30.6.20

Três meses

Não são de vida nem de morte. Estes três últimos meses são de hibernação. Uma espécie de purgatório para quem ainda se sente ligado à tradição…
Para que o tempo passe, ocupo-me com a inutilidade da filosofia que, na verdade, me coloca a questão de saber o que andei a fazer durante tanto tempo - as certezas proclamadas esboroam-se, deixando um sabor amargo, como se o passado se tivesse tornado numa grande mentira…
Mas esta necessidade de ocupar o tempo aborrece-me infinitamente. Viajar é provavelmente a única atividade capaz de me fazer sair da clausura. Lá fora, há todo um mundo por descobrir, mas devagar…

28.6.20

Os venturas

O que os venturas procuram é visibilidade.
Dissensão.
A melhor forma de lhes responder é ignorá-los, porque os venturas são meninos mimados que nunca souberam o que era o trabalho, a dor, a fome…
Os venturas alimentam-se da desigualdade social, da falta de instrução, da alienação.
Os venturas não são pessoas, são indivíduos que se servem do rebanho para melhor subjugarem as presas.
Se deixarmos, os venturas farão tábua-rasa da Democracia.
(...)


A verdade é que hoje me apetecia falar de hortas. Do seu cultivo. Da minha vontade de regressar à infância, mesmo se dolorosa, em que as couves cresciam tanto que eu lhes podia aproveitar a sombra, apreciar os tubérculos e os legumes… sem esquecer os frutos, e a nora, e a burra que tudo suportava. No entanto, nessa infância também havia venturas que desprezavam as pessoas e que tinham feito tábua-rasa da Democracia…


27.6.20

Será que há outra via?

O senhor ministro da Educação bem podia analisar os "rankings" dos exames nacionais de 2019. Os resultados são uma tristeza!
Não vale a pena querer esconder o sol com uma peneira!
Em matéria de educação e de ensino, o futuro está comprometido. Será que há outra via?

26.6.20

A verdade da vida

Se começasse com uma citação, situava-me. O que não é certo, porque o esforço de apagar a memória, para além da indiferença, também eliminará as coordenadas…
Vamos, assim, fazer de conta que o que me motiva é a verdade da vida, aferida pela sua utilidade, permitindo-me aquilatar do seu valor, dela, por mais ambígua que seja…
Se agíssemos de acordo com a verdade da vida, já teríamos percebido que, desta vez, o inimigo é invisível, mas verdadeiro. Escondermo-nos poderia ser um caminho, mas não basta: temos de o enfrentar.
O hedonismo tornou-se uma forma de suicídio, embora se compreenda em indivíduos que não querem ser pessoas.
Ando nos cais e só oiço vozes vazias… algumas elevam-se aos céus como se o ignoto deo estivesse de regresso para lhes iluminar… o quê?

25.6.20

A revolta do Costa

Não conheço os pormenores. Parece, no entanto, que a ministra da Saúde puxou o tapete ao Chefe e este zangou-se: os dados do Primeiro eram desmentidos pelos factos apresentados pelos epidemiologistas e, sobretudo, pela sua ministra sob o olhar benevolente de sua Excelência… 
De súbito, a Verdade era questionada por outras verdades, menores, claro - todas elas confinadas a visões parcelares… 
Não assisti à zanga, mas se bem entendi, o Primeiro deixou bem claro que estava farto de ser Segundo.
Porém, por agora, tudo acabou em bem lá no INFARMED. Sua Excelência acabou por segurar o tapete ao Costa…

24.6.20

Com ele ao leme

O melhor é não bater no Presidente. Com ele ao leme e a comunicação social a bajulá-lo, não precisamos nem de governo nem de parlamento. 
O homem é a soma das qualidades do povo português, ou melhor, como diria o Poeta, a média das virtudes da alma lusa.
O Ferro e o Costa que se cuidem! Bem sei que o não convidam, mas ele aparece. E tem opinião sobre tudo, como se fosse o verdadeiro 'dono disto tudo'...E se o convidam, então, são pequeninos…
Um destes dias, lá teremos de o aturar no Caia! Espero que já tenha lido a  malograda Batalha do Caia do Eça. O homem é capaz de ler o que ficou por escrever…

