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16.6.15

Dâmaso, o histrião (prova 639)

«E desabafou, num prodigioso fluxo de loquacidade, atirando palmas ao peito, com os olhos marejados de lágrimas. Fora Carlos, Carlos, que o desfeiteara a ele, mortalmente! Durante todo o Inverno tinha-o perseguido para que ele o apresentasse a uma senhora brasileira muito chic, que vivia em Paris, e que lhe fazia olho... E ele, bondoso como era, prometia, dizia: «Deixa estar, eu te apresento!» Pois senhores, que faz Carlos? Aproveita uma ocasião sagrada, um momento de luto, quando ele Dâmaso fora ao Norte por causa da morte do tio, e mete-se dentro da casa da brasileira... E tanto intriga, que leva a pobre senhora a fechar-lhe a sua porta, a ele, Dâmaso, que era íntimo do marido, íntimo de "tu"! Caramba, ele é que devia mandar desafiar Carlos! Mas não! fora prudente, evitara escândalo por causa do Sr. Afonso da Maia... Queixara-se de Carlos, é verdade... Mas no Grémio, na Casa Havaneza, entre rapaziada amiga... E no fim Carlos prega-lhe uma destas!»
Eça de Queirós, Os Maias, cap. XV.

 Dâmaso Salcede, o histrião:

1. Comediante ou jogral, na antiguidade romana.
2. Actor cómico.
3. Actor com desempenho exagerado.
4. Pessoa que diverte ou que não é levada a sério. = BOBO, PALHAÇO
5. Homem vil.

Esta é uma daquelas personagens (tipo) que melhor representa o novo-riquismo do século XIX. Pelo gesto excessivo, pelo registo de língua inadequado e pretensioso, pelo parco saber e, sobretudo, pela mania da imitação. 

Mais do que saber de cor as particularidades da personagem, importa ser capaz de desenvolver, de forma sumária, cada um dos tópicos apresentados, tendo o texto como suporte.

Relembro, no entanto:

I - No Grupo I, avaliam-se conhecimentos e capacidades de Leitura e de Expressão Escrita através de itens de construção. Este grupo inclui duas partes: A e B. A parte A, com uma cotação de 60 pontos, integra um texto, selecionado a partir do corpus literário do 12.º ano, que constitui o suporte de itens de resposta restrita. A parte B, com uma cotação de 40 pontos, é constituída por itens de resposta restrita sobre conteúdos declarativos do 10.º ou do 11.º anos relativos ao domínio da Leitura, podendo apresentar um suporte textual. No Grupo I, além da interpretação de textos/excertos em presença, a resposta aos itens pode implicar a mobilização de conhecimentos sobre as obras estudadas.

11.5.15

Indícios de tragédia n' OS MAIAS ou um não-assunto...


Como diriam alguns políticos, vou tratar de um não-assunto. A quem é que poderá interessar indicar três ou quatro indícios (presságios) de tragédia no romance Os Maias?

  • A lenda da fatalidade das paredes do Ramalhete.
  • Os cabelos pretos e os olhos dos Maias (...) de «um negro líquido» (Afonso, Pedro, Carlos, Maria Eduarda)...
  • A visita de Carlos, a pedido de Maria Eduarda, a «uma pessoa da família»...
  • O ar de meditação sinistra dos olhos «redondos e agourentos» do mocho que fixa o leito fatídico, na Toca. 
  • Maria Eduarda tenta contar a Carlos três vezes a história da sua vida... 
  • A tapeçaria «onde Marte e Vénus se amavam entre os bosques» na Toca.
  • O «móvel divino» do Craft com os quatro evangelistas que «um vento de profecia parecia agitar»; dois Faunos tocavam num desafio bucólico, a frauta de quatro tubos».
  • A parecença de Carlos com a mãe, Maria Monforte (ponte de vista de Maria Eduarda)...
  • A sombra negra das personagens femininas que se projetam na Vénus Citereia...
                                                                              (...)
Para quem não tinha paciência para reler Os Maias, tempos houve em que se aconselhava a leitura atenta do ensaio NOVA INTERPRETAÇÃO DE OS MAIAS, de Alberto Machado da Rosa, in Eça, Discípulo de Machado?, editora Fundo de Cultura, 1962.

Hoje, decidi revisitar o Alberto Machado da Rosa, registando alguns dos indícios da tragédia que se vai avolumando, mesmo que o desfecho pareça longe de qualquer catástrofe...
De qualquer modo, o ensaio permite outras chaves de leitura se quisermos cruzar os planos da conceção do romance: o histórico, o simbólico e o trágico...