Canção de Safo (Séc. VII-VI a.C.)
Igual aos deuses me parece
Quem a teu lado vai sentar-se,
Quem saboreia a tua voz
Mais as delícias desse riso
Que me derrete o coração
E o faz bater sobre os meus lábios.
Assim que vejo esse teu rosto,
Quebra-se logo a minha voz,
Seca-me a língua entre os dentes,
Corre-me um fogo sob a pele,
Ficam-me surdos os ouvidos
E os olhos cegos de repente.
Torna-se líquido o meu corpo:
Transpiro e temo ao mesmo tempo.
Vejo-me verde: mais que a erva.
Só por acaso é que não morro.
(Fragmento 31 Lobel-Page / tradução de David Mourão-Ferreira)
Propércio (Séc. I a.C.)
Agora sei como é terrível
A solidão das longas noites,
Ouvindo só nos meus ouvidos
Das próprias queixas o rumor.
Feliz aquele a quem consentem
Chorar ao pé da sua amiga,
Pois o Amor é complacente
Perante as lágrimas vertidas.
Feliz o amante desdenhado
Que vai em busca de outro fogo:
Inda que volte a ser escravo
Só por mudar teve consolo.
Mas eu a mais ninguém me dou.
Só este laço é que eu aceito:
Foi Cíntia o meu primeiro amor,
Cíntia será o derradeiro!
(Elegias, Livro I /tradução de David Mourão-Ferreira)
Marcial (Séc. I-II)
Passam por teus os versos que recitas,
E que afinal são meus.
Tão mal, porém, tu os recitas
Que passam a ser teus.
Epigramas, Livro I / tradução de David Mourão-Ferreira)
MCG /LP /Abril 2008
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