31.3.20

Não sei se amanhã será diferente...

Escola Primária do Carvalhal do Pombo
Nas presentes circunstâncias, não sei se amanhã será diferente. Formalmente, estarei aposentado.
No entanto, deixarei a Escola onde, literalmente, entrei há quase 60 anos. Isso é estranho!
Foram muitas as escolas em que entrei e permaneci, desde a aldeia à cidade, desde a escola primária à universidade... Em todas elas aprendi e, em algumas, procurei ensinar... O quê? Já não sei ao certo.
A resposta teria de vir de quem comigo fez o caminho e cada um, espero, terá seguido o seu caminho. Se assim tiver sido, ficarei satisfeito... Moldar nunca foi minha intenção... sem nunca ter desprezado os conteúdos, pois sempre os vi como degraus de uma escada que conduz das trevas à luz - da ignorância à lucidez.

29.3.20

Ao contrário de Lázaro

«O morto saiu, de mãos e pés enfaixados com ligaduras e o rosto envolvido num sudário. Disse-lhes Jesus: «Desligai-o e deixai-o ir».»  João 11...

Desconheço se Lázaro terá agradecido o milagre.
As irmãs, sim. Servas do desconhecido terão seguido o caminho da redenção, porque acreditavam. Não no que viam nem no que sabiam, que era insuficiente para a compreensão do desafio... Acreditavam no que sentiam.
Os vizinhos por um tempo deixaram-se inebriar, mas depois duvidaram...
Hoje, a dúvida já não faz sentido.
Por vezes, nem o medo!

Desligados - são selados e depois cremados, os velhos deste mundo, sem esperança em qualquer tipo de ressurreição.

28.3.20

A curva do tempo

Depois da curva do pico, estamos agora a entrar na curva do planalto. Pena que a curva da planície ainda esteja tão longe!
Posso estar enganado, mas creio que este Covid 19 veio para punir aqueles portugueses que sobreviveram à guerra de África...
Quando desenharem a curva do tempo, talvez seja possível achatar-lhe a linha de modo que o Covid 19 se perca na planície...
(Escrevo estas linhas em homenagem à imaginação gráfica do último mês.)

27.3.20

Ficar em casa e desligar...

Não tusso nem espirro. Não tenho febre nem sofro de falta de ar. Só a sombra me arrepia.
Porém, sinto-me cansado. Não sei se será do Covid 19 se do matraquear da comunicação social e das redes sociais.
Com tantos números, com tantos gráficos, com tantas pitonisas, apetece-me desligar...
Ficar em casa e desligar!
Só peço que me batam à porta quando o mafarrico se tiver sumido...

25.3.20

O que me cansa

O que me cansa é a fábula de que somos capazes de vencer, porque somos diferentes, porque somos inteligentes e conscientes, como se guardássemos o segredo do universo... 
No entanto, nada somos perante a mortalidade das espécies e, por mais inteligentes e conscientes que sejamos, não somos capazes nem de prever, nem de prevenir e, muitos menos, de evitar que a epidemia nos derrote - já li muitas avaliações  sobre a vida e a morte do COVID 19, e começo a pensar que ele é capaz de ser mais inteligente do que nós... Este ou outro! Assim foi, assim é e assim será... 
O orgulho humano não passa de um capricho que nos impede de estar verdadeiramente atentos ao essencial.
Talvez hoje devesse regozijar-me por estar a encerrar a minha vida profissional. Contudo, tal como vão os dias, a inteligência diz-me que ninguém sabe o que o dia de amanhã me trará... Por isso, fiquemos por aqui, em casa, de preferência... se a tivermos.

24.3.20

... ia a dizer das uvas

Fábrica de álcool em Porto da Lage 
Não é preciso máscara para esconder a estupidez...
A falta de respeito pelo outro está nas ruas, nos écrans, nos diretórios políticos...
O atraso nas decisões é lamentável! 
Quem já tenha entrado num lar de terceira idade sabe que a maioria não está preparada para lidar com um problema desta dimensão; a maioria não tem recursos humanos nem materiais. 
Esperar que os proprietários privados ou as instituições sociais resolvam o problema é absurdo! 
Não é a virulência do COVID 19 ou a falta de educação dos mais novos que explica totalmente a letalidade entre os mais velhos.
Há medidas que foram tomadas nos anos 80 e 90 do séc. XX que nos deixaram nas mãos dos especuladores, como, por exemplo, o encerramento das fábricas de álcool no país das figueiras e das vinhas... ia a dizer das uvas... / muita parra e pouca uva!
Hoje importamos quase tudo o que é essencial em momentos da vida como o atual... E porquê?

22.3.20

As máscaras não (...) servem para nada?

