29.6.21

Só quando...

 

Sintra, 29-06-2021

Só quando a consciência se apagar, poderei esquecer estas velhas chaminés...
Por isso sempre que regresso, observo-as... e hoje, por estranho que pareça, surgiram-me mais nítidas, mas menos volumosas, como se os estômagos dos nossos 'reis' tivessem alterado a dieta.

Ilusão, certamente, apesar do Jo Berardo ter sido detido para inquirição do que todos sabemos.

O problema é que neste país, gostamos de vilões que persistem em guardar segredo sobre o nome dos comparsas e, sobretudo, em insultar-nos.

A mim nunca ninguém emprestou nada, fiando-se, apenas, na minha palavra. 

Mea culpa!

28.6.21

Agora, sim

 

Já podemos viver um pouco mais sossegados: a Seleção foi de férias!

Com um pouco de sorte, os políticos entram em pousio... e nós fazemos votos para que não chova...

Quanto aos comentadores televisivos só os vê e ouve quem não tem mais nada para fazer.

Se os astros se conjugarem até o Covid 19 deixará de bater à nossa porta.

Por mim, vou fazer um esforço por não vos incomodar.

27.6.21

Daqui a umas horas

 

Outras eras, defuntas!

Os símbolos, por ora, são outros, mais prosaicos.

E os comportamentos? Esses são de afirmação do que há de mais boçal e incontinente...

Daqui a umas horas, a euforia ou o desalento tomarão conta dos próximos dias...

Agora é só ansiedade bem regada e língua solta...

Na porta dos fundos, os desmandos continuam, impunes.

25.6.21

4000

 

À venda por 200 milhões de dólares!

Se não estou em erro, este será o 'post' número 4000!

Sinal equívoco de presença, marca de persistència, sim, mas nem sempre cristalina... até porque a caruma pouco tempo se aguenta na árvore que a sustenta...

Calcada a caruma, sente, por vezes, vontade de tudo incendiar, mas a ignição só traria mais miséria...

E para que nem tudo seja sombrio, deixo-vos com a ideia (e a imagem) de que provavelmente o Bicho é mais benovolento com os ricos do que com os pobres...

23.6.21

Por ora meio mundo esquece

«Je vous prie seulement de me faire part loyalement et sans critique de tout ce que vous passera par la tête, lorsque vous dirigerez votre attention, sans aucune intention definie...»
           S. Freud, Psychopathologie de la Vie Quotidienne

Mesmo que não nos apercebamos da razão, há sempre uma intenção definida. 
Se me dispusesse a agir segundo o preceito freudiano, o resultado, por mais poético que pudesse parecer, seria ou a inintelegibilidade discursiva ou um questionamento desenfreado das condutas que tanto nos afetam a mente.
O sentido crítico impõe-nos a censura das ações verbais e não verbais, obrigando-nos a esquecer de modo a que não quebremos todas as pontes...
Por ora meio mundo esquece, esquece, à espera de um momento de elevação, mesmo que seja o reflexo da nossa miséria.
Lá atrás, mais do que os nomes trocados, o que mais inquieta são os rostos esfumados, desaparecidos.

20.6.21

Sem a morte...

«Sem a morte, temos um conto sem final. E sem sentido.», pág. 646. Assim termina JALAN JALAN, de Afonso Cruz

No entanto, nesta obra muito se escreve sobre situações de morte. Dir-se-ia que a morte é um tópico dominante que nutre a vontade de viver, mesmo quando o desespero ocupa toda a cena.
Uma obra inclassifificável que, muitas vezes, acolhe pequenos contos criados ou apenas relatados, em que a regra definida pelo autor nem sempre está presente, até porque a morte pode abrir o conto ou surgir apenas como peripécia para ilustrar o protagonista ou ajudar a expor uma ideia - a defesa da vida.

E, afinal, com  os 3.862.271 de mortes por Covid-19 à data de ontem, quantos contos poderíamos escrever? Só que não trariam qualquer sentido... a não ser avolumar as ameaças ambientais...

19.6.21

Porta de entrada

 


Esta manhã, submeti-me a uma colonoscospia total, para lá da diverticulose cólica, saí de lá a espirrar, com uma expectoração interminável e, sobretudo, com uma forte e persistente dor de garganta. 

Espero que não se tenham enganado na porta de entrada! 

De qualquer modo, vou evitar o Alemanha - Portugal.

Para sofrimento já basta!

16.6.21

Não sei como...

 

Não sei como...

mas o melhor talvez seja desligar

sentir apenas o que nos pode sossegar

Existir como se fosse possível 

ignorar e ao mesmo tempo ser...

e, claro, continuar a fingir

(Mesmo que o diabo já nos tenha abandonado...)

15.6.21

Vida 'infraordinária'?

 

Por vezes, o equipamento urbano surpreende-nos: sentados, podemas carregar o telemovel, o laptop... 
Esta manhã, no entanto, observei algo muito distinto. O sem-abrigo aproximou-se do banco, abriu a sacola e dela retirou uma cafeteiria elétrica, um frasco de nescafé e uma chávena... Sem água, pegou na cafeteira e foi  a um bebedouro não muito distante, tendo regressado com o precioso liquido que, de imediato, fez aquecer... O que se seguiu todos podem imaginar... 
Mas faltava alguma coisa, provavelmente a carcaça, mesmo sem manteiga...
Os minutos seguintes, de chávena na mão, ocupou-os a vistoriar os caixotes de lixo sem grande sucesso.
Perante o previsível malogro matinal, alguém colocou sobre o banco um pão de deus e umas moedas... Quando se apercebeu da dávida, quardou recatamente as moedas no bolso e o pão na sacola, provavelmente já a pensar no almoço...
Entretanto, o 728 chegou e afastou-me daquele lugar, pensando eu que, afinal, os equipamentos urbanos podem ser mais do que sinais de ostentação...
Dizem-me que já começou o Hungria-Portugal! A verdade é que para mim começou bem mais cedo...

