30.11.19

A desproporção esmaga

Gruta de Alvados
Por aqui o tempo é desumano, arruma-nos a vida em menos de um centímetro…
Vista, deste modo, a desproporção esmaga, mas, na realidade, quem nos põe em sentido é a Natureza, essa criadora insaciável que já deve andar farta de nós.
No entanto, continuamos absortos nas nossas vaidades, nos nossos interesses, sem perceber que quem tudo tem a perder é a humanidade.
Na Serra d'Aire, a Natureza é um livro aberto da sua Arte e da nossa imbecilidade. Não esqueçamos que a Serra d'Aire é um aquífero insubstituível.
Esperemos que por aqui não haja lítio...

29.11.19

Mesmo sem carpinteiro

Igreja de São Pedro, Porto de Mós
Ainda estamos em novembro, mas o presépio já está em construção... Mesmo sem carpinteiro! 
Já lá vai o tempo em que não bastava o Espírito Santo… Nem era aceitável que pusessem em causa o papel do homem, mesmo que se tratasse de um José ludibriado...
Quanto ao Espírito Santo, disfarçado de pomba, tem feito a vida negra a crentes e descrentes, e não há quem lhe quebre a asa.
Por mim, já que a veneração pelo burrinho e pela vaquinha não diminui, creio que o melhor seria não esquecer a pomba branca, colocando-a sobre o alpendre que necessariamente abrigará  a castíssima Maria e o menino que, a esta hora, já estará arrependido de ter permitido que lhe chamassem Jesus…

28.11.19

Do erro se faz culto...

Residence - Saldanha

Nasce um Deus. Outros morrem. A verdade
Nem veio nem se foi: o Erro mudou.
Temos agora uma outra Eternidade,
E era sempre melhor o que passou.
Cega, a Ciência a inútil gleba lavra.
Louca, a Fé vive o sonho do seu culto.
Um novo Deus é só uma palavra.
Não procures nem creias: tudo é oculto.
                 Fernando Pessoa

Se tudo é oculto, para quê tanto barulho?
Se tudo é oculto, para quê tanto brilho?
(Do erro se faz culto...)

27.11.19

Os seguidores

Há quem nos siga por curiosidade e, talvez, por simpatia. Nunca sabemos ao certo o motivo nem se tal acontece de forma persistente.
Nos blogs, os seguidores parecem eternizar-se mesmo que já não nos visitem há muito. Poderíamos, talvez, bloqueá-los como nos é sugerido… mas nunca temos a certeza de quem, efetivamente, nos segue e porquê. 
Exceto, quando nos apercebemos de que o seguidor já faleceu. Surge, no entanto, uma dúvida: - Será que o finado não continuará, lá onde se encontra, mais atento do que os que ainda se mantêm vivos?

26.11.19

Estes pingos

Estes pingos irritantes martelam-me a cabeça como se ela fosse de lata ou de zinco. Para o caso tanto dá…
Fazem certamente falta estes pingos, mas a mim, que gosto de cheias, que imagino um país bem governado sempre que os rios e as barragens extravasam, estão a levar-me à insanidade de querer fugir deste monobloco, definitivamente...
Ainda pensei que Pessoa me pudesse acompanhar no desespero, mas ele prefere simplesmente entediar-se e passar a emoção a outro que a não possa ter e muito menos conceber... São de zinco os pingos de Pessoa e caem para além das cubatas de que outrora se terá aproximado, a medo… Ou talvez não!
No Arquivo de Fernando Pessoa não há cubatas… Por enquanto!

25.11.19

Não obstante

Em canteiros não calcados dá um ar da sua graça, embora a graça não seja da flora, apesar de atribuída à Deusa…
Se não entenderem não faz mal, a Flora não vos leva mal, pois andais entretidos em jogos florais com artificiais desfechos intestinais.
Longe anda a Moira, também não quer saber, nem já sabe como reformular 'o que tem de ser tem muita força.'
Os canteiros que sigam o seu caminho que nós, à força de ir por atalhos, continuaremos metidos em trabalhos, mesmo que involuntários… Já de pouco servimos, assim tão arrumadinhos. Nem para soldadinhos!

