|
Percorri 200 Km e não encontrei 200 portugueses. Entretanto, parece que 200.000 desciam a Avenida da Liberdade… Mais valera que tivessem optado pelo grande lago – o Alqueva!
Um olhar despreconceituado… ou talvez não. A verdade é tudo o que nós ignoramos.
|
Percorri 200 Km e não encontrei 200 portugueses. Entretanto, parece que 200.000 desciam a Avenida da Liberdade… Mais valera que tivessem optado pelo grande lago – o Alqueva!
|
No Camping Rosário (2002-2012), Irene e Ernst Hendriksen recebem tão bem que, à chegada, oferecem um CD com um «mix de música tradicional e contemporânea Portuguesa». Não há dúvida, ainda temos muito a aprender! /MCG |
A rainha que trocou o pão (as moedas) por rosas já antes de ser estátua era sensível! E a ideia da troca só pode ter surgido porque já experimentara o desagrado do seu senhor, o que me leva a concluir que uma dor também pode desencadear a imaginação de um povo…
/MCG
| |
A maior dificuldade do filósofo é definir o tempo. As palavras perdem o sentido, cristalizam e o tempo flui, avesso ao discurso verbal. |
Oiço, como se o cheiro / De flores me acordasse…/ É música – um canteiro / De influência e disfarce. Fernando Pessoa
|
Explicam-me os alunos que os testes não correram bem, mas que sabem quanto valem, que, afinal, considerando o objetivo, a nota que lhes atribuo é injusta. E devem ter razão!
A ameixeira floresce, indiferente à seca, e não se queixa se a não escoro. O poeta verseja, ciente de que no mundo tudo é «influência e disfarce».
Afinal, que resposta devo dar a estas ‘almas’ injustiçadas? Ou devo considerar que há exigências que não merecem resposta?
Já agora concluo a citação:
Impalpável lembrança, / Sorriso de ninguém, /Com aquela esperança / Que nem esperança tem… // Que importa, se sentir/ É não se conhecer? / Oiço, e sinto sorrir/ O que em mim nada quer.
Habitualmente, não comento a ação das forças da ordem. Nesta situação, porém, não posso deixar de salientar a amplitude e a virilidade do movimento. Acossado e perseguidor revelam saber bem o que querem.
E ainda há quem nos acuse de abulia!
António Vieira, José Rodrigues Miguéis e Rómulo de Carvalho nasceram todos no mesmo bairro, à sombra de Santo António!
No entanto, olhando mais de perto, é possível enxergar um intruso. Quem será? |
( As ideologias, os temas, o discurso; a paródia, a carnavalização, a intertextualidade… )
Na capital do reino (ou da república), a gula de uns tantos devora os restantes: «é uma boca que mastiga de sobejo para um lado e de escasso para o outro, não havendo portanto mediano termo entre a papada pletórica e o pescoço engelhado». (Implícitas fluem a ideologia e a retórica do Sentimento dum Ocidental de Cesário Verde.)
«Porém, a Quaresma, como o sol, quando nasce, é para todos.» (José Saramago, Memorial do Convento, cap. III)
Quando se esperava que a abstinência fosse respeitada por ricos e pobres, o narrador descreve-nos uma «procissão de penitência» que, em vez de redimir dos excessos do Entrudo, escancara a lascívia dos penitentes em poses sado-masoquistas prometedoras de futuras orgias com as histéricas espectadoras de janela e varandim – «que Deus não tem nada que ver com isto, é tudo coisa de fornicação».
A «procissão de penitência» não cumpre os ditames de Deus e da Igreja, e o tempo é de hipocrisia e de mentira: senhoras e criadas, cúmplices na satisfação da carne adúltera, enxameiam igrejas, confessionários e lugares escusos, deixando «em casa uns tantos maridos cucos», destino a que nem D. João V terá escapado: «D. Maria Ana, como razões acrescentadas de recato, tem a mais maníaca devoção com que foi educada na Áustria, e a cumplicidade que deu ao artifício franciscano, assim mostrando ou dando a entender que a criança é tão filha do rei de Portugal como do próprio Deus, a troco de um convento.»
