1. O que é que acontece na situação
inicial que condiciona o desenlace?
2. Qual é o papel do fidalgo
neste conto?
2.1. Por que é que o fidalgo
não foi castigado pelo rei?
3. A velha revela ser
mais inteligente do que qualquer outra personagem. Explica.
3.1. A que é que podemos atribuir
a sabedoria dos “ velhos” nos contos orais (tradicionais)?
4. Define conto oral
(tradicional).
5. Delimita o início e o fim do
nó da intriga.
6. Indica os traços mais
importantes do carácter da rainha.
7. Em que aspectos é que o
comportamento do rei merece ser censurado?
8. Mostra como é que este conto
é uma história de «proveito e exemplo».
9. Compara este conto com a “História
de Uma Porta” de Camilo Castelo Branco
quanto:
9.1. à localização da acção (espaço e tempo);
9.2. ao desenlace.
10. Diz de que modo a locução “Em toda
a parte há um pedaço de mau caminho” pode sintetizar o conto que acabaste
analisar.
FIM
____________________________________________________________________________________________________
- Identifique as palavras-chave do poema, explicando a sua opção.
- Caracterize a relação do sujeito poético com a “realidade”
- Explique o sentido dos versos: Por isso, se morrer agora, morro contente, / Porque tudo é real e tudo está certo. /
- Quais são os conectores ou articuladores discursivos que servem a atitude argumentativa visível no poema?
- Mostre os aspetos em que a conceção de vida do sujeito poético é diferente da do homem comum.
- Classifique a relação semântica presente nos seguintes pares: primavera / flores; primavera /tempo.
- “Gosto que tudo seja real e que tudo esteja certo; /E gosto porque assim seria, mesmo que eu não gostasse. / Identifique os tempos e os modos verbais e exponha o valor de cada um deles.
- Baseando-se neste poema, caracterize a “escrita” de Alberto Caeiro, distinguindo-a da de Fernando Pessoa ortónimo.
Texto
Ensina-se-lhes que sejam leais, para que a lealdade, um dia os leve à forca!
(Levanta-se)
Não seria mais humano, mais honesto, ensiná-los de pequeninos, a viverem em paz com a hipocrisia do mundo?
(Pausa)
Quem é mais feliz: o que luta por uma vida digna e acaba na forca, ou o que vive em paz com a sua inconsciência e acaba respeitado por todos?
(Encaminha-se para uma cómoda velha que surge, iluminada, à sua esquerda – Fala com rancor.)
Se o meu filho fosse vivo, havia de fazer dele um homem de bem, desses que vão ao teatro e a tudo assistem, com sorrisos alarves, fingindo nada terem a ver com o que se passa em cena!
(Pausa – Fala com determinação. Está a tentar convencer-se a si mesma.)
Havia de lhe ensinar a mentir, a cuidar mais do fato que da consciência e da bolsa que da alma.
(Abre uma gaveta da cómoda e tira dela um uniforme velho de Gomes Freire)
Se o meu filho fosse vivo...Havia de morrer de velhice e de gordura, com a consciência tranquila e o peito a abarrotar de medalhas!
(Coloca o uniforme de Gomes Freire sobre a cadeira – Olha para o uniforme dando a entender que já não estava a falar do filho, mas do próprio Gomes Freire.)
Tudo isso o meu homem poderia ter tido...
(Acaricia o uniforme)
Se tivesse sido menos homem...
Luís Sttau Monteiro, Felizmente Há Luar! II Ato
1. Depois de ler a primeira didascália, explique que tipo de informação é que ela transmite e a quem é dirigida.
2. Porque é que no discurso de Matilde predominam as frases interrogativas e exclamativas?
3. Da leitura do monólogo de Matilde, podemos deduzir que esta está em conflito com a “sociedade”. De forma detalhada, caracterize esse conflito.
4. Na construção do discurso, o Autor recorre a vários processos estilísticos. Identifique três e explique porque é que eles podem ser importantes para modificar a atitude do público.
5. Explique o sentido da seguinte frase: «Havia de lhe ensinar (...) a cuidar mais do fato que da consciência e da bolsa que da alma.»
6. Resuma a “ação” de Matilde na peça.
A - Diga se são
verdadeiras ou falsas as afirmações seguintes:
1.