24.11.19

De Hipócrates a Balaão

Por estes dias, decorre o Juramento de Hipócrates pelos novos médicos… 
Duvido que a maioria tenha noção de quem foi Hipócrates (c.460-370 a.C.) e sobretudo que entenda que alguns dos evocados não são de confiar, a começar por Apolo…
Tendo em conta a exemplaridade da oração, transcrevo parte, esperando que os jovens médicos não acabem por trocar Hipócrates por Balaão:

«Juro por Apolo médico e Asclépio, por Higeia e Panaceia e por todos os deuses e deusas, tomando-os por testemunhas, que cumprirei este juramento e compromisso, conforme as minhas forças e o meu entendimento. Terei pelo  meu mestre nesta arte consideração igual à que tributo aos meus pais; compartilharei da sua vida; quando estiver falto de meios, eu lhos porei à disposição; estimarei a sua família, como se meus irmãos foram; e lhes ensinarei esta arte, se carecerem de aprendê-la, sem salário nem contrato…» (Tradução de Maria Helena Rocha Pereira, Hélade, Antologia de Cultura Grega)

23.11.19

Em linhas quebradas

Do que sei, não sei, a não ser esta vertigem de associar os contrários sem qualquer efeito prático, pelo menos inteligível…
Resigno-me na ideia de que outrora sabia, mas como se o esqueci, eu que sempre defendi que só sabe quem não esquece.
À minha volta, são tantos os que não esquecem, e poderiam ser bem mais se eu os não tivesse esquecido.
Tudo parece estar bem, não fosse essa ideia de perda que, por vezes, se transforma em fulgurações instantâneas, pleonásticas e absurdas.
Desadormeço e fico à espera desse retorno que, enquanto for dia, se revela impossível, a não ser em linhas quebradas…

22.11.19

Uma regressão espúria

Outono. Uma nespereira em flor. O sol, depois da chuva, disfarça o caixote de lixo… Despedido o guarda-chuva… tudo invertido, como se a seca já tivesse sido vencida…
Sigo na direção da Praça José Queirós, pintor e arqueólogo (13.7.1856-31.07.1920), fundador do Grémio Artístico que estaria na origem da Sociedade Nacional de Belas Artes… e vou pensando na descontinuidade das memórias que facilmente caem em associações espúrias - termo apelativo, mas que pode adjetivar uma regressão, isto é uma relação estatística entre duas variáveis, sem que, no entanto, nenhuma relação causa-efeito exista.
Neste caso, a flor da nespereira, a não ser na cor, nada diz deste José Queirós e muito menos de outros universos queirosianos, mesmo se coevos. E, ao contrário do que seria de supor, a nespereira floresce no final do outono ou no inverno…

21.11.19

Na língua sem algemas

Ignorar em nome da tolerância - cínica condescendência - pode  causar náuseas… Vê-los fechados em celas de autossatisfação dá vontade de os esganar… Mas para quê?
… Continuar a explicar palavra a palavra - o étimo, a família, o sentido, o uso, a posição - dá-lhes cabo da alma, que não sabem que ainda têm, sobretudo se lhes faltar a religião anestesiante dos rebanhos...
Tresmalhados, não entendem que a língua que lhes convém é a antiga e não a dos empréstimos e dos grunhidos… e que, por ser antiga, a língua é a luz à sua disposição, porque nela vive toda. O tempo pode deprimir. Não no tempo, mas na língua é que a viagem pode conduzir ao âmago do Ser.

18.11.19

Não há aumentos...

Incapaz de definir as necessidades de recursos humanos para um funcionamento ajustado do Estado, o Governo continua a penalizar a função pública. Pouco importa quem governa, a direita insiste numa diminuição cega do número de funcionários públicos; a esquerda procede à engorda cega do mesmo Estado, sem, no entanto, satisfazer as necessidades nas áreas essenciais…
Incapaz de determinar as necessidades, o Governo aposta na descentralização, duplicando as funções, criando micro-estados conforme o estado de alma do senhor primeiro-ministro, aumentando a despesa pública… E como tal não há aumentos para ninguém!
Claro que não irá faltar o argumento do aumento do salário mínimo e da reposição de vencimentos e de pensões, porém todos sabemos que isso é  mentira.
Por exemplo, qual é a família portuguesa que, após a martelada reposição, está em condições de comprar casa com o mesmo peso no orçamento familiar que teria no ano 2000?

17.11.19

Mexericar

Praia de Carcavelos
Ora aí está uma palavra que eu não devo utilizar, pois 'não é própria de gente educada' - mexericar.
Diz o escritor Joel Neto que «se a literatura não vencer os grilhões do seu tempo não serve para nada», como se o inimigo fossem as redes sociais, espaço de mexericos... 
O escritor parece querer ignorar que uma boa parte da literatura ocidental teve origem no mexerico e que, em muitos casos, se limitou a tricotar a vida alheia.
Parece-me que as redes sociais são um dos 'lugares' onde o escritor pode beber as intrigas do seu tempo - claro que se não tiver o engenho e arte, nunca ganhará a batalha!
Por mim, não me interessa intrigar, apenas confesso que, ontem, ao anoitecer, fui, a pedido, à praia de Carcavelos e por lá tudo estava sossegado. A brisa era suave, a temperatura desceu aos 10 graus, a ondulação leve... Só não senti o cheiro do mar, e talvez a culpa fosse das minhas narinas...
Em conclusão, não tenho jeito para mexericar.

