2.6.13

Um sorriso desdentado

Rari quippe boni... Juvenal, Sátira III

Só posso concordar com Juvenal:As gentes de bem são raras!
 
(Estação do Oriente, Autocarro 728. Destino: Portela)
 
O autocarro, vazio, entra ao serviço. 7 passageiros dispersam-se. No fundo do articulado, 20 lugares vazios. Só um lugar, junto à porta, é ocupado por uma rapariga entretida com o smartphone... 
Entretanto, um sujeito, atarracado, cabelo cortado à escovinha, aproxima-se da jovem e senta-se ao seu lado. Procura o contacto e simula uma desculpa. A perna esquerda balança sempre na mesma direção, os olhos sorridentes perscrutam o ecrã e, subitamente, os olhos dela interrogam-se, e ele desfaz-se num largo sorriso desdentado - faltam-lhe dois dentes!
A jovem refugia-se mais uma vez no smartphone, a perna esquerda procura o encosto, o braço esquerdo passa repetidamente a mão pelo que sobra do cabelo, os olhos gulosos somem-se na passageira. 
Percurso terminado, o passageiro contrariado sai, não sem antes se voltar num gesto obsceno. 

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