Luis Vaz de Camões

Luís de Vaz de Camões

1370 – Nesta data, já o avoengo de Camões, Vasco Pires de Camões, se encontrava refugiado na corte portuguesa, beneficiado por D. Fernando com grandes mercês, doando-lhe, em 15 de Março de 1373, a quinta do Judeu, no termo de Santarém.
Sabe-se que o pai de Camões era Simão Vaz de Camões, oriundo de uma família galega, e sua mãe, nascida em Santarém, era Ana de Sá de Macedo, por pertencer à “Casa dos Macedos”, de Santarém.
[Simão Vaz de Camões viveu por muito tempo em Coimbra.]
Quando Simão Vaz de Camões foi nomeado Administrador da Casa da Guiné e da Índia, já Ana de Sá de Macedo estaria grávida, tendo Camões nascido em Santarém.

A data de 1497 assinala dois factos capitais no reinado de D. Manuel I: o termo do prazo de conversão dos Judeus e subsequente expulsão e a partida para a viagem à Índia de Vasco da Gama. Ver 'Os Lusíadas' e a Cabala Judaica, Fiama Hasse Pais Brandão, 22-02-1980.

Camões terá nascido entre 1524 e 1529. A sua mãe poderá ter morrido ao dá-lo à luz. Onde? Não se sabe ao certo. O seu pai seria Simão Vaz de Camões, oriundo de família galega, e sua mãe, nascida em Santarém, era Ana de Sá Macedo...
O seu tio, D. Bento de Camões, tomou conta da educação da criança, em Coimbra. Pertencente à Ordem de Santo Agostinho, D. Bento tornou-se prior-geral dos cónegos agostinhos e cancelário das célebres Escolas Gerais, a única Universidade do país. Deve ter sido no Colégio de Santa Cruz, que D. Bento dirigia e onde não só era proibido como considerado desonroso que os escolares falassem outra língua que não grego e latim, pelo menos das portas para dentro, que começou a sua preparação escolar.

No entanto, em 1543, Camões já habitava Lisboa. Estaria ao serviço dos condes de Linhares. Morava na Lisboa ribeirinha.

1544 - Sexta-feira santa, Camões terá visto pela primeira vez D. Catarina de Ataíde [ambiguidade comportamental]. Por isso passou a rondar a corte. Foi punido pelo rei com o desterro de Lisboa. Foi enviado para o Ribatejo. Pediu a comutação da pena e pede para ir para Ceuta por dois anos em serviço militar. Dois anos mais tarde, regressa a Lisboa.

(O Dr. José Gomes Brás (Reis Brasil), depois de defender em 1960 que o Poeta teria nascido em Lisboa, a partir de 1969 passou a defender o nascimento escalabitano.)

O frade franciscano ribalto, António Ribeiro Chiado – o poeta Chiado – apodou-o de TRINCA-FORTES, designação ribatejana (?) 

Camões terá sido obrigado a abandonar a Corte, por mexericos dos seus amores com a Infanta Dona Maria… terá escolhido o Ribatejo para se acolher.

Entre os seus familiares mais próximos estaria D. Gonçalo Coutinho, na QUINTA DOS VAQUEIROS…

1546 – Ano de partida para o exílio. Ver Carta

1552, 16 de Junho – Terá ferido um moço fidalgo da Casa de El-Rei [Gonçalo Borges], numa rixa, à hora da procissão do Corpus Christi. Terá estado preso durante 9 meses no Tronco de Lisboa. Só foi solto na condição de abandonar Portugal para ir servir o Rei na Índia.

155324 de Março – O Poeta embarca na nau S. Bento e, durante 6 meses, percorre o mesmo caminho de Vasco da Gama. Até 1556, permanece em Goa, em vida de soldado, toma parte em expedições à costa do Malabar e ao estreito de Meca, para depois seguir para Ormuz, em punição aos turcos. Quando as negociações com os chineses para o estabelecimento de uma feitoria portuguesa em Macau chegaram a bom termo.

1558 - Camões aceita o posto civil de Provedor-Mor de Defuntos e Ausentes – funcionário responsável pelos bens dos portugueses ausentes ou mortos.

1559 – Naufrágio na foz do rio Mekong. Junto dos budistas do Camboja encontra acolhimento e esmola.

1560 – Um inspector régio acusou o poeta de desvios administrativos e leva-o preso para Goa. Aqui terá sabido da morte de D. Catarina de Ataíde [4 anos antes, solteira, no paço da rainha].

1567, Setembro – Camões deixa Goa, rumo a Moçambique.

1568 – O poeta embarca para Lisboa na nau Santa Clara, chegando à baía de Cascais a 7 de Abril de 1570.

[17 anos de exílio]

1571 – O poeta obtém o privilégio real para imprimir Os Lusíadas e logo em seguida a licença da Santa Inquisição.

1572 - O frade dominicano Bartolomeu Ferreira subscreve o parecer da Inquisição sobre «Os Lusíadas», no qual adverte os leirtores de que «o autor, para encarecer a dificuldade da navegação e a entrada dos portugueses na Índia, usa de uma ficção dos deuses dos gentios».
No entanto, em 1584. para poderem ser publicados «Os Lusíadas» são mutilados.