16.11.19

Bem tento ver apenas o trigo...

"- Senhor, não semeaste tu no teu campo boa semente? Por que tem, então, joio? E ele lhes disse: Um inimigo é quem fez isso. E os servos lhe disseram: Queres, pois, que vamos arrancá-lo? Porém ele lhes disse: Não; para que, ao colher o joio, não arranqueis também o trigo com ele. Deixai crescer ambos juntos até à ceifa; e, por ocasião da ceifa, direi aos ceifeiros: colhei primeiro o joio e atai-o em molhos para o queimar; mas o trigo, ajuntai-o no meu celeiro."
Mateus 13...

Há tarefas que me trazem de volta a parábola do trigo e do joio, mas que, pensando bem, não posso aplicar sem reservas nesta minha função, em particular, por estes dias… 
Arrancar o joio numa escola, oficialmente, inclusiva? Nem pensar! Que medre sem obstáculos, mesmo que asfixie o trigo…
Queimar o joio no final do ano letivo numa escola sem retenções? Impossível!
Do trigo que sobrar, o Senhor acabará por me perguntar por que motivo a tulha anda tão vazia…
Creio que o Senhor nunca terá imaginado - passe a blasfémia! - que o melhor seria não ter criado a erva daninha.
Por mim, bem tento ver apenas o trigo, mas o que oiço e leio dana-me os ouvidos e entorta-me os olhos.

15.11.19

Uma chave esquecida

Em composição
E se uma chave esquecida fosse capaz de provocar um pesadelo?
é bem provável! Qualquer lapso pode ter consequências indesejadas… No entanto, a interpretação do sonho parece apontar para a necessidade de não falhar os pagamentos à Segurança Social, pois esta é implacável com os faltosos, indo ao ponto de recorrer à penhora de quem se encontre nas redondezas…
Ora uma chave esquecida (e nunca mencionada) pode ser o meio para 'recuperar' uma autocaravana, anteriormente vendida, dando início a uma longa viagem por vales e montanhas, sem qualquer remorso…
O problema é que toda a viagem tem um fim, trazendo à tona a necessidade de devolver o veículo, esperando que o novo dono não tivesse dado conta do seu desaparecimento…
Ainda se o sonho tivesse sido interrompido e a memória dele apagada, mas não… a infração continua presente. Há mesma uma tentativa desesperada de convencer o proprietário, mas quem atende o telefone é uma criança que nada questiona, apenas ouve… até que uma voz pesada ordena: - Desliga o telefone!
Ciente de que o crime foi descoberto,  o ladrão procura um público (no caso, à beira de um coreto de um jardim familiar) que lhe possa aliviar a consciência ou, sobretudo, ajudá-lo a encontrar argumentos que lhe evitem os calabouços… e é, então, que, no meio da esplanada, avista o bastonário que, de imediato, lhe assegura que nunca tomou nota de um caso daquele tipo, mas que há solução para tudo… e no ato pede-lhe o número de telefone…  e 500 euros adiantados para dar início à defesa.
Felizmente que tudo não passou de sonho repetido, à exceção da cartinha registada da Segurança Social e da chave da autocaravana  já  deitada fora, que não da maldita memória…

14.11.19

Vidas

O que é que eles estão ali a fazer? Será por vaidade?
Estarão a sonhar ou simplesmente pensaram ver ali o tronco de um velho plátano camoniano?
A leitura não parece interessar-lhes… o que não surpreende quem por ali passa… 
(Ainda agora o átrio vergava ao peso da efemeridade de uma vida, sem dar conta de outras vidas que por ali passaram…)
Os rios oceânicos de Sena corriam longe dos salgueirais e contra a estupidez que nunca percebera o legado do Poeta - o único que carregara a Pátria até ao fim.

13.11.19

É tudo tão...

É tudo tão fútil
que se quisesse
rimava com inútil

Despegados do ecrã
apagam-se os olhos
esgueira-se o sorriso

Já no vazio
alheios seguimos

É tudo tão inútil
que se quisesse
rimava com fútil

Já no vazio
seguimos alheios

Ou talvez não.

