Observação de uma aula de Português (25 Novembro 1998)

«A professora dita o sumário a um aluno que o escreve no quadro. Enquanto isto se processa, outros alunos estão de pé e quase todos estão na conversa uns com os outros. Quando o sumário termina, a professora pergunta aos alunos o que deram na última aula e, ao mesmo tempo, vai fazendo uma sistematização dessa matéria no quadro. Os alunos mostram-se interessados e parece aprenderem com facilidade.
Enquanto se processa a leitura de um texto por um aluno, a professora olha para o texto atentamente, nunca levantando os olhos para a classe que se começa a dispersar.
A professora tem por hábito ficar junto do quadro ao longo de quase todas as actividades. Os alunos conversam e a professora continua a dar a matéria. Há sempre um burburinho de fundo.
A professora explica o que os alunos têm de fazer, durante a distribuição de fotocópias. Enquanto uns recebem as cópias, os outros estão a fazer barulho e vice-versa.
A aula tinha como esquema-conceptual a notícia e os seus elementos constituintes e, quase no final da aula, há um aluno que exclama: “ah, estamos a dar a notícia!”
Durante quase toda a aula, os alunos que participam são quase sempre os mesmos. Os outros (a maioria) estão sempre na conversa, não estão atentos à leitura e não fazem as actividades, porque sabem que, no final, não vão ser solicitados.
A aula foi interrompida várias vezes para acalmar a turma, mas em vão. Entretanto, alguns alunos tentavam responder a uma pergunta relacionada com a matéria, formulada anteriormente, e a professora, para esses alunos tinha como resposta: “só um bocadinho”. Esta foi a frase mais repetida pela professora nesta aula.
Em alguns momentos de indisciplina / barulho..., a professora mostrou alguma insegurança na atitude a tomar. Chama alguns alunos, eles acalmam-se por uns segundos e, como sabem que não irão sofrer nenhuma espécie de sanção, voltam ao barulho anterior.
O tom de voz da professora é um pouco baixo para uma turma de vinte e sete alunos. Quando estão todos calados, a professora poderia aproveitar para os advertir de que a aula não poderá decorrer com aquele barulho.
Já um pouco desesperada, a professora diz que determinados alunos, que ela identificou, não iriam receber os testes corrigidos. A professora deveria de ter ameaçado primeiro para os alunos saberem qual seria a consequência dos seus actos. Deste modo, a acção da professora foi, duplamente, injusta porque havia mais alunos insubordinados e, por outro, os alunos castigados sentiam que só os seus actos e não os dos outros foram punidos. Além disso, quando não tivesse os testes para fazer chantagem com os alunos, que “trunfo” teria ela na manga?!
Na minha opinião, ela deveria utilizar estratégias diferentes ao longo das aulas. Dá a entender que os alunos já se habituaram ao modo como fala, como pergunta e responde; ao local da sala, onde se costuma posicionar... Estes aspectos já não conseguem prender a atenção ou o interesse daquela turma.» (sic)[MCG1]

Incidente crítico

(Novembro 1998)
«Aula do 11º Ano – correcção de um teste. Durante toda a correcção, os alunos falam, falam e falam uns com os outros. O/a professor(a) faz a correcção oral, em que apenas alguns alunos participam. Durante a aula, o/a professor(a) faz várias tentativas para os calar (manda calar; fica em silêncio durante uns segundos; ameaça os alunos de ir para a rua...). Estas estratégias resultam por uns segundos e depois volta-se à mesma situação.
Há um aluno, sentado na parte detrás da sala, que passa toda a aula a desenhar em silêncio. Quando faltam cinco minutos para tocar, ele levanta-se e sai. Quando vai para sair, os colegas perguntam-lhe para onde ele vai e ele encolhe os ombros e sai. Não fez nenhum barulho com a porta. O/a professor(a) continuou a corrigir o teste.» (sic)

Incidente crítico

(Caneças. Observação de aula do 10º ano; Português B. Hora: 8h15m)

«A maioria dos alunos é pontual. A aula inicia-se com a escrita do sumário no quadro, sendo registado posteriormente pelos alunos no caderno diário.
O texto em estudo é o “Sésamo” de Miguel Torga. Assim, o professor solicita aos alunos o levantamento de conjunções que se encontrem presentes no texto. A turma executa a tarefa proposta silenciosamente. Após a finalização da tarefa, interroga aluno a aluno. Estes respondem.
Durante o diálogo professor / aluno e aluno / professor surgem algumas dúvidas e confusões (por parte dos alunos). O professor esclarece-os e aproveita (a propósito das dúvidas surgidas) para marcar os trabalhos de casa. Os alunos apontam-o. (sic)
Os alunos continuam a responder às solicitações até que a aula chega ao fim.» (sic)

