31.12.13

De Negro Vestida _ leitura ingénua

"Não cristalize o leitor esta imagem que tem agora da nobre e lutadora Maria de Lurdes." De Negro Vestida, pág. 104.
Meu Caro João Paulo Videira, espero não cristalizar, pois o autor mostra saber criar pontas que, mais cedo ou mais tarde, se vão revelar significativas para a construção da narrativa, para o desenho da intriga de suspense. Por outro lado, o romance começa assumir um ponto de vista que nem sequer a mulher-autor costuma defender com tanta galhardia... Até ao momento, o narrador privilegia o conhecimento do feminino, bestializando o homem, deixando-o às voltas com a sua inconstância e falta de rigor...
Entretanto, como leitor sem diploma que o certifique, se tivesse que reescrever o romance como aconteceu com  Eça de Queiroz, por exemplo, no caso do Crime do Padre Amaro, não sei se não eliminaria algumas considerações de ordem estilística e, sobretudo, algumas passagens que põem a nu a dificuldade em "recriar" cenas de sexo... São pequenos capítulos que me parecem desnecessários ou, pelo menos, que exigem uma subtileza estilística difícil de alcançar... 
Bem sei que o erotismo é coisa antiga, exige outros sabores e perfumes, mas à medida que ia lendo, e sabendo que o autor procura um leitor, comecei a interrogar-me: - Quem é que o autor idealiza como seu leitor?
Meu caro João Paulo Videira, estarei certamente a ser injusto! Mas como o autor exige que o  leitor seja autêntico, aí ficam algumas considerações que se me vão colocando neste atribulado final de 2013.

P.S. Com tanta viagem ao Hospital de S. José, dei conta que nas "rotinas" da família de Maria de Lurdes não há doença do corpo que a ataque!

30.12.13

De Negro Vestida

Meu caro João Paulo Videira, como facilmente compreenderás, a minha odisseia no hospital de S. José não me permite ainda decifrar o título. Na verdade só li 34 páginas! Como neste tipo de narrativas, eu costumo aconselhar os alunos a ler atentamente o primeiro capítulo e, no caso de fadiga intelectual, a ler de imediato o último, fica desde já registado que o texto flui como o Almonda natal do outro José, o Saramago, e por isso não sinto qualquer vontade de ir ler os últimos parágrafos... (com a vantagem de não obrigar a exercícios de retroação por causa da maligna pontuação!)
Repara tu na coincidência, o Saramago da Azinhaga, tão perto de Alcanena e longe da Selva, parece que trabalhou neste hospital, de S. José, que me vai impedindo de continuar a leitura..., mas não posso esconder que a narrativa da doméstica Maria de Lurdes, entre-cruzada com a narrativa da Criação do Mundo, ambas sobrevoadas por um narrador guloso e travesso, me trouxeram de imediato um outro memorial distante da Serra de Aires...
Meu caro João Paulo Videira, vais ter paciência, mas este "esgaravunha" vai necessitar de mais leitura para poder continuar este cavaco, embora comece a ter pena da Maria de Lurdes, pois nos tempos que correm ou ela muda de vida, de carlos manuel, de família... ou acabará por morrer na miséria, pois os passos que nos governam nem uma maria de lurdes tiveram na vida. Ou será que têm?

29.12.13

Nas urgências do Hospital de S. José

Apesar das loas ao Serviço Nacional de Saúde e ao atual ministro, Paulo Macedo, o que pude observar hoje no Hospital de S. José confirma que as pessoas idosas neste país não passam de "objetos" sem qualquer valor. 
Em termos organizativos, apercebi-me que os idosos não beneficiam de qualquer prioridade, ficando mais de uma dúzia de horas à espera dos exames clínicos, mais quatro ou cinco horas à espera dos resultados e sabe-se-lá quantas à espera da decisão clínica... que tanto pode ser o internamento como o reenvio para casa...
E não estou a especular: a esta hora, um familiar com mais de 91 anos está entregue à rotina, à morosidade de um sistema burocrático e desumano. E este familiar não está só; muitos outros idosos esperam anestesiados, uns, revoltados, outros....
Quanto aos restantes, às 21 horas havia pacientes que esperavam desde as 11 horas pela primeira consulta!

A desculpa para a concentração das urgências num único hospital é sempre a mesma: a crise financeira e a  inevitável austeridade! Parece-me, no entanto, que não há desculpa para o desrespeito pelas pessoas...

28.12.13

A proósito de João Paulo Videira



Parece fantasia de criança, mas são pedras! Cercam o marco que assinala o início ou o fim de uma propriedade ao abandono e com uma bela vista para a Serra… Tudo aqui é referencial e, talvez, por isso não seja escrita, a acreditar nas palavras do João Paulo Videira que, hoje, lançou ao público o seu romance Vestida de Negro, Chiado Editora. Diz João Paulo Videira: «Não há nada na escrita que seja referencial!»