A palavra é uma unidade lexical com som e
significado. Como unidade da morfologia, tem como constituintes o tema e o(s)
sufixo(s) de flexão.
2.
Os afixos são partículas que se ligam a uma
forma de base (radical, tema ou palavra) para formar novas palavras.
3.
Os prefixos são constituintes que se pospõem ao
radical.
4.
Só os verbos transitivos, em que a acção do
sujeito recai sobre outro, isto é, que têm complemento direto, podem ser
conjugados pronominalmente.
5.
A parassíntese é um processo de formação de
palavras em que intervêm em simultâneo a prefixação e a sufixação.
6.
A conversão é um processo de formação de
palavras em que se verifica a integração do vocábulo numa nova classe de
palavras, sem alteração da sua forma.
7.
Os nomes, os adjetivos e os verbos são classes
fechadas.
8.
O verbo flexiona em tempo e modo e constitui o
núcleo do grupo nominal.
9.
Chama-se conjunção à palavra invariável,
pertencente a uma classe fechada, que estabelece uma relação entre frases ou
palavras com a mesma função.
10.
Os advérbios podem ser núcleos de grupos
adverbiais com a função sintática de complementos oblíquos ou de modificadores
oblíquos.
11.
O complexo verbal é a sequência de um ou mais
verbos em que um deles é o principal ou copulativo e os outros são auxiliares.
12.
Uma frase complexa tem sempre duas ou mais
orações.
13.
A subordinação implica uma relação hierárquica
de dependência das orações entre si.
14.
A designação de substantivas, adjetivas e
adverbiais resulta das funções que desempenham, comparáveis às exercidas por
nomes, adjetivos e advérbios.
15.
Palavra é o elemento linguístico significativo
que se realiza a nível do discurso. É sempre composto por um único fonema.
16.
Significante é a designação utilizada para fazer
referência à imagem acústica veiculada pelo signo linguístico.
17.
A conotação permite significações secundárias
que se juntam ou que se sobrepõem à denotação.
18.
O conceito de monossemia opõe-se ao conceito de
polissemia.
19.
Um hiperónimo pode substituir, apenas em alguns
contextos, qualquer um dos seus hipónimos.
20.
O merónimo é a palavra cujo significado designa
uma parte do significado total de outra palavra.
21.
A sinonímia pode ser total, contraditória ou
parcial.
22.
A categoria tempo permite localizar o estado das
coisas em relação a um momento de enunciação.
23.
As expressões definidas e indefinidas só podem
ter valores referenciais específicos.
24.
As situações estativas exprimem propriedades,
sentimentos, relações de localização.
25.
O aspeto corresponde a diferentes modos de
perspectivar o tempo interno de um estado de coisas a partir de um dado ponto
de referência.
26.
A deixis pessoal é assinalada através dos
pronomes pessoais e possessivos e da flexão verbal.
27.
A anáfora é a expressão referencialmente não
autónoma que retoma, total ou parcialmente, o valor referencial antecedente.
28.
A catáfora é um tipo particular de anáfora, em
que o termo anafórico precede o antecedente.
29.
O discurso direto mantém todas as formas
deíticas ligadas à enunciação primeira.
30.
Os retratos de pessoas, as descrições de
objectos, de paisagens, são exemplos do protótipo textual narrativo.
31.
Um dígrafo é um grupo de duas letras que,
combinadas, funcionam como um único som.
32.
O hífen é um sinal gráfico de ligação.
B – Identifique o ato ilocutório presente em cada um dos enunciados.
1.
Está aberta a sessão.
2.
Nunca vi triste o mestre Caeiro.
3.
Prometo não te incomodar mais.
4.
Será que queres vir comigo ao cinema?
5.
Lamento que não tenhas chegado a tempo.
6.
Enquanto equipa têm de ser superiores aos
adversários.
7.
Isto é estúpido mas humano, e é assim.
C – Identifique o recurso estilístico presente em cada uma das alíneas.
1.
Já vi o filme milhões de vezes.
2.
Bebeu o copo de um fôlego.
3.
“Sempre silenciosos na agressão.” (Miguel Torga)
4.
A criança salta, e ri, e brinca, e chora…
5.
As árvores olharam-me com amargura.
6.
Ele tem um coração duro como uma rocha.