12.11.19

A prosa inútil dos dias

Um trambolhão ou uma escorregadela pouco importam! 
Com um pouco de sorte, pode haver quem veja no ato um poema, com ou sem narrativa, sob forma métrica ou dessa outra coisa indistinta a que chamam prosa…
Talvez fosse melhor reduzir tudo a poema para o qual se olhe como se fosse uma maçã, mas sem qualquer vontade de a cheirar ou de a comer… 
Um poema sem ideias, sem ritmo - um poema deitado.
À espera que o levantem da prosa inútil deste ou de qualquer outro dia.
Ainda se o dia fosse poema!

11.11.19

Da pouca sorte

O melhor é não confiar na Providência!
(Na vida avance só depois de se assegurar que o piso está seco ou se não há nenhuma grelha em falta ou mal colocada...)
Não foi o caso, mas também não é recomendável caminhar com o olhar preso ao telemóvel... a verdade é que a senhora, descida a escadaria do metro de Moscavide, tropeçou numa grelha ao nível do solo, ficando muito combalida... e nas mãos de outros passageiros, felizmente, já que pessoal de segurança da estação nem vê-lo...
Poder-se-ia pensar que a senhora teve pouca sorte, mas a 'pouca sorte' resulta quase sempre da nossa inércia ou da nossa confiança infinita...
Para superior entendimento do tradicional grito de pouca sorte nacional, o melhor é consultar O Labirinto da Saudade de Eduardo Lourenço.

10.11.19

A canalhice

O problema é que há cada vez mais gente a gostar de canalhas, seja qual for a orientação política ou religiosa.
Farta de votar ou de seguir canalhas, em vez de tudo fazer para os eliminar, a gente cai nos braços de canalhas de sinal oposto, aparentemente.
Em síntese, com tanta canalha à solta já ninguém se safa de ser incluído no coletivo.

9.11.19

'Munição ao canalha'

O Presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, pediu hoje aos brasileiros para não darem "munição ao canalha”, que disse estar "livre, mas carregado de culpa", um dia depois da libertação do antigo chefe de Estado, Lula da Silva.

Ao que o Brasil chegou!
A cultura democrática enlameada…
Por este andar ninguém se aproveita!
E nós vamos pelo mesmo caminho…. 
(A língua portuguesa tudo acolhe!)

8.11.19

Uma jovem desesperada vai para a prisão

Uma jovem desesperada, que deita o bebé  para o caixote do lixo, vai presa, como se pudesse repetir o ato nos próximos dias. 
O pedófilo continua por aí à espera de julgamento.
Os autores de violência doméstica, quando identificados, regressam a casa…. ou às redondezas.
Os criminosos de colarinho branco andam à solta, rindo-se na cara dos que foram e continuam a ser roubados

Não entendo o que é que o legislador tem andado a fazer, a não ser que seja agressor  e ladrão.

7.11.19

De boas intenções está a educação farta

O programa do Governo, conhecido no final de outubro, prevê a criação de um “plano de não retenção no ensino básico, trabalhando de forma intensiva e diferenciada com os alunos que revelam mais dificuldades”.
De boas intenções

Quantas vezes o propósito já foi proclamado? Quanto dinheiro já foi desperdiçado?
Elaborar um plano nem é assim tão difícil!
O problema surge na implementação do plano. 
Quais são os recursos humanos e materiais disponiblilizados, considerando os múltiplos perfis de insucesso?
Como é que são selecionados e formados os agentes dessa ação «intensiva e diferenciada»? E por quêm?
Finalmente, um plano desta natureza não pode ser elaborado a partir da ideia economicista de que, no final, a despesa será menor do que a que resulta da retenção.
Nesta matéria, a solução não está na poupança, mas, sim, no investimento.

6.11.19

Não vou citar a Sofia...

Não vou citar a Sofia, com ou sem /ph/, nem vou procurar a máscara que melhor convenha à poesia, vou (in)disciplinadamente cumprir mais um dia…
Nem no muro vou abrir qualquer fenda… Basta caminhar na rua, em qualquer rua, para a ver desconsolada, de mãos vazias, ainda adulada por uns tantos corifeus, avessa a que lhe recordem que já cá não está.
No areal, os cavalos sem crinas ao vento galopam desnorteados… e eu sem rédeas, sigo ou fujo não sei se dos mortos se dos vivos. 
Tanto faz, não importa se sigo ou fujo, o importante é que não pare, porque mesmo que o quisesse fazer, a decisão nunca foi dela e muito menos minha.

5.11.19

O dia de hoje é de tristeza!