De regresso a Lisboa – o lançamento muito concorrido foi em Torres Novas – vim pensando na sentença do novel autor, para concluir que a ambição do grande escritor é apagar toda a referência, erguendo-se como marco ou como o farol da Barra – alusão só entendida para quem compreenda a geografia do prefaciador: Alexandre Ventura.
Entretanto, irei ler o romance para lhe apreciar a estrutura, a coabitação da linguagem crua com a poética, o dizer simples e avesso à critica…

27.12.13

Em três tempos

Esta noite sonhei com a cerimónia de posse de um novo governo! Estranhei que, entre os novos governantes, não houvesse qualquer político português... Eram todos funcionários europeus, altos, esgrouviados, cinquentões... Ainda fixei a vista, mas  nem uma cara conhecida. Perturbado, acordei...

Esta tarde, soube que, em Ancara, é mais difícil obter uma autorização de residência do que perder o emprego em Portugal. Há lá uma embaixada portuguesa que, de momento, nada pode fazer. Talvez à última hora escreva uma carta a explicar à autoridade policial local a situação do súbdito português. Por outro lado, parece haver uma solução para permanecer em solo turco: pagar uma multa de 6 euros diários. E para quem pensa que o inglês é uma língua universal, esqueça! O melhor é começar a aprender turco... lá tudo é turco e em turco... também há curdos turcos...

Agora que escrevo este apontamento, recordo que alguém me disse que há por aí muitos fura-vidas capazes das maiores tropelias para conseguir um minuto de glória. Quanto a mim, continuo encalhado na mesma linha em que me encontrava ontem.
Há, no entanto, uma pequena diferença! Tenho avançado na leitura de um estranho livro de Manuel Tavares Teles, Os Manuscritos de Gertrudes ... diário íntimo e cartas de amor de Gertrudes da Costa Lobo a Camilo Castelo Branco.
Interessante livro sobre o pedantismo, sobre a mulher e a literatura, sobre os preconceitos da sociedade portuense de meados do século XIX, sobre a capacidade de Camilo de fazer pastiche de qualquer registo escrito, sobre o  seu conservadorismo: «Quem é o parvo que esposar-se queira / com literata alambicada e chocha?»


   

26.12.13

Encalhado, em tempo de folga

O Governo deverá cumprir a meta do défice orçamental para este ano e conseguir uma 'folga' até 500 milhões de euros, que poderá ajudar a compensar eventuais chumbos do Tribunal Constitucional (TC) ou deslizes nas contas do Estado em 2014.

Ao contrário do Governo não consigo qualquer folga! Há uma série de questões que tento resolver, mas acabo sempre encalhado! Ando às voltas com um balanço e não avanço porque, procurando o rigor, perco-me na repetição e multiplicidade de ficheiros, mas, sobretudo, perco-me no tempo, na incapacidade de a memória lidar com o excesso de informação. No fundo, é a dispersão que me encalha! 

Bem sei que eu pouco conto e que deveria aplaudir o Governo, pois, de manhã cedo, fui a uma USF - Unidade de Saúde Familiar - e ainda não tinha terminado o pagamento da taxa, e já a médica de família por mim chamava. A consulta decorria cordialmente, não fosse o nível elevado de colesterol, até que solicitei que, nas análises que certamente me iria prescrever, me incluísse a verificação da tiróide... Aí a simpática doutora disse-me que análises só para o ano! Marcou-me consulta para março de 2014, e nessa data prescrever-me-á as necessárias análises. - Porquê? - Até 31 de dezembro, pelo menos, há congelamento da despesa!

Se olhar à minha volta, vejo muita gente com o emprego congelado, com o salário congelado, com a pensão congelada... tudo por causa da FOLGA na meta do déficit!

25.12.13

Para lá do Natal!

Veio o lenhador e cortou o pinheiro!

Veio o paisagista e plantou uma árvore exótica de súbito crescimento!

Veio o vento e deitou ao chão a árvore exótica!

No lugar da caruma, costuma estar um automóvel que, desta vez, rumara à província…

Por perto, dois moldavos olham os beirais…

Um pouco mais longe, cinco chineses seguem indiferentes à palmeira prestes a cair…

E eu sinto-me vítima do Deus que misturou as línguas, tornando-nos inexoravelmente estranhos…

/MCG

24.12.13

Natal sem pinheiro... só caruma!

Natal, natalidade, nasce-se pouco em Portugal...
Mortalidade, em dezembro, parece que se morre mais em Portugal: no mar, nas estradas, à lareira. Não sei se, também, se morre mais nos hospitais! A estatística, tão rigorosa noutras matérias, é omissa ou lenta no que se reporta à mortalidade... Oficialmente, os encargos com os reformados e pensionistas aumentam diariamente! De qualquer modo, desconfio, por falta de provas, que estamos a ser enganados! É um pouco como com os empréstimos, ninguém lhes conhece as verdadeiras datas. Convencionou-se que a culpa é do governo anterior... e ficamos satisfeitos!

No que me diz  respeito, os meus simpáticos leitores  já devem estar a interrogar-se quando é que lhes desejo BOAS FESTAS. Está feito: BOAS FESTAS a todos os que "pisam" a CARUMA! Sei que o fazem por razões diversas, mas a todas entendo e aceito...

