31.12.15

A soberba de Recep Tayyip Erdoğan

"Em 2015, 3.100 terroristas foram neutralizados em operações domésticas e no estrangeiro", disse Erdogan, referindo-se às operações militares contra posições do Partidos dos Trabalhadores do Curdistão (PKK), no sudeste da Turquia e no norte do Iraque, adiantou a AFP.

2015 foi um ano difícil para muitos povos que, para além de se verem dizimados, foram forçados a abandonar os seus territórios, correndo mil perigos, e, sobretudo, encontrando as fronteiras europeias fechadas a arame farpado... Classificados como refugiados, veem-se abandonados ou acantonados em países que desrespeitam os direitos humanos, como é o caso da Turquia.
Por seu turno, a União Europeia reforça o poder do ditador Erdogan, concedendo-lhe mais de três mil milhões de euros, supostamente, para acolher os refugiados, mas que ele utiliza para perseguir e eliminar os Curdos, como noticia a AFP...
Erdogan está orgulhoso do serviço de extermínio e a União Europeia é sua cúmplice.
(...)
Infelizmente, em Portugal também há quem feche os olhos ou procure neutralizar quem se preocupa em compreender a causa Curda...

O efeito Costa


Lei n.º 159-A/2015 de 30 de dezembro

Extinção da redução remuneratória na Administração Pública
A Assembleia da República decreta, nos termos da alínea c) do artigo 161.º da Constituição, o seguinte: Artigo 1.º Objeto A presente lei estabelece a extinção da redução remuneratória, prevista na Lei n.º 75/2014, de 12 de setembro, nos termos do artigo seguinte. Artigo 2.º Regime aplicável A redução remuneratória prevista na Lei n.º 75/2014, de 12 de setembro, é progressivamente eliminada ao longo do ano de 2016, com reversões trimestrais, nos seguintes termos:
a) Reversão de 40 % nas remunerações pagas a partir de 1 de janeiro de 2016;
b) Reversão de 60 % nas remunerações pagas a partir de 1 de abril de 2016;
c) Reversão de 80 % nas remunerações pagas a partir de 1 de julho de 2016;
d) Eliminação completa da redução remuneratória a partir de 1 de outubro de 2016.
Artigo 3.º Aplicação 1 — O regime previsto na presente lei é aplicável para efeitos do disposto nos artigos 56.º, 75.º e 98.º da Lei n.º 82 -B/2014, de 31 de dezembro. 2 — Em tudo o que não contrariar a presente lei, aplicam-se, com as necessárias adaptações, as disposições da Lei n.º 75/2014, de 12 de setembro.
Artigo 4.º Entrada em vigor e produção de efeitos A presente lei entra em vigor no dia seguinte ao da sua publicação e produz efeitos a 1 de janeiro de 2016. Aprovada em 18 de dezembro de 2015. O Presidente da Assembleia da República, Eduardo Ferro Rodrigues. Promulgada em 29 de dezembro de 2015. Publique -se. O Presidente da República, ANÍBAL CAVACO SILVA. Referendada em 30 de dezembro de 2015. O Primeiro -Ministro, António Luís Santos da Costa.  Lei n.º 159-A/2015 de 30 de dezembro
 Lei nº159-B/2015, de 30 de dezembro de 2015
Extinção da contribuição extraordinária de solidariedade
A Assembleia da República decreta, nos termos da alínea c) do artigo 161.º da Constituição, o seguinte: Artigo 1.º Objeto A presente lei estabelece a extinção da contribuição extraordinária de solidariedade (CES), prevista no artigo 79.º da Lei n.º 82- B/2014, de 31 de dezembro, nos termos do artigo seguinte. Artigo 2.º Regime aplicável 1 — No ano de 2016, a contribuição extraordinária de solidariedade prevista no artigo 79.º do Orçamento do Estado para 2015, é de: a) 7,5 % sobre o montante que exceda 11 vezes o valor do indexante dos apoios sociais (IAS), mas que não ultrapasse 17 vezes aquele valor; b) 20 % sobre o montante que ultrapasse 17 vezes o valor do IAS.
2 — A contribuição extraordinária de solidariedade prevista no número anterior não incide sobre pensões e outras prestações que devam ser pagas a partir de 1 de janeiro de 2017. Artigo 3.º Entrada em vigor e produção de efeitos A presente lei entra em vigor no dia seguinte ao da sua publicação e produz efeitos a 1 de janeiro de 2016. Aprovada em 18 de dezembro de 2015. O Presidente da Assembleia da República, Eduardo Ferro Rodrigues. Promulgada em 29 de dezembro de 2015. Publique -se. O Presidente da República, ANÍBAL CAVACO SILVA. Referendada em 30 de dezembro de 2015. O Primeiro -Ministro, António Luís Santos da Costa.
Neste final de 2015, CARUMA deseja que estas duas medidas sejam exequíveis em 2016, e não tragam retrocessos um pouco mais adiante, como já aconteceu no tempo de Sócrates...