14.6.21

Escrita infraordinária

«E ainda pode escrever sobre o «infraordinário», aquilo que não é notícia.» Afonso Cruz, Jalan Jalan, pág.479

(Quem é que pode escrever? Todos. Não é necessário ser escritor, poeta, jornalista, historiador...)
Por exemplo, de momento, gostaria de escrever sobre Jalan Jalan, mas não é fácil.
 Não se trata de uma odisseia, embora refira múltiplas viagens, percursos. Não se trata de um romance, embora conte múltiplos episódios parcialmente narrativos, múltiplas experiências em lugares, por vezes, próximos... sobretudo distantes. Experiências enriquecedoras, porque fruto da atenção dada ao outro - geralmente com um ponto de vista inesperado e menos comprometido. Não se trata de um livro de auto-ajuda, embora o leitor se sinta frequentemente agradecido pelo incentivo, pela interpelação do lugar-comum...
Em síntese, este livro, inclassificável, resulta do cruzamento de leituras, de viagens, de experiências... e, em particular, de uma navegação orientada para a construção de uma humanidade melhor, com o precioso contributo do passado através da revisitação das ideias de todos os continentes...

(Caruma  é o típico exemplo de escrita infraordinária. )

12.6.21

Celebrar a morte!

 


Celebrar a morte, aborrece-me. A simples ideia de evocar acontecimentos de ontem perturba-me, como se  o dia de hoje estivesse suspenso... Enfim, celebrar  durante 5 anos assusta-me ainda mais, pois parece que, nos próximos anos, nada haverá a fazer,  exceto cumprir a liturgia que os apóstolos já começaram a desenhar...

Compreendo que haja uns tantos agradecidos e agraciados, mas não creio que este seja o melhor caminho. O que faz falta é mudar a agulha: substituir os frutos podres, podar a árvore, libertá-la do caruncho. E depois, quanto aos que não têm memória não vale a pena vaciná-los. O melhor é deixá-los construir as suas próprias memórias... e esperar que daqui uns anos não tenham a triste ideia de se quererem perpetuar nas gerações seguintes.

Finalmente, as celebrações são muitos caras... bem sei que vem aí bazuca, mas convém não esquecer que, por definição, a bazuca é uma arma cujo raio de destruição é elevado.

10.6.21

Milagres!


 Katja Ebstein, 1970

O postal está, há meses,  colocado à minha frente. Só que eu não o vejo ou, melhor, não o interrogo...

Até que, subitamente, os significantes começam a perturbar-me: - Como é que tu podes viver rodeado de signos que não compreendes? Deixa lá as pessoas e dá-nos um pouco mais de atenção... 

Em 1970, o mundo exterior era mesmo exterior, o festival da eurovisão pertencia a outro dimensão. À época, os milagres ainda eram esculpidos em retábulos a ouro ou em palavras de redenção.

(Hoje, ouvi o Jerónimo de Sousa afirmar que está preocupado com a entrega de dados de ativistas russos, residentes em Lisboa, à Mãe Rússia...)

 
Wunder gibt es immer wieder,
Heute oder morgen können sie gescheh'n.
Wunder gibt es immer wieder,
Wenn sie dir begegnen, musst du sie auch seh'n.

8.6.21

Quando o singular...

 

Quando o singular nos engana...

Ando a ler, mesmo se sentado, o livro de Afonso Cruz, Jalan Jalan, Uma leitura do Mundo...

Leio sentado, porque o livro é bem pesado e sentencioso. Para lá da suposta leitura, observo múltiplas leituras resultantes da estratégica mudança de ponto de vista, de modo a fugir à opinião e à crença...

Andar através dos livros, dos montes, dos territórios, das religiões, das filosofias, das políticas, das literaturas, das línguas é caminho de uma entropia crescente... volumosa, fragmentada, em que nos vamos dissolvendo de forma, por vezes, divertida porque inesperada.

5.6.21

Sem rebuço

Legítima? Ilegítima? Cultural? Não sei.
A apropriação surge a cada passo, com ou sem citação... como se as formas de intertextualidade fossem todas legítimas ou tivessem justificação cultural
Já não é tanto a ideia furtada, mas o manuseamento de múltiplos e exóticos significantes de modo a obter um efeito legitimador, gerador de saberes mal assimilados capazes de maravilhar as almas insignificantes a quem têm de prestar contas.
Quanto a mim, apenas pressinto que vou sendo assimilado, sem rebuço.
'Sem rebuço' seria um bom título para uma obra cujo significado não se descortina.

3.6.21

Coisas estranhas

 

Seres minúsculos só abrem as asas no momento de levantar voo, e e eu caço-os antes que me infestem a casa. Chegaram vindos não sei donde e multiplicam-se a uma velocidade estonteante...
No consultório, a conversa sábia esbarra nas janelas que dão para o Parque Eduardo VII. Os carros continuam a subir e a descer, alheios ao que ocorre na cabeça dos condutores e dos passageiros.
Vejo nos escaparates que vão publicando diários  esclarecedores sobre a vida nacional nas últimas décadas. Contudo, nunca explicam nada sobre os últimos dias.
Por exemplo, os diários são omissos quanto às razões do bombardeamento nocturno de Moscavide, em sonho já se vê! Seres minúsculos elevavam-se sobre a minha cabeça... e os mísseis iam caindo como se Israel estivesse a atacar a Faixa de Gaza.