30.6.11

A nova retórica…

“- Posso assegurar…” Assim começam ou acabam muitas frases proferidas pelos novos governantes. Infelizmente, quem, no contexto actual, arrisca tal certeza revela impreparação para o cargo que desempenha.
Uma análise de conteúdo dos argumentos utilizados mostra ainda que a repetição da “certeza” espelha  a falta de estudo e, sobretudo, adverte para a leviandade da decisão, como no caso da aplicação do imposto extraordinário sobre o subsídio de Natal… (Quem é que, de verdade, acabará por ser taxado?)
Não se espera que o político seja de tal modo céptico que acabe por desvalorizar a acção, mas também de nada nos servem os iluminados que, em nome da racionalidade e da transparência,  tomam decisões cegas.

29.6.11

Alternativa ao contrato de leitura

Mais do que formalizar contratos de leitura, as escolas deveriam promover o conhecimento da literatura, criar espaços de leitura literária, apetrechar as bibliotecas escolares com um número significativo de exemplares das obras mais consagradas dos vários cânones culturais e, sobretudo, promover a leitura em rede, socorrendo-se dos fundos das bibliotecas públicas…

A existência de 4 ou 5 gabinetes de leitura em cada escola permitiria recriar a leitura partilhada, fomentando a socialização dos jovens em torno das grandes questões que preocupam as sociedades actuais. Por outro lado, permitiria criar redes dinâmicas de leitores em torno de temas por eles próprios seleccionados.

Esperar que a disciplina de Português possa, em 2 blocos de 90 minutos semanais, promover a leitura literária não passa de um disparate! E a prova foi dada no III Grupo do exame nacional de Português (1ª fase): raros foram os alunos que, efectivamente, se referiram à importância da literatura ou que revelaram ter uma noção do que é a leitura literária.

26.6.11

Imagens da literatura…

A literatura

  • uma actividade relaxante… pode ser praticada na praia ou em casa; lugar de esquecimento, de descontração.
  • organizador mental e intelectual; ajuda a simplificar o complicado; sinónimo de ser culto; abre a mente; prepara para o verdadeiro mundo…
  • fuga à rotina; lugar de sonho, de vida (a criança sonha! o adulto vive!)
  • excêntrica e chocante (para pessoas calmas!); bem comportada (para pessoas stressadas!)
  • lugar de engrandecimento e de cumprimento (Falta cumprir-se a literatura!
  • cara; encontra-se em todo o lado, e acessível a todos; não devia ser só para cromos e introvertidos...
  • vítima da televisão, do cinema e da internet; as novas gerações querem quebrar a tradição da literatura; a leitura literária deve dar lugar à leitura digital.
  • cansativa; antidepressiva; retrógrada.
  • sem a literatura, a formação é deficiente; é o fim das relações entre os seres humanos…

Nota: No exame nacional de Português do 12º ano, o CONTRATO DE LEITURA não fornece exemplos. Porque será?

25.6.11

A terra é de pedra!

A terra é de pedra!

Cai a gota, e medra a erva daninha. / A aboboreira, coitada, foge dela…

A alface parece alheada / espera a monda e que a livrem de cuidados…

Soberbo, o damasqueiro aproveita a circunstância / ignora a pedra e sobe ao acaso… / sem se aperceber que a fartura o há-de matar!

(E eu que faço aqui?)

24.6.11

Ser ministro…

Ser ministro pressupõe disponibilidade para mudar de vida…

Nas análises que vêm sendo feitas, por exemplo, de Nuno Crato, há um traço comum: o conservadorismo do cidadão. Rebuscam-se a obra publicada, entrevistas dadas, artigos dispersos para o crucificar.

Ninguém quer saber das linhas programáticas do novo ministro para o ensino e para a educação; ninguém espera para verificar se a inteligência, que, apesar de tudo, lhe é reconhecida, trará um novo rumo, uma nova equipa capaz de redefinir as prioridades com menos despesa,  melhor aproveitamento dos recursos humanos e, sobretudo, com efectiva melhoria das aprendizagens.

À partida, nada nos garante que um progressista faça melhor do que um conservador. O que está em causa é compreender se o ministro tem um projecto adequado à realidade, e se é capaz de se rodear de uma equipa homogénea que, longe dos holofotes, sirva a colectividade.

O problema é que há demasiadas luminárias!

21.6.11

E assim…

A aposta em tornar igual o que poderia ser diferente só traz prejuízo! A grelha de leitura é mais importante do que o texto: o detalhe sobrepõe-se ao conjunto.

