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4.1.14

De Negro Vestida, um livro "feliz" com um título triste

Em LER A TRISTEZA escrevi que "os livros do meu país são tristes, todos!» Para contrariar o meu pessimismo, João Paulo Videira escreveu um livro "feliz" com um título triste "DE NEGRO VESTIDA"... 
Agora que concluí a leitura, verifico que o autor revela uma fé inabalável no «poder resiliente do amor», isto é, na capacidade de recuperar de relações de conveniência, de submissão, de corrosão de sentimentos, atribuindo essa competência à mulher que, quando imbuída da vontade de mudança, consegue contaminar todos os que lhe são mais afins, como acontece com Maria de Lurdes e filhos... 
Esta vontade de combater a submissão da mulher resulta  aparentemente de uma consciência traumatizada pela secundarização da mulher-mãe, a doméstica", confinada à função procriadora e, em tudo o resto, desprezada. Até na hora da morte! 
Este romance, ao dar voz à mulher, ajusta contas com o homem. Incapaz de distinguir o sexo do amor, incapaz de respeitar a mãe dos seus filhos. O homem cobridor!
A este homem cobridor é lhe atribuído um instinto predador que só algumas mulheres possuiriam, sem, todavia, o poderem consumar...
Em síntese, este longo romance, 356 páginas, mais 10 do que o Memorial do Convento, por um lado, ajusta contas com o homem machista do estado novo, mas também da revolução dos cravos; por outro lado, surge como uma forma de esperança num tempo de acentuada degradação das relações interpessoais e familiares.
Finalmente, a leitura do intertexto deixa ver o fascínio do autor, do narrador, do contador de histórias, do «maestro das palavras que orquestrou sua sinfonia» pela narrador saramaguiano. Fascínio pela luz e pela sombra, em particular por uma «visão» que, se não vê por dentro, "fala" ao coração...:
«E veem a vida passando por si enquanto passam por ela. E tudo o que veem, sentem nas mãos que levam dadas e recebidas...» 
E para concluir, relembro, de memória provavelmente truncada, Alexandre O'Neill: "Sempre que escrevo um verso, viro-me de costas para o Fernando Pessoa".

31.12.13

De Negro Vestida _ leitura ingénua

"Não cristalize o leitor esta imagem que tem agora da nobre e lutadora Maria de Lurdes." De Negro Vestida, pág. 104.
Meu Caro João Paulo Videira, espero não cristalizar, pois o autor mostra saber criar pontas que, mais cedo ou mais tarde, se vão revelar significativas para a construção da narrativa, para o desenho da intriga de suspense. Por outro lado, o romance começa assumir um ponto de vista que nem sequer a mulher-autor costuma defender com tanta galhardia... Até ao momento, o narrador privilegia o conhecimento do feminino, bestializando o homem, deixando-o às voltas com a sua inconstância e falta de rigor...
Entretanto, como leitor sem diploma que o certifique, se tivesse que reescrever o romance como aconteceu com  Eça de Queiroz, por exemplo, no caso do Crime do Padre Amaro, não sei se não eliminaria algumas considerações de ordem estilística e, sobretudo, algumas passagens que põem a nu a dificuldade em "recriar" cenas de sexo... São pequenos capítulos que me parecem desnecessários ou, pelo menos, que exigem uma subtileza estilística difícil de alcançar... 
Bem sei que o erotismo é coisa antiga, exige outros sabores e perfumes, mas à medida que ia lendo, e sabendo que o autor procura um leitor, comecei a interrogar-me: - Quem é que o autor idealiza como seu leitor?
Meu caro João Paulo Videira, estarei certamente a ser injusto! Mas como o autor exige que o  leitor seja autêntico, aí ficam algumas considerações que se me vão colocando neste atribulado final de 2013.

P.S. Com tanta viagem ao Hospital de S. José, dei conta que nas "rotinas" da família de Maria de Lurdes não há doença do corpo que a ataque!

30.12.13

De Negro Vestida

Meu caro João Paulo Videira, como facilmente compreenderás, a minha odisseia no hospital de S. José não me permite ainda decifrar o título. Na verdade só li 34 páginas! Como neste tipo de narrativas, eu costumo aconselhar os alunos a ler atentamente o primeiro capítulo e, no caso de fadiga intelectual, a ler de imediato o último, fica desde já registado que o texto flui como o Almonda natal do outro José, o Saramago, e por isso não sinto qualquer vontade de ir ler os últimos parágrafos... (com a vantagem de não obrigar a exercícios de retroação por causa da maligna pontuação!)
Repara tu na coincidência, o Saramago da Azinhaga, tão perto de Alcanena e longe da Selva, parece que trabalhou neste hospital, de S. José, que me vai impedindo de continuar a leitura..., mas não posso esconder que a narrativa da doméstica Maria de Lurdes, entre-cruzada com a narrativa da Criação do Mundo, ambas sobrevoadas por um narrador guloso e travesso, me trouxeram de imediato um outro memorial distante da Serra de Aires...
Meu caro João Paulo Videira, vais ter paciência, mas este "esgaravunha" vai necessitar de mais leitura para poder continuar este cavaco, embora comece a ter pena da Maria de Lurdes, pois nos tempos que correm ou ela muda de vida, de carlos manuel, de família... ou acabará por morrer na miséria, pois os passos que nos governam nem uma maria de lurdes tiveram na vida. Ou será que têm?