Em termos pessoais, o Natal é cada vez menos (re)nascimento! Este ano, Natal é distância e sobretudo AUSÊNCIA. Uma ausência insanável! Umas Boas Festas, também, para todos os que partiram!

23.12.13

Desempenho docente e arbitrariedade avaliativa

Será que o atual modelo de avaliação se justifica quando a progressão na carreira continua congelada?Neste contexto, qual é a verdadeira duração de um ciclo avaliativo?

As respostas são da DGAE.

Questão: Como operacionalizar o aproveitamento da observação de aulas em modelos avaliativos anteriores, face à obrigação de apresentação do requerimento previsto no n.º 2 do artigo 10.º do Despacho Normativo n.º 24/2012, de 26 de outubro?
Resposta: Os docentes que, para efeitos da sua avaliação do desempenho, pretendam recuperar a classificação da observação de aulas obtida em modelos de avaliação do desempenho anteriores deverão manifestar essa intenção ao diretor da escola onde se encontram a exercer funções, até ao fim do seu ciclo avaliativo.

Nova questão: Será possível, dentro do mesmo ciclo avaliativo, recuperar várias vezes a avaliação de modelos anteriores, com a agravante, de não haver observação de aulas?

Questão:  Considerando que a progressão na carreira está congelada desde 01/01/2011 e estará, pelo menos, até 31/12/2013, para saber quando o docente deve ter observação de aulas bastará ir ao tempo de serviço para progressão que o docente tinha em 31/12/2010 e continuar a contagem a partir de 01/01/2014. Este entendimento é correto?
Resposta: Sim. Tal interpretação encontra-se em consonância com os nºs 4 e 5 do artigo 18.º do Decreto- Regulamentar nº 26/2012, de 21 de fevereiro, bem como com a nota informativa publicitada pelo MEC em 3 de dezembro de 2012, nomeadamente os seus pontos 2 e 4.

Nova Questão: O congelamento progressão termina mesmo a 31 de Dezembro de 2013?

Questão: Os docentes posicionados nos 6.º, 8.º e 9.º escalões, que aguardam reposicionamento por força do disposto no Decreto-Lei n.º 75/2010, nos termos previstos, respetivamente, nos artigos 8.º, 9.º e 10º do citado normativo legal, têm que ser avaliados de novo no escalão em que se encontram ou aguardam apenas o decurso de tempo necessário à progressão?
Resposta: Quanto aos docentes integrados no 8.º escalão, a norma esgotou os seus efeitos até ao final do ano civil de 2011, pelo que estes docentes já não poderão beneficiar do regime transitório de progressão consagrado naquele normativo. No que concerne aos docentes integrados nos 6.º e 9.º escalões, também não poderão usufruir daquele regime enquanto vigorarem as disposições legais que temporariamente impedem a progressão na carreira.

Nova questão: Quem é que desbloqueia estes impasses?

Comentário: Considerando a ausência de supervisão dos procedimentos, a aplicação arbitrária do decreto-regulamentar nº 26/2012, de 21 de fevereiro, com o consequente aumento exponencial de recursos, está à vista mais um ano de enorme instabilidade nas escolas.

22.12.13

Avenida da Liberdade



Em 9 de Março de 1916, a Alemanha declarou guerra a Portugal. Interessavam-lhe as colónias! Perdeu a guerra, mas nunca se esqueceu de nós. Entretanto, nós vamos celebrando a liberdade, em tempo de ditadura financeira e política.
Na verdade, apesar da euforia de Abril, a maioria dos portugueses desconhece o que é a liberdade. Quantos são os portugueses que podem fazer compras na Avenida da Liberdade? Até os vestidos de noiva são expostos em manequins pretos! As malas mais parecem cofres prontos a transportar diamantes, numerário, estupefacientes!
A Avenida da Liberdade veste-se de tíbias luzes ao anoitecer, e os ratos vão saindo do subsolo à espera dos incautos…
A estátua surge decapitada, não por ação de algum vândalo, mas porque o combatente, para além de ter sido humilhado, é cada vez mais raro. O louro murchou e a granada, por falta de utilização, tornou-se obsoleta...
/MCG

21.12.13

Expresso 21.12.2013: Quem é o matilheiro-mor?

Hoje, o Expresso publica um artigo de opinião, de Martim Avillez Figueiredo, intitulado "A MATILHA DAS ESCOLAS" que me está a dar que pensar.
Creio que o bolseiro da Gulbenkian aprendeu, em seu tempo, a distinguir a linguagem denotativa da conotativa. Amicíssimo de Nuno Crato, para quem essa distinção é fundamental, como acaba de se verificar na primeira "prova de avaliação de conhecimentos e competências", creio que M.A.F. terá conhecimento quanto baste para não cair na baixeza de chamar cães aos professores ou, pelo menos, aos candidatos a tal profissão: «mas antes é preciso não esquecer essa matilha que instruí professores a rasgar enunciados e que os incita a não respeitar ordens do tribunal.» Na verdade, o enunciado aponta, sem peias, para os instrutores - os matilheiros - e, em particular, para «o tenebroso Mário Nogueira».
Apesar de não gostar do comportamento de muitos dos envolvidos no triste episódio de 18.12.2013, não posso deixar de condenar o ataque mesquinho feito à escola e aos professores e, sobretudo, de me interrogar sobre quem é o matilheiro-mor?
Não esqueçamos que um artigo de opinião tem um sempre um objetivo. Neste caso, defender a política do amigo Nuno Crato! E, sobretudo, aumentar a matilha...
  • matilha - conjunto de cães que se levam à caça. 

