31.8.19

A CASA

«Vous croyez être un édifice, vous n'êtes que des pierres.» Joseph de Maistre, in Contre la Grèce et les Églises séparées

Joseph de Maistre tinha horror do individualismo. Acusava-o de soberba e de gratuidade. Nada mais absurdo do que um protestante que, apenas, existe para destruir… 
Por estes dias, só vejo pedras, cada uma com o seu projeto de edifício, mesmo que isso signifique destruir a CASA …

29.8.19

Problemas

Problemas não faltam. Todos os temos. Alguns têm solução, outros, não. Óbvio!
O mais frequente parece ser o da falta de educação dos governantes e por aí abaixo...

Hoje, acordei com um problema de pontuação. Por mais que me esforce, saio quase sempre na paragem errada.
Estou em crer que a causa do meu problema é o excesso de peso. Lá dizia o doutor: «ao menino para engordar basta uma corrente de ar», sem pausa na sopradela...

28.8.19

Que mais?

Quando a perceção é desequilibrada, a razão desliga; só a vontade tudo atropela.
A vontade de ter.
A vontade de ser.

No melhor dos casos, os outros são áulicos. No pior, são vítimas. 

25.8.19

Uma ideia sem futuro

«Une idée nette est une idée sans lendemain.» E. M. Cioran

Felizmente que com a idade, as ideias se tornam raras e, sobretudo, pouco claras...Caso contrário, pensar seria um desperdício. 
Aposto que por estes dias, uma foto, mesmo que pouco nítida, desperta muito mais atenção… e não necessita de ser necrótica.

23.8.19

De regresso ao português

Já deixei atrás um apontamento sobre o  capitão que  só falava alemão. Em Hamburgo, é extremamente difícil comprar uma revista ou um jornal em inglês ou em francês. Só, ontem, consegui, já no aeroporto, comprar o LE MONDE… Nas caixas das galerias comerciais, na restauração, mesmo que digas que não compreendes, continuam a fazer perguntas e a dar explicações em alemão… 
No regresso, excecionalmente, encontrámos um taxista iraniano que se preocupava em saber qual era a origem dos passageiros e que, durante o percurso, descobriu uma aplicação em português para se identificar e, sobretudo, para vincar que a mãe era arménia, talvez porque eu lhe dissera que o "Irão era um grande país"... No entanto, este cidadão do mundo nem sabia que  Portugal existe e que, quando nos descobriu no mapa, logo quis saber se eramos cristãos… Desisti de lhe explicar que há mil anos havia por cá muitos árabes...
No aeroporto, nos controlos rigorosos, ninguém explicou as situações por que íamos passando e, principalmente, que íamos viajar na AIR LAUDA, ao serviço da Ryanair, com uma tripulação austríaca (?) e que os lugares, pagos antecipadamente, poderiam ser ocupados por um casal teutónico, cujo macho se revelou irremovível… À volta, tudo era tedesco!

21.8.19

O capitão que só falava alemão

A navegação era de uma hora no lago Alster, Hamburg… 
A paisagem deslumbrante, a linha de terra rica, os desportos de vela dominavam… só o capitão narrava divertido algo que me pareceu ser sobre o custo dos imóveis que se alinhavam em torno da toalha de água. Vislumbrei por instantes a Casa Branca com bandeira americana, mas não percebi o que é que os americanos faziam por ali… depois de terem destruído uma boa parte da cidade e do porto de Hamburgo em 1943 e 1944.
Alguns passageiros sorriam dos dizeres do capitão… os restantes, orelha murcha, nada entenderam, embora eu tenha pensado que aquele capitão tinha uma segunda profissão - agente imobiliário.

19.8.19

Hamburgo

Chuva no sábado e no domingo, apesar de não ser muito intensa. Temperatura agradável para quem não tem o 'termostato' avariado, o que se pode tornar numa carga de trabalhos...
Hoje, o sol fez a sua aparição logo pela manhã, mas sem grande convicção.
As ruas são enormes, lateralmente fechadas, provavelmente para evitar os corredores de vento… não creio que corram todas para o rio, com sinais de opulência pós-guerra, e desvairadas gentes, como diria o Fernão Lopes. No caso, as gentes tanto são múltiplas, diferentes, como dão sinais de degradação social e, sobretudo, pessoal… 
Ainda não compreendi se existe um grande projeto, mas a verdade é que a cidade está transformada num enorme estaleiro.

17.8.19

A prova

A prova que faltava da minha vontade de visitar a Susana em Hamburgo. Durante 16 dias li A Montanha Mágica e ao 17º aterrei num lugar um pouco cinzento… e húmido. 
Amanhã, ver-se-á.

16.8.19

Terminei a viagem à Montanha

Chegado a Agosto, tinha a clara intenção de ler A Montanha Mágica de Thomas Mann. A edição da Dom Quixote pesa mil e 100 gramas, e a letra é pequeníssima - mais uma dificuldade! (1.08-2019)

A 16.08.2019, terminei a leitura. Não me sinto defraudado, apesar das minhas expetativas românticas não se terem realizado.
Hans Castorp passou 7 anos no Sanatório, desprendendo-se do Tempo e da Planície e, quando parecia que por lá continuaria, a política internacional despertou-o para uma guerra que fora  arduamente antecipada por Settembrini e Naphta, cujo antagonismo descambara em inevitável irracionalidade… que se desenvolveu no solo europeu de 28.7.2014 - 11.11.1918...

