28.8.08

Um novo ciclo?

Não sei porquê, mas a expectativa de que o ano escolar que se avizinha seja melhor do que o anterior vai diminuindo à medida que os anos decorrem. Os programas deixaram de me entusiasmar, mesmo que defendam alguns valores que me parecem essenciais à vida em sociedade.

E a questão está precisamente no modo como queremos viver: em sociedade ou cada um por si? Os sinais que recebemos são de facilitismo, desrespeito, egoísmo puro e duro, desrespeito pela vida humana.

A escola inicialmente tinha como objectivo ensinar a viver em sociedade ou, no limite, a servir o Estado. Mesmo este último está competamente desacreditado, incapaz de impor a disciplina, submetido aos interesses de indivíduos e grupos sem qualquer escrúpulo.

E são estes indivíduos e estes grupos sem escrúpulos que se tornaram nos novos heróis que a juventude prefere e, sobretudo, imita cada vez mais.

O ciclo parece-se abrir-se, mas já não há novidade, vontade de aprender, como se tudo estivesse ao alcance da mente..., num tempo em que a mão deixou de a completar...

22.8.08

Fundão

Igreja de Santo António
Para além das marcas da religiosidade provinciana, há por aqui múltiplos traços do Estado Novo. Basta observar a arquitectura: Cafés Aliança, Portugal...o Cineteatro Gardunha. Mas há também o novo riquismo da democracia de Abril. Procure o Mercado Municipal e olhe em redor - uma arquitectura "faraónica". Por outro lado, o capital financeiro também se concentra de forma bem VISÍVEL na avenida principal. Se espreitarmos por detrás das fachadas, a realidade é, no entanto, menos apetecível. As páginas do Jornal do Fundão mostram-nos que as eleições se aproximam e que há equipamentos sociais condenados ao abandono... (Para além de acolher um artigo de agradecimento do medalhado Arnaldo Saraiva que frequentou o Seminário local que um dia visitei e do qual sempre guardei uma imagem de pobreza extrema.) Aliás, o abandono parece ser, também, o destino dos mais idosos, como prova o seguinte episódio. Sentados (eu e minha mulher) a uma mesa da esplanada de um dos cafés mais frequentados, vemo-nos subitamente acompanhados por duas enlutadas senhoras idosas que, cansadas, se sentam e desfiam misérias: abandono, solidão, lágrimas pela incompreensão de um filho, pensamentos suicidas. O empregado de mesa olha-nos com um ar de surpresa e repreensão. Não está acostumado a que os clientes possam ser incomodados... foi preciso tranquilizá-lo, embora me pareça que, de facto, ele não sabia como agir naquela situação. Do que pude ouvir, uma das idosas, mais sorumbática, era acompanhada pela serviços da Santa Casa da Misericórdia, enquanto que a segunda, de lentes garrafais e gordurosas, confessava a uma senhora caridosa (?), de meia idade, que, entretanto, se aproximou da mesa, que não tinha dinheiro para pagar a quem lhe levasse o almoço a casa e fizesse a limpeza. O Anjo da harmonia social lá lhe foi dizendo que não aceitava aquele desespero pecaminoso, que ela tinha direito a uma refeição e a limpeza uma ou duas vezes por semana, que o importante era a papelada...Resolvida essa questão, os dias serão de esperança e não de desespero... E lá fiquei a pensar nas benditas medidas dos engenheiros Guterres e Sócrates que, como no tempo dos faraós, para serem levadas à prática exigem que a miséria ganhe forma de letra. Se o pobre for analfabeto, infoexcluído, então, o melhor (Deus nos livre!) caminho é o suicídio.

21.8.08

Em Cangas de Onis, pelo seu simbolismo...


As imagens dispensam as palavras: a ponte, a cruz, a água, a igreja, Pelágio, a mulher Isabel, as flores... 
(As imagens...)

LEÓN

Uma cidade monumental, cuja arquitectura revela o poder e a riqueza da região. O camping que a serve é fraquinho. O acesso é inconcebível. Mas, enfim, serve... pois dista, apenas, 6 kilómetros do centro da cidade.

