Pepetela - notas de leitura


Pepetela, nome literário de Artur Carlos Maurício Pestana dos Santos. Nasceu em Benguela a 29 de Outubro de 1941.
A partir de 1958, estudou em Portugal (4 anos). Exilou-se em Paris e depois na Argélia, onde estudou Sociologia e foi um dos fundadores do Centro de Estudos Angolanos.
A partir do final da década de 60, desempenhou funções na guerrilha; e no âmbito do Departamento da Educação.

A Geração da Utopia

I - Algumas datas implícitas no romance
Em 1966, o MPLA abrira a Frente Leste.
Em Abril de 1968, Hoji ia Henda era o 1º comandante. Considerado como um dos maiores guerrilheiros do MPLA, Henda, que era sobrinho de Mendes de Carvalho, morreu perto da fronteira, num ataque ao quartel de Caripande. Abril seria sempre uma data fatídica, com a morte do herói. G.U. pág.140. Em dezembro de 1970(?)...Em Agosto de 1956 (?), grande ofensiva no Leste. A luta do MPLA desenvolvia-se para sul-leste e norte-leste, com quatro bases perto da fronteira da Zâmbia, apoiadas pela base central de Kassamba, no interior do país referido.
Conflito entre a direção de Neto e Chipenda / os guerrilheiros vítimas de maus tratos.
Em 1972, a rebelião espontânea organiza-se em "Revolta do Leste". Partido revolucionário dentro do Movimento. G.U., pág. 150. Para agravar a situação interna do MPLA, um grupo de intelectuais ( romance, toda a 6ª parte da Chana, pág. 149-150) forma a Revolta Activa contra a direção de Neto, no seguimento do Movimento de Reajustamento impulsionado por Gentil Viana, recém-chegado de Pequim e conselheiro de Neto de 1970 a 1972, numa época de retrocesso militar.
II - Notas de leitura do romance
A CASA (1961) - construção metonímica ( ver CASA dos ESTUDANTES do IMPÉRIO)
pág. 13: «ali mesmo no centro mesmo do Império, Sara descobriu a sua diferença cultural em relação aos portugueses); pág. 17 «entraram na Casa dos Estudantes»; pág. 18 «as mesas estavam todas ocupadas» (a cor; a guerra racial); pág. 19 «Devem estar a fazer inquéritos e mais inquéritos sobre a Casa...»; pág. 26 «Não preferes que te deixe na Casa?»; pág. 27 « Nunca levava a francesa à Casa... curiosa de conhecer o centro da revolução africana em Lisboa, como dizia...»; pág. 28: « O Horácio, um mulato que publicara uns poemas no Boletim da Casa...»; pág. 30 «Sara tinha estado antes na Casa para arranjar companheiros (manifestação do 1º de Maio); pág. 31 « a malta da Casa está a demarcar-se ou quê? Só estamos mesmo nós?»; pág. 32 « A malta da Casa teria razão, já não era?» ; pág. 39 « Já a própria casa tinha orelhas pidescas?»; pág. 43 «Dizem que a Pide está a apertar o cerco à Casa"; pág. 51-52 « Os comunistas ... Até na Casa . Sem que a malta saiba...»
A manifestação (31); a República (32); Avante (35); UPA (35); MPLA (36)
Terra do café (37); o mulato - o mestiço, a elite angolana, o colonialismo (37); a relação do mulato com os brancos (38); Aníbal (54); o português puro nunca existiu (62); a política (41); a poligamia (44); a gravidez de Sara (44): « só podia ser um mulatinho lindo. Nascida em Benguela, para não fugir à tradição (...) a cidade das acácias - analepse: o pai judeu, a mãe, o irmão; a profissão em África - a medicina (47); a independência (47); Aníbal - mobilização para Angola (48); a deserção - o exterior (49) A clandestinidade , o general cartaginês Aníbal (50); a rede clandestina, as prioridades (51); os comunistas - os nacionalistas angolanos (51-52); os comunistas não concordam com a deserção; Steinbeck (56) A Náusea de Sartre (66); Marta (56); o anarquismo (59, 64); o olhar reprovador dos brancos (61); a mentalidade passiva dos portugueses (62); Malongo machista (63, 64); Denise, adepta do FNL argelino - a guerra da Argélia (67-68); As reações ao desaparecimento de Aníbal (69); a divergência ideológica; o desenho das principais personagens - Aníbal, Marta, Sara (75-77); influência do Modernismo brasileiro - referência a Viriato Cruz / Mário de Andrade - o problema da língua (77); Horácio, a relação entre a poesia e a revolução (78); a sociedade plurirracial (79)...