23.6.20

Uma metáfora de risco


Marcelo Rebelo de Sousa no adeus a Pedro Lima: "Ele era o retrato da vida, o retrato da felicidade"


O senhor presidente não resiste a uma metáfora!
O problema é que num caso de suicídio, as metáforas podem ser perigosas. A não ser que o senhor presidente estivesse a pensar em explicar-nos que a felicidade não corresponde ao retrato que dela traçamos...
O senhor presidente começa a perder o tino, facilmente.

22.6.20

Os amigos da festa

Os cisnes podem morrer de desgosto, mas os homens não… 
Claro que certas culturas souberam desenhar projetos capazes de cimentar a solidariedade intergeracional… A família revelou-se um elemento essencial na construção e preservação da identidade patrimonial, mesmo se o caminho exigia obediência cega… 
O amor filial transformava-se em amor paternal… porque o padrão assim o ensinava, o que não impediu que milhões de jovens fossem sacrificados em conflitos sucessivos… sem grande remorso.
Por estes dias, desfeita a identidade patrimonial familiar, a solidariedade intergeracional está morta. E não é por falta de beijos e abraços… Podemos fingir que nos faltam os beijos e os abraços, mas a crise só será temporariamente superada, quando os amigos da festa começarem a tombar.

20.6.20

No jardim da verdade

Posso tentar descrever o jardim: a uma zona relvada sucede uma canal de água mais límpida do que a de outro registo; e depois, nova zona relvada, mais rara de início, onde pousam alguns pombos, próximos de uma ninhada de patos já crescidinhos que, a espaços. mergulham no pequeno lago, sombreado por uma meia dúzia de árvores… Nas zonas de sombra e de luz, perdem-se folhas secas por entre pequenas flores de estação… E finalmente há todo o tipo de vermes que apenas pressinto…
Esta descrição fracassada não dá conta da verdadeira vida que habita o jardim. É apenas um exercício para dizer que a verdade dos nossos governantes, para além de ser menos modesta, é mais mentirosa do que a minha.
Eu pressinto os vermes, mas eles fingem que neste nosso jardim não há minhocas quando nos querem convencer (e aos outros países amigos do negócio) que a causa do número de infetados é do grande número de testes realizados… Como se o vírus deixasse de circular se o não incomodássemos…

18.6.20

Consciência oca

E acabe enfim esta consciência oca
Que de existir me resta.
(F.P., Fausto na taberna)

Findar ou aperfeiçoar?
Em consciência, quem é que deseja que a consciência se extinga? O suicida, certamente. Mas para quê? Fugir da vida que nos foi entregue para que a preservemos é um ato egoísta, individualista.

Apetecia-me zancar na sociedade individualista, mas o indivíduo não sabe nem quer viver em grupo e muito menos em sociedade. Não há nenhuma sociedade individualista, apenas predadores que, quando não se apoderam do poder, se imolam para não terem de ouvir a consciência.
Em suma, melhor seria apostar no aperfeiçoamento do que nos foi dado em vez de chorar o leite derramado.

17.6.20

Já não há barqueiro!

Mas não é inda o fim. Inda é preciso
Que a morte me desmembre em outro, e eu fique
Ou o nada do nada ou o de tudo
E acabe enfim esta consciência oca
Que de existir me resta.
(F.P., Fausto na taberna)

Pense o Fausto o que quiser sobre o modo de ficar, pouco interessa. Nesta vida, só a consciência atrapalha, porque desaprendemos de viver o tempo - essa inexistência que pesa fora das tabernas, das adegas e dos bares deste mundo...
O tempo é o produto da suspeita de finitude, onde o barqueiro deixou de ser necessário.

16.6.20

São de neve...