E, assim, a percepção da realidade (poética ou outra) empobrece a cada abordagem, reduzindo o chão da imaginação criadora.

Continuamos no paradigma da domesticidade, só que a uma escala cada vez mais ampla. Deixou de haver lugar para o desespero pessoano da incomunicabilidade…Escamas surdas, translúcidas e fortuitas!

A mediocridade matou a tangibilidade. Do predador, só a dor da criatura doméstica.

20.6.11

Na balança da Europa


Se a Europa nos quer expulsar do euro, o melhor a fazer é sair. E quanto mais cedo melhor!A Europa nunca nos viu com bons olhos: primeiro, invejou-nos, depois saqueou-nos. Recentemente, enfeitiçou-nos. E para quê?
- Para nos devorar.

18.6.11

Tomar




Quando atravessamos certas cidades, como Tomar, apetece ficar, não por causa dos nabantinos que parecem ter desertado da cidade, mas por causa dos seus monumentos, das suas praças e vielas…


Por causa da sua história e da beleza paisagística, sinto-me de regresso à cidade dos anos 70, agora mais moderna… e compreendo que uma parte dos fundos europeus me cerca… e que a festa dos tabuleiros se aproxima.

17.6.11

A dúvida…

Até parece que o PSD não ganhou as eleições! Onde é que estão as figuras proeminentes do partido? Nos Conselhos de Administração?
Sobre Sócrates, afirmava-se que era mestre de táctica, mas sem estratégia! E no PSD, quem é que define a estratégia? Quem é que pensa o caminho para sair da crise sem sacrificar os interesses nacionais?
Olhando para os 11 ministros, não vejo nenhum capaz de pensar por si, de definir uma estratégia que não esteja subordinada a interesses privados.
Sobra-me, no entanto, uma dúvida: Será Nuno Crato capaz de constituir uma equipa com espírito de missão que faça uma limpeza na multiplicidade de estruturas que desgovernam a Educação?

16.6.11

E se assim não fosse…

Cada cavadela, sua minhoca!

No que me diz respeito, é mais cada enxadada, várias minhocas e de várias cores. Sem querer corromper o saber popular, em tempos de aposta no regresso ao campo, parece-me que melhor seria pensar um pouco mais antes de agir.

Os sinais começam a ser claros: os ricos querem os pobres à distância; os pobres (e, sobretudo, os parasitas que são como as minhocas!) vão acabar por romper o dique e ser massacrados até que voltem a ser necessários…

(Se as minhocas soubessem que estão a ser utilizadas como iscas vivas!)

À desordem seguir-se-á uma nova ordem, uma nova abundância… até que o alcatruz volte a esvaziar-se…

E se assim não fosse não haveria narrativa!

14.6.11

O tempo dos almotacés…

A quente, não é de esperar grande sensatez! E por isso esqueço os  rostos do dia, e regresso à memória de outras modernidades…

Ao tempo da camioneta da carreira que trouxe a pontualidade e a democratização, que descobriu novas fronteiras, novas serras, novos mares…

Ao tempo do petróleo (querosene ou petroline) que apagou a noite e anoiteceu as velas de sebo, que impôs a higiene…

Ao tempo da electricidade que humilhou Apolo e ofereceu aos poetas as flores do mal e as horas mortas…

Ao tempo do automóvel aristocrata e burguês…

Ao tempo da escola oficial que nos queria libertar da ignorância em troca de votos comprometidos…

Ao tempo dos bens comunais: a eira, as lameiras, a água de rega, o forno, o moinho-à-beira rio, o açude, a serra…

Ao tempo dos almotacés!

(…) E este regresso mais não é do que o reconhecimento de que quem olha e escuta  é a consciência de um devir que ainda  pode escolher entre os impulsos desmedidos e os bens comunais…

10.6.11

10 de Junho de 2011

«De verdade, mentir é um vício maldito. Somos homens porque capazes de respeitar a palavra dada.» Montaigne, Les Essais, Livre I, chapitre IX.

De facto, faltar à verdade é o pior dos crimes, até porque o reverso da verdade se revela sob mil figuras. Tal como os pitagóricos pensavam: o bem é certo e finito e o mal é incerto e infinito.