20.12.13

O excesso destes dias

I - Nestes dias, apesar de todos os indicadores recomendarem contenção nas despesas, o que vemos é consumismo desenfreado - gasta-se o que se tem e o que se não tem!
Estou incapaz de compreender o motivo da azáfama, do esbanjamento, da gula, do EXCESSO. O Natal nada tem a ver com este comportamento. Pelo contrário, o frio, a fome, a guerra exigem outra atitude.
O mediador deixou-se crucificar para nos mostrar o caminho, no entanto, o exemplo de nada serviu.
E eu vejo-me arrastado nesta euforia postiça. Esgota-se-me a paciência e o apetite!

II - Quanto ao Tribunal Constitucional, parece que fechou a porta ao ladrão, mas escancarou-lhe a janela!

19.12.13

Nenhum português pode estar sossegado!

«Não há nenhum pai deste país que possa ficar sossegado se achar que alguma daquelas pessoas, com as cenas que assistimos ontem na televisão, possa ser professor de um filho seu.», afirmou hoje o ministro da Presidência no final da habitual reunião de Conselho de Ministros.

Humilhados, os profissionais de ensino em início de carreira ou, formalmente, precários, dividiram-se entre os que quiseram realizar a PAAC e os que quiseram mostrar a sua revolta. O espectáculo não foi educativo! E os mass media não perderam a oportunidade de explorar os excessos e os dramas!

Mas quem é que prefere humilhar a educar? Quem é que prefere penalizar as vítimas a retirar o alvará a instituições que não revelam competência para formar professores? Quem é que manda fazer avaliações externas viciadas? Quem é que criou um Instituto de Avaliação, usurpando competências das Universidades?

A resposta é dada por vozes ministeriais que desrespeitam a sintaxe elementar e que classificam os professores como «aquelas pessoas». Vozes ministeriais que ignoram o significado das palavras que proferem, que, em vez de «servirem», humilham. Vozes ministeriais cujo juízo se baseia em imagens televisivas...

Estas vozes ministeriais têm um único fito: o confronto. De preferência, entre pares!      

18.12.13

PACC: uma proposta desigual e inconsequente!

«A escola de hoje é infinitamente melhor do que a escola de ontem...» António da Nóvoa (1954)

- Escreva um texto em que exponha a sua opinião sobre a perspetiva expressa por este autor, fundamentando-a através de uma linha argumentativa coerente.  (PACC)

Eis uma proposta de argumentação  desigual e inconsequente!
Partindo do princípio de que o avaliado decide apoiar ou rejeitar a tese, quem é que ele quererá persuadir? O avaliador? O ministro da educação?
Se começar por examinar os termos do enunciado, cedo verificará que este é hiperbólico - infinitamente! Palavra vazia e florentina... A seleção de argumentos fica condicionada pela retórica... Por outro lado, a referência a uma "escola de ontem" introduz generalização e vacuidade, pois objetivamente não há qualquer delimitação do tempo. Só a experiência (a vivência) poderá ajudar a construir um juízo consistente, assente na comparação.
Para António Nóvoa, nascido em 1954, "ontem" é o tempo em que ele se fez homem na escola do Estado Novo. E "hoje" é o tempo democrático, o tempo de Abril, em que chegou a reitor, protagonista da mudança, do "infinitamente"...
Ora se a vivência é o filtro que permite determinar os argumentos e selecionar os exemplos de forma coerente e legitimadora do presente, apesar da desconfiança quanto ao rumo que está ser seguido, apesar do receio de que o futuro possa voltar-se contra a escola "infinitamente melhor de hoje", o candidato, forçado a expor uma «opinião», irá acabar por construir um texto inócuo...
Infelizmente, a escola que propõe este tipo de itens não é  melhor do que a escola de ontem!

17.12.13

A mediação

«Pas de messianisme, parce que pas de médiation entre l'homme et Dieu.» Olivier Carré, L'Islan Laïque ou le retour à La Grande Tradition, 1993, Armand Colin

Na cultura judaico-cristã, a ideia de mediação é essencial. Os judeus vivem na esperança da chegada do Messias. Os cristãos encontraram o mediador na figura de Jesus. 
Nas duas civilizações, o Messias liga o homem a Deus.
No Islão, a relação do homem com Deus é direta.
Agora que o Natal se aproxima seria bom que levássemos em conta que uma parte do mundo não vê qualquer razão para se associar ao consumo desenfreado que caracteriza a época natalícia.
E como bem sabemos, o consumo é também ele resultado de uma relação de mediação estabelecida pelo comerciante entre o produtor e o consumidor... sempre com vantagem para o mediador!