Não sei se são ideias… talvez,  enunciados; no limite, frases ou onomatopeias mal aparadas.. Vivo de incertezas que caem quais pedras de granizo. São de neve, mas destroem…
Podia pensar em mentiras, só que no verso não encontro qualquer verdade… 
Sem verdade nem mentira, não há certeza que me sossegue...
Sucedem-se os ministros, os deputados, os cardeais… e já não percebo se são reais. Nem nos livros, me encontro - pardais saltitantes à procura do arroz integral que lhes vou servindo diariamente... e, no entanto, eles não duvidam... só suspeitam.

14.6.20

Para quê derrubar ídolos de outros tempos?

Figueira dos pagodes
Hoje cruzei-me com esta figueira ornamental (ficus religiosus oriental). Nesta primavera oferece-nos uma cor sedutora… Só que, entretanto, lembrei-me de uma ideia que matinalmente se apossara de mim: para quê derrubar ídolos de outros tempos se os jardins nos oferecem tantas plantas e árvores exóticas? Pensei, por exemplo, que por estes dias nos deixamos seduzir pelos jacarandás, apesar da goma que nos pode atirar ao chão.
E uma ideia arrasta outra. Portugal deveria venerar as suas árvores de fruto, a começar pela figueira torrejana ou algarvia... Deveria venerar a oliveira, a amendoeira, a laranjeira, a avelaneira, o castanheiro... e se ainda nos apetecesse vingarmo-nos do passado, então deveríamos começar por abater tudo o que, em nós,  é supérfluo, exótico...

12.6.20

Do Covid não há notícia nos santos populares

Popular: A rua está triste! Em Alfama, não há Covid, como se vê! Só polícias! 

Outro popular: Nem a neve cai na Serra da Estrela. Só nevoeiro! Do Covid não há notícia... nem do Sol!

Bernardino Soares: O Covid está aqui, em Loures, entre os desempregados e os precários, nos bairros pobres, nos autocarros

Graça Freitas: Uma esplanada ao longo da avenida, um grelhador...  Uma rica sardinha pode bem animar a noite dos santinhos, sem incomodar o Covid, desde que seja servida por mãos higienizadas e bocas amordaçadas...

(... até porque, em junho, o Covid prefere as estátuas dos colonizadores e dos colonialistas, indiferente à diferença...)

11.6.20

Em 1968, a gripe matou mais de 1 milhão de pessoas

Mais de 1 milhão de mortos. Já ninguém se lembra. Porquê?

Grippe de Hongkong : pourquoi on l'a tous oubliée

Grippe de Hongkong : pourquoi on l'a tous oubliée

Il y a seulement 52 ans, la grippe de Hongkong causée par un virus H3N2 partait de Chine centrale pour se propager à travers la planète. Le bilan est terrible : plus d’un million de morts dans le monde dont 30 000 à 35 000 en France. Pourtant, plus personne ne semble s’en souvenir aujourd’hui, y compris parmi les médecins qui étaient mobilisés à l’époque. Comment expliquer cette amnésie collective ? Raphaëlle Rerolle, grande reporter au Monde nous raconte cette épidémie oubliée dans Pandémie, le podcast du Monde consacrée à la crise du coronavirus.

See acast.com/privacy for privacy and opt-out information.
  • 17 min



10.6.20

Batam no homem...

Vá lá, batam no Centeno que ele merece… Não tenham vergonha! O sangue de Ourique não perdoa… Em nome de Cristo, abaixo os sarracenos  e todos os centenos de aquém e além mar!
O dia 10 de junho de 2020, com ou sem covid, nada deve a Camões a não ser a expressão "apagada e vil tristeza" que praticamos com o maior fervor, da monarquia à república, da direita à esquerda…
E como tal, este apontamento é daqueles que vai cair no olvido. Reconhecer o mérito no tempo certo nunca foi uma qualidade lusitana. Camões que o diga, apesar de todos os patriotismos que encimou ao longo dos séculos... Em vida, deixaram-no entristecer até que o vírus o levou...