20.8.08

Funicular para Bulnes

Um bom negócio: 18 euros e uns cêntimos (ida e volta). Quem quiser poupar uns euros, tem como alternativa um percurso pedestre de 1:30 horas para os mais expeditos e afoitos.
Em Portugal, poderia ser um bom investimento.

Camping Naranjo de Bulnes

Não servem almoços. Só jantares! Fica situado a pouco mais de 1 Km de Arenas de Cabrales. Junto ao rio CARES (omnipresente: poderia ser um narrador de José Saramago. Diga-se, a propósito, que este autor é muito citado na imprensa espanhola. Desconfio que terá mais leitores em Espanha do que em Portugal!) Nos "Servicios", este camping revela-se original... Só vendo… Por outro lado, em dias de chuva, o terreno torna-se alagadiço…

Arenas de Cabrales

Há por aqui muito queijo, mas as cabras e as ovelhas não estão visíveis.Não é preciso procurar muito para descobrir as esplanadas ocupadas pelos seguidores de Baco.
Em Agosto, Arenas de Cabrales é ponto de passagem para o funicular que leva à aldeia de Bulnes. São apenas 6 Km. Mas é preciso partir cedo, para assegurar o estacionamento do camping-car. E o regresso é uma aventura: uma das faixas da estrada desaparece durante kilómetros... E, então, se o condutor continuar sem óculos!

15.8.08

Do rio CARES à Torre FRIERO...

O alvo é registar a confluência entre a água do rio que corre entre penhascos e o cume da montanha que o alimenta. No meio, uma mancha vegetal que esconde o reino animal. Por aqui só passa quem procura despojar-se da vaidade humana.
/MCG

O rio CARES

Para aqui chegar foi preciso subir a bom subir e enquanto se sobe a encosta só pensamos onde o caminho nos pode levar. Quando lá chegamos até podemos pensar que a rocha se torna o obstáculo que interrompe a calma do fluxo e precipita as emoções que provocam a queda da pobre avezinha… De repente, lembrei-me do rouxinol do Bernardim… mas isso já é literatura. E desta, tenho por perto "Que farei quando tudo arde?" do António Lobo Antunes. No entanto, tenho que confessar que as encostas destes montes despertam-me mais emoção que as artísticas metáforas do António...

A simplicidade

Nos momentos de infortúnio, olhar a vida vegetal e animal pode ser uma solução. A expectativa mata o momento e, nestes casos, há que preenchê-lo. Nada melhor que percorrer e observar a natureza. Tudo parece simples, mas o instante em que as asas da borboleta se expõem pode ocupar-nos de tal modo que não há infortúnio que nos ocorra...

14.8.08

Santa Marina de Valdeón, de longe

Para aqui chegar, é necessário querer afastar-se do bulício, querer evitar os engarrafamentos e acreditar que o gasóleo não faltará nem se sofrerá um furo ou, no pior dos casos, um choque frontal... E mesmo assim ainda há dias em que os óculos (as gafas) se quebram e as mercearias não passam de uma miragem... Quanto aos caminhantes de Santiago, são admiráveis quando cumprem efectivamente as promessas que os orientam... A mim, falta-me esse espírito; duas horas de caminhada bastam-me e deixam-me os ossos em pânico...

Camping EL CARÉS


11.8.08

Por terras de Cantábria...

O camping "La Viorna" está situado a 1 Km de Potes, na direcção  do Mosteiro de Santo Toríbio de Liebana (Cantábria..., aliás, hoje, 10 de Agosto, é o dia desta Comunidade!). O antigo mosteiro beneditino vive da "cruz", outrora lugar de suplício e, com a morte de Cristo, tornou-se promessa de vida.