Lagoa Azul, Sintra
O dia de hoje é de tristeza. O colega Eduardo Pinheiro partiu sem aviso ou, talvez, tenha sido eu que tenha andado distraído…
De qualquer modo, o aviso, nesta despedida, também não serviria de nada.
Do Eduardo fica-me a ideia de alguém que acreditava que o ensino pode contribuir para melhorar a condição humana e que por isso se empenhava intensamente mesmo que nem sempre fosse compreendido.
Por vezes, mais vale uma pitada de incompreensão… 
As palmas só confortam quem não segue, por ora… 

4.11.19

O milagre dos chumbos

Museu Bordalo Pinheiro
Acabar com os chumbos dá 250 milhões. 
Não se pense que acabar com os chumbos pode custar 250 milhões de euros… É muito mais fácil, decreta-se o adiamento dos chumbos… Sem avaliar o custo!
De qualquer modo, com ou sem chumbos, a evidência do falhanço do sistema de ensino está aí: no parlamento, no conselho de ministros, no ministério da educação, no ministério da saúde… no ministério das finanças…
Em vez de se apostar na reforma do sistema de ensino, adaptando-o às necessidades do século, corta-se...
Mas não segundo a divisa "Inutilia truncat".

3.11.19

Com tanta ciência!

As borboletas de Rafael Bordalo Pinheiro
Quanto ao aeroporto no Montijo, a escolha desagrada-me. Na amplidão do Alentejo, não deveria ser muito caro construir as pistas necessárias para libertar Lisboa, deixando-nos mais próximos da Europa, de África, das Américas… E depois as aves agradeceriam, creio eu.
Com tanta ciência, parece incrível que esta não tenha peso na decisão. Só o dinheiro ordena!
Nem os nefelibatas compreendem tamanha burrice.

PS. Não sei se sou objeto de censura, mas, com alguma frequência, as fotos desaparecem e o autor deste blog é reduzido ao anonimato.
O mais provável é que todas estas ocorrências mais não sejam do que um sinal de que o inverno se aproxima, com minúscula… 
Mas ainda falta o São Martinho!

2.11.19

Jorge de Sena em dia de finados

Paineira em flor
Talvez porque nascera no dia de finados - faz neste sábado 100 anos - Jorge de Sena terá sentido necessidade de contrariar a lamúria humana… 
(Rezar por rezar que se reze pela vida para que esta seja menos estúpida e tétrica…)

De morte natural nunca ninguém morreu.
Não foi para morrer que nós nascemos, 
não foi só para a morte que dos tempos 
chega esse murmúrio cavo,
inconsolado, uivante, estertorado,
desde que anfíbios viemos a uma praia
e quadrúmanos nos erguemos. Não.
Não foi para morrermos que falámos,
que descobrimos a ternura e o fogo,
e a pintura, a escrita, a doce música.
Não foi para morrer que nós sonhámos
ser imortais, ter alma, reviver,
ou que sonhámos deuses que por nós 
fossem mais imortais que sonharíamos.
Não foi. (…)
Jorge de Sena, De morte natural…, 1 de Abril de 1961, Sábado de Aleluia

1.11.19

Uma situação educativa insólita



Ontem, um grupo de professores da  Estremadura espanhola visitou a Escola Secundária de Camões entre as 21 e as 23 - horas tardias pouco adequadas à visita do edifício, em obras…  Apesar disso, tiveram oportunidade de admirar a frontaria, o Ginásio, a Biblioteca Velha, a BE/CRE e uma sala de aula matricial… quase tudo do Ventura Terra.
O grupo era constituído por professores de Português - língua estrangeira - que se deslocaram a Portugal motivados pela leitura da "A Viagem do Elefante" de José Saramago e, também, com "o objetivo de potenciar relações que permitam estabelecer intercâmbios entre instituições espanholas e portuguesas"...
Não creio que esta visita tenha cumprido os objetivos, porque escolhi uma abordagem cultural, fazendo uma exposição sobre a história dos edifícios escolares, em particular do Liceu Camões, e sobre o sistema de ensino no século XX, conduzindo posteriormente os docentes espanhóis - cansados da viagem e sem jantar - para o 'monobloco' 06  instalado no antigo estacionamento...
E lá chegados foram contemplados com a 'oferta formativa' do presente ano letivo e, sobretudo" com uma seleção de textos de Fernando Pessoa que, recorrendo eu ao velho comentário textual e cultural, os terá deixado com vontade de não voltar tão cedo ao "Camões"... Entretanto, os poucos alunos do 12º ano, turma 3, que se dignaram ir à aula das 22 horas ainda devem estar a pensar no insólito da situação...
De qualquer modo, todos os presentes tiveram oportunidade de "viajar" no "chevrolet" do engenheiro Álvaro de Campos - de Lisboa a Sintra… perto da meia-noite, ao luar/ cada vez menos perto de mim...