Perante a mentira colossal que corrói a realeza, a igreja e o próprio povo, o narrador termina o discurso, revoltado, não contra Deus, mas contra os homens: «talvez se nos calássemos todos». E entre estes homens, estamos nós em qualquer século em que sejamos…
Na verdade, o padre Bartolomeu Lourenço inventou o aeróstato, apresentando-o com sucesso, e para estupefação da corte de D. João V, no dia 8 de Agosto de 1709. E essa novidade foi decisiva não só para o desenvolvimento da aeronáutica mas, sobretudo, para a deslocação do ponto de vista na narrativa. ( Seria interessante, analisar o modo como a ciência e a tecnologia servem o projeto de escrita de José Saramago.)
Basta ver como Saramago, consciente do contributo daquele invento, nos faz viajar sobre Portugal no Memorial do Convento, capítulo XIX: «Muito melhor veríamos, e muito mais, se olhássemos de alto, por exemplo, pairando na máquina voadora sobre este lugar de Mafra (…) não há melhor miradouro que este onde estamos, não faríamos ideia da grandeza da obra se o padre Bartolomeu Lourenço não tivesse inventado a passarola». ( E toda a panorâmica aérea nos é dada, como se fosse um grande plano, num único período.)
No essencial, Saramago, ao deslocar da terra para o espaço aéreo o ponto de vista, constrói uma representação da excentricidade e megalomania reais a que o homem coevo da edificação do convento não teve acesso, o que sobrepõe de forma magistral o plano do discurso ao plano da história.
A leitura desta obra pressupõe, assim, o desenvolvimento da competência de análise da ideologia do narrador que, a cada passo, parodia a História oficial, seja do século XVIII seja do século XX.
PS: Se aqui registo estas palavras é porque considero que, nas nossas escolas, a leitura da obra de Saramago está a ser vítima de uma enorme mistificação que acabará por condenar o autor ao esquecimento. É só uma questão de tempo. Veja-se por onde andam Ferreira de Castro, Aquilino Ribeiro, Miguel Torga, Agustina Bessa Luís…
Literariamente, esta torre é conhecida por Torre d’Anto porque aqui viveu, durante uma semana, no outono de 1890, o «ermitão da Saudade» – António Nobre – que, chegado a Paris, se metamorfoseou no «pobre lusíada, coitado.»
A Torre alberga atualmente a Casa do Artesanato ou Núcleo Museológico da Memória da Escrita de Coimbra.
Prédios de doze andares, em espinha, e, no intervalo, uma nesga de Tejo azul. Para lá do rio, a terra acastanhada sob um céu cerúleo, mas acastelado de falsas promessas de chuva.
Os automóveis e os camiões, alheados, continuam a rolar, longe dos profetas da desgraça… e o rumor da ponte por amortizar ensurdece-me o olhar.
Claro que, talvez, pudesse referir-me ao Álvaro e ao Gaspar – à Economia e às Finanças –, mas ainda estou longe de perceber se prefiro a familiaridade do primeiro se a nobreza do segundo. É que, para mim, quase tudo se esgota nas formas de tratamento!
Por isso vou continuar a fitar o Sol antes que ele se apague, ou, melhor, antes que os meus olhos se despeçam da língua de água que espreita por entre as torres que me cercam.
«Um pouco mais de sol – e fora brasa, / um pouco mais de azul – e fora além.», Mário de Sá-Carneiro
Um pouco mais… e não teria gasto o fim de semana a classificar ‘testes intermédios’!
- Afinal, o que é que me faltou? O golpe d’asa?
- Não, o rio, porque esse com mais ou menos azul continua perto, sem, no entanto, me levar ao mar…
(Ainda a ilusão de poder ser útil!)
A dívida continua a crescer (e o peixe recusa-se a morrer!). Não há emprego e os velhos insistem em falecer.
Há quem diga que a culpa é da gripe e do frio! O argumento até parece adequado, mas não cola…
Quebrado o aquário até o peixe morre. A culpa é do bonequeiro que é cego e prosélito informático.
De posse da tramoia, o invisível bonequeiro maneja-nos como bonifrates descartáveis.
O resto é mistificação!