Na solenidade do dia, os discursos parece que se desprenderam dos homens, revelando os homúnculos que, em nome da nação, continuam a ajustar contas, deixando António Barreto a falar sozinho…

Na oratória de Barreto mora a cerração que, talvez, venha a ser desfeita não pelos homens mas pela contingência…

( A angústia.)

7.6.11

A materialidade…


Manuel Baldemor, 1947, Paete Laguna, Filipinas, cinzela o papel com o sentido de quem quer revelar lugares perdidos na voragem de sociedades que preferem a especulação financeira e a ociosidade ao trabalho.
A solução passa cada vez mais pela redescoberta da matéria, em todas as suas extensões, isto é, pela valorização do homo faber.
De nada serve o comentário daqueles cuja palavra perdeu a referência.
A litotes, talvez!

6.6.11

É difícil mudar!

Hoje estive, entre as 11h15 e as 12h45, no Hospital de Santa Marta, em Lisboa, para ser submetido a um exame médico, cujo resultado será enviado ao meu médico assistente num prazo de três semanas.

Entretanto, enquanto por lá permaneci, tive tempo de perceber que tarefas que exigem extrema atenção são executadas no meio de conversas gratuitas e pautadas por continuadas sms, ou interrompidas para atender conhecidos e amigos que beneficiam de celeridade insuspeita e de tratamento privilegiado…

Nem vale a pena lastimar o tempo que passei já preparado à espera que o radiologista aparecesse, quando, ainda na sala de espera, vi doentes da medicina interna abandonados à porta dos gabinetes até que  surgia um auxiliar a perguntar-lhes se já tinham feito os exames… De comum, nenhum daqueles doentes se encontrava em condições de dizer o nome ou de confirmar se sim se não…

Concluído o exame, ninguém me disse onde deveria dirigir-me para fazer o pagamento, como se essa diligência nem existisse… Lá descobri a tesouraria, apesar de não haver nenhuma placa a assinalar o local. 

Fiquei, deste modo, esclarecido sobre as dívidas dos utentes, sobre a baixa produtividade nas unidades de saúde, sobre o desleixo em certos actos médicos, sobre o modo como os doentes mais indefesos são tratados, e sobre o modo como o amiguismo e o corporativismo beneficiam de privilégios que não deveriam existir num estado de direito…

5.6.11

A decisão…

A última intervenção televisiva de José Sócrates, pela imodéstia testemunhada, parece querer confirmar que a decisão dos portugueses foi acertada.

(Esperemos, no entanto, que não seja necessário pegar em armas para colocar sensatez na cabeça dos governantes.)

Os próximos três meses serão fundamentais para atalhar a caminhada para o abismo.

Vamos lá ver se, a partir de amanhã, a nova ordem sabe cortar em tudo o que é desperdício e imoralidade, como, por exemplo, o actual modelo de avaliação de professores ou a parque escolar.

3.6.11

A alternativa?



Agora que a campanha eleitoral está a chegar ao fim, procuro uma alternativa e só antevejo soluções defuntas! Não sei se os candidatos a deputados deram a devida atenção às velhas tecnologias, mas o país rural e urbano expõe-as, de norte a sul.

De qualquer modo falar de candidatos a deputados é um excesso de linguagem, pois, apesar das novas tecnologias, parece que eles enfiaram o gorro do «físico prodigioso» e terão partido para uma qualquer longínqua praia paradisíaca. Ninguém lhes conseguiu pôr em vista em cima! Esperemos que o devasso satã não os tenha sodomizado!

Quanto à alternativa, bem sabemos que não podemos voltar atrás, nem virar à esquerda ou à direita, ou mesmo sonhar o futuro, pois se o fizermos perderemos o presente, tombando definitivamente no abismo…

Esta lição, no entanto, só serve a quem pense que o Sol nasce todos os dias. Infelizmente, continua haver quem ainda não tenha entendido que o Sol é um fingidor!

2.6.11

Tristes e hilários!

Todos os dias o Sol finge que nasce e, ao despertar, para nos enganar, fá-lo sempre de modo diferente. E nós, sempre do mesmo modo, fingimos que a pequenez não nos afecta, que a prosápia não nos coage, que a astúcia não nos inibe…

Resignados, ouvimos convicções inatacáveis, ideias secretas…

sorrimos

dos aplausos bajuladores, das histerias beatas…

e dos que têm ideias só para os outros concretizarem…

e dos que propõem interpretações fantasiosas…

e dos justiceiros prontos a empunhar a espada!

(Fingimos e a alma morre! A sorte é que o Sol não finge o seu curso…)