30.12.15

A Estrela de Belém

Do ponto de vista do imaginário popular, a Estrela de Belém tem uma função simples: é o GPS dos Reis Magos. Do ponto de vista astronómico, tudo é mais complexo e, de certo modo, perturbador.
Pelo menos, foi esta a conclusão a que cheguei ao assistir ao espetáculo "A Estrela de Belém"  no Planetário Calouste Gulbenkian.
Combinando a história de Roma, os livros sagrados dos judeus e dos cristãos com a tradição popular, os astrónomos acabam por dar explicações científicas interessantes sobre os planeta,  as estrelas, as constelações, os cometas, as novas e as supernovas, mas pouco dizem sobre o acontecimento astronómico, conhecido como "estrela de Belém", pois, até hoje, ainda não foi possível datar o nascimento do "menino"...
Afinal, a estrela pode não ser estrela, os reis magos não serem reis, mas sacerdotes-astrónomos, e até  José é apresentado como excessivamente simplório, pois se deixou convencer de  que o pai do "menino" era o "espírito santo"...
Em suma, José não seria português, porque se o fosse saberia do que Espírito Santo é capaz... e não estou a referir-me à "pomba estúpida" do Alberto Caeiro.

29.12.15

Paulo Portas, o bom pastor

Nos últimos anos, CARUMA referiu-se, pelo menos, nove vezes a Paulo Portas. De cada uma dessas vezes, o juízo foi negativo. Apesar dos diferentes cargos exercidos, CARUMA sempre o considerou o ministro da PROPAGANDA. Era inigualável nesse papel, contribuindo decisivamente para a estupidificação da nação...
Ontem, anunciou a saída de cena e pediu aos correligionários que "não tenham medo", vestindo a pele do pastor que continuará vigilante não vá o lobo vermelho papar os indefesos cordeirinhos...
Nesta nova pele, vê-lo-emos de regresso daqui a quatro anos, a não ser que o novo presidente da República decida ocupar o palácio de Belém durante 10 anos...

28.12.15

Hoje, um homem matou uma mulher...

Bem sei que o tema não é adequado à época, mas sinto-me obrigado a retomar o tema da Morte, não já como recompensa, mas como castigo.
Hoje, por exemplo, um homem não só  matou uma mulher, como lhe destruiu o corpo  à bomba. Castigou-a porque quis impedi-la de ser livre. Depois, suicidou-se, reconhecendo certamente  que a sua morte era o castigo que merecia...
Este homem é apenas um entre muitos outros homens que todos os dias matam ou mandam matar porque não suportam que o outro homem possa ser livre.
Na Turquia, há um homem que todos os dias manda matar outros homens porque querem ser curdos, querem ver reconhecida a sua identidade... Um homem que se diz turco, mas que não é diferente do homem de Sacavém, a não ser num pormenor importante: falta-lhe a coragem de se suicidar.
Talvez seja por isso que, num dos últimos dias, pôs a circular a notícia de que teria dado ordens aos seus capangas para que impedissem outro turco de se suicidar numa das pontes de Istambul.

27.12.15

A morte é a nossa recompensa

Japhy: - Que pensas da morte, Ray?
Ray: - Penso que a morte é a nossa recompensa. Quando morremos vamos direitos ao céu nirvana, e pronto.    Jack Kerouac, Os Vagabundos da Verdade, pág. 184, editorial Minerva.

Cada vez menos freudiano, ando longe de desejar a morte, o que não significa que me alheie dela. Não há dia em que me saia do pensamento, até porque, cedo, aprendi a contemplá-la sob a forma de caveira ou senhora de uma gadanha cega que ia segando os campos e as cidades - esta morte era manhosa, surgia quando menos se esperava.
O medo da morte era uma estratégia de sucesso. Instalada na consciência, a morte condicionava os passos e os pensamentos; por vezes, transforma o sonho em pesadelo.

A morte da maioria dos ascendentes e de alguns amigos ainda em  plena força da vida não podia ser explicada por um qualquer imperativo metafísico, nem com recurso a explicações de natureza trágica (nihilista) ou religiosa... Essas explicações não se coadunam com uma visão positiva da vida...