Registo de observação de aula

(Amora, 1998/99)

O registo de comportamentos será efectuado de cinco em cinco minutos.
Tempo lectivo: 50 m (11h15 m – 12h 05 m)
O professor entra na sala às 11h e 19m. Às 11h e 20m dá o segundo toque. O professor já sentado na sua secretária, dita o sumário à turma. Alguns alunos atrasados para a aula entram na sala.
(11h 23m) O professor indica a página do manual na qual os alunos irão trabalhar. O professor solicita um voluntário para ler. Um dos alunos pergunta a página do manual que servirá para trabalhar, enquanto um dos alunos já começou a ler, a meio da leitura alguns dos alunos riem, tal como o professor, da maneira como o aluno está a ler. O aluno continua a ler.
(11h 30m) O professor levanta-se da cadeira, circula pela sala enquanto explica a matéria, dirige-se à sua secretária fazendo uma pergunta aos alunos. Alguns alunos tentam responder.
(11h 35m) O professor circula pela sala, explicando a matéria, fazendo perguntas aos alunos, os quais tentam responder.
(11h 40m) Após ter requisitado aos alunos a realização de uma tarefa, o professor pede aos alunos para o fazer oralmente. Os alunos vão dando as suas sugestões. Movimentando-se junto dos alunos, o professor vai comentando as respostas dos alunos.
(11h 45m) O professor, movimentando-se pela sala, indica aos alunos outra tarefa, dando um limite de tempo (10m)
(11h 50m) O professor circula pela sala. Em pares, os alunos trabalham, falam entre si.
(11h 55m) O professor escreve no quadro as conclusões do trabalho dos alunos. Os alunos vão respondendo e dando as suas sugestões.
(12h 00m) O professor levante-se de uma das mesas, em cima da qual esteve algum tempo sentado, começa a circular pela sala, explicando a matéria. Os alunos estão em silêncio. O professor faz algumas perguntas, às quais alguns alunos tentam responder.
(12h 05m) O professor explica a tarefa a realizar em seguida, na segunda hora de aula que se segue da mesma disciplina. Os alunos tomam nota nos cadernos. Dá o toque de saída. Os alunos levantam-se, arrumam as cadeiras e saem.

Incidente crítico[MCG2]

Outubro de 2004
Uma breve descrição:
Ao longo da aula o aluno mostrou-se sempre muito perturbador, recusando-se também a participar em algumas actividades. Durante a projecção de um acetato, o aluno fez um gesto fálico bastante visível o que provocou um grande alvoroço na turma. Por estes motivos, o aluno foi mandado retirar-se da sala.
P.S.: estamos perante uma turma que frequenta o 8º ano e esta situação
passou-se na aula de Língua Portuguesa. (sic)

Incidente crítico[MCG3]

11 de Outubro de 2004 / Aula do 11º ano
Já a aula decorria há 50 minutos quando se iniciou uma nova actividade que visava testar a compreensão auditiva de um excerto de um noticiário gravado em CD. O professor explicou aos alunos que deveriam ler primeiro todo o resumo da apresentação a ser completado no próprio manual. Durante o tempo que foi dado para essa leitura, os alunos mostravam-se relativamente calmos, mas a sua distracção era também visível. Quando se iniciou a audição do referido excerto, ainda havia quem procurasse apressadamente a página correspondente ao exercício – em especial os alunos sentados ao fundo da sala. Após a curta audição, os alunos mostraram-se maioritariamente descontentes por não terem conseguido completar o exercício. Permanecendo junto ao quadro, o professor pediu de novo a atenção dos alunos ao repetir o excerto gravado, acrescentando que a compreensão imediata seria difícil uma vez que a dicção do locutor não parecia muito clara. No final da segunda audição, ainda cerca de um terço da turma reclamava mais uma oportunidade – sendo esses alunos os que desde o início se revelaram mais distraídos. Antes de aceder à repetição, o professor alertou a turma para o facto desta necessidade se dever principalmente à falta de atenção que a caracterizava desde o início da aula. Ouviu-se, assim, uma vez mais o excerto. Agora em total silêncio. Foi feita a correcção no quadro pelo professor que continuava sempre nesse local, perto do gravador.
Na minha opinião, isto aconteceu assim por duas razões. A primeira razão relaciona-se com o momento da leitura do texto a ser completado, uma vez que alguns alunos não tinham sequer aberto o livro na página correcta, fazendo com que fosse logo à partida difícil ouvirem a primeira apresentação do excerto. A outra razão pauta-se com o facto do professor não ter circulado até ao fundo da sala enquanto decorria o período de leitura inicial do texto – para deste modo se certificar se todos a faziam – assim como no momento em que os alunos ouviam a gravação.
Se o acontecimento se repetisse, eu certificar-me-ia de que todos os alunos estavam em condições para realizar a tarefa – tendo consciência do objetivo a alcançar – antes de dar início a um dos passos mais importantes (ouvir a gravação). Para tal, poderia mesmo pedir a um ou dois alunos, que parecessem mais distraídos, a apresentação da atividade. (sic)