1572 – Impressão da 1ª edição de Os Lusíadas. Impressor: António Gonçalves. A portada utilizada já era conhecida há 24 anos (Regra e Estatuto da Ordem de Santiago, de 1548). Os elementos essenciais da ornamentação da cabeça são dois golfinhos e entre eles um pelicano…

1572 - Foi atribuída  a Camões, no dia 28 de Julho, a situação de cavaleiro-fidalgo, no reinado de D. Sebastião.

Obra perdida ou roubada: Parnaso de Luís de Camões.

1578 – D. Sebastião desapareceu na expedição africana a Alcácer-Quibir.

1580 - Janeiro: morre o sucessor de D. Sebastião, o cardeal D. Henrique.

1580 - 10 de Junho: o Poeta morre no catre de um hospital de pobres de Lisboa.

Diogo Couto, amigo do Poeta, na Década VIII, referindo-se à morte de Camões: «E em Portugal morreu este excelente Poeta em pura nobreza.»

A LIBERDADE nas palavras do Poeta

I

Almeno:

(…)

Da minha idade tenra, em tudo estranha,

Vendo (como acontece) afeiçoadas

Muitas ninfas do rio e da montanha,

Com palavras mimosas e forjadas,

Da solta liberdade e livre peito,

As trazia contentes e enganadas.

(…)

Écloga II

II

(…)

Oh! Quanto já que o Céu me desengana!

E eu sempre porfio

Cada vez mais na minha teima insana!

Tendo livre alvedrio;

Não fujo o desvario;

E este que em mim vejo,

Engana co’a esperança meu desejo.

(…)

Ode à Lua

 

III

 

(…)

 

Amada Circe minha

(Posto que minha não, contudo amada),

A quem um bem que tinha

Da doce liberdade desejada

Pouco a pouco entreguei,

E, se mais tenho, inda entregarei

(…)

Ode IV

 

IV

Quem pode ser no mundo tão quieto,

Ou quem terá tão livre o pensamento,

Quem tão experimentado e tão discreto,

Tão fora, enfim, de humano entendimento

Que, ou com público efeito, ou com secreto,

Lhe não revolva e espante o sentimento,

Deixando-lhe o juízo quase incerto,

Ver e notar do mundo o desconcerto?

(…)

Que, por livre que seja, não se espante?

(…)

 

Dir-me-eis que, se este estranho desconcerto

Novamente no mundo se mostrasse,

Que, por livre que fosse e mui esperto,

Não era de espantar se me espantasse;

(…)

Ó inimigo irmão, com cor de amigo!

Pera que me tiraste (suspirava)

Da mais quieta vida e livre em tudo

Que nunca pôde ter nenhum sisudo?

(…)

 

Oitava I

 

V

(…)

Assim vós, Rei, que fostes segurança

Da nossa liberdade, e que nos dais

De grandes bens certíssima esperança:

Nos costumes e aspeito que mostrais

Concebemos segura confiança

Que Deus, a quem servis e venerais,

Vos fará vingador dos seus revéis.

E os prémios vos dará que mereceis.

(…)

Oitava III, Sobre a seta que o Santo Padre mandou a el-Rei D. Sebastião, no ano do Senhor de 1575

 

VI

(…)

E se quiser saber como se apura

Nũa alma saudosa, não se enfade

De ler tão longa e mísera escritura.

Soltava Eolo a rédea e a liberdade

Ao manso Favónio brandamente,

E eu já a tinha solta à saudade.

(…)

Elegia I

 

VII

(…)

Se quero em tanto mal desesperar-me,

Não posso, porque Amor e Saudade

Nem licença me dão pera matar-me.

(…)

Elegia II

 

VIII

(…)

Que pois já de acertar estou tão fora,

Não me culpem também se nisto errei.

Sequer este refúgio só terei:

Falar e errar, sem culpa, livremente.

 

Triste quem de tão pouco está contente!

(…)

Com ter livre arbítrio, não mo deram,

Que eu conheci mil vezes na ventura

O melhor, e o pior segui, forçado.

(…)

Canção X

 


Obra

Babel e Sião – redondilhas em que o Poeta se posiciona perante a vida terrena e a vida divina.

Temas

·         Heroísmo ao serviço da Lei Santa e Divina, do Rei, da Pátria, da honra dos antepassados

·      Deus, causa primeira /“céu sereno”, “céu severo”, “céu justo”; criador ex-nihilo; pensamento casto e puro (elegia 11)

·         A mitologia

Notas de interpretação

João Franco Barreto conseguiu desvendar a confusão acerca das duas ninfas de nome Tétis que aparecem n’Os Lusíadas, uma no episódio do Adamastor, a outra na Ilha de Vénus. São personagens mitológicas distintas

Maria Vitalina Leal de Matos procura compreender a maneira como Camões se apresenta a si próprio nas suas pesias, colocando-se assim numa longa tradição crítica, de alto nível, que vem desde António Sérgio e António José Saraiva.