Hoje estou contente, porque concordo com Jack Kerouac: "A morte é a nossa recompensa." Afinal, sempre que me curvei perante a morte de alguém e me despedi com as palavras sóbrias "Descansa em paz", o que eu queria afirmar é que os meus ascendentes e os meus amigos tudo  tinham feito para terem direito a uma derradeira recompensa.
É essa recompensa que justifica os meus dias. porque, na verdade, infelizmente, há  quem não mereça morrer.

26.12.15

O cerrado do meu avô materno

Cerrado: terreno tapado; tapada (Porto editora)

Afinal, o "serralho" do meu avô mais não era do que um equívoco da minha parte.
O curioso é que ninguém questionou que ao quintalório murado eu tivesse  chamado "serralho". E a razão de tal alheamento tanto pode estar relacionada com a azáfama da quadra natalícia, como com o facto de alguém ter imaginado que o meu avô pudesse ser turco, otomano, persa ou árabe...
Na verdade, o meu avô materno era cristão, católico praticante e, sobretudo, vivia os atos litúrgicos de forma emocional, por vezes um pouco excessiva.

Quanto às serralhas, ainda estou a imaginá-las escondidas debaixo de um pedregulho, vá lá saber-se porquê... Talvez, porque o petiz considerasse pouco honroso ter que atravessar a aldeia com uma planta tão viscosa...  

25.12.15

O serralho e as serralhas

Na definição de Nuno Júdice, «o serralho é um espaço governado por eunucos dirigidos pelo tirano Solim...» prefácio de Cartas Persas, de Montesquieu.

Não tenho qualquer motivo para pôr em causa a definição, todavia não posso deixar de confessar que muito antes de pensar em qualquer tipo de harém, já conhecia o serralho do meu avô materno, e lá nunca avistei qualquer concubina.
O serralho era, afinal, um pequeno quintal pedregoso, onde se podia fazer uma pequena horta e, sobretudo, pôr a secar figos e uvas na eira que, por vezes, também protagonizava uma ou outra descamisada ou esfolhada. No serralho havia, sim, um alpendre que não precisava de ser vigiado, pois o meu avô materno andava longe de ser o tirano Solim...
Poder-se-ia pensar que as esposas do Sultão fossem  as serralhas, mas no caso, estas não passavam de leitarugas que, sempre que penso nelas, continuam a incomodar-me. Com frequência, a minha mãe ordenava-me que fosse apanhar serralhas para alimentar os coelhos e era aí que o problema surgia: não só era difícil arrancá-las da terra, como me deixavam as mãos encardidas de um líquido branco que se lhes colava irremediavelmente...
E mais não acrescento para não ficar mal na prosa de infância!

24.12.15

FELIZ NATAL!

CARUMA deseja um FELIZ NATAL a todos os seus leitores e, também, àqueles que a espaços a espreitam a verificar se ainda não se transformou em cinza.

CARUMA não ignora que é preciso paciência para lhe aturar a mania de espetar agulhas em quem se põe a jeito e de insistir em ideias que se afastam cada vez mais dos valores dominantes. Na verdade, cheguei a pensar em desejar um SANTO NATAL, mas desisti ao verificar  que os santos atuais são bem diferentes dos de outrora...

23.12.15

É Natal!

«Os trabalhadores da CP e os seus familiares voltam a viajar gratuitamente nos comboios da empresa a partir de 01 de janeiro, segundo deliberação do Conselho de Administração, repondo um direito suspenso há três anos.
A CP – Comboios de Portugal decidiu repor o direito de os trabalhadores no ativo, cônjuges e filhos em idade escolar (até 25 anos), bem como dos trabalhadores reformados, a um regime de concessões de viagem, isto é, acesso gratuito às viagens em comboios da empresa.
»

Por este andar, o ensino acabará por ser gratuito, tal como a saúde. Os familiares dos empregados dos supermercados passarão a abastecer-se de borla... As famílias dos banqueiros e dos bancários terão direito a crédito ilimitado...

Eu, por mim, espero que o Pai Natal me liberte dos 29,5 % de penalização, apesar dos 41 anos completos de carreira contributiva.
No entanto, não devo ter sorte, pois nunca fui ferroviário, nem pertenci a qualquer conselho de administração, nem integrei nenhum grupo parlamentar...

