Arménio Ferreira

                                                   ARMÉNIO dos Santos FERREIRA

(Luanda, 15.06.2020 – Lisboa, 17.10.2002)

O INDEFETÍVEL NACIONALISTA

Vítima de doença prolongada, faleceu no passado dia 17 de Outubro, em Lisboa, conhecido médico e militante do MPLA, Arménio dos Santos Ferreira, filho de Cipriano Ferreira, antigo presidente da Liga Nacional Africana. ARMÉNIO DOS SANTOS FERREIRA nasceu a 15 de Junho de 1920, na cidade de Luanda, no popular e antigo bairro das Ingombotas. Frequentou o primeiro liceu existente em Angola, o Liceu de Salvador Correia, em Luanda, tendo posteriormente vindo para Portugal em 1939, onde se licenciou em Medicina, em 1946, pela Faculdade de Medicina de Lisboa. Seguiu posteriormente para França, onde se especializou em cardiologia no Hospital de Brousset.

Arménio Ferreira dirigiu o Comité 4 de Fevereiro em Portugal e o Órgão Coordenador do MPLA para a Europa, pouco antes da independência de Angola.

Licenciado pela Faculdade de Medicina de Lisboa, especializou-se posteriormente em Cardiologia no Hospital Brousset em França, tendo exercido, na capital portuguesa, as funções de diretor dos Serviços de Cardiologia do Hospital Santa Marta, onde se aposentou em 1989. O embaixador de Angola em Portugal, Osvaldo de Jesus Serra Van-Dúnem, enalteceu, na ocasião, a figura deste indefetível nacionalista angolano, que ficou enterrado no cemitério de Carnide, arredores da capital lusa.

Do ponto de vista humanista, o embaixador angolano recordou, na ocasião, o apoio médico gratuito prestado em consultas aos estudantes e a todos que necessitassem, atitude que lhe granjeou grande popularidade no seio dos seus compatriotas. O Dr. Arménio dos Santos Ferreira publicou vários trabalhos ligados à medicina desportiva, no Sporting Clube de Portugal, e participou em diversas reuniões internacionais de caráter científico e técnico, nomeadamente, no Brasil e em França, a convite da Organização das Nações Unidas para a Ciência e Cultura (UNESCO).

Como ativista político, Arménio Ferreira esteve ligado às primeiras atividades dos nacionalistas africanos na Casa dos Estudantes do Império, onde trabalhou com Agostinho Neto, Amílcar Cabral, Lúcio Lara, Pedro Pires, Marcelino dos Santos, Paulo Jorge, e outras destacadas figuras do meio político e literário da época. A sua inquietação maior era para com os humildes e os mais desfavorecidos. Daí a sua ligação ao Partido Comunista Português. Mais tarde, na qualidade de angolano, tornou-se, desde a primeira hora, militante activo do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), o que o levou a ser perseguido pela então polícia política do regime fascista-colonial e preso por atividades políticas que desenvolvia de apoio aos nacionalistas das então ex-colónias portuguesas, que lutavam pela independência dos seus países.

Pouco antes da Independência de Angola, em Portugal, dirigiu o Comité 4 de Fevereiro e o Órgão Coordenador do MPLA para a Europa, mas a sua formação e o seu elevado espírito humanista levaram-se a não só a acompanhar a acção política, mas também a ajudar os feridos de guerra que vinham a Portugal em tratamento, na sequência das acções armadas travadas por altura da Independência. Mas não só estes.

Era um aliado natural dos membros do Clube Marítimo Africano, a quem recebia no seu consultório particular, na Rua Braamcamp, que estava sempre de portas abertas para qualquer consulta gratuita aos angolanos. Mas a expressão mais marcante da coragem política e da militância do Dr. Arménio dos Santos Ferreira está incontestavelmente ligada ao ato histórico que foi a sua cumplicidade na preparação e concretização da célebre fuga de Lisboa para o exílio do seu colega de profissão, amigo e companheiro de sempre, o Dr. António Agostinho Neto, e de sua família. Este ato veio a possibilitar que o Dr. Agostinho Neto se pudesse juntar às forças nacionalistas que, como único recurso, se haviam levantado em armas.

Depois da Independência de Angola, Arménio dos Santos Ferreira, na qualidade representante do MPLA em Portugal, criou as condições para a abertura da primeira Embaixada de Angola em Lisboa, tendo efetuado diversas missões ao estrangeiro, nomeadamente aos Estados Unidos da América, por incumbência do Presidente Agostinho Neto. Em reconhecimento da sua contribuição desapaixonada e sempre desinteressada em prol da edificação do Estado Angolano, Arménio Ferreira foi condecorado pela Assembleia do Povo de Angola. Por tudo isto, e por muito mais coisas que aqui não foram ditas, é que o Governo da República de Angola rende a sua maior homenagem ao militante, ao patriota, ao nacionalista e ao humanista ARMÉNIO DOS SANTOS FERREIRA, a quem o país muito deve e de quem o país ainda muito precisava, especialmente neste momento em que novos rumos são trilhados no sentido de uma paz definitiva e duradoura que o nosso povo já bem o merecia, e que os conhecimentos e a experiência dele iriam agora ser tão necessários. No fundo, esta paz não deixa de ser também um legado seu. Nesta hora de dor, em nome do Governo da República de Angola, apresento as minhas mais sinceras e profundas condolências à família, à Ana Maria, Tó e aos netos.

(Este registo integra excertos do elogio fúnebre feito pelo Embaixador de Angola em Portugal, Oswaldo de Jesus Serra Van-Dúnem – 18 de Outubro de 2002)

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