As máscaras não servem para praticamente nada. Dão uma falsa sensação de segurança. O pano não é impermeável, vai ficar húmido e os vírus vão passar”, afirmou Graça Freitas.

Não digo que a senhora não tenha razão, convém, no entanto, relembrar que as autoridades médicas chinesas impuseram o uso da máscara e, nos últimos dias, perante o comportamento da população da Lombardia, voltaram a criticar a sua pouca utilização.
Se o problema decorre da falta de impermeabilidade do tecido, então as autoridades que fiscalizam a sua produção ou a sua importação não podem continuar de braços caídos.
A certa altura, fica-se com a sensação de que tudo é negócio ao alcance de gente sem escrúpulos.
O Carnaval já deveria ter acabado!

21.3.20

Tempo subjetivo 2

alguma chuva, pouca
as flores que sorriem...
um poema aqui, outro ali...
alegre ou triste
e outra imitação do poema
sim, porque o poema deveria celebrar a vida e não a morte

agora, no intervalo, já não há dia... nem noite
já nem o sol aquece - os dias perderam os santos
e, sem fé, os fiéis arrefecem

mas este tempo é subjetivo
porque no mesmo tempo há quem tudo perca para cuidar de nós...
esses, sim, são a poesia que rima com
alegria, seja sábado ou domingo

20.3.20

O tempo subjetivo 1

O tempo, apesar de dizerem que a Primavera já chegou, estagnou. 
Lento, o tempo vive ao ritmo dos sábios do momento e das hesitações do governo... 
(No meu caso, há quatro dias que me asseguram que faltam três dias, sabe-se lá para o quê...)
Este é certamente um ponto vista subjetivo, porque o tempo para quem tem de preparar e tomar decisões, para quem cuida da saúde de todos nós é avassalador, extenuante e cruel.

19.3.20

Na foz

Foz do rio Trancão
Na foz do rio, há muita vida! 
Por mais que a nascente se distancie, ainda resta muito tempo, mesmo que o dia pareça aziago... 
Se olharmos atentamente, talvez compreendamos que o distanciamento é uma virtude, que a efusão é promíscua...
Olhemos apenas! Aprendamos a apreciar a distância... sem Lídia... sem Ricardo.

18.3.20

A má-língua não ajuda em nada

Em matéria de COVID 19, o melhor é cumprir as regras que estão a ser determinadas.
Deixemos as críticas, a não ser que ajudem a solucionar, para momento mais oportuno.
Vivemos um tempo em que a decisão, seja ela qual for, é extremamente penosa para quem a toma.
A má-língua não ajuda em nada, tal como os comentários de quem nada percebe da gravidade da situação.
Há canais de televisão e redes sociais que estão a prestar um péssimo serviço à comunidade, pois mais não fazem que alimentar-se da desgraça alheia.

16.3.20

O vídeo do ME aos Pais

Conselhos do Ministério da Educação aos Pais

O vídeo é apelativo. Pressupõe, no entanto, uma realidade que o Ministério da Educação sempre descurou... 
Falta formação de professores e faltam ferramentas e conteúdos. Tudo o que existe é obsoleto. 
Como professor, estou à espera que o ME lance um vídeo em que mostre aos professores o trabalho desenvolvido na área do ensino à distância e, sobretudo, como é que em poucos dias se estabelece a conexão entre professores e alunos, a não ser que se entregue a tarefa a duas ou três editoras...
Há certamente nichos capazes de satisfazer os sonhos do senhor ministro da educação, mas o país real não cabe num vídeo e muito menos na propaganda do ministério da educação... e claro dos seus acólitos!
Ah! E aproveitem para ler a obra da Margarida Pinto Correia!

14.3.20

Vou estar aqui

Vou estar em casa. (Só saio se a tal for obrigado.) À espera, não do Godot, mas de quem necessite de mim. Por exemplo, os meus alunos podem aproveitar para tirar dúvidas, para solicitar o teste agendado para o dia 17... Basta enviar e-mail para macagomes@hotmail.com ou macagomes@gmail.com.
Quanto ao resto, vou seguir as instruções oficiais, abster-me de seguir as redes sociais e as televisões públicas ou privadas, de contribuir para a desinformação em curso e para o alarmismo decorrente.

