31.5.19

Mais um parecer jurídico?

A Comissão de Orçamento, Finanças e Modernização Administrativa (COFMA) vai pedir um parecer jurídico aos serviços da Assembleia da República sobre a informação que pode ser divulgada sobre os grandes devedores da banca, disse hoje a presidente da comissão. Grandes devedores

Tanto pedido de parecer jurídico já aborrece! Fui consultar o Regime do Segredo de Estado por causa das dúvidas e não encontrei razão para tanta delonga. Só as cumplicidades parecem explicar o estado a que chegámos… 

«Consideram-se interesses fundamentais do Estado os relativos à independência nacional, à unidade e à integridade do Estado ou à sua segurança interna ou externa, à preservação das instituições constitucionais, bem como os recursos afetos à defesa e à diplomacia, à salvaguarda da população em território nacional, à preservação e segurança dos recursos económicos e energéticos estratégicos e à preservação do potencial científico nacional.» Diário da República n.º 150/2014, Série I de 2014-08-06 
Antes que se faça tarde, o melhor é começar por averiguar a dimensão do negócio dos pareceres jurídicos…

30.5.19

Também eu me queria a milhas...

A foto não é de Cabeço de Vide, é da Ribeira Grande (Fronteira, Alentejo). Desviei (?) no regresso para ver a Praia Fluvial, mas fiquei-me pela estreita ponte, assustando a passarada que, entretanto, se pôs a milhas…
Também eu me queria a milhas da canícula alentejana… e da propaganda que um dia apregoou urbi et orbi a reforma agrária que continuo a não vislumbrar, a não ser que ela se tenha materializado nos extensos olivais que cobrem, por exemplo, as extensas encostas de Avis.
Parece que Abril não foi capaz de seguir o exemplo do Mestre que, justa ou injustamente, lá foi redistribuindo as terras para pagar os serviços de quem o colocou no trono…

29.5.19

Andamos todos de partida

Só oiço queixas, exigências!
Todos querem qualquer coisa, independentemente dos meios…
É só sonhar e a porta escancarada abre para o mar da fantasia.
Esse mar fica longe, vai-se de avião com hotel reservado e carro alugado. Tudo pago! Não interessa por quem, se por ninguém… 
Não ser o último a partir é a única preocupação.
Já ninguém quer ficar!
Ninguém quer ser!
Andamos todos de partida, mesmo arriscando a chegada...

27.5.19

Suspeito que

«E tudo se passava numa outra vida / E havia para as coisas sempre uma saída», Ruy Belo, E tudo era possível (poema)

Suspeito que o que andamos a pedir não é assim tão simples!
Se descermos ao particular, à experiência de vida, essa outra vida pode nunca ter existido. O poeta, abençoado, já experimentara tudo nas páginas dos livros. 
Só que, para muitos, não houve 'leitura' do mundo porque não havia livros, só pagelas de piedosas figuras martirizadas… 
A saída de casa dos pais não significava perda mas, sim, descoberta, mesmo se os obstáculos diários pareciam inultrapassáveis…
Neste hora pastosa, suspeito que para muitos talvez não haja condições para compreender a nostalgia do poeta, e que a escola atual seja um impedimento maior.

26.5.19

Eleições europeias 2019

Le taux de participation est « le plus élevé en 20 ans », avec une estimation de 51 % pour les 27 pays de l’UE, sans le Royaume-Uni. Le Monde avec AFP Publié aujourd’hui à 19h43, mis à jour à 22h43 

Em Portugal, a taxa de participação parece ser a mais baixa de sempre. Falta de civismo?
Mais de 68% não foram às urnas!

Não se vê...

É azul, mas não se vê, a borboleta! Resta o passadiço, o verde e a luz, o que já não é pouco…
Para quê o azul da borboleta? Por ora, a informação da sua existência é suficiente.
Não tive tempo de lhe perguntar se foi votar na esperança, mas deve ter ido que as borboletas não perdem a ocasião… ao contrário de muitos bípedes que desprezam a sorte que têm…

25.5.19

Em finais de Maio...

Este maio é mais subjetivo. Já não o vejo na sequência do eterno retorno… vejo-o como derradeira expressão de um observador que, durante mais de vinte de anos, se habituou a procurar as folhas e as flores, e se foi apercebendo que nem sempre os jacarandás cumprem as expetativas… 
Apesar da goma escorregadia, a cor enfeitiça!