Etnossociologia do nordeste de Angola

Autor: José Redinha
Referência a Lueji nas páginas: 13-14; 59; 61; 62; 158
Notas cronológicas à margem da história tradicional do Nordeste
As primeiras referências, na base deste período, recaem sobre a figura de um lunda, de nome Tchinguri na Conti, mais tarde Tchinguri dos Bangalas, também designado por Quinguri na forma quimbunda de seu nome.
Tendo-se desentendido com sua irmã Lueji, senhora das terras da Lunda original, por motivos relacionados com a ligação dos lundas aos balubas do segundo império. Tchinguri abandonou a capital do Calanhi, aventurando-se com os seus partidários no "caminho do sol poente". Algumas versões apontas que Tchinguri tomou o rumo da costa atlântica, atraído pelo renome dos «brancos saídos do mar», ou seja dos portugueses.
Fosse ou não esse o motivo, certo é que, entre 1609 e 1613 ou 1630-1635, um chefe indígena de origem lunda e de nome Tchinguri, acompanhado de apreciável contingente de homens, oferecia os seus serviços em Luanda, ao governador de Angola.
(...) Dumba na Tembo, chefe dos grupos que deram origem aos Quiocos, e que ele próprio dirigiu para os territórios do sudoeste da Lunda.
(pág.57/58) - Na mitologia do Nordeste, o homem por definição é caçador. O caçador é o herói social, algumas vezes o herói civilizador. É o caso de Llanga, filho de um chefe baluba, o qual, segundo a tradição que os factos etnográficos confirmam, trouxe aos povos da Lunda, pelo seu casamento com Lueji, os benefícios da cultura baconga. (romance Lueji, pág. 235).
Sobre a mulher: Depois de ser mãe, a mulher desta zona usa, anteposta ao nome a partícula NA, que distingue pela condição. O pai, pelo mesmo motivo, antepõe SA. ( Lueji, pág. 21).
A muata muari: a mulher das primeiras núpcias (Lueji, pág. 62)
Referência ao período da menstruação ( Redinha, 62; Lueji, 36-37)
Lenda mítica: A mulher é também a própria carne - Tumba - a qual, associadamente com um Deus - Calunga - deu origem ao povo de que descendem os Quiocos. A par de Tumba, a mãe mitológica, surge-nos depois Tembo, a mãe física da linha matrilinear dos Tembos e, finalmente, a mãe política, Lueji, senhora das terras da Lunda clássica, berço dos Muatiânvua (mito dos primeiros ascendentes da tribo quioca)
Chefe e notáveis indígenas - os Tubangos.


Luéji , o Nascimento dum Império (1990) - romance

Espaço: a Lunda; os lubas, senhores do Norte
2 Personagens femininas em tempos distintos: há 400 anos; no pós-independência.: Luéji e Lu
Temas:
• Reflexão sobre o exercício do poder
• Lu, vítima do realismo socialista
• Duas estórias imbrincadas uma na outra (pág.60)
• Reflexões sobre a arte, a escrita, o escritor e, em particular, sobre o Autor.
• Correntes literárias e géneros europeus e sua aceitação pelos africanos (pág.57).
• Língua português-padrão: desvios. Identificação e explicação da sua natureza (desconseguiu; sarrependeu (oralidade)
• Tradição africana: a grande serpente / o princípio – Tchyanza Ngombe, a grande serpente criadora da terra e do céu (pág. 71); a chuva; o lukano; o mujimbo (o boato); a obra “cahama...
• Os irmãos Tchinguri e Chinyama (Lueji)

Leitura:

A tradição - 12,14,15,16,17,18,19,20, 21, 24,25, 69 - o simbolismo do lukano ( o poder sobre a chuva); Namutu (Eva) e Samutu (Adão); a tradição e a entronização de Lueji - 35, 61; a tradição e as cerimónias fúnebres de Kondi; a tradição do fogo sagrado; os efeitos da menstruação sobre a força mágica - 36,37; a seca e a demora do fluxo menstrual - 60 a 62; o segredo melhor guardado dos Tubango é violado - 62,63; a ida ao lago, o ritual que conduz à grande serpente... o diálogo com o pai, junto do lago - 63,64; a chuva acaba por consolidar o poder de Lueji - 64
 A feitiçaria - 13,18; o papel da "escrita" do ngombo, cesto mágico de adivinhação - 23
O poder na Lunda - 14,15,18 ... ver o chefe: 20-23; Kandala ensina Lueji a chamar a chuva - 23; a mulher e o poder - 22,24; o poder foi concebido para ser exercido pelo homem - 37,39,41; a solidão do poder - 41,53; "o grande poder dum chefe é o povo acreditar que ele pode fazer vir a chuva." - 49; a aprendizagem do poder: as histórias antigas, a arte dos kimbandas (medicina), a justiça ( os casos passados)
O sonho - 11,15
Profecias - 43
A morte define-se na impossibilidade de aprendizagem - 60
A espiritualidade - a relação entre os homens e os espíritos - 25

Personagens

Kondi, o pai soba, fala no momento da morte - 25
Filhos: Tchinguri, Lueji e Chinyama
Lu, em Luanda, procura-se na Lunda antiga - 26
O escritor reflecte sobre a "missão" do escritor - 26
Marina descendente de T. Kinguri - 45
Ndumba na Tumba: visita a rainha e convida-a para o ir ver caçar o leão - 66
Muata Kakele - 68,69

Composição da narrativa

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Pág. 26 - 4 séculos mais tarde, nos finais do séc. XX
Pág. 41 - Lu... Marina
Pág. 45 - Lu seria descendente de Muatiânvua, isto é, de Lueji: articulação entre as duas histórias
Pág. 57 - a estética na concepção do realismo socialista vs marimbas - 59

Conflito cultural
No séc. XX, conflito ideológico-cultural entre o coreógrafo checo, obcecado pelo "realismo" e o grupo de dança formado pelo par ULI / LU e ainda por Dinolau (Luandino Vieira!?) - 28 a 31,42
Revolta no Cassai -66- território dos Mataba; caracterização deste povo - 68; atitude política da Lunda para com os outros povos

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