Caeiro. Para além disso, a certeza de que não vale a pena construir sobre ruínas!