7.
“ Minha
querida filha, tu dizes coisas!” ( Almeida Garrett)
D – Estabeleça a correspondência entre as colunas: escreva, ao lado do
número da frase, a alínea correspondente.
A |
|
B |
1.
O estudo da língua enquanto prática discursiva
integrada numa prática social pertence à |
|
a.
Pragmática |
2.
A aprendizagem dos princípios e das regras de
bem-falar e de persuadir pertence à |
|
b.
Retórica |
3.
A aprendizagem dos princípios que regulam o
uso da língua pertence à |
|
c.
Análise do discurso |
4.
O interesse pelo texto enquanto forma
específica de manifestação da linguagem faz parte da |
|
d.
Implicação |
5.
A pluralidade e a diversidade de vozes que se
fazem ouvir nos textos é designada |
|
e.
Enciclopédia |
6.
O conjunto dos conhecimentos do mundo, das
crenças ou das opiniões relacionadas com o meio social e cultural que cada um
possui designa-se |
|
f.
Polifonia |
7.
Uma relação lógica do tipo “se… então”,
indicando que uma condição deve ser satisfeita necessariamente para que a
outra seja verdadeira, designa.se |
|
g.
Linguística textual |
E – Identifique o valor temporal (anterioridade, simultaneidade ou
posterioridade) expresso em cada uma das situações.
|
Valor temporal |
a.
A essa
hora, o jogo já terá acabado. |
|
b.
Às nove
horas o jogo já tinha começado. |
|
c.
O João chorava
quando a mãe chegou. |
|
d.
O João vai
ficar feliz com a notícia. |
|
e.
O jogo já começou. |
|
f.
Os alunos
estão na sala. |
|
g.
Os alunos fazem
teste logo à tarde. |
|
h.
Os alunos estarão
à porta do estádio, quando os jogadores chegarem. |
|
F – Recorde o aspeto gramatical ( os diferentes valores aspectuais
representados num enunciado e que o afetam na sua globalidade), e faça
corresponder a cada um dos sete elementos da coluna A a um elemento da coluna
B, de modo a obter afirmações verdadeiras. Escreva ao lado do número da frase a
alínea correspondente.
A Aspeto gramatical |
|
B |
1.
Perfetivo |
|
a.
se refere uma pluralidade teoricamente
infinita de situações que se sucedem durante um período construído como
ilimitado. |
2.
Imperfetivo |
|
b.
se refere uma pluralidade de situações
eventivas que se repetem regularmente durante um período de tempo delimitado
ou não delimitado. |
3.
Genérico |
|
c.
se a situação representada pelo seu conteúdo
proposicional é construída sem qualquer duração. |
4.
Habitual |
|
d.
se o tempo que lhe é associado se estende
durante um período de tempo necessariamente diferente de zero. |
5.
Iterativo |
|
e.
se representa um evento construído como um
todo completo a partir de um ponto de referência que lhe é exterior. |
6.
Pontual |
|
f.
se representa uma actividade, um estado ou um
evento prolongado, construídos como homogéneos, quer estejam em curso ou não. |
7.
Durativo |
|
g.
se refere uma pluralidade infinita de
situações, construídas como atemporais e verdadeiras em toda e qualquer
situação de enunciação. |
G – Estabeleça a correspondência entre as colunas: escreva, ao lado do
número da frase, a alínea correspondente.
A |
|
B |
1.
As palavras que, embora provenham do mesmo
étimo latino, dão origem a formas diferentes. |
|
a.
são palavras convergentes. |
2.
As palavras que, embora provenientes de étimos
distintos, apresentam a mesma forma vocabular. |
|
b.
são palavras divergentes. |
3.
As palavras divergentes que, pelo uso,
sofreram mais alterações em relação ao étimo originário. |
|
c.
chegaram até nós por via erudita. |
4.
As palavras divergentes que mantêm uma maior
aproximação ao étimo originário. |
|
d.
chegaram até nós por via popular. |
5.
A competência linguística é |
|
e.
a capacidade que o falante tem de poder
refletir sobre a língua. |
6.
A competência metalinguística é |
|
f.
a faculdade que nasce com o indivíduo. |
7.
