21.10.14

Tanto fastio já aborrece...


E ponde na cobiça um freio duro,
E na ambição também, que indignamente
Tomais mil vezes, e no torpe e escuro
Vício da tirania infame e urgente;
Porque essas honras vãs, esse ouro puro,
Verdadeiro valor não dão à gente.
Milhor é merecê-los sem os ter,
Que possuí-los sem os merecer.


Camões, OS LUSÍADAS, Canto IX, estância 93.

Sem querer ofender o desconchavo de alguns jovens nem rejeitar o argumento de que, para eles, não faz qualquer sentido ler Camões, autor do longínquo século XVI, até porque já no tempo do Poeta o argumento parecia válido para os invejosos, não posso deixar de me interrogar sobre a razão de tal fastio.
A pedagogia recomenda que o professor se desdobre em estratégias, e existem umas tantas que estão para a leitura como a margarina está para a manteiga, eu insisto que não há leitura sem perceção visual (ou tátil, no caso dos invisuais).
Não é possível ler, sem livro, de livro fechado, na página errada, a conversar ininterruptamente com o parceiro do lado...
Parece-me, assim, que o problema do fastio é de natureza cultural, como já acontecia no tempo de Camões. É um problema de valores: de falta de valores ou de falsos valores...
Afinal, se já desistimos de combater os Serracenos, continuamos a desprezá-los e, sobretudo, vivemos mergulhados na cobiça, na ambição, na tirania, na vaidade, ESSE OURO PURO que corrompe o ESPÍRITO...

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