Vasco Graça Moura evoca um Camões civil e militar que ora exalta as virtudes castrenses, sem  nunca esquecer as civis, ora descrê muito dos militares e dos civis (linha de leitura)…

Jacinto do Prado Coelho: a epopeia do realmente acontecido (I,11), (V,89), (VI,42) (X,20)

“ A estética do veraz e do conciso (…) podemos considerá-la como expressão dum momento cultural em que o Homem já não se sente mero joguete das forças naturais, antes ganhou consciência de que, observando-as, estudando-as, e mercê também de tenacidade e ousadia, é capaz de as dominar e dirigir: “o bicho da terra” ameaça ultrapassar os deuses. (A.C.P.,p.88)

(…) Quanto mais o seu poema se confunde com o simples narrar historiográfico ou o simples descrever fenomenológico, mais se afasta da poesia autêntica. (A.C.P.,p.88)

Ver a propósito de “enunciação histórica” e de “discurso”, o linguista Emile Benveniste, Problèmes de Linguistique Générale, Paris, 1966. Ver também Harold Weinrich, que propõe a dicotomia “ mundo narrado” – “mundo comentado”.

“Discurso”: Um indivíduo, o autor, cuja presença se manifesta frequentemente, dirige-se a outro, D. Sebastião, para nele exercer influência (Canto I; Canto X, 146/147) – Olhai… Ouvi… Vereis…

No discurso de Os Lusíadas, implícito e algumas vezes expresso, há outro destinatário, outro ouvinte virtual:  a gente portuguesa, usando a 2ª pessoa (I,3; X, 145) 

António Ferreira e o Velho do Restelo (visão de Jacinto do Prado Coelho)

O pessimismo anti-heróico do Velho do Restelo

Qual o papel do Velho do Restelo na economia da epopeia? A sua voz tem fundamento histórico?

a)       Eco de um movimento de opinião

b)      Reflecte as vozes da sabedoria clássica. Ver afinidades com os coros da tragédia antiga

O Velho do Restelo existe no indivíduo e na nação portuguesa (I, 106)

Esta dualidade aparece noutros espíritos do século XVI:

a)       Cancioneiro Geral

b)      Frei Agostinho da Cruz

c)       Baltasar Estaço

d)      António Ferreira, que glosa o tópico renascentista da boa liga das armas e das letras. Ver Ode VIII ( a D. António de Vasconcelos)

Ver Carta VIII a Pêro Andrade Caminha

(modelos: Horácio e Sá de Miranda)

Sá de Miranda condena a guerra na Écloga Basto. No entanto, advoga a guerra de expansão na Carta III dirigida a Luís Gonçalves da Câmara, mestre de D. Sebastião. Esta directriz “também a guerra é necessária e boa”, que é desenvolvida na Carta X, a D. Simão da Silveira…

Sobre esta questão, Jacinto do Prado Coelho afirma: “ Fica-se com a impressão de que Ferreira, por íntima tendência, é muito menos o poeta da matéria épica, o poeta da grandeza imperial (que cantou e incitou a cantar por dever de cidadania) que um espírito brando e meditativo, lírico e moralista, voltado para temas como o das relações entre o Amor e a justiça.”
“Em Camões, a contradição é menos flagrante, ou não há realmente contradição, porque o Velho do Restelo é uma personagem, tem uma função dramática, encarna uma das forças em conflito.
A antinomia existe, sim, entre o Poeta lírico e o Poeta Épico.
Em António Ferreira a contradição é categórica: “…umas horas, encarece a guerra de expansão, outras vezes, desmentindo-se, coincide com o Velho do Restelo, saudoso da pacatez rural da Idade do Ouro, indignado perante a cupidez dos homens, causa de tantos males, de tantas dores. Dualidade que parece caracterizar a vida social e mental do séc. XVI português, com o acentuar, já sob D. João III duma consciência cristã da vacuidade dos bens e glórias deste mundo (íamos na vanguarda da Contra-Reforma) e, paralelamente, com o despontar dum pensamento civil “esclarecido”, um criticismo anticavalheiresco, antibelicista…

António Ferreira, na Carta I, a D. João III, na morte do príncipe D. João. O Poeta louva o Rei não pelos valores (enumeração da grandeza e excesso) pela sua espiritualidade (clemência, justiça, beatitude), pela aceitação do inevitável: “ a morte de um teu filho, /único sucessor do teu estado”…

Na Carta II: / Suas letras, justas armas, dous esteos / Firmíssimos do Império só tenhamos/

O presente alterou algumas atitudes: /Já outros tempos, outros claros dias / Nos nasceram: entrou arte, e ciência / De nosso espírito mais seguras guias. /Cresce com o tempo mais a experiência. /

O Poeta defende que o Rei deve rodear-se de bons conselheiros: /No bom conselho só está o bom seguro. / Escolham-se bons zelos, bons espíritos. / Nunca os estados segurou temor. /

António Ferreira não gosta do que observa e elogiando o Rei, acaba por mostrar que ele está mal aconselhado.

A arte no período manuelino

- Rotunda, no Mosteiro da Batalha

- O claustro e a nave dos Jerónimos ( gótico manuelino orientalizado e aportuguesado)

- A janela do Convento de Tomar

- O famoso políptico de São Vicente, de Nuno Gonçalves

A epopeia “Os Lusíadas” fala em nome do mundo moderno.