23.5.19

Tal como as borboletas

Tal como as borboletas, nada tenho a acrescentar. Saltito de tarefa em tarefa, desligado da campanha que atravessa o calendário das feiras… 
Não imagino o que as borboletas possam pensar quando as caravanas se aproximam, mas observo que elas se escondem ou, pelo menos, volteiam como se temessem pela vida…
Instintivamente, procuramos a vírgula que nos retenha a respiração, não vá ela abandonar-nos de vez… ela, ambígua, a respiração ou a vírgula?
Tanto faz! 

21.5.19

O Imaculado Coração de Maria e o rosário...

No dia 18 de maio, em Itália, rodeado de comparsas da extrema-direita, Matteo Salvini empunha o rosário e evoca os seis «santos patronos» da Europa, segundo a Igreja Católica: Benoît de Nursie, Brigitte de Suède, Catherine de Sienne, Cyrille et Méthode, et enfin Thérèse-Bénédicte de la Croix (née Edith Stein, morte à Auschwitz en 1942). Avant de vouer l’Italie, et sa victoire électorale prochaine, « au Cœur immaculé de la Vierge », le tout en agitant un rosaire avec des gestes de bateleur. A extrema-direita europeia

Matteo Salvini, deliberadamente, esquece Robert Schuman, Jean Monnet, Altiero Spinelli e Alcide Gasperi, para além de renegar o paganismo do último chefe de fila da Liga do Norte, Umberto Bossi… O que importa é conquistar o voto da Itália mais conservadora...


20.5.19

EU VOTO FÚTIL!

Mais depressa do que podia imaginar, um 'ambicioso' chegou-se à frente e gritou: - Se queres uma Europa federal e solidária, VOTA FÚTIL!
Agora só me resta continuar atento aos 'ambiciosos' de serviço.

19.5.19

O regabofe

Anda por aí um banqueiro a apregoar que 'ao povo português falta ambição'. É possível, mas não é por falta de gente ambiciosa.
Basta ver o que se passou nos bancos portugueses nos últimos anos para perceber que muita gente procurou o estrelato à custa do pagode. Foi um regabofe!
Em matéria de psicologia coletiva, é difícil alterar atitudes antigas, no entanto, bom seria que não tivéssemos de assistir às cenas dos últimos dias - do parlamento aos estádios, passando pelas televisões, redes sociais e, sobretudo, pelas folclóricas arruadas.
Faltam 8 dias para as eleições - há até quem já tenha votado! - e eu ainda não encontrei um 'ambicioso' que me explique porque devo ir votar no dia 26 de maio.
E eu que até sei que Europa quero, não encontro quem a defenda - uma Europa federal, solidária.

18.5.19

Tremor de terra na União Europeia?

Dans un entretien accordé au Parisien, M. Bannon dit avoir choisi de venir en France parce que « de toutes les élections qui auront lieu le week-end prochain en Europe (…) c’est de loin, ici, (…) la plus importante » et ce à cause du « positionnement mondialiste » d’Emmanuel Macron. « C’est un référendum sur lui et sa vision pour l’Europe », a ajouté M. Bannon qui prédit un « tremblement de terre » dimanche 26 mai.

Pois é, a queda parece inevitável, exceto, aqui, em Portugal, no país das melgas... Ou será dos comendadores?

17.5.19

A estátua do comendador

Joe Berardo é Comendador da Ordem do Infante D. Henrique desde 1985, tendo recendido ainda a Grã-Cruz da Ordem do Infante D. Henrique, em 2004...

O alarido em torno do senhor José Manuel Rodrigues Berardo parece-me exagerado. Não creio que dois presidentes da República se tenham enganado ao distingui-lo… 
A narrativa da queda cheira-me a esturro. 
Só o estudo rigoroso do assalto ao poder entre 12 de março de 2005 e 21 de junho de 2011 poderá explicar o buraco negro, entretanto, criado.
A altivez e o riso alarve do senhor José Berardo são compreensíveis. Afinal, a comissão parlamentar não se tinha preparado para interrogar a estátua do comendador.