22.12.15

Na barbearia com Lídia Frade

Com este frio, decidi cortar o cabelo. Quem me atendeu foi a senhora Lídia Frade, a contas com uma tendinite que lhe limita o movimento de braços tão necessários à tarefa.
Nos últimos meses, a senhora já tinha partido um pé, o que, como se compreende, não a terá ajudado no negócio.
Enquanto me desbastava a trunfa, íamos trocando opiniões sobre o sistema de saúde, pois, infelizmente, temos algum conhecimento das limitações do SNS. Por exemplo, a dona Lídia necessita de fisioterapia, mas vê-se obrigada a pagá-la do seu bolso, pois o SNS só lhe disponibiliza o serviço no Hospital Curry Cabral, com a consequente perda de tempo e custo acrescido resultante de deslocação de táxi... 
Terminada a tarefa, paguei por uma tabela que eu próprio determino. E nesse momento, a senhora Lídia ofereceu-me um SEU livro de poemas com a seguinte dedicatória:

Sr Manuel Gomes,
A vida é complemento e história de vidas
A autora,
Lídia Frade

Do livro Amor Eterno / Interregno e Silêncio
Zaina editores, 2010

                                     transcrevo o poema FOGO

Que arde, percorre, consome
Passando da abundância à fome.

Ficando sem norte
Destrói sentidos, perdidos,
Consome a vida, deixando a morte.

Fúria incandescente,
Engole viva, a semente
Que deixa estéril o presente.

Por onde passa, arrasa
Que voa sem asa
Galopa sem rédea
E deixa sem casa.

É no fogo afinal,
Que está a cor de desejo
O tilintar do vil metal
E cinza de sonhos
E o sadismo do mal.

                                                   (Afinal, os barbeiros sempre amaram a poesia ou será impressão minha? Relembro Domingos Reis Quita, António Variações...)

21.12.15

O pai natal traz-nos um novo cambalacho

O contribuinte não tem direito a atualização do salário ou da pensão, no entanto é obrigado a pagar os cambalachos entre os políticos e os banqueiros.
Agora, o cambalacho chama-se BANIF! Ao longo dos anos,   banqueiros e políticos encobriram-se uns aos outros, e quem vai pagar é o contribuinte - em 2015, 2016, 2017...

Entretanto, que eu saiba, ninguém foi preso. Banqueiros e políticos vão encontrar-se numa nova comissão de inquérito parlamentar, em vez de serem apresentados a um juiz...

E o contribuinte, resignado, parece considerar que tudo corre sobre rodas, indo celebrar o Natal "acima das suas possibilidades", pois os banqueiros anunciaram que pode gastar agora e começar a pagar em março de 2016, com juros, claro...

Bom Natal! E não se esqueçam dos milhares de milhões que estamos obrigados a pagar...

20.12.15

O pai natal

Por estes dias, o que me apetece é uma choupana bem longe de qualquer pai natal e da azáfama que ele supostamente traz consigo.
Supostamente, porque o próprio pai natal é uma produção da má-consciência que rege as relações humanas.
Os presentes da quadra não fazem esquecer a pobreza em que milhões vivem  por culpa da plutocracia crapulosa que todos os dias está cada vez mais rica.
De facto, se o pai natal é produto da má-consciência,ele não deixa de ser uma forma poderosa de alimentar os plutocratas... que, encerrada a quadra, acabam a confessar que o natal já não é o que era... embora não se estejam a referir ao nascimento do menino Jesus...

19.12.15

O Chiado de hoje

Ir ao Largo de Camões na quadra natalícia é um pesadelo. Primeiramente, porque é quase impossível estacionar, e isto sem falar no custo do estacionamento. Depois, porque parece que o mundo desabou entre o Largo do Chiado e o Rossio. A Rua Garrett  faz lembrar o Tejo em dia de cheia, neste caso, humana: - um rebanho desce e outro sobe, tirando fotos a tudo o que se move ou reluz; são milhares de fotos por hora partilhadas no instante.
O Chiado de hoje é exótico nas línguas e nas roupas, sem esquecer a diversidade de "atuações" que decorrem um pouco por toda a parte, na procura de uma recompensa imediata que garanta a sobrevivência diária - ricos e pobres, idosos e jovens misturam-se, acotovelam-se em tangentes de equilíbrio precário.
Do comércio nem vale a pena falar, pois não sei se vende, a verdade, no entanto, é que as lojas ( as boutiques) se encontram repletas de mirones...
Também a Basílica dos Mártires estava repleta de ouvidos atentos ao concerto que ia decorrendo ou seria uma animada celebração litúrgica? Entrei e, por momentos, senti-me lá bem... 

18.12.15

Os novos Programas de Português e de Matemática

Conferir pautas de avaliação pode parecer um ato burocrático aborrecido e inútil,  no entanto, durante a tarde de hoje, fiquei com a noção de que os novos programas de Português e de Matemática não devem ter sido pensados para os atuais alunos do 10º ano de escolaridade - os resultados por eles obtidos são catastróficos.
Pode ser que esta situação de insucesso seja local, mas estou convencido que se o Ministério da Educação fizesse uma análise nacional das classificações deste 1º Período, rapidamente se veria forçado a suspender os Programas que entraram em vigor em 2015-2016.
Para bem de todos, espero estar enganado...