16.12.13

Ecos da Turquia

Em Gramática das Civilizações (1963/1987), Fernand Braudel escreveu: «Como todas as sociedades, a muçulmana tem os seus privilegiados, pouco numerosos, por isso mais poderosos.» Para, ao referir-se à sociedade turca, registar a ação de Mustafá Kemal, autor de um «teste brutal e genial que soube abrir brechas num bom número de pretensos tabus da civilização muçulmana».
Em poucas palavras, o que estava (e está) em causa é «a emancipação da mulher, o desaparecimento da poligamia, as limitações ao repúdio unilateral pelo marido, a supressão do véu, o acesso às universidades e à cultura, aos empregos, ao direito de voto...» (pág.108, ed. Teorema, 1989)
Em 2013, o que procuro conhecer é em que fase se encontra a Turquia, de modo a entender quais são os obstáculos (endógenos e exógenos) à sua integração nas «civilizações europeias» e, simultaneamente, na União europeia...

Num mundo em que as comunicações são cada vez mais fáceis, esta minha pergunta indireta resulta de ter recebido o seguinte esclarecimento, a propósito da utilização de um telemóvel levado de Portugal: «na Turquia és obrigado a comprar um telemóvel turco, por causa das redes e taxas, coisas estranhas...»



15.12.13

Educação: 36.801,87 €; Justiça: 87,1 milhões de euros



Não era preciso distribuir tão mal o dinheiro!…
No mesmo bairro, no mesmo enfiamento, no mesmo país, como diria Cesário Verde:
«E eu sonho o Cólera, imagino a Febre, / Nesta acumulação de corpos enfezados; / Sombrios e espectrais recolhem os soldados; Inflama-se um palácio em face de um casebre.», in Noite Fechada, O Sentimento dum Ocidental.

14.12.13

Nunca pensei

« - Se já sou civilizado, então o teatro só pode servir para me divertir.»
Leio e volto a ler e nem sei se hei de pegar pelo "civilizado", se pelo "teatro", se pelo "divertimento".

Vou começar pelo Orgulho que me esclarece que não necessito de educação. Já nasci sabedor e educado! Há uns tantos seres inferiores, que esses, sim, por mais educação que recebam, por mais formação que obtenham, jamais beneficiarão dos prazeres da civilização... 
Lá no fundo, repudio o Teatro porque, desde a origem, ele quis que os seres inferiores transpusessem o fosso que os separa dos civilizados. A teoria da catarse terá sido inventada por um rebelde que, ao contemplar a serenidade do seu Senhor, acreditou que havia uma porta - do terror e da compaixão - que levaria o escravo à superação da bestialidade, fazendo-o participar no banquete da luxúria e da soberba...
No meu Teatro não há dor nem trabalho, não há fado nem superação! Apenas divertimento, puro jogo, puro gozo, porque do meu Teatro eu contemplo o mundo inferior...

(Nunca pensei que tivesse nascido civilizado, nunca pensei que o Teatro fosse outra coisa que os olhos do mundo e, sobretudo, nunca pensei que ele se esgotasse no puro gozo do aviltamento do Outro..., mas há cada vez mais indícios do contrário!)  

13.12.13

As minhas freguesias


Nunca é tarde para enriquecer a identidade!
Com a bênção do menino Jesus, e por ação do sapientíssimo governo passei a viver na freguesia de Moscavide e Portela… Eu que nasci relutantemente na freguesia de S. Pedro, cresci na freguesia de Assentiz, me transferi por uns anos para a freguesia de S. Salvador, regressei à freguesia de Assentiz… para terminar a adolescência na freguesia de S. João Baptista. Um pouco antes da instauração do regime democrático, vivi transitoriamente na freguesia de Nossa Senhora de Fátima, saltitando com Abril, entre a freguesia da Reboleira  e a de S. João da Pedreira, para depois me instalar duradouramente na freguesia de Algueirão-Mem Martins… Só que o destino não quis que ficasse por lá e acabei por me mudar para a freguesia da Portela… agora, por decisão do sapientíssimo governo,  Moscavide e Portela…
No meio de tanta freguesia, há um dado curioso: tenho vivido mais tempo em freguesias profanas!
Boas Festas!