A Ilíada, a Odisseia, (a Eneida): a poesia épica oral

 A poesia épica literária: A Canção de Rolando, os Nibelungen

A poesia romanesca e cavaleiresca: Orlando Furioso, de Ariosto

«… Não irá ser, como no primitivo conceito de epopeia, um rapsodo: simples coleccionador, mero ordenador ou repetidor de capítulos da literatura oral.»

Epifânio Dias mostra-nos Os Lusíadas como poema épico com um herói individual, Vasco da Gama.

Aubrey Bell apresenta Os Lusíadas como poema épico com um herói colectivo, o povo português. 
«Só em termos de técnica literária, entretanto, é que se poderá compreender bem o problema: o assunto principal, que unifica o poema, é Vasco da Gama com o episódio da Índia; mas o herói em tudo presente, actuante, exaltado, glorificado, matéria mística como condição da própria epopeia – este é o povo português (…) no mar, na terra, no Oriente como no seu próprio terreno europeu.»

Sobre a palavra “Lusíadas”

A palavra “Lusíadas” só aparece no título. A sugestão do termo ocorreu por intermédio do humanista André de Resende. Utilizou-o numa das suas epístolas e num verso “ Inter Lusíadas, nisi amor revocasset, amatae.”

Epitome rerum gestarum in India a Lusiadis”

Antes de André de Resende, só duas vezes esse latinismo fora utilizado:

1ª – Em 1516, por Célio Rhodigino, num texto latino com a influência grega do vocábulo Lousíades.

2ª – Jorge Coelho, numa oração latina, em 1526 ou 1536.

Todavia, a fonte de Camões terá sido André de Resende.

A língua portuguesa da época era uma espécie de latim náutico. O conhecimento e a sensibilidade do mar revelada pelo poeta… Fogo Santelmo; Tempestade do Oceano Índico; Prosopopeia do gigante Adamastor…

Bibliografia

v  António José Saraiva, Significado do “Fado” na Lírica Camoniana; Cristianismo e “a ficção da fábula dos deuses greco-latinos, Colóquio Letras, nº 100.

v  Brotéria, No 4º centenário de Camões, vol. 110 – nº 7/8/9 – 1980

v  Egídio Namorado, Camões: Poeta-filósofo?[2] Os Lusíadas e os movimentos culturais do séc. XVI. Influência da obra e concepções do neoplatónico Dionísio aeropagita.

v  João Franco Barreto, Micrologia Camoniana, INCM, Lisboa, 1983

v  Joaquim de Carvalho, Estudos sobre as leituras filosóficas de Camões, Obra Completa, vol. I, F. C. Gulbenkian

v  Maria Vitalina Leal de Matos, O Canto na Poesia Épica e Lírica de Camões, F.C.G., Paris, 1981

v  Maria Vitalina Leal de Matos, Introdução à Poesia de Luís de Camões, Biblioteca Breve

v  Jacinto do Prado Coelho, Ao Contrário de Penélope, História e Discurso n’Os Lusíadas, Bertrand, 1976

v  Jacinto do Prado Coelho, Problemática da História Literária (pp.81-88)

v  Martim de Albuquerque, A Expressão do Poder em Luís de Camões, I.N., 1988

v  António José Saraiva, Função e Significado do Maravilhoso n’Os Lusíadas, Colóquio de Letras nº100.

v  José V. Pina Martins, Humanismo e Erasmismo na Cultura Portuguesa do séc. XVI[3]

v  Robert Clive Willis, Camões e o Erasmismo, Ocidente, LXVII (1964), pp.201 a 208)[4]

v  Peter FotherGill-Payne – How Erasmian is Camões view of Good Kingship?, IV Reunião internacional de camonistas, Actas, pp.303-309.[5]

v  Fidelino de Figueiredo, Literatura Portuguesa, 2ª edição, Rio de Janeiro, 1954

v  José Maria Rodrigues, Fontes de Os Lusíadas, Coimbra, 1905.

v  Maria Clara Pereira da Costa, A Casa do Poeta em Constância, DN, 17/6/1980

 Maria Clara Pereira da Costa: A tradição aponta que Camões habitou a Casa dos Arcos, em Constância (antiga Punhete). Senhores de Punhete, os netos de D. Guiomar Freire (que ali viveu durante toda a 1ª metade do século XVI): João Lopes LeitãoHeitor da Silveira e D. Francisco de Almeida, este sobrinho do vice-rei. Estes três últimos foram amigos de Camões, participando no Banquete das Trovas, com D. Vasco Ataíde.

João Lopes Leitão, pajem do príncipe D. João, pai de D. Sebastião, é amigo de Jorge Ferreira de Vasconcelos (1515? – 1558?)[6], Pêro de Andrade Caminha (1520? - 1589?)[7], e António Ferreira (1528 – 1569)[8].

Heitor da Silveira encabeça a lista dos amigos que custeiam o regresso do poeta à metrópole. Registe-se, também, um outro neto D. Guiomar Freire, Frei Cristóvão de Sande que toma o hábito no convento de S. Domingos no ano em que o poeta regressa a Lisboa (1570). É também dominicano «o hábil e inteligente censor do poema.».