17.12.15

O melhor é ter à mão um dicionário

Não sei se a responsabilidade deve ser atribuída ao método global, a verdade é que querer ler sem conhecer o significado de cada termo só pode dar em asneira. 
Não se trata já de juntar letras ou juntar sílabas, mas, sim, de encadear palavras, conhecido o significado possível determinado pelo contexto ou pela necessidade de nomeação. 
Como um todo, devemos encarar a frase ou, melhor, o enunciado, porém fazê-lo, pondo de parte o significado, só terá algum sentido se o objetivo for procurar a harmonia / desarmonia...
Admitindo que este último não é o objetivo primeiro do ato de ler, então o melhor é ter à mão um Dicionário...

(Vem isto a propósito do empobrecimento lexical que vai crescendo um pouco por toda a parte e, em particular, nas nossas escolas.)

16.12.15

A sageza

«Quando chegares ao cimo de uma montanha, continua a subir.» Ditado Zen

Agora que cheguei à página 79 de Os Vagabundos da Verdade, de Jack Kerouac, começo a pensar que a minha primeira reação ao romance Os Subterrâneos deve ter sido excessiva...

A sageza só é possível se sairmos dos círculos académicos, citadinos, burgueses... e mergulharmos intensamente na natureza, experimento-a até ao limite das nossas forças. Se esta for a via, o conhecimento só será útil se colocado ao serviço da interação do sujeito com o cosmos.  

15.12.15

A política e a moral de José Sócrates

Apesar de, em fundo, José Sócrates atacar ininterruptamente tudo e todos, à exceção do Amigo, hoje estou sem tema, embora pudesse aqui rever a cordata e avisada conversa que tive com um colega que me habituara a considerar um pouco espalhafatoso e excessivo... o que me leva a pensar que, frequentemente, não ouvimos com a devida atenção aqueles que são nossos companheiros de profissão...
Quanto a José Sócrates, continuo sem entender o "processo". Gostaria, no entanto, que as televisões dessem ao Amigo a possibilidade de explicar o seu papel em toda esta trama...
Ao contrário do meu colega que reconhece que a cortesia é fundamental mesmo quando a divergência é total, José Sócrates declarou para quem o quis ouvir que a moral é uma questão privada que não deve interferir na ação política...
Talvez seja por partilhar este princípio "socrático" que o Amigo continua em silêncio - não quer confundir a sua vida privada com a vida pública do "animal político"...

14.12.15

Sete Cavalos na Berlinda


Significado de Berlinda
s.f. Carro hipomóvel, de quatro rodas, suspenso entre dois varais, recoberto de uma capota.
Maquineta para o transporte de imagens de santos.
Estar na berlinda, ouvir, nos jogos de prendas, a enumeração de seus defeitos ou qualidades.
P. ext. Ser alvo, durante certo tempo, de censuras ou motejos; ser o assunto do dia.
                                                                          (Dicionário online de Português)

SETE CAVALOS NA BERLINDA é uma história escrita por Sidónio Muralha (1920-1982) e ilustrada por Márcia Széliga, em que o primeiro decidiu pôr na berlinda os sete cavalos que fugiram da berlinda do Senhor Agapito.
O exemplar que me chegou às mãos é editado pela Global Editora, o qual, apesar da sua brevidade, é capaz de provocar a boa disposição de qualquer adulto e, sobretudo, de pôr a pequenada a sonhar e a imaginar novas situações igualmente fantásticas...e parece adequado à quadra que atravessamos.

13.12.15

O sofrimento e a dor

Bion (1970*) considera que a dor é o que se instala quando o paciente não tem capacidade de sofrer.

Na minha perspetiva, a incapacidade de sofrer transforma em dor estados de morbidez que só poderão ser ultrapassados através da mudança de atitude.
De certo modo, tudo o que perturba o paciente é por ele atribuído à dor, procurando consequentemente um remédio imediato, o que explica o sucesso da indústria farmacêutica.
Sempre que entramos numa farmácia, verificamos que elas estão cheias, como se fossem um supermercado.
Em muitos casos, a conta da farmácia ultrapassa a do supermercado e ninguém se interroga sobre esta realidade.

O medicamento acaba por fazer parte do cabaz hedonista. O estoicismo tem cada vez menos seguidores.

* W. Bion, L'Attention et l 'Interprétation. Paris: Payot.