Os clíticos são palavras |
|
g.
como sucede nas formas do futuro e do
condicional, numa situação pronominal diz-se que a palavra é mesoclítica. |
8.
Na ênclise, quando a subordinação acontece no
interior, |
|
h.
sem acento tónico, se subordinam, na
pronúncia, a outra palavra, considerando-se numa posição de ênclise, de próclise ou de mesóclise. |
9.
Verbo defetivo |
|
i.
é o que se flexiona exclusivamente na 3ª
pessoa do singular. |
10.
Verbo impessoal |
|
j.
É o que apresenta uma conjugação incompleta,
frequentemente por razões de natureza fonética. |
11.
Verbo unipessoal |
|
k.
é o que se flexiona apenas na 3ª pessoa do
singular e do plural. |
12.
Nome epiceno |
|
l.
o indivíduo, a pessoa |
13.
Nome sobrecomum |
|
m.
o inocente – a inocente, o pianista – a
pianista |
14.
Nome comum de dois |
|
n.
o golfinho, o rouxinol, a águia |
15.
O João é persistente. |
|
o.
O adjetivo desempenha a função de modificador
do nome. |
16.
O homem persistente
atinge os seus objectivos. |
|
p.
O adjetivo desempenha a função de predicativo
do sujeito. |
17.
Todos consideravam a secretária competente. |
|
q.
O adjetivo desempenha a função de predicativo
do complemento direto. |
Grupo I
Leia, atentamente,
o seguinte texto.
Doces lembranças da
passada glória,
Que me tirou
Fortuna roubadora,
Deixai-me repousar
em paz ũa hora,
Que comigo ganhais
pouca vitória.
Impressa tenho na
alma a larga história
Deste passado bem,
que nunca fora;
Ou fora, e não
passara; mas já agora
Em mim não pode
haver mais que a memória.
Vivo em lembranças,
mouro de esquecido
De quem sempre
devera ser lembrado,
Se lhe lembrara
estado tão contente.
Oh! Quem tornar
pudera a ser nascido!
Soubera-me lograr
do bem passado,
Se conhecer soubera
o mal presente.
Luís Vaz de Camões
Apresente, de forma bem estruturada, as respostas aos
itens.
1. Expõe
o assunto do texto.
2. Indica,
de forma fundamentada, o(s) interlocutor(es) do sujeito lírico.
3. Explique
o sentido dos seguintes versos: «Impressa
tenho na alma a larga história / Deste passado bem, que nunca fora; / Ou fora,
e não passara;» /
4. Este
poema faz parte da “medida nova” cultivada pelo Poeta. Porquê? (Indique três
motivos).
5. Faz
a escansão do verso “Impressa tenho na
alma a larga história” e classifique-o quanto ao número de sílabas
métricas.
6. Analise
a importância do último terceto na construção do sentido global do poema.
************************************************
O tempo acaba o
ano, o mês e a hora,
A força, a arte, a
manha, a fortaleza;
O tempo acaba a
fama e a riqueza,
O tempo o mesmo
tempo de si chora;
O tempo busca e
acaba o onde mora,
Qualquer
ingratidão, qualquer dureza;
Mas não pode
acabar minha tristeza,
Enquanto não
quiserdes vós, Senhora.
O tempo o claro
dia torna escuro,
E o mais ledo
prazer em choro triste;
O tempo, a
tempestade em grão bonança.
Mas de abrandar o
tempo estou seguro
O peito de
diamante onde consiste
A pena e o prazer
desta esperança.
Camões
1.
No
poema, há duas teses. Enuncia-as.
2.
Identifica
o interlocutor e caracteriza-o.
3.
Caracteriza
o sujeito poético.
4.
Este
poema é muito rico em recursos estilísticos.
Identifica quatro, dando um exemplo
de cada, e explica a função de cada
um deles.
5.
Explicita
o sentido dos seguintes versos: O tempo
o mesmo tempo de si chora; / O tempo busca e acaba o onde mora, /
6.
Divide
o texto em partes e justifica a tua opção.
7.
Classifica
o poema, integrando-o na respectiva medida.
8.
Descreve
a estrutura externa.
9.
Indica
o tema deste poema e, num texto
claro e conciso, refere a sua importância na obra de Camões já por ti estudada.