Por AQUI

Por AQUI se pode aferir que o grau zero da leitura é possível. As alternativas são imensas, nem sei mesmo se a leitura ainda é considerada 'alternativa' em certos meios...
Não querendo contrariar a tendência, meti-me, no entanto, a caminhar pela 'Montanha Mágica' e estou a chegar ao fim da estadia. Ainda não sei porque é que a dita é 'mágica', apesar da escrita ser fascinante…

15.8.19

Entretanto

Entretanto, Clawdia partiu sem explicações ao leitor, pelo menos até à página 787...  Quem regressou foi o fantasma de Joachim, a solicitação do primo Hans durante uma sessão espírita... 
O Sanatório parece ter caído nas mãos do doutor Krokowski e estar 'presentemente' dominado pela irracionalidade que, na perspetiva de Settembrini, também alastra rapidamente na planície.... 
A música passou a ser o único porto de abrigo de Hans Castorp, o que revela um afastamento cada vez maior da realidade... da passagem do tempo social...

14.8.19

Por este andar...

Por este andar, vou deixar de rabiscar.
Diga-se, de passagem, que o verbo me parece duvidoso, mas que fazer nestes tempos de puritanismo filisteu!
A razão é objetiva - não consigo sair da 'Montanha' e já percorri o caminho até ao misterioso suicídio  de Pieter Peeperkorn, 'personalidade' de grande 'envergadura'.... Isto há cada apelido!
A três dias de partir para Hamburgo, sinto-me ansioso por saber se Hans Castorp, acompanhado de Clawdia Chauchat, terá regressado à planície, à cidade do norte da Alemanha de onde saíra, já não se sabe há quanto tempo - lugar onde, para todos os efeitos, já teria sido esquecido...
No entanto, há sempre uma outra hipótese: Wehsal assassina  a Beatriz de Hans. Vamos ver se chego a tempo.

12.8.19

De regresso

Ontem, nem sequer cheguei a entrar na 'Montanha', lembro agora, o que me deixa pesaroso, como se a ficção fosse mais interessante do que as filas para atestar o depósito de gasolina. Eu, que raramente o faço, lá me sujeitei ao ritual deste último domingo, em vez de entrar num qualquer templo religioso como mandaria a boa educação…
De regresso à 'Montanha' e a casa, avancei, entretanto, até à página 610, por entre debates fervorosos de Naphta e de Settembrini sobre a natureza das ações do homem ao longo dos séculos - obscurantista e iluminada - sem que Hans Castorp se disponibilize a favorecer um dos seus mentores… posto que tal lhe inviabilizaria, por exemplo, a experiência alucinatória vivida durante um nevão.
De significativo, no VI capítulo, o retorno e a morte plangente tenente Joachim, sem que o patético deixe de nos convidar à gargalhada nos momentos mais solenes:
«A senhora Stohr chorou com entusiasmo perante a transformação que o corpo de Joachim exibia:
- Um herói! Um herói!- gritava sem parar, ao mesmo tempo que pedia insistentemente que tocassem a «Erótica» de Beethovem na hora do enterro.»

10.8.19

Se não tivesse entrado nesta Montanha

Por aqui, o vento sopra forte. Na Montanha, há imensas páginas em que não há referência ao estado do tempo - e já vou na página 520. Talvez a ventania tenha um efeito benéfico no avanço da leitura! 
Assisto a um debate intensíssimo sobre a religião e a racionalidade humanista, protagonizado, respetivamente pelo jesuíta Napta e o já apresentado italiano Settembrini, atirando o protagonista Hans Castorp para o lugar do aprendiz dos mistérios da vida e da morte, do espírito e do corpo… da eternidade e do tempo… 
Da leitura fica-me a convicção de que, afinal, a disciplina a que fui submetido durante a adolescência foi ministrada por jesuítas, mesmo que não estivessem conscientes da essência do seu ministério… Não era só o edifício que fora construído de acordo com a regra de Santo Inácio… também as camaratas obedeciam ao princípio da organização em "divisões" militares - lembro-me que pertencia à camarata de São Condestável… e depois havia as refeições em silêncio cortado pela leitura de excertos bíblicos, sem esquecer as deslocações em fila para todos os atos diários… 
No entanto, publicamente, não me lembro de ter ouvido uma única palavra sobre esta 'diabólica' doutrina…
Se não tivesse entrado nesta Montanha, talvez não tivesse chegado a esta conclusão.