12.12.15

Os amigos da linha

Colocar um "post" de um blogue no facebook ou noutra rede social pouco acrescenta. Os amigos estão ocupados com imagens, sons, piadas de mau gosto e, sobretudo, com adulações de todo o tipo.
As hiperligações podem ser maçadoras e obrigam inevitavelmente a uma pausa que coloca os amigos fora de linha.
Hoje, já ninguém quer sair do radar!
Os amigos das redes sociais estão sempre à mão, mesmo quando ignoramos a sua presença, ou eles ignoram a nossa... provavelmente, eles já deixaram de nos ver há muito, mas nós sabemos que eles continuam por ali, em linha.

Estes são os amigos da linha, em regra, o nosso estatuto é medido pela quantidade e não pela partilha. Claro que há exceções! Mas esses têm memória... de alegrias, de dissabores, de encontros e de desencontros e, por vezes, de perdas.
Os amigos da linha ajudam-nos a compreender que a amizade está cada vez mais volatilizada.

11.12.15

Debaixo De Algum Céu

«A história é também muito que não vai contado, porque é fácil contar o que acontece, mas faltam palavras para o resto.» Debaixo de Algum Céu (2013), de Nuno Camarneiro

Neste como em qualquer outro romance, o ser aspira ao Céu, pouco importa se azul, divino, materno ou libidinal...
Nesta obra de Nuno Camarneiro, cada personagem procura a plenitude por mais anódina que ela possa parecer. Por vezes, a felicidade esconde-se na porta ao lado, na cave, nas areias do mar próximo ou na base de dados repleta de personagens capazes de transformar a vida...
O êxito, todavia, depende da vontade, da entrega, da partilha, e não do Céu que tudo cobre, mas se manifesta indiferente às penas humanas, começando pelas do padre Daniel que, de modo desesperado, vive uma vida dupla sob o olhar de Deus...
A ação, como o autor refere no preâmbulo, decorre «num prédio chegado à praia» - espaço fechado - durante oito dias, «os último sete de um ano e o primeiro de outro». E o «tempo é medido em medos, um a cada dia, o tempo certo para que homens tremam e mudem».

Em síntese, um romance que dá conta das agruras da vida portuguesa e que, não certamente por falta de palavras, passa ao lado das festas natalícias, embora o padre Daniel salve o "Menino" e, por algum tempo, o espírito de concórdia pareça sair vencedor.

Nome próprio

Mathieu Delaporte e Alexandre de La Patellière escreveram a peça Nom Propre em 2010. Esta peça deu origem ao filme franco-belga Le Prénon (2012) que obteve nesse ano um enorme sucesso.
Ontem, fui ver a adaptação portuguesa no Auditório dos Oceanos, representada por Ana Brito e Cunha, Joana Brandão, Aldo Lima, Francisco Menezes e José Pedro Gomes, numa encenação de Fernando Gomes.

Trata-se de uma comédia divertida sobre os equívocos da amizade, despoletada pelo nome próprio que um dos personagens finge atribuir ao filho (?) por nascer - Adolfo / Adolfe...
O jantar é de amigos que não perdem oportunidade de confrontarem os respectivos egoísmos, traições e, sobretudo, desencantos... Muitos são os momentos hilariantes, apesar do fel que alimenta os discursos de cada um...

Ontem, o público divertiu-se e deve ter saído a pensar que a fronteira que separa o palco da vida é muito estreita. No entanto, a vida continua: o Adolfo /Adolfe acabou por chamar-se Francisca ... e não era "ameixa"...
Num espaço cénico sóbrio, os atores estiveram no seu melhor, em particular a Ana Brito e Cunha e o José Pedro Gomes.

10.12.15

No tempo e lugar errados

Parece-me que estou a viver no tempo e lugar errados. Por mais que fuja ou explique, não consigo evitar o stresse provocado pelo ruído. Bem sei que a minha perceção auditiva pode parecer exagerada, no entanto sinto-me permanentemente agredido: na rua, na sala de aula, no cinema e até em casa.
Uma porta que range, um parafuso que se precipita, o som da rádio e da televisão, uma voz que se eleva levam-me a um estado de desconforto tal, que, por vezes, me apetece esconder-me. Mas onde?
(...)
Bom seria que na agenda da defesa do planeta e do homem, a poluição sonora não fosse esquecida. O problema é que a maioria (?) parece viver bem neste desconcerto...