No séc. XVII, o manuscrito de Os Lusíadas encontrar-se-ia na biblioteca do tetraneto de D. Guiomar Freire. Esta está ligada a D. Maria Freire, casada com D. Afonso de Noronha, 2º conde de Linhares, casado com a cristã-nova, D. Violante de Andrade, os pais de D. António de Noronha, «o jovem a quem Luís de Camões dedicou um soneto e uma elegia e que foi desterrado para Ceuta por seu pai, em oposição aos seus amores pela formosa D. Margarida da Silva, onde em 1553 Amor e Marte o tiram do mundo.

v  António José Saraiva, Camões e a burguesia, DN, 17/6/1980.

A.J.S. recusa a tese de que Camões é o «épico da burguesia ascendente». Quem lê a obra, encontra só o elogio dos Cavaleiros e o enaltecimento dos feitos militares.

A palavra “comércio” (que nesta época tem o significado mais geral de intercâmbio) aparece apenas 4 vezes num poema que tem cerca de 10.000 versos. A palavra “mercadoria”, outras tantas, e nunca tem o valor elogioso que se encontra em palavras como “cavaleiro” ou “guerra” e semelhantes.

O que é a ciência e a divinização do homem têm a ver com burguesia?

A burguesia (…) como figura de retórica, que esconderá um mito (…) distinção entre ciência e mercantilização, isto é, entre ciência e tecnologia.

Os Lusíadas são ao mesmo tempo o poema da cruzada e o da ciência.

«Os cavaleiros tende em muita estima

Pois com seu sangue intrépido e fervente

Estendem não somente a lei de cima

Mas inda vosso império proeminente.

Canto X,  estância 151

v  António José Saraiva, Camões e a República, Expresso, 7/6/1980.

Em 1980, a extrema-direita vê em Camões a exaltação das virtudes da raça. Os comunistas descobrem virtudes onde antes as não descortinavam. A Aliança Democrática transfere para o seu governo a responsabilidade pelas celebrações, temendo o aproveitamento político da parte de Eanes. 

1980 – Confronto entre o governo e o presidente.

1880 – Confronto entre a oposição republicana e o governo monárquico.

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Antecedentes: a Regeneração (iniciada com a quartelada de Saldanha, no Porto, em 1851) dera ao poder uma nova imagem – Fontes Pereira de Melo, Rodrigo da Fonseca, Almeida Garrett.

1871 – Conferências do Casino

1872 – Associação Fraternidade Operária. É publicado o 1º número d’ O Pensamento Social, dirigido por Antero de Quental, José Fontana, Oliveira Martins, Batalha Reis, Nobre França e José Tedeschi.

1873 – Surge o Centro Republicano Federal.

1875 – Por iniciativa de Azedo Gneco e José Fontana, nasce o Partido Operário Socialista.

1876 – Forma-se o Directório Republicano Democrático que daria lugar à constituição formal do Partido Republicano Português.

1878 – É eleito, pelo círculo do Porto, o 1º deputado republicano português, Rodrigues de Freitas.

1880 – 3 de Abril: reúnem, na Sociedade de Geografia, 36 jornalistas, a convite do Comércio de Lisboa, dirigido por Luciano Cordeiro. Segundo Ramalho Ortigão, a celebração nacional do centenário era «a prova do espelho posto à boca do moribundo com o fim de verificar se ele ainda respira ou não.» O esforço de organização que fora feito para realizar as comemorações foi em parte recuperado para o trabalho de propaganda dos ideais da República.

1880 – ano do Ultimato inglês, havia de ser pretexto para a 2ª grande operação de propaganda da República.

1880 – 17 de Junho. Ver desenho de Rafael Bordalo Pinheiro, publicado no jornal “O António Maria”: Camões agradece aos altos poderes não terem ido à sua procissão e terem-no feito republicano.

1881 – a 4 de Janeiro, é posto à venda O Século, órgão do Partido Republicano Português, que seria dirigido por Magalhães de Lima. Depois deu-se a fundação do Grupo Republicano Henriques Nogueira, constituído principalmente por empregados do comércio de Lisboa.



v  Vergílio Ferreira, Camões e o Negativo, Expresso, 7/6/1980

O Renascimento não é a recusa do cristianismo mas a sua síntese com o humanismo ou o «paganismo clássico».

Como se resolve a arte de Camões na «ambiguidade» do Renascimento? «a mais visível manifestação crítica de Camões é, como sabemos, o riso.» N’Os Lusíadas, através da figura do Veloso. O seu riso destaca-se em toda a gravidade do poema. Num poema de glorificação do heroísmo é evidentemente intencional, de uma intencionalidade mesmo – se isso é possível – inconsciente, que esse riso sublinhe um acto de fraqueza ou cobardia: forçado a regressar às naus pela perseguição dos indígenas.

[O riso em Camões: é o modo mais saliente de separar a matéria antiga da moderna.]

A negatividade camoniana percorre todo o poema. Velho do Restelo (em substituição do coro grego) – relevo dado a quem nega a razão de ser do poema. Afirmação da individualidade crítica do Poeta por interposta pessoa.