9.8.19

A temperatura

Nem sei por que motivo um Pardal interferiu na leitura da Montanha. Lá não se ouvem as aves do Céu nem da Terra, pelo menos até à página 414... e por aqui, há uns tantos pardais, comilões, mas inofensivos…
Por lá, as matérias perigosas são de natureza fisiológica e cada um carrega as suas, e quando o trenó entra em ação é mau sinal - é mais um corpo que é levado de forma sigilosa e definitiva.
Por aqui, o tempo mudou, desrespeitando o verão ou, talvez, a mudança seja apenas para baixar a temperatura, coisa que lá em cima se afigura difícil, infelizmente…

8.8.19

Anda um Pardal à solta

Um olhar despreconceituado, isso existe?
Sobre a matéria, talvez, mas sobre o tempo?
A epígrafe é frágil, porém não tem incomodado, mas essa é outra questão.

Em muitas situações, o tempo nem sequer é nosso. Não temos o mínimo de liberdade para o gerir, quanto mais avaliá-lo de forma isenta.
As horas são determinadas pelo capricho - forma excessiva, porque previsível - de outrem que acha natural dispor…
E as horas podem ser a vida, mesmo que o outro não seja sempre o mesmo.
Por estes dias, anda um Pardal à solta a impor a sua vontade a milhões de almas, a dar-lhes cabo da vida...

7.8.19

Aselha, talvez

«Chegavam mesmo a considerar essa dependência dos livros uma inépcia própria de aselhas. Bastava perfeitamente ter, quando muito, um livro no colo ou sobre a mesa de apoio para sentirem as suas necessidades supridas. » Thomas Mann, A Montanha Mágica, pág. 309, edição D. Quixote

Não desisto de subir a montanha para lhe captar a magia, no entanto não posso deixar de me confrontar com a minha inépcia, apesar de uma vida dedicada à leitura. 
Hoje, por exemplo, comprei 1/2 dúzia de ovos por 2,99 €. Há dois ou três dias, levantei 100€ numa ATM, percebendo agora que paguei + 7 € pelo levantamento…
Entretanto, na Montanha, encontrei uma referência ao Terramoto de 1755, no debate entre a Natureza e o Homem. A única até ao momento - é um pouco como se a Ibéria não existisse, quanto mais Portugal.
Finalmente, à medida que avanço, vou-me interrogando sobre quantos leitores terão chegado ao cume desta obra… o editor diz que esta é 8ª edição, sem referir o número de exemplares…
E ainda me falta descobrir a natureza dos ovos...

6.8.19

O tempo de leitura

Hans Castorp também faltava o fôlego, sobretudo quando decidia desrespeitar a disciplina do Sanatório Internacional Berghoff - afinal, ele não passava de um visitante que, entretanto, apanhara uma constipação, dizia ele, interessado em analisar as múltiplas expressões do 'tempo'.
Este 'também' pressupõe que o leitor o seja de facto, e não apenas alguém que está de passagem. 
Já lá vão sete semanas naquela montanha suíça, e eu só avancei 258 páginas. Hans Castorp acabou por baixar à cama para conter o sopro pulmonar e, principalmente, o rubor que lhe assaltava o rosto, já que não conseguia descer dos 37,7º, ficando à mercê do enigmático Behrens...
A vida na montanha decorre para uns como antecâmara da morte e, para outros, quase como estância turística. De notável, os diálogos entre Hans Castorp e o italiano Settembrini…
(…)
Por aqui, junto ao mar, o tempo de leitura parece ser o de quem lentamente sobe a montanha… Há horas em que o vento incomoda, mas nunca neva...e a salada algarvia surpreende.

4.8.19

Hans Castorp

Vou titular este post com o nome do protagonista - Hans Castorp para que percebam que não fui eu que subi à montanha. Agora, encontra-se na sala de jantar, pela terceira vez no mesmo dia. Muito se come naquele sanatório!
Eu encontro-me muito mais a sul, num país do Sul, a apanhar sol forçado, pois detesto areia e calor. Nos intervalos, sigo Hans Castorp, apesar de, hoje, na praia da Torralta, ter sentido inveja de Thomas Mann - ele não teria perdido a oportunidade de relatar o cavaco daqueles dois «amigos» que, de pé, e ao sol, falaram de tudo durante mais de duas horas… A mim, falta-me o fôlego… 

3.8.19

No Sanatório

Já viajei de Hamburgo a Davos. Agora, encontro-me no Sanatório, rodeado de criaturas debilitadas para quem o tempo se mede por parâmetros distintos dos meus… Ainda defendo que me encontro de perfeita saúde, apesar da anemia que me vai esverdeando… Começo, no entanto, a duvidar se as três semanas que reservei para esta viagem serão suficientes, mas nada mais posso acrescentar, exceto que… Fica para outro dia!

1.8.19

A Montanha

«Entrei em julho muito cansado, a precisar não sei bem do quê, pois nos meses de julho e de agosto sempre me vi em trabalhos inesperados.» 5.07.2019

E este julho não fugiu à tradição. Mais não posso dizer. Não sei se se trata de maldição!
Chegado a Agosto, tenho uma clara intenção: Ler A Montanha Mágica de Thomas Mann. A edição da Dom Quixote pesa mil e 100 gramas, e a letra é pequeníssima - mais uma dificuldade! 
Quanto ao trabalho, desta vez, é procurado e sinto que não posso perder esta oportunidade… 
No fim, se lá chegar, veremos se a "montanha" é "mágica"...