9.12.15

O caos citadino

Em dezembro, o trânsito lisboeta é caótico. Descrédito dos transportes públicos, combustível mais barato, pressa de regressar a casa e, ainda, as compras natalícias... O dinheiro parece não faltar, apesar da austeridade.
Por outro lado, para que o caos seja completo, na Lisboa antiga, as obras de recuperação de imóveis não olham a meios - com o apoio das autoridades, os empreiteiros bloqueiam as ruas com camiões e todo o tipo de máquinas. Sinalização nem vê-la!
Avenidas há cujas faixas se veem reduzidas pelo simples facto das cargas e descargas ocorrerem a qualquer hora...

8.12.15

Adab

Agora que o Estado Islâmico reivindica a reconstrução de antigos califados, o melhor seria começar por conhecer a história da literatura árabe humanista. No que me diz respeito, confesso o meu preconceito, embora matizado,  e deploro o meu contributo para a hostilização da cultura árabe, sobretudo porque reconheço que a História e a Literatura me formataram nesse sentido...

(...) 

«La palabra árabe usada para literatura es adab, que deriva de una palabra que significa "invitar a alguien a comer" y que implica matices de cortesía, cultura y enriquecimiento personal

Literatura árabe

«El término adab designa, en una de sus acepciones más comunes, a un género literario bien conocido de la literatura árabe medieval, familiar no sólo para los especialistas sino también para cualquiera que se haya iniciado mínimamente en esta literatura. Sin embargo, esta familiaridad con el termiño no supone un conocimiento preciso de su contenido, y menos aún una correcta valoración de su sentido. Y ahora no ya para los estudiantes o estudiosos ocasionales, sino para los especialistas que se han dedicado a su estudio.» FRANCISCO RUIZ GÍRELA,  La literatura de adab: tratados de Paremiología in extenso.


«El esfuerzo más importante hecho para precisar el contenido de dicho término es seguramente el que realizó el Profesor Carlo-Alfonso Nallíno en un espléndido estudio que presentó como introducción a un curso de Literatura Árabe que dictó en la Universidad de El Cairo a comienzos de este siglo, en 1901. Supone, siguiendo a Vollers, que, etimológicamente, adab deriva de la raíz «d-'-b», que aparece en el Corán en cinco ocasiones, con un sentido único y claramente perceptible en todas ellas: «forma habitual de actuación, costumbre».

«L'adab est une forme prise para la pensée arabo-islamique pour constituer un humanisme qui ne doive point tout au Coran et à la Loi qui en derive.» (Blachère, apud Wiet, 1966: 55).

7.12.15

Os Subterrâneos, de Jack Kerouac

Conclui, hoje, a leitura do romance "Os Subterrâneos", de Jack Kerouac. O que dizer desta obra publicada em 1958?
Em primeiro lugar, que o autor prefere a espontaneidade discursiva a qualquer plano devidamente estruturado.
Em segundo lugar, que, na linha dos surrealistas, a escrita se automatiza de tal modo que a censura lexical, sintática e moral é destruída linha a linha, página a página - assim se compreendendo a aversão de Kerouac a qualquer tentativa de revisão.
Em terceiro lugar, que os intelectuais e os artistas americanos dos anos 40 a 60, ao procurarem eliminar as fronteiras sexuais, étnicas e mentais, o fizeram de tal modo que acabaram por mergulhar no absurdo e no niilismo... A promiscuidade, o alcoolismo, a droga, o narcisismo, a discriminação, a violência, a megalomania tornaram-se nos novos valores do Ocidente...
Finalmente, pelas referências literárias, artísticas e filosóficas, este romance é a prova de que os Estados Unidos não quiseram ficar atrás da Europa, que dificilmente se ergueria dos escombros a que a sua elite a condenara...

Consultar: A geração beat

( Este ponto de vista é necessariamente tendencioso e, como tal, não espero que seja partilhado.)  

6.12.15

Afinal, os gatos não são todos iguais

Nenhuma das fotos revela o que me passou pela mente.
A primeira esconde que os gatos avistados são sete, só que, inicialmente, pensei que seriam os mesmos sete de ontem, que teriam mudado de sítio. Desta vez, estariam separados, talvez, porque a disciplina de um dia se tivesse transformado em desordem... Esquivos, pareciam temer-me.
Enquanto pensava na indisciplina felina, fui avançando, atento à cor amarelada e avermelhada das árvores exóticas que ladeavam apressadamente os prédios, três ainda em construção - tempo previsto: 24 meses - mas em fases diferenciadas, apesar da simetria do projeto...

Até que a hipótese de me ter cruzado com sete gatos nómadas (há quem pense que são vadios, curiosa associação!) se esfumou nas palavras, que não na mente, pois no lugar de ontem avistei a jovem benfeitora, e logo suspeitei que não estaria sozinha naquele recanto. Esperei, pouco discreto, que ela se afastasse, o que acabou por acontecer - ela regressou ao prédio a que pertenceria, de acordo com o conveniente sedentarismo que nos separa dos vadios...
Dei sete passos, e lá estavam eles, não sete, mas nove gatos.
Afinal, os gatos não são todos iguais e nem sempre são os mesmos, o mesmo acontecendo com os benfeitores.  