O grande significado dos comentários camonianos é, pois, a separação do poeta comentador, ou seja a recusa do império da autoridade, isto é, a instauração de uma liberdade através da negação.

Para Platão, (…) o amor abrange toda uma vasta escala que vai desde o prazer carnal à sublimação metafísica.



v  José Quitério, Camões e a Mesa, Expresso, 7/6/1980

Luís Vaz escudeiro. A situação alimentar escudeirática raiava a miséria. Di-lo André Falcão de Resende, seu contemporâneo e amigo:

(…) tristes escudeiros

Que comem couves, nabos e mostarda,

E disto são às vezes cozinheiros!



Na Índia se passou o célebre Banquete de Trovas, em que os convidados, fidalgos seus amigos, em vez de acepipes encontraram redondilhas nos pratos. A primeira iguaria foi posta para Vasco de Ataíde e dizia:

Se não quereis padecer

Ũa ou duas horas tristes

Sabeis que haveis de fazer?

Volveros pró dó venistes,

Que aqui não há que comer.

E, posto que aqui leiais

Trovinha que vos enleia,

Corrido não estejais;

Porque por mais que corrais

Não heis-de alcançar ceia.


A segunda, a D. Francisco de Almeida:

Heliogábalo zombava

Das pessoas convidadas,

E de sorte que as enganava,

Que as iguarias que dava

Vinham nos pratos pintadas.

Não temais tal travessura,

Pois já não pode ser nova;

Que a ceia está segura

De não vos vir em pintura

Mas há-de vir toda em trova.


A terceira, a Heitor da Silveira:

Ceia não a papareis;

Contudo, por que não minta

Pêra beber achareis,

Não Caparica, mas tinta,

E mil cousas que papéis.

E vós torceis o focinho

Com esta anfibologia?

Pois sabei que a Poesia

Vos dá aqui tinta por vinho

E papéis por iguaria.


(…)

Cinco galinhas e meia

Deve o senhor de Cascais[9]

E a meia vinha cheia

De apetite para as mais.

v  Helder Macedo, Camões e a viagem iniciática, por Yara Frateschi Vieira, in Colóquio Letras nº 72

O 1º ensaio sobre a poesia lírica trata de demonstrar que a «modernidade» de Camões consiste na crença de que o amor é «experiência pessoal a ser vivida activamente» e de que a razão é a «faculdade humana capaz de transformar a experiência em conhecimento.»

Sintetiza interpretações anteriores conflituantes: a 1ª que via em Camões apenas o «poeta sensual… incapaz de reflexão filosófica.»; aquela que passou a lê-lo como um poeta filosófico (…) exclusivamente neoplatónico.

Na épica, o real instrumento da mudança é a experiência, que a razão transforma em conhecimento (…) o próprio poeta é o herói da viagem para o desconhecido, aquele que passa pela experiência de transformar o baixo amor e suas diversas formas em amor sublime (…) e regressa para contar aos seus contemporâneos o que lhe fora revelado na viagem, simultaneamente identificada com a própria elaboração do poema.

v  Pedro Calmon, Camões e o Brasil, DN. 19/6/1980

Chega ao Brasil na edição “princeps” de 1572.

1601 - Bento Teixeira dedica Prosopopeia ao pernambucano Jorge Coelho.

Gregório Matos glosa Lírica de Camões.

1880 – o tricentenário de Camões foi celebrado no Brasil como uma data nacional.

O número um dos documentos arrumados na exposição da Biblioteca do Rio de Janeiro era o exemplar que pertencia a D. Pedro II, em cuja página de abertura se lê (única assinatura conhecida do poeta) “Luiz de Camoens seu dono”.

v  Luiz Forjaz Trigueiros, Projecção do épico em Terras de Santa Cruz, DN, 19/6/1980

Ver Pero de Magalhães Gandavo[10], História de Santa Cruz, 1576 (considerada a 1ª história do Brasil).

Ver Elegia V, no II volume, organizado por Hernâni Cidade…

Referência a Martim Afonso de Sousa:

O nome tem co’as obras derivado

As rédeas um que Sá será ilustrado

No Brasil com vencer e castigar

O Pirata francês ao mar usado.

De África tem marítimos assentos

E na Ásia mais que toda soberana;

Na quarta parte nova os campos ara;

E se mais  mundo houvera lá chegara.


Mas  cá onde mais se alarga, ali tereis

Parte também co’o pau vermelho nota;

De Santa Cruz o nome lhe poreis;

Descobri-la-á a primeira vossa frota

Ao longo desta costa que tereis

Irá buscando a parte mais remota.


Gilberto Mendonça Teles, Camões e a Poesia Brasileira

Machado de Assis refere-se assim num soneto que ficou célebre:


Assim um homem só naquele dia

Naquele escasso ponto do universo

Língua, história, nação, armas, poesia,

Salva das frias mãos do tempo adverso.

E tudo aquilo agora o desafia

E tão sublime preço cabe em verso…

Manuel Bandeira:

Quando nalma pesar da tua raça

A névoa da apagada e vil tristeza

Busque ela sempre a glória que não passa

Em teu poema de heroísmo e beleza…

Brasil nas comemorações do tricentenário:

- oito anos antes, Joaquim Nabuco publica “Camões e os Lusíadas” (1872)

1880 (?) – Miguel Lemos (um dos chefes do movimento positivista) publica em Paris o seu  estudo “Luís de Camões”.