Regras gerais para análise de casos[1]

Um caso seleccionado para ser utilizado deve apresentar as seguintes qualidades:

1.      Autenticidade (situação concreta extraída da realidade da vida profissional).

2.      Urgência da situação no “caso” (situação que exige um diagnóstico ou uma resolução).

3.      Orientação pedagógica ou centração do caso (situação que exige, para ser tratada, informação e formação num domínio particular do conhecimento ou da acção).

4.      Finitude do caso (é uma situação “total”, pois, apesar de eventuais informações suplementares, todos os dados estão de facto disponíveis).

Regras específicas[2]

Para a forma do escrito

1.      O escrito deve ser anónimo.

2.      O escrito deve ser tipografado antes de integrar o corpus de análise.

3.      O escrito deve ter no máximo duas páginas.

Para o conteúdo proposicional

4.      Descrever um acontecimento ocorrido na prática profissional: pode ser de ordem institucional, pedagógico, didáctico, psicológico, técnico, etc...

5.      Apresentar hipóteses de explicação: “isto aconteceu assim, na minha opinião, porque...”

6.      Propor hipóteses de ação: “Se o acontecimento se repetisse eu faria do seguinte modo...”

 

O método

dos

incidentes

críticos

 

Escrever

Dizer

Ouvir

 

 

OBJECTIVOS DA FORMAÇÃO


Analisar uma prática profissional

Dispositivo-sequência = 3 horas

 


Tarefas dos formandos

 

Tarefas do formador

1ª FASE: antes do estágio

Uma escrita profissional

 

1ª FASE: antes do estágio

Fomentar a escrita

1.       Descrever um acontecimento ocorrido na prática profissional: pode ser de ordem institucional, pedagógico, didáctico, psicológico, etc...

2.       Apresentar hipóteses de explicação: “isto aconteceu assim, na minha opinião, porque...”

3.       Propor hipóteses de acção: “ Se o acontecimento se repetisse eu faria do seguinte modo...”

 

1.       Assegurar o registo dos incidentes críticos.

2.       Dactilografar e tornar anónimo o registo se os autores o não tiverem feito.

3.       Com o conjunto dos incidentes críticos elaborar um dossier para cada estagiário.

4.       Prever 1 formador-regulador para cada grupo de 6 a 8 pessoas.

5.       Limitar-se a uma leitura rápida sem análise dos incidentes recebidos.

2ª FASE: durante o estágio

Analisar as práticas

 

2ª FASE: durante o estágio

Regular a análise crítica

1.       Ler o conjunto dos incidentes e escolher um primeiro incidente com a concordância do autor. (15 minutos)

2.       O autor expõe o incidente oralmente (5 a 10 minutos).

3.       Análise colectiva

·         Tempo de explicitação dos factos

·         Tempo de apreciação e de explicação

·         Tempo de teorização

4.       Síntese colectiva (2,3 e 4 = 2h 30 para 2,3 incidentes)

 

INSTRUÇÕES METODOLÓGICAS

 

1.    Respeitar a ordem das partes (1,2,3) da escrita.

2.    Descrever não é interpretar, é ser fiel à exposição mais concreta e mais cronológica dos factos.

3.    Dimensão máxima do escrito: 2 páginas.

4.    O documento produzido deve ser dactilografado, anónimo e enviado antes do início do estágio.

 

1.       Assegurar a primazia da palavra ao autor.

2.       Fazer respeitar as regras dos tempos de análise (3)

Tempo de explicitação dos factos

Tempo de apreciação e de explicação

Tempo de teorização

4.       Anotar e reter tudo o que é dito e assinalar o afastamento eventual entre o escrito e o oral do autor nos seguintes níveis:

·         Do conteúdo proposicional dos enunciados;

·         Das modalidades enunciativas.

5.    Solicitar ao grupo que elabore uma síntese multireferencial articulando os planos:

 

Explícito

Implícito

Enunciativo

 

Institucional

Didáctico

Pedagógico

Avaliação

Quand dire, c'est écouter...  342      Christian Alin, L’Harmattan, 1996



[1] - Christian Alin, Être formateur: Quand dire c’est faire, p. 253.

[2] - op.cit., pp.253-254.


 [MCG1]Não distingue “factos” de “opiniões”. Falta de rigor descritivo. Subverte a sequência de acontecimentos.