5.12.15

São cinco as gamelas e sete os gatos

O essencial é o que Ser pensa e não o que ele diz.
São cinco as gamelas e sete os gatos que, alinhados, matam a fome. No entanto, o pensamento diz-me que são cinco os comedouros e sete os comedores e arrasta-me para a interrogação de possíveis cacofonias: - são sete os comedores que comem nos comedouros.
A questão essential, todavia, é diferente. Pouco interessa se os gatos disputam comedouros, gamelas ou tijelas. O que, sem ser dito, emerge é que, na verdade, os felinos não disputam, porque a alternância de ritmos lhes permite comer sem qualquer conflito...
Deste modo, raramente as palavras dizem o que é pensado, porque, trapalhonas, procuram o seu ritmo, o seu interesse - o poder que as individualize, que deixe pelo menos dois gatos de fora. E na liça, sobram os arranhões, o pelo eriçado...
(...)
Em conclusão, o que as palavras dizem pouco tem de "essencial", excetuando, talvez, as de alguns poetas...
Ainda puxei da máquina fotográfica, mas logo a mente disse: - estás a perder o pouco tempo que tens para pensar.

4.12.15

O Niilismo é o melhor aliado dos teólogos

«Sabe-se que se sabe, mas sabe-se que aquilo que se sabe pode ser posto em dúvida, e pode sobretudo engendrar uma nova maneira de saber.» Alfredo Margarido, O Islamismo face ao Oriente, in revista Finisterra, nº 6 Outono 1990.

Por maior compreensão que possamos ter com as culturas divergentes, há um limiar que não deve ser ultrapassado -  ser tolerantes com a ditadura das religiões e dos teólogos.

E por mais paradoxal que possa parecer, a incapacidade de enfrentar o fenómeno integrista resulta do modo como a laicização ocidental, inspirada em Nietzche e Marx, descurou o estudo da História e, em particular, o estudo História das Religiões.
Por um lado, a Ciência e, por outro lado, a Filosofia existencialista encarregaram-se de progressivamente matar a Transcendência, como se o Ser pudesse bastar-se a si próprio...

O Niilismo é o melhor aliado dos teólogos... os jovens que o digam, embora possam não o saber... 

3.12.15

Atentados por 30.000 euros

O ministro das Finanças francês, Michel Sapin, afirmou hoje que quem organizou os atentados de 13 de novembro em Paris "não terá gasto mais do que 30 mil euros".

Fica barato organizar e executar um atentado. Não um, mas vários, e quem o diz é senhor Michel Sapin, ministro das Finanças francês, que já deve ter orçamentado vários atentados de retaliação muitíssimo mais caros; isso, porém, não diz.

Não consigo perceber donde é que saíram estes seres que nos governam que, em vez de procurarem soluções que permitam acabar com as causas do terrorismo teológico, geram notícias facilitadoras da violência armada. Afinal, ela fica barata!

Só nos faltava o racionalismo contabilístico vir dar a mão ao obscurantismo do integrismo religioso...

2.12.15

O capitalismo atual explora o tempo individual

«Contrariamente ao que nos diz Marx, o homem não vende apenas nem talvez sobretudo a sua força de trabalho. O que ele vende antes de mais é o seu tempo.» Alfredo Margarido, O Islamismo face ao Ocidente..., in revista Finisterra, nº 6, Outono 1990.

O capitalismo atual, mais do a força de trabalho, explora o tempo individual.
Aos jovens dá-lhes todo o tempo e rouba-lhes o trabalho; aos mais velhos aumenta-lhes o tempo de trabalho, e rouba-lhes o tempo de vida.
Como a experiência ensina, os jovens ociosos acabam por se perder na rotina dos dias e, ao desperdiçarem a iniciativa e a capacidade de transformação da sociedade, tornam-se abúlicos ou, então, rebeldes capazes de sacrificar a vida por uma ideia por mais abstrusa que possa ser...
Quanto aos mais velhos, obrigados a adaptarem-se às novas tecnologias,  a acelerarem os ritmos de trabalho e a submeterem-se aos ditames de um poder que os responsabiliza a todo momento pelo fracasso da sociedade, não chegam a ter o tempo a que teriam direito para fruir o resto dos seus dias.

(As noticias deste dia sobre as regras de aposentação e de reforma só confirmam a perversão a que chegou capitalismo atual.)