Estudiosos estrangeiros da obra de Camões

Ricardo Averini procura situar-se na área “das relações existentes e reconhecidas entre a poesia de Camões e a italiana e latina de autores latinos dos séculos XIV, XV e XVI, pela via directa do conhecimento deles ou pela indirecta dos autores espanhóis.

Álvaro Lins, Ensaio sobre Camões e a epopeia como romance histórico, Brasília editora, 1972

«… o génio criador do poeta estava de todo voltado para o Oriente.»

Questão pertinente: «Como passou Portugal, desse estado psicológico e sociológico de país de agricultores, para uma nova existência, a princípio incerta e temerária, contudo provocadora do ânimo de perquirir, de procurar, de encontrar, por si mesmo, outro rumo e maneira de acção, aí estando as suas possibilidades de enriquecer, expandir-se, notabilizar-se?»

Conflito entre duas mentalidades

Um coro de tragédia grega

O Velho do Restelo: representante de uma das duas mentalidades que estava a cindir-se o país. (…) O Poeta portou-se como um rapsodo. «Tudo aquilo que se tornara habitual… na Praia das Lágrimas. Tudo aquilo se encontrava descrito, anotado, relatado em obras de cronistas e historiadores.»

Ver Fernão Lopes de Castanheda, História do Descobrimento e Conquista da Índia pelos Portugueses, Livro I (1551 a 1554).

Ver João de Barros, Décadas. Capítulo: Das murmurações que o povo do Reino fazia contra esse descobrimento.

O nacionalismo – motivo de exaltação dos Descobrimentos e de Os Lusíadas. Nacionalista era a corrente oposta às navegações oceânicas e que defendia a permanência de Portugal nos seus limites territoriais.

Afrânio Peixoto, O Velho do Restelo, in Ensaios Camonianos, Coimbra, 1932

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1. A Expressão do Poder em Luís de Camões, Martim de Albuquerque, Imprensa Nacional, Lx, 1988 
Camões terá viajado para a Índia na companhia de Fernando Casado na qualidade de escudeiro. Antes de D. Afonso V podiam chegar a ser cavaleiros, indivíduos provenientes de grupos sociais não estanques como rico-homem, conde ou infanção. Foi D. Afonso V quem criou novas classificações – moços-fidalgos – para o serviço régio. Estes eram “acrescentados” a escudeiros-fidalgos e a cavaleiros-fidalgos.
Em 28 de Julho de 1572 foi atribuída a situação de cavaleiro-fidalgo a Camões.