Durante anos foi um investidor na bolsa portuguesa e é aqui que surge o problema. Joe Berardo comprou um lote de ações do BCP,  em 2007, quando se preparava uma luta de poder pelo banco, com a queda de Jardim Gonçalves e a demissão de Paulo Teixeira Pinto. A 4 de janeiro de 2008, o Público  noticiava que apoiantes de Carlos Santos Ferreira, ex-presidente da Caixa,  tinham pedido empréstimos ao banco público para comprar ações do BCP. Queriam abrir caminho à entrada de Santos Ferreira (com Vara) para liderar o BCP. Santos Ferreira acabou por presidir ao BCP, mas Berardo, viu o investimento desvalorizar em catadupa. Nos últimos anos, deixou de ser um dos mais ricos do País. Berardo e o BCP

16.5.19

O falso método de estudar

«Quando chegam aos exames e provas de aferição, “os alunos não falham na memória (…) falham na análise e na crítica”, disse o secretário de estado da Educação, lembrando os problemas que os estudantes têm revelado nas provas quando lhes é pedido para raciocinar, argumentar ou relacionar conceitos.» João Costa 'Ensinar e avaliar'

Os alunos não falham no exames, falham todos os dias. Porquê?
Porque o que se exige diariamente é muito pouco - estar, se possível, sem perturbar.
Paradoxalmente, aprendem cedo a criticar, embora não queiram analisar, pois tal significa empenho, trabalho, raciocinar, extrapolar…
Neste caso, quem me surpreende é o secretário de estado da Educação que, no cargo em que foi investido, já poderia ter acabado com este falso método de estudar. Já teve tempo para por cobro à ditadura das Editoras e do IAVE. 

14.5.19

O homem de lata

Não fez parte da minha infância, o homem de lata. A distância era intransponível, apesar dos 50 anos decorridos desde que ele surgira na América… No entanto, o homem de lata ocupou muito do tempo dos meus filhos…
Ao vê-lo no ecrã, ia pensando que, apesar da bondade, havia ali um mundo sem alma, sem Deus. E esta ausência, à época, não me afetava por aí além. No caso, a distância também era intransponível…
Hoje, no metro, lembrei-me dos escritos - os escritos na vidraça que indiciavam que a casa 'se alugava ou se vendia'.
Hoje, no cais, lembrei-me dos escritos - os corpos que por ali passavam surgiam todos anotados, como se houvesse algures um Escriba Supremo…
Ainda pensei numa possível exegese, mas recuei não fosse descobrir «o triunfo puro da mercadoria». (Eduardo Lourenço)

13.5.19

Descaramento

António Costa disse no Parlamento que todo o país está "chocado" com o "desplante" de Joe Berardo perante a comissão de inquérito à Caixa.

O país  deveria estar chocado com o 'desplante' de um Estado que deixa à solta indivíduos da estirpe de Joe Berardo…
Quantos outros estão presos por dívidas bem menores?!

12.5.19

O velho professor

O velho professor encontrou quem lhe desse um bordão. No entanto, nos dias que correm, para os professores só há bordoada.
Reparem que, no caso do 'velho professor', até lhe foi melhorada a visão, talvez para poder ver que os tempos dos mais novos não andam de feição. 

11.5.19

Às arrecuas, a União europeia

O federalismo
Formação_federalismo

Viriato Soromenho-Marques, Portugal na Queda da Europa, Temas e Debates, Círculo de Leitores, p.349:

«No domínio conceptual encontramos a raiz da objeção contra o federalismo efetuada em nome do privilégio da homogeneidade, sob todas as suas formas. Na verdade, ela abriga-se, não num conceito, mas sim num preconceito, que poderemos designar como uma metafísica naturalista da identidade política.» 

Nestas eleições para o Parlamento Europeu, como só me interessam as invisíveis propostas federalistas, sinto-me incapaz de avaliar o que se está a passar em diversos países… até porque não me é dada a possibilidade de votar numa proposta transnacional… 
Resta-me voltar a ler Kant e procurar compreender porque é estou a andar ao contrário.


10.5.19

Inaudíveis, as palavras

Quando as vias respiratórias superiores claudicam, as palavras tornam-se inaudíveis. Do outro lado, alguma compreensão, embora, em certos casos, predomine a indiferença e até um certo desafio…
Hoje, no entanto, vi-me confrontado com alguma amargura, porque os poetas (os escritores) parece que desconhecem a alegria: é só tristeza, dor, pequenez…
Apesar do dia não ser o mais alegre, lá fui explicando que a poesia ou é  narcisista ou lacrimejante - celebra a glória pessoal e coletiva; celebra a perda…
Na literatura portuguesa predomina um sentimento de perda (de impotência individual e nacional) ou, então, de nostalgia mais ou menos infantil, mais ou menos patrioteira…
E daqui não saímos, nem mesmo quando nos oferecem bilhete para construir uma outra europa -federalista e solidária…
Quando as palavras se tornam inaudíveis, há que desconfiar das reticências.   