12.12.13

Distorção e extorsão

A ordem dos termos não será aleatória!
Confesso que me choca que a classe política não dê conta de como a realidade económica e social do país é permanentemente distorcida. Os governantes parecem viver numa redoma, imunes à permanente manipulação da verdadeira situação financeira. Multimilionários afirmam que o  «país está teso». Na verdade os cofres do Estado podem estar vazios, mas os bolsos deles estão cheios! 
A distorção, alimentada por fundações, grandes empregadores, órgãos de propaganda de interesses empresariais,  políticos internos e externos, lança diariamente o anátema sobre os funcionários do Estado e sobre os pensionistas e reformados, reduzindo-lhes a capacidade de cumprir os compromissos que, ao longo da vida, foram assumindo...
Ao lado, milhões continuam as suas vidinhas como se nada estivesse a acontecer - banqueiros, fidalgotes, clérigos, empreendedores dúbios, especuladores e apostadores, usurários, desempregados, herdeiros, proxenetas, euro-burocratas, mercenários de toda a espécie...
São milhares de milhões de euros que se escondem e se mostram sem que o Estado se preocupe com a sua origem e com o seu destino!
Perante o desleixo, a impostura e a interesseira distorção, o Governo, através do Orçamento, lança da mão da EXTORSÃO contra os do costume: funcionários públicos, pensionistas, reformados e mais carenciados...
Como se sabe, o argumento é pobre porque falta a coragem ( não faltam os cientistas políticos, os sociólogos, os economistas, os gestores, os comentadores e os comendadores!) de avaliar a distribuição da riqueza, começando por distinguir o necessário do desnecessário, o razoável do desmesurado, o produtivo do supérfluo...

11.12.13

Suspensos...

(Sigo os radares à espera que Ancara te deixe dormir duas ou três horas antes que o Sol caia sobre a cidade.)
Apesar de tanta tecnologia, as viagens continuam condicionadas pelas intempéries... ficamos suspensos... e o futuro deixa de ser perscrutado no voo das aves.
Em terra, a linearidade do dia esfuma-se e as horas correm ansiosas... Na espera, os minutos arrastam-se, prolongam-se deixando que a duração nos asfixie... 

10.12.13

Na arena

Este dia alongou-se na chuva que terá aberto as portas do céu a Mandela, apesar da sua luta privilegiar o fim do apartheid na terra. À medida que a auréola cresce, os devotos abdicam da luz e mergulham no nevoeiro de um tempo que, ainda há pouco, era promissor...
Um aperto de mão por encenar repete o do milénio... o arame farpado ignora a auréola e o gesto...
Longe da arena, abafo o medo da diferença e, sobretudo, debato-me com a inconsistência das aprendizagens: em ourique, em aljubarrota, no magreb, no índico, o bravo e não facundo Nuno, aureolado, levanta a Excalibur ao serviço de hollywood. 

9.12.13

Eu não britei pedra com Mandela!

Eu não britei pedra com Mandela ... vivia num enorme corredor, ladeado de azulejos fuzilados por baionetas francesas!
Eu não gritei por Mandela ... orava para que a senhora de Fátima nos livrasse dos vermelhos, para que a guerra acabasse e angola fosse nossa!
Eu não me vesti de negro por Mandela ... redimia-me dos pecados que cometera contra Deus e os seus imaculados representantes na Terra!
Eu não chamei por Mandela... preferia ler elegias distantes e subservientes!
Eu não visitei Mandela ... percorria os lugares desertos e as metrópoles estonteantes! 
Eu não li com Mandela ... perdia-me em guerras de alecrim e manjerona!

Eu não morri com Mandela... estou refém no meu próprio labirinto!



8.12.13

A Ilusão da Água Lilás

Para sacudir o frio e o rosário de respostas quase iguais - triste exemplo de sucesso escolar -, subi A MONTANHA da ÁGUA LILÁS, de Pepetela, e por um tempo breve instalei-me na sua encosta, como se de regresso ao Calpe primordial.
A fábula, repartida por 16 "jornadas", situa-se num Morro de Poesia, habitado por «uns estranhos seres cor de laranja, diferentes de todos os outros da Terra». Repartiam-se por «cambutinhas do tamanho de coelhos», e «Lupis» que tinham a particularidade de «lupilar», isto é, expressavam o contentamento ou a tristeza através do grito «lupi-lupi-lupi»...
(...)
Pelo que se vê, os Lupi ainda estão entre nós, embora a sua história se tenha revelado inútil, tudo porque a «água lilás», apesar de lhes matar as carraças e de lhes alegrar os humores, se esgotou depois de ter sido objeto de longa disputa entre Jaculapis, Lupões e os animais da planície ( rinocerontes, leões, onças, hienas, lagartos, cobras...)
«E como toda a estória tem um fim», «a montanha de repente ficara seca de água lilás. Só os tanques vazios e um vago perfume que neles ficou mostrava que um dia, tinha existido ali.»
Desse tempo fabuloso, apenas restam o lupi-poeta e lupi-pensador que continuam «a lupilar, todos contentes com a alegria que dá aspirar o perfume da água lilás.
Só que ainda é cedo para a fazer sair!

7.12.13

Eles falam de cátedra

Ultimamente, o Governo tudo tem feito para desqualificar a Universidade. Redução dos orçamentos, ostracização dos diplomados  e, sobretudo, menorização da formação científica e pedagógica ministrada nas diversas Faculdades...
Hoje, o exemplo vem de cima! O Presidente da República decidiu avançar nova lição, a modo de ajuste de contas: - "Eles falam de cátedra", mas quem tem o conhecimento sou eu...
(A História das relações entre os povos e do papel dos seus governantes passou a ser escrita na rua...)

