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21.8.11

Para lá da terra…

«Na carruagem que vinha do Porto, havia muitas caras lusitanas. Tiram-se à vista, não porque tenham carácter como os ingleses ou alemães, mas precisamente porque não têm carácter nenhum. São todas diferentes. Após tantos anos de tombos, de guerras, de sangrias, a raça ainda não escumou numa fisionomia própria.» Aquilino Ribeiro, Um Escritor Confessa-seLances da Minha Vida, pág.363.

A falta de carácter explica muita da subserviência que grassa entre governantes e comentadores da res publica. Por seu lado, o povo parece um rebanho alheado do caminho e do pastor! A Alemanha põe e dispõe da terra lusitana, e Portugal aplaude, convencido de que merece expiar por não ter resistido à globalização. Só falta a flagelação na praça pública!

Mas nada disto é possível sem o colaboracionismo, para quem a terra nada vale. Aos colaboracionistas só interessa o capital, e este não tem nacionalidade nem religião. As grandes empresas portuguesas que, em grande parte, tosquiam o contribuinte e o consumidor, têm as suas sedes em países com menor carga fiscal ou em paraísos fiscais. Porquê?

A Alemanha e a França não estão sozinhas! BCP, BPI, BES, BANIF, BIC, Banco Internacional do Funchal, PT, GALP, SONAE…, EDP, CIMPOR, Jerónimo Martins, BRISA, Mota-ENGIL, PORTUCEL, SEMAPA, ZON (e quantas mais?) põem o rebanho a render e ameaçam abatê-lo!

Considerando a lição de Aquilino Ribeiro e daqueles que consumaram o derrube da monarquia, e cujo carácter se media pela capacidade de enfrentar a rugosidade do terreno, o principal inimigo deve ser procurado dentro e não fora de Portugal. E o primeiro passo é não colaborar com empresas que não assumem os seus deveres fiscais, em nome de uma falsa internacionalização – os únicos beneficiados são sempre os accionistas…

Em Um escritor Confessa-se, para além da terra, há o terreno… e a luta constante contra a subserviência, fundada na tradição, na religião ou no despotismo político castrador…seja monárquico ou republicano.

Há autores que merecem ser lidos não só pela qualidade linguística e literária das suas obras, mas, sobretudo, pela sua exemplaridade, o que talvez explique a nossa falta de carácter e a facilidade com que somos desrespeitados.

22.7.11

Carvalhal do Pombo na Literatura…

«Na sua casa da Avenida da Duque de Loulé faleceu o  conceituado capitalista e filantropo Afonso Ruas, natural de Carvalhal do PomboAquilino Ribeiro, O Arcanjo Negro, pág.97 

Em que circunstâncias terá Aquilino Ribeiro conhecido tão ignoto lugarejo?

A que Bajonca (barão da Bajonca papalino ou manuelzinho) se estaria Aquilino a referir ao escrever.«aquele Bajonca, que assim se chama a portela de Carvalhal do Pombo onde a avó, que atiraram à margem, deitou ao mundo aquele que passa por seu pai.» ibidem, pág. 102.

Apesar do desconchavo do mundo ( atentados de Oslo), a Literatura não pára de me surpreender!

10.8.10

Lacuna…

«Enfim: acabamos por ser o que resta do que somos, mas também, e às vezes sobretudo, aquilo que os outros vêem em nós.» (Fernando Namora: autobiografia sem biografia, in JL)

«Depois da Instrução Primária, o Colégio Camões em Coimbra. Em As Sete Partidas do Mundo conto como foi .(…) Depois, ainda, dois anos de liceu em Lisboa, um liceu também chamado Camões (1932/1933; 1933/1934). Com duas parentes solteironas, morava num casarão do Paço do Lumiar. (…) Escondia (delas) também o jornal do liceu, todo ele escrito e ilustrado por mim (exemplar único, como se poderá calcular), distribuído aos colegas num certo dia da semana, Jorge de Sena era um deles. Não quero lembrar-me desse tempo, salvo de outro grande amigo meu companheiro de turma, um altarrão de músculos sólidos, que se fez meu protector. Minha mãe apercebeu-se de que as coisas não corriam bem. Regressaria, pois a Coimbra, dessa vez para uma pensão de estudantes.»

(Fernando Gonçalves Namora - 15.04.1919-31.01.1989)

O que é que os outros – os de hoje – vêem em Fernando Namora? E os do passado, por que motivo o silenciam?