********************************************************
Vai
César sojugando toda França
E
as armas não lhe impedem a ciência;
Mas,
nũa mão a pena e noutra a lança,
Igualava
de Cícero a eloquência.
O
que de Cipião se sabe e alcança
É
nas comédias grande experiência.
Lia
Alexandro a Homero de maneira
Que
sempre se lhe sabe à cabeceira.
Enfim,
não houve forte Capitão
Que
não fosse também douto e ciente,
Da
Lácia, Grega ou Bárbara nação,
Senão
da portuguesa tão somente,
Sem
vergonha o não digo: que a razão
De
algum não ser por versos excelente
É
não se ver prezado o verso e rima,
Porque
quem não sabe arte, não na estima.
Camões,
Os Lusíadas, Canto V, est. 96-97
Mas
eu que falo, humilde, baxo e rudo,
De
vós não conhecido nem sonhado?
Da
boca dos pequenos sei, contudo,
Que
o louvor sai às vezes acabado.
Não
me falta na vida honesto estudo,
Com
longa experiência misturado,
Nem
engenho, que aqui vereis presente,
Cousas
que juntas se acham raramente.
Pera
servir-vos, braço às armas feito,
Pera
cantar-vos, mente às Musa dada;
Só
me falece ser a vós aceito,
De
quem virtude deve ser prezada.
Se
me isto o Céu concede, e o vosso peito
Dina
empresa tomar de ser cantada,
Como
a pres [s]aga mente vaticina
Olhando
a vossa inclinação divina,
Ou
fazendo que, mais que a de Medusa,
A
vista vossa tema o monte Atlante,
Ou
rompendo nos campos de Ampelusa
Os
muros de Marrocos e Trudante,
A
minha já estimada e leda Musa
Fico
que em todo o mundo de vós cante,
De
sorte que Alexandro em vós se veja,
Sem
à dita de Aquiles ter enveja.
Camões,
Os Lusíadas, Canto X, est. 154 a 156.
Texto
Carlos, nessa manhã, ia visitar de
surpresa a casa do Ega, a famosa Vila Balzac, que esse fantasista andara
meditando e dispondo desde a sua chegada a Lisboa, e onde se tinha enfim
instalado.
Ega dera-lhe esta denominação literária,
pelos mesmos motivos por que a alugara num subúrbio longínquo, na solidão da
Penha de França – para que o nome de Balzac, seu padroeiro, o silêncio
campestre, os ares limpos, tudo ali fosse favorável ao estudo, às horas de arte
e de ideal. Porque ia fechar-se lá, como num claustro de letras, a findar as
«Memórias de Um Átomo»! Somente, por causa das distâncias, tinha tomado ao mês
um coupé da Companhia.
Carlos teve dificuldades em encontrar a
Vila Balzac: não era, como tinha dito Ega no Ramalhete, logo adiante do Largo
da Graça um chalezinho retirado, fresco, assombrado, sorrindo entre árvores.
Passava-se primeiro a Cruz dos Quatro Caminhos; depois penetrava-se numa vereda
larga, entre quintais, descendo pelo pendor da colina, mas acessível a
carruagens; e aí, num recanto, ladeada de muros, aparecia enfim uma casota de
paredes enxovalhadas, com dois degraus de pedra à porta e transparentes novos
de um escarlate estridente.
Nessa manhã, porém, debalde Carlos deu
puxões desesperados à corda da campainha, martelou a aldrava da porta, gritou a
toda a voz por cima do muro do quintal e das copas o nome do Ega: a Vila Balzac
permaneceu muda, como desabitada, no seu retiro rústico. E todavia pareceu a
Carlos que, justamente antes de bater, ouvira o estalar de rolhas de champanhe.
Quando Ega soube esta tentativa,
mostrou-se indignado com os criados que assim abandonavam a casa, lhe davam um
ar suspeito de Torre de Nesle…
- Vai lá amanhã; se ninguém responder,
escala as janelas, pega fogo ao prédio, como se fossem apenas as Tulherias.