9.5.19

Notas sobre a história da pontuação

C’est au IIe siècle av. J.-C. que l’on estime la naissance de la ponctuation grâce à Aristophane de Byzance (257- vers 180), alors conservateur à la bibliothèque d’Alexandrie, qui utilisa un système de trois points pour couper les phrases : le « point parfait », positionné après la dernière lettre, en hauteur, indiquait que le sens de la phrase était complet ; le « point médian », situé à mi-hauteur, avait la fonction de notre point-virgule actuel ; quant au « sous-point », placé à l’extrémité inférieure d’un mot, il faisait office de point final. On retrouve d’ailleurs dans ce système de points l’étymologie du mot « ponctuation », du latin punctus qui signifie « point ». A história da pontuação
Au Moyen Âge, Gasparino Barzizza, (1370-1431), rédige le premier traité de ponctuation, La Doctrina punctandi.
La ponctuation s’est surtout développée avec l’apparition de l’imprimerie (vers 1440). Goeffroy Tory (1480-1533), par exemple, invente l’apostrophe et le point crochu qu'Étienne Dolet (1509-1546) renomme « virgule » dans son ouvrage Traité de la ponctuation de la langue françoise plus des accents d’ycelle. La Renaissance est également l’époque où l’on invente les signes diacritiques (comme la cédille et les accents). Les signes de ponctuation tels que nous les connaissons sont des apports successifs liés à l’essor de l’imprimerie. Ils seront pleinement organisés à partir du XVIIIe siècle. Dans l’article Ponctuation  de L’Encyclopédie, Nicolas Beauzée défend avec force l’intérêt de la ponctuation. Il la règle sur les besoins de la respiration.
No início do século XV, o ponto, a vírgula e os dois pontos tornaram-se frequentes. No século XVI, surgem as maiúsculas, a apóstrofe e o ponto de exclamação.
No entanto, até ao século XVIII, a pontuação só tem o valor de «respiração». A partir dos finais do século XVIII, a pontuação passa a ter uma função gramatical - ela influencia o sentido da frase.
No século XX, a utilização da pontuação é regulamentada, apesar de todo o tipo de transgressões.

Le XXIe siècle et l’apogée de l’Internet ont vu la ponctuation se métamorphoser ; les smileys et le langage SMS apportent des éléments nouveaux, propres à l’époque dans laquelle nous vivons

8.5.19

O Nogueira do Sindicato

Ouvi dizer que o Nogueira do Sindicato está a pensar em abandonar o Partido Comunista. Surpresa! Espanta-me que o PC acolha árvores de tal porte… Sempre me habituei a pensar num Partido rigoroso… por vezes, até demais.
Os tempos andam revoltos. Hoje vi tratar o Nogueira como «o professor de Coimbra» e logo pensei que se trataria da reencarnação do de Santa Comba…
A esta hora, o Nogueira deve estar a acender uma vela à UTAO!

Mais 398 milhões de euros: é este o custo que teria a recuperação integral do tempo das carreiras especiais, estima a UTAO.
Só que o Governo discorda: Descongelamento de carreiras: “Cálculo da UTAO é totalmente arbitrário.

7.5.19

Memórias de Tomar

Faleceu José Carlos Camolas, jogador do União de Tomar no tempo em que eu estudava na cidade nabantina - 1971-73. Creio que na mesma época lá jogou o Eusébio...
No entanto, nunca entrei no estádio, embora, inicialmente, vivesse muito perto dele. Hoje, ao ler que falecera Camolas, lembrei-me que sempre associara aquele nome ao proprietário de uma loja, onde comprei duas ou três garridas camisas aos quadrados…
Ainda recordo a rua estreita, a montra da camisaria, a pensão em que vivi temporariamente, e sobretudo a Biblioteca, da qual ainda hoje conservo uma pequena obra de David Mourão-Ferreira, Motim Literário, editada pela Verbo em 1962, com o carimbo da Fundação Calouste Gulbenkian.
Confesso que nunca foi minha intenção ficar com o livrinho cujo título fora roubado a José Agostinho de Macedo, mas da última vez que passei por Tomar, apercebi-me que a Biblioteca mudara de lugar tal como eu…
Entretanto, espero que esta memória não seja falsa!