2. Funções e significado do maravilhoso n’Os Lusíadas, por José António Saraiva, colóquio nº 100 (p.42-50)
3. Sobre o cânone lírico de Camões, por Leodegário A. De Azevedo Filho, colóquio  nº99 (p.10 a 19)
4. Edição da Lírica de Camões (Lx Imprensa nacional, 1985)
5. Índice Analítico do Vocabulário de Os Lusíadas, preparado por A.G.Cunha
II
História da Literatura Portuguesa, II volume – Renascença, por Teófilo de Braga
Camões e o Sentimento Nacional . pág. 237 e seguintes
Camões e a Galiza
Nascimento a 4 ou 5 de fevereiro de 1524 em Lisboa. Relações íntimas com D. Manuel de Portugal. Fonte – Licenciado Manuel Correia, pároco da Mouraria. Infância em Coimbra. Comentador – José Pinto Ribeiro. Amores: Isabel Tavares, Catarina Ataíde. Início dos estudos no mosteiro de santa Cruz, Coimbra, em 1537. «Falava-se obrigatoriamente em latim no trato escolar”. Ver o efeito sobre a estrutura sintática e a propriedade com que formava neologismos 
(Ver André Falcão de Resende, estudos entre 1538 e 1542, graduando-se em «bacharel latino»)
Influência filosófica da obra de Leão Hebreu, Diálogos de Amor, do judeu português Juda Abardanel.
Em 1542, o Poeta dedicou 2 sonetos a D. Teodósio que se albergara no mosteiro de santa Cruz.
Sai de Coimbra, em desterro para Lisboa (Canção IV, Elegia VIII – Belisa, amor não correspondido -, Elegia III – Almeno e Belisa – Elegia IV – quem seria o rival?
Na corte de D. João III, em Lisboa. Na Elegia II, Camões descreve o seu estado moral nesse ano turbulento de 1543. A corte começara a ser dominada pelos Jesuítas. Frequenta a corte de Dona Maria, última filha de D. Manuel. Aqui faz-se sentir a intimidade com D. Manuel de Portugal. Na corte de D. Maria I se movimentariam também Pedro Andrade de Caminha e Francisco de Morais. Chamavam-lhe, naquela época, a “Sereia do Paço”. Aqui teriam começado os ódios e as invejas…
Na Ode VII, dirigida por Camões a D. Manuel de Portugal, adepto da escrita de Sá de Miranda (…) em 1544, antes da entrada na corte - «por mecenas a vós celebro e tenho»
Medida velha, a que Camões dava o nome de manada dos enjeitados por exclui-los do seu Parnaso – hoje sob o título de redondilhas…
D. Manuel de Portugal, da ilustre Casa do Vimioso, representava no paço a nova escola italiana, sendo um dos mais íntimos amigos de Camões. O infante D. Luís também era poeta…  Pedro  Andrade de Caminha, camareiro do infante D. Duarte, confiava os seus versos a Camões até se tornar seu detractor.
Jorge Ferreira de Vasconcelos vivia na intimidade do príncipe D. João. Os novos talentos que se agrupavam em torno do Poeta: Jorge Silva, João Lopes Leitão, D. Simão da Silveira e outros náufragos do amor… 
Camões apaixona-se por uma dama do paço da rainha – Dona Catarina (de Ataíde)/ Natércia / que sendo uma dama da dita rainha (morreu no paço moça – ver Nobiliário de António de Lima).
Segundo Teófilo de Braga «amores entre uma menina de 13 anos e um rapaz de 21. O poeta foi por simples ordem verbal afastado da Corte por D. João III (ver Elegia I).
Expulso da corte, terá feito provas de valentia na companhia do ex-frade António Ribeiro Chiado. 
Em 1545, foi representado o seu auto El-Rei Seleuco. Haveria nesta obra alusão aos amores do príncipe D. João III por Dona Leonor de Áustria que o rei D. Manuel I tomou para si em terceiras núpcias?
Em 1546, divagava pelo Ribatejo na intenção de ir a Coimbra. Todavia, seu tio D. Bento de Camões falece em 2 de Janeiro de 1547. Esteve hospedado na Quinta dos Vaqueiros deois anos D. Gonçalo Coutinho (Écloga II). A morte de seu tio terá feito caducar o motivo da sua ida a Coimbra. 
«Lançou-se na carreira das armas, partindo em 1547 para África.» (Alguns biógrafos consideram esta partida o 3º desterro), podendo ser o serviço de dois anos exigido para ser cavaleiro. Em 1549, terá regressado a Portugal. 
Inscreveu-se na Casa da Índia em 1550 para partir na armada que partia nesse ano. (Fonte: Faria de Sousa) Nau de S. Pedro dos Burgalezes – 28 de Maio de 1550. Camões não terá partido nesta data, mas em 1553, solto dias antes d cadeia do tronco - «embarcou forçado para a Índia» 
O 1º canto d’ Os Lusíadas terá sido escrito ainda em Lisboa, não podendo a dedicatória ter sido feita a D. Sebastião, mas a D. João (seu pai?)
Regressando Camões de Ceuta em 1549, dirigiu um soneto a D. António Pinheiro «Oh ditoso pinheiro! Oh mais ditoso (mestre do príncipe D. João…)
Em 1552, dia da procissão do Corpus Christi, meteu-se numa arruaça, tendo ficado preso até 7 de Março de 1553, partindo na armada para a Índia a 24 do mesmo mês.
Na cadeia terá lido a obra História do descobrimento da India pelos Portugueses, de Fernão Lopes de Castanheda, impressa em 1551 (1º livro) e 1552 (2º e 3º livros).
Embarcou na nau S. Bento, que era a capitânia da armada, a qual zarpou em 24 de março de 1553, sofrendo no Largo uma terrível tempestade… a única que nesse ano chegou a Goa.
As borrascas no Cabo da Boa esperança, descritas na Elegia III, suscitaram no espírito de Camões a sublime criação do Adamastor. 
Canção X (…) a partida efectuou-se em Fevereiro de 1555, indo cruzar diante do Monte Félix, ao norte do Cabo Guardafui. Nesse cruzeiro, perdeu Camões o seu amigo e companheiro de armas, Pero Moniz, natural de Alenquer (soneto 103)…


[1] - O conde regressara de França, onde estivera como enviado extraordinário do rei D. João III, em 1543. D. António, seu filho mais velho, tinha sete anos nessa época e, possivelmente por indicação do cancelário D. Bento, Camões foi nomeado para orientar os estudos do menino.
[2] - Os filósofos citados por Camões. Definição de Deus. Ver Elegia 11 e redondilhas Sôbolos rios que vão…Procurar influência de Platão  e de Dionísio Aeropagita. Concepção platónica: mundo visível vs mundo inteligível (lugar das ideias, de que as realidades do mundo sensível são como meras sombras).
[3] - Nunca soube o que era o erasmismo, embora por vezes erasmiano.
[4] - Fecundado e plasmado pela genial influência de Erasmo de Roterdão, fonte de uma das correntes mais dominadoras do Renascimento.
[5] - Em matéria de concepções políticas, sente-se o eco da obra de Erasmo n’Os Lusíadas.
[6] - Obra: Ulissipo; Aulegrafia; Memorial da 2ª Távola Romântica.
[7] - Obra: Poesias; Carta de Achamento do Brasil.
[8] - Obra: Castro; Brioso; Cioso. Teórico da Nova Escola (classicismo).
[9] - D. António de Castro.
[10] - Humanista e amigo de Camões.

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