12.3.20

E por agora, alguém é toda a gente

A luz frontal provoca-me dor de cabeça. Sempre que o inverno se aproxima do termo, começa a enxaqueca.
Verifico a tensão arterial e ela tende a subir, o que me leva a pensar que essa subida é a causa da dor de cabeça. Tomo o medicamento estabilizador, e a descida é ténue, sem eliminar o mal-estar. Desconfiado do efeito, leio a bula e descubro que o medicamento também pode provocar dor de cabeça.
E depois viro-me para a velha sinusite que aprendi a associar às alergias. Combato-a com um anti-histamínico... (Durante o sono não tenho dor de cabeça, creio.) O efeito é temporário!
Agora dizem-me que um dos sintomas do COVIDIS 19 é a dor de cabeça., a qual, perante a informação, começa a andar à roda...
Procurando afastar a ideia de que possa estar a ficar hipocondríaco, meço a temperatura: raramente ela chega aos 36 graus. E depois, há a tosse e os espirros e apercebo-me que deixei de tossir e de espirrar... só que tal não me tranquiliza - afinal, este ano a médica de família sujeitou-me à vacina contra a gripe - temo que ela mitigue os sintomas... e neste caso, gostava que a situação fosse menos ambígua.
Por mais que me indague, não sou capaz de determinar a causa da dor de cabeça que, ultimamente, se agrava sempre que alguém se pronuncia sobre matéria que desconhece. E por agora, alguém é toda a gente...
De momento, estou nesta sala, sozinho, sob o efeito de seis lâmpadas fluorescentes, os óculos colocados de parte, à espera que a dor de cabeça desapareça. Entretanto... as escolas vão fechar a partir de segunda feira até ao final de março... e eu fico sem regresso e, certamente, com a velha dor de cabeça que, espero, incomode o menos possível...

11.3.20

Tanta vida por um fio...

Tanta vida por um fio - até a minha! - e eu por um fio espero a decisão. Está prometida para o dia doze e, de repente, quem sabe, outra decisão pode prolongar o anseio de sair desta vida para… e esse é o lado fascinante da questão: ainda não tracei o rumo, sim, porque sem caminho é só desorientação…
E com tanto fio, talvez o melhor seja seguir a lição da sardinheira…

8.3.20

Há sempre uma árvore

Quando a tensão sobe e a enxaqueca se instala, saio antes que a irritação assente arraiais…
Enquanto caminho, sossego. Há sempre uma árvore que desvia a minha atenção do desaforo comunicacional em que qualquer cidadão dá palpites sobre o que não sabe e, sobretudo, aproveita para ajustar as contas de uma casa em que todos ralham e ninguém tem razão.
A árvore que encontrei no meu desvio obriga-me a pensar na cor que não sei definir e na leveza do seu existir - apetece-me ser árvore.

7.3.20

Não matem a esperança!

Figos de Março
Gosto desta figueira. Não espera pela chegada da primavera e, para nos surpreender, esconde a flor… Indiferente às abelhas e às borboletas, parece apostada em dizer-nos que há outros caminhos, mesmo que, no final do ciclo, os frutos não satisfaçam a nossa expectativa.
No jardim Almeida Garrett, esta figueira contraria a lição do Poeta - das Flores sem Fruto.
Para mim, esta figueira frutifica para nos lembrar que não devemos matar a esperança, mesmo que os frutos não cheguem a cair de maduros…
(…)
A esperança, no entanto, não deve ser cega. Melhor seria que não esperássemos pelo calor para combater o COVID 19... 

5.3.20

Quem vê caras...

Lisboa, Rua Filipe Folque
Parece que há uma directiva que exige que certas fachadas sejam preservadas...
Um pouco por todo o lado, as obras vão decorrendo escondidas pelas fachadas...
Por mim, se a obra é nova e nobre, esta deveria assumir o rosto de quem a arquitectou...
Creio que esta decisão de manter a frontaria de certos edifícios, apesar de assegurar a ligação com o passado, esconde outros benefícios para quem investe, desenha e constrói... 
É possível que eu não tenha razão. No entanto, lá diz o povo "Quem vê caras não vê corações.»
Por estes dias de incerteza, dou comigo a observar os rostos e não consigo descortinar-lhes os segredos. Fechados, os rostos e os segredos.

4.3.20

A incerteza

À sorte e ao azar, há agora que acrescentar a incerteza…
Já não é tanto o Fado que preside à vida individual e coletiva…são mais as escolhas,  que fazemos e que nos habituámos a considerar seguras, que, num ápice, podem escancarar-nos a porta da dúvida e do medo.
Assim, passamos a suspeitar de tudo e de todos, avançamos sem saber se em cada esquina vamos encontrar um amigo ou o inimigo…
De qualquer modo, a incerteza sempre foi o caminho. 

1.3.20

Março, marçagão...

Entrámos em março, mês que, hoje, não confirma a tradição. Cumpre quanto ao inverno, mas esqueceu-se do verão...
O COVID-19 expande-se alheio às fronteiras, tal como os migrantes rompem o arame farpado, mesmo que novos muros os esperem, numa luta de morte...
O COVID-19 e as hordas de migrantes são a expressão de territórios de exploração intensiva de recursos... 
E nós? Nem o Medo nos faz repensar o caminho...
Março promete sol e vida, mas hoje não!