9.6.20

A quente, a vingança

Apesar da vingança se servir fria, a classe política portuguesa não espera pelo inverno… Ainda agora, o doutor Centeno começou a despedir-se, e já as portas começaram a fechar-se...
Pouco importa se o rigor orçamental do ministério das finanças trouxe estabilidade ao país e alguma esperança em melhores dias, o que é preciso é evitar que ele seja nomeado governador do Banco de Portugal não vá ele persistir no seu propósito…
Lá no fundo, o homem não é um político, ao contrário do que por aí se propala, o que é muito perigoso para a classe política ávida de repartir o bolo, mesmo que ele resulte de um bodo europeu aos pobres…
Se o Centeno não serve para o Banco de Portugal, fico ansioso por conhecer as propostas da Assembleia, apesar de, constitucionalmente, o direito de indigitação não ser dela…
Que S. Francisco nos ajude!

7.6.20

A porta

Ela estava lá, mas não tenho memória de a ter transposto. Agora dá para um parque de estacionamento… Outrora, ali, joguei à bola ou melhor arrasei as canelas de quem ousava aproximar-se das redes…
Desse tempo, a única  recordação futebolística que mantenho é a do impacto da bola na muralha fernandina.
A porta invisível era substituída pela porta dos fundos, por onde se entrava e saía, já que a porta principal estava reservada a gente mais graúda e de subida etiqueta. 
Lá dentro, tudo obedecia a uma ordem divinamente estabelecida… Do que consigo enxergar do atual Paço Episcopal, creio que o amadorismo dos últimos anos deu cabo da singularidade do edifício… à exceção da fachada e da Igreja do antigo colégio jesuíta - talvez seja ainda fruto da passagem do exército napoleónico!

5.6.20

Surpresa

Sentei-me. À direita, o Seminário, agora Paço Episcopal… Ao lado, a Igreja da Piedade. À esquerda, o Convento de S. Francisco. Na retaguarda, a Escola Prática de Cavalaria… sem Salgueiro...
Em frente, uma placa - O MIRANTE - o único jornal regional digital que leio diariamente…
Se alongar a vista, posso imaginar todo o território - do Largo Sá da Bandeira às Portas do Sol; do Tribunal à Praça de Toiros… e ver o Tejo, em tempos abundante, e por ora cada vez mais assoreado…
Tudo o que vejo e não vejo surge reconfigurado, com ares de moderno, mas também abandonado, como acontece com o Cineteatro Rosa Damasceno… Pobre Santareno!
Aqui sentado, continuo a vaguear pelas ruas estreitas repletas de igrejas vazias em que uma  ou outra Senhora me vai convidando a visitar os altares, imaginando-me forasteiro inesperado, qual Cabral chegado do Brasil...
E là ao fundo, à esquerda, o Liceu Sá da Bandeira em dia exame, para lá de Santa Clara… sem esquecer que, um dia, o Passos terá guiado o Garrett a um jardim só mais tarde desenhado…  

4.6.20

Se recuar um pouco mais...

… antes das palavras… antes do significado das palavras…, reconheço que o silêncio era uma aspiração, porque o quotidiano era de trovoada, ora súbita ora fermentada…
O silêncio, que também aterrorizava, era nesse tempo um refúgio, sem qualquer valor mítico que mais tarde lhe pudesse ser atribuído…
E as palavras, quando chegaram, eram falsos deuses atirados à toa num combate antecipadamente perdido, o que explica que se tenham tornado ocas e postiças…, apesar das analogias, fracas.

3.6.20

Da frivolidade e não só...

A frivolidade consiste em falar por falar, sem objeto, sem finalidade, sem ter nada para dizer. Manuel Maria Carrilho, Pensar o Mundo, vol.I, pág. 153

Alimentar um blogue é ser frívolo, já que tudo convida ao silêncio - a lição inicial.
A razão ainda me convida a regressar ao começo, a esmiuçar o que se passou antes de certos empurrões - a analisar. Faltam-me, no entanto,  as evidências. Apenas conjeturas, hipóteses. 
As palavras revelam-se  incapazes de dar conta se os atos foram voluntários ou somente respostas defensivas, como se a vida corresse a cada momento sério risco…
Correr atrás das palavras de nada serve, apesar de elas terem o dom de nos devolver alguma dignidade ou, em contrapartida, de expressar a nossa monstruosidade.