6.5.19

Não é fácil ser...

Não é fácil ser… num país que não perde a oportunidade de adular a inteligência do chefe, sobretudo, quando se trata do primeiro-ministro.
A natureza do chefe é virtuosa e temporã. Desperta nos humildes e nos invejosos atitudes próprias dos hienídeos.
Não é fácil ser… quando o chefe é venerado por hienas cabeçudas que só sabem abanar a cauda.
(Infelizmente, as hienas não correm perigo de extinção.)

5.5.19

Em desiquilíbrio

À boleia do equilíbrio orçamental, velejamos mesmo que a seca se aprofunde. O paradoxo ignora a dívida, a baixa produtividade, a fragilidade da iniciativa pública e privada… 
Na origem do desequilíbrio estão as alterações climáticas - a inteligência diminui a cada hora que passa, com perogrulhada ou não - como é óbvio, em tradução portuguesa.
Lá dizia Saramago "Nunca tivemos melhor filósofo do que Pero Grullo".

4.5.19

A peste

Ainda estou a recuperar do castigo… do tempo perdido.
Face à balbúrdia instalada, só me resta aquietar-me, não venha o velho Tirésias revelar-me que sou fruto de algum desmando ancestral, e que para sempre devo penitenciar-me… cegar-me. 

3.5.19

O canivete português

Ainda pensei na espada de Dâmocles! Depois pensei na Excalibur… no gládio ungido do Mestre da Paz… no entanto, vou ficar-me pelo canivete português - à sorrelfa, o truão lá vai repartindo o quinhão.
O resto é conversa de empanturrar! Por exemplo, diz o enfatuado: - "O professor no topo de carreira ganha « à roda de três mil euros.» Ganha mas não recebe! Em muitos casos, não chega a receber 1900 euros líquidos…
Vá lá! Multipliquem por 14...

2.5.19

Amanhã

Francisco Goya, 3 de maio de 1808

Carta a meus filhos sobre os fuzilamentos de Goya
 (Poema lido por Eunice Muñoz)

(…) Tudo é possível,  
ainda quando lutemos, como devemos lutar,  
por quanto nos pareça a liberdade e a justiça, 
ou mais que qualquer delas uma fiel  
dedicação à honra de estar vivo.  
(…)
Jorge de Sena


Este espantoso quadro de Goya é uma das imagens mais memoráveis da desumanidade do homem para com o homem. Os exércitos de Napoleão ocuparam a Espanha, mas no dia 2 de maio de 1808, os cidadãos de Madrid levantaram-se contra os franceses. No dia seguinte, o exército francês revidou com uma terrível vingança, executando centenas de rebeldes e muitas outras pessoas que eram apenas observadores dos inocentes. Goya só conseguiu registrar esses factos alguns anos depois, quando o rei Fernando VII foi reconduzido no trono espanhol. O quadro transcende o contexto histórico específico e demonstra duas características principais da arte de Goya: suas imagens marcantes e diretas, e sua moralidade que questiona mas, em última análise, é distanciada.
Este quadro de Goya intitula-se O 3 de Maio de 1808 em Madrid: Os Fuzilamentos na Montanha do Príncipe Pio, embora também seja conhecido por Os Fuzilamentos da Moncloa.
É pintado de forma totalmente anti-retórica: num charco de sangue, três cadáveres no chão, enquanto um frade e alguns camponeses esperam receber a descarga; aproxima-se deles uma outra fila de condenados que vão morrer. É noite; contra o céu escuro recorta-se o perfil da capital e, em primeiro plano, rodeado de luzes e sombras projetadas de encontro ao muro por uma lanterna, tem lugar a execução brutal e sem piedade.
A atenção concentra-se na figura do condenado de camisa branca e com os braços em cruz que desafia os soldados sem rosto, curvados e fixos no ponto de mira, enquanto o frade reza e os restantes fazem gestos de desespero, numa atmosfera ainda mais gélida, devido ao sangue que se espalha pelo chão e que chega aos pés dos algozes.
A camisa imaculada, prestes a ser trespassada pelas balas, converte-se no estandarte de uma denúncia universal contra a guerra.
              Simone Martins, 7 de outubro de 2017