E nem vale a pena referir os relvas para quem é perfeitamente normal concluir cadeiras sem que elas tenham funcionado... 

6.12.13

Rolihlahla e a gravilha

Durante todo o dia, os presos de Robben Island sentavam-se em filas no pátio e partiam pedras, para as transformarem em gravilha. Entre eles, Nelson Mandela: de 1964 a 1990.

Este Homem partiu a pedra e com a gravilha foi construindo uma nação, uniu os homens que outros homens tinham separado...
Nestes dias em que a rocha se transforma novamente em gravilha, bom seria que os colaboracionistas reconhecessem, finalmente, que estavam do lado errado ou, pelo menos, que ficassem em casa à lareira...
            pois o que possam dizer em louvor do Homem não apaga o que ficou por fazer nem exorciza os crimes que continuam a cometer!

Rolihlahla (18.07.1918-05.12.2013) Que a árvore de onde se soltou o possa acolher enquanto os homens a não desenraizarem!

5.12.13

Desabilitados para a docência


Segundo o aviso do Ministério da Educação e Ciência, os candidatos inscritos para a prova de avaliação de conhecimentos e capacidades, com "cinco ou mais anos de serviço docente" que não a queiram realizar, devem manifestar essa pretensão no portal http://pacc.gave.min-edu.pt, a partir de sexta-feira e até às 18:00 de segunda-feira.

Depois de um secretário de estado da educação ter afirmado que o Governo conta com os professores e que tudo faz para os dignificar, depois de ter ouvido uma vice-presidente pedir às autoridades que auxiliassem os cidadãos a evacuar a galeria, isto sem falar da advertência da senhora presidente de que a manifestação no interior da Assembleia da República é CRIME... fico-me pelo registo de uma anedota que qualquer um pode ler no MUNDO DO FIM DO MUNDO, de Luis Sepúlveda.

«Um bom amigo meu, um marítimo chilote que merece o título de lobo do mar, trabalhou durante muitos anos como patrão de alto mar no Estreito de Magalhães. O homem pegava no leme de qualquer barco e conduzia-o sem problemas para o Pacífico ou para o Atlântico. Mas o meu amigo tinha o pecado de nunca ter estudado numa escola naval e, para cúmulo dos seus males, era socialista. Quando veio o golpe militar de 73 e os tropas se apoderaram de tudo, a governação marítima de Punta Arenas notificou-o para fazer um exame antes de lhe renovar a licença de patrão de alto mar. Pois muito bem, o meu amigo César Acosta e os seus quarenta anos de experiência sentaram-se diante de um imbecil com o posto de tenente da Marinha. O oficialzito estendeu uma carta marítima do estreito e disse-lhe: «Indique-me onde estão os bancos de areia mais perigosos.» O meu amigo coçou a barba e respondeu-lhe: « Se o senhor sabe onde estão, felicito-o. A mim, para navegar, basta-me saber onde não estão.» ( Traduzido do espanhol - Chile - por Pedro Tamen)

PS. E depois das provas ou do perdão das provas, segue-se o período probatório, em que se pode ser novamente desabilitado...

4.12.13

Determinado o cluster educativo

Por tudo e por nada avalia-se! Houve um tempo em que nada era avaliado. Como diria o paspalho: - Não há fome que não dê em fartura!
A moda está em enviar uma brigada, vulgo troika, "junto de uma unidade orgânica" e submetê-la ao teste da eficácia educativa, isto é, à avaliação dos resultados académicos...
Determinado o cluster educativo, três dias é quanto basta para que três avaliadores oiçam em múltiplos de três os agentes e os pacientes da ação educativa... Aos últimos compete fornecer os dados que legitimem a bandeirinha colocada em montes de reduzido, fácil, médio e elevado acesso. ( Espero que não deixem de fora o Monte da Lua!)
No final, a brigada voltará com um plano de melhoria para que os resultados académicos possam superar os anteriores e, assim, colocar a unidade orgânica na Montanha da Água Lilás...

« A montanha tinha dois cumes principais:o cume Lupi, o mais alto, onde nascia o rio do mesmo nome, e o cume do Sol, no extremo oposto. No meio dos dois cumes, havia um morrozito com pedras, sem plantas nem árvores, apenas capim baixo. Era o sítio mais calmo e perfumado da montanha e dali se podia ver melhor o luar de Lua cheia; por isso era o Morro da Poesia.» Pepetela

Para o caso de a brigada me querer ouvir, aviso que estarei à espera no morrozito com pedras, aquele em que os resultados cedem o lugar às pessoas, mesmo que sejam os espinhos do caminho...


3.12.13

Ao sétimo dia, eles folgam...