Depois de ter visitado Potes, lugar turístico construído sobre as margens do rio Deva e, pelos vistos, impulsionado pelo marquês de Santillana no séc. XV que, à época, mandou construir a Torre do Infantado, onde provavelmente encerrava os relapsos à justiça que exercia por toda a Liebana,

                                     parti, a pé,  para o Mosteiro de Santo Toríbio, reconstruído nos anos 50/60 do séc. XX, e entregue aos franciscanos. Como não era a (minha) hora, não aproveitei para beijar a cruz de prata dourada, que encerra o lenho original, símbolo da vida. Estou sem saber se Toríbio viveu no séc. V d.C., ou mais tarde, mas parece que terá sido na sua deslocação à Terra Santa que recolheu um pedaço do pau de cedro que suportou a morte de Cristo. O Mosteiro fica situado num lugar altaneiro e estratégico, de onde os monges podiam avistar a tempo os inimigos de Cristo, para além de poderem contemplar o maciço rochoso que os envolve. No Inverno, este lugar seria certamente inacessível!

                                 Agora que o tempo está a mudar, as nuvens abatem-se sobre os Picos da Europa, vejo-me obrigado a confessar que foi necessário aqui chegar para que finalmente lêsse A MORTE DE IVAN ILITCH, de Lev Tolstoi, novela datada de 1886. Uma escrita minuciosa e descarnada que põe a nu a fragilidade do homem no momento de enfrentar a morte. E, sobretudo, reflecte sobre a mentira da vida, num tempo em que ainda se procurava acreditar na verdade.

Da leitura desta obra, retiro a ideia, que me não é estranha, de que a doença nos torna  insuportáveis para os que nos rodeiam (familiares, amigos...). Pior do que o envelhecimento, a doença cria uma hostilidade que nos mina até que "ela" nos sufoque... Tolstoi, nesta pequena narrativa, coloca-nos perante a doença, como eu me encontro perante a grandeza e o peso das montanhas que me cercam...

3.8.08

Crueldades...

De regresso ao Museu da Electricidade. Pretexto: ver as exposições em cartaz e ouvir jazz às 11:30 horas. De facto, já as vira e não me deixara fascinar completamente. Callas não me seduz; sobretudo, a encenação irrita-me.

(Tempos antigos. Um dia, no exame de Francês do antigo 5º ano do Liceu, o examinador resolveu pôr à prova a minha cultura musical e perguntou-me quem era a diva da ópera. Vá lá saber-se como: acertei. A ópera, porém, fere-me os neurónios. Absurdo? Falta de cultura? Rusticidade!)

Quanto à exposição "Vieira da Silva, Arpad Szenes e o Castelo Surrealista", desde que a vi pela primeira vez, fiquei fascinado com o quadro Marie Helène IV, 1942. Tudo o que sei de Arpad Szenes está naquele quadro.

Para me compensar da minha frieza face à ópera, duas senhoras aproximaram-se da exposição "Vieira da Silva..." e uma (a mais nova, talvez filha, como escreveria o Cesário Verde) disse para a outra: «Ali, está uma, mas não tem interesse!», num gesto de enfado.

Às 11:30, começou o concerto. Agradável, suave... mas, quando a melodia se torna repetitiva, entro num processo de vigília... só desperta por duas enormes antenas que me deixaram a pensar se não seriam as mesmas que conheci, noutro tempo, em Murfacém, ao serviço do Exército..., onde passei um ano, no Centro de Informações e Segurança Militar. O CISM era a unidade responsável pelas actividades de criptologia, informações, contra-informação e segurança militar do Exército.

Curiosamente, não me lembro, de nesse tempo, ter avistado do alto de Murfacém, o edifício que acolhe, hoje, o Museu da Electricidade.  Talvez possa, no entanto, explicar essa lacuna: a minha espinhosa missão decorria das 18 às 24 horas e, talvez, a noite caísse mais cedo... ou, então, era a ignorância a falar mais alto!

1.8.08

Os frabões

São ardilosos e vaidosos. Olham-nos lá do alto, com comiseração. O povo nada sabe e devia estar agradecido.

Se o Presidente se interroga sobre a perfídia que lhe quer furtar o pouco poder de que ainda dispõe, o unanimismo responde que o Senhor Presidente acordou tarde e mais valia ter ido de férias.

Em Portugal, o Presidente deve ir a banhos e no tempo de sobra, o melhor que tem a fazer é ajudar a Senhora, sua esposa, a limpar o pó aos presépios.

Afinal, as Ilhas há muito que deixaram de ser nossas! Os frabões aderiram à descolonização mental:

Abaixo os símbolos!

Acima os interesses!