Um destes dias, dei conta que há verbos pouco afortunados. Por exemplo: tributar, endividar-se, falir. E quando tal acontece, preferimos abrir falência ou, melhor ainda, decretar falência, pois a responsabilidade deixa de ser nossa, tal como preferimos atribuir a dívida a outrem, em vez de reconhecer que passamos as horas a endividarmo-nos e sempre com a desculpa da tributação, outrora da corte, atualmente dos credores...
Não sei se chegámos ao sétimo dia da criação da dívida, mas consta que hoje é dia folgar: o governo conseguir negociar o adiamento do pagamento da dívida, aumentando o endividamento do país. Neste cenário, seria de esperar que o povo também pudesse viver  com maior desafogo em 2014 e 2015... Mas não! Os cortes já estão inscritos no OGE... e a folga vai servir para alimentar o foguetório eleitoral que se aproxima.
Depois, em 2016, ergue-se a forca. Só resta saber quem será o enforcado! Pode ser que, não tendo o povo folgado, o feitiço acabe por se voltar contra o feiticeiro.
E como não gosto de surpresas, proponho, desde já ao ministro crato, a abertura de um curso profissionalizante de carrasco cujas habilidades tanto podem ser colocadas ao serviço do ministério da justiça como do ministério da agricultura (exemplo de ensino dual, em que eu me encarregarei de explicar a riqueza semântica do carrasco e seus derivados...)

2.12.13

Já não se trata da opus dei, mas da obra de crato

Nuno Crato: - "É nossa intenção que cerca de 50% por jovens do ensino secundário possam estar numa formação profissionalizante e temos aqui um bom exemplo de como os jovens podem sair com boas aptidões para entrarem no mercado profissional de trabalho ou prosseguirem com os seus estudos." (SOL)

Crato quer, o empreendedor sonha, a obra nasce.
Que o ministro queira, eu ainda entendo. Agora que o empreendedor sonhe, duvido. Talvez haja uns tantos a esfregar as mãos de contentamento: a mão-de-obra barata sempre dá jeito... 
Quanto à obra, teremos de esperar, pois já não se trata da opus dei, mas da obra de crato.

Felizmente que temos um ministro que leva o nome a sério. Não lhe faltem o querer, a espada e a auréola!
E talvez valha a pena lembrar ao senhor ministro que para que Portugal se cumpra, não é necessário importar o modelo chinês, alemão ou, mesmo, indiano. 

PS. Com os meus agradecimentos ao senhor Fernando Pessoa...


1.12.13

Programa de Português do ensino secundário em discussão pública

Acordei e fui ler uma segunda vez a Introdução do Programa e Metas Curriculares de Português - um pouco à maneira de Aquilino Ribeiro: ALCANÇA QUEM NÃO CANSA!
Ora na página 6, em tradução livre, os autores do documento citam Shanahan, 2012 - "A recompensa resulta da capacidade de perseverar".
Estou completamente de acordo, só tenho pena que o Aquilino Ribeiro fique de fora. Também ele condenava o facilitismo e, sobretudo, porque mostrou ser capaz de estabelecer conexões que fazem das suas obras exemplo de TEXTO COMPLEXO.
(Por outro lado, estou em desacordo porque não creio que sob a citação deva aproveitar-se para criticar o Programa anterior e os seus gestores - os professores.)
Retomando a noção de texto complexo e a defesa da sua centralidade no novo Programa, registo que os autores reconhecem que ele exige: «vontade de experimentar e compreender»; «existência de poucas interrupções»; receptividade para aprofundar o pensamento». Qual é a novidade? A ideia de que o texto literário se situa no leque dos textos complexos? 
No essencial, estou de acordo, mas será que o MEC tenciona disponibilizar as horas letivas suficientes para compensar «a falta de experiência de leitura», para proporcionar o «trabalho mais lento» necessário à chamada «compreensão inferencial»?
Há ainda um outro detalhe em que vale a pena refletir. A complexidade do texto resulta apenas da sua especificidade ou depende em muito da maturidade do aluno? Para um aluno do 10º ano, a leitura de uma cantiga de amor será menos complexa do que a de um poema de Fernando Pessoa?
No atual contexto ideológico, a disciplina de Português não deveria envolver-se em qualquer projeto de educação literária. A educação é um problema dos pais ou, pelo menos, parece ser.Os pais é que a escolhem a escola! Há que combater o eduquês! Isto é, o professor só deve preocupar-se em estimular a concentração e a lentidão da aprendizagem. 
Eu, no lugar dos pais, exigia educação artística, científica e humanística!
E mais não quero dizer porque ao fazê-lo num blogue, pratico um mau exemplo de texto complexo! Falta-me a visão global... em pedaços me dissolvo ou, talvez, em fragmentos....
(À parte) O último parágrafo da página 9 faz-me lembrar outros tempos: «Em suma, defende-se uma perspetiva integradora do ensino do Português, que valoriza as suas dimensões cultural, literária e linguística...» Só falta a dimensão discursiva!
Finalmente que Projeto de leitura é este que se limita à escolha anual de uma ou duas obras em que os autores portugueses ficam excluídos, em particular os VIVOS?

PS. Já me esquecia de aplicar a minha capacidade (ou será competência?) inferencial: «Como lembra Bauerlein (2011, 29), os textos complexos podem ir desde "uma decisão do Supremo Tribunal a um poema épico ou a um tratado de ética"... (Programa, 6) Os sublinhados são meus...