Mas no dia seguinte, quando Carlos chegou,
já a Vila Balzac o esperava, toda em festa: à porta «o pajem», um garoto de
feições horrivelmente viciosas, perfilava-se na sua jaqueta azul de botões de metal, com uma
gravata muito branca e muito tesa; as duas janelas em cima, abertas, mostrando
o repes verde das bambinelas, bebiam à larga todo o ar do campo e o sol de
inverno: e no topo da estreita escada, tapetada de vermelho, Ega, num
prodigioso robe-de-chambre, de um estofo adamascado do século XVIII, vestido de
corte de alguma das suas avós, exclamou dobrando a fronte ao chão:
- Bem-vindo, meu príncipe, ao humilde
tugúrio do filósofo!
Eça
de Queirós, Os Maias, cap. VI
1. Depois
de leres os quatro parágrafos iniciais do excerto de “Os Maias”, assinala as
sequências em que a focalização omnisciente e a focalização interna predominam,
definindo o seu contributo para o conhecimento da história.
2. A
descrição da casa de João da Ega muda consoante o ponto de vista de quem a
descreve. Apresenta essa variação, identificando os nomes e os adjetivos que
melhor a caraterizam.
3. O
carácter de João da Ega é exposto de forma evidente. Enuncia algumas das suas
características.
4. A
chegada de Carlos, no dia seguinte, à Vila Balzac é um bom exemplo do estilo de
Eça de Queirós. Aponta cinco traços desse estilo, comentando a sua
intencionalidade.
GRUPO II
Num
texto expositivo, entre 100 e 150 palavras, refere a importância da CASA no Frei Luís de Sousa, de Almeida Garrett.
GRUPO
III
Balzac
é meu rival, minha senhora inglesa!
Eu
quero-a porque odeio as carnações redondas;
Mas
ele eternizou-lhe a singular beleza
E
eu turbo-me ao deter seus olhos cor das ondas.
Cesário Verde, Humorismos de Amor
O ideal de beleza é determinado por
modelos, por vezes, literários. Inspirando-te nas obras lidas, elabora uma
composição que dê conta da influência que a literatura pode ter na vida.
*****************************************************************
VAIDOSA
Dizem que tu és pura como um lírio
E mais fria e insensível que o granito,
E que eu que passo aí por favorito
Vivo louco de dor e de martírio.
Contam que tens um modo altivo e sério,
Que és muito desdenhosa e presumida,
E que o maior prazer da tua vida,
Seria acompanhar-me ao cemitério.
Chamam-te a bela imperatriz das fátuas,
A déspota, a fatal, o figurino,
E afirmam que és um molde alabastrino,
E não tens coração como as estátuas.
E narram o cruel martirológio
Dos que são teus, ó corpo sem defeito,
E julgam que é monótono o teu peito
Como o bater cadente dum relógio.
Porém eu sei que tu, que como um ópio
Me matas, me desvairas e adormeces,
És tão loura e dourada como as messes
E possuis muito amor… muito amor-próprio.
Cesário Verde, 1874 (publicação)
D.
João V está numa sala do torreão, virada ao rio. Mandou sair os camaristas, os
secretários, os frades, uma cantarina da comédia, não quer ver ninguém. Tem
desenhado na cara o medo de morrer, vergonha suprema em monarca tão poderoso.
Mas esse medo de morrer não é o de se lhe abater de vez o corpo e ir-se embora
a alma, é sim o de que não estejam abertos e luzentes os seus próprios olhos
quando, sagradas, se alçarem as torres e a cúpula de Mafra, é o de que não
sejam já sensíveis e sonoros os seus próprios ouvidos quando soarem
gloriosamente os carrilhões e as solfas, é o de não palpar com as suas mãos os
paramentos ricos e os panos de festa, é o de não cheirar o seu nariz o incenso
dos turíbulos de prata, é o de ser apenas o rei que mandou fazer e não o que vê
feito. Vai além um barco, quem sabe se chegará a porto, Passa uma nuvem no céu,
porventura não a veremos em chuva derramada, Sob aquelas águas, o cardume nada
ao encontro da rede. Vaidade das vaidades, disse Salomão, e D. João V repete,
Tudo é vaidade, vaidade é desejar, ter é vaidade.
Mas
o vencimento da vaidade não é a modéstia, menos ainda a humildade, é antes o
seu excesso. Desta meditação e agonia não saiu el-rei para vestir o burel da
penitência e da renúncia, mas para fazer voltar os camaristas, os secretários e
os frades, a cantarina viria mais tarde, a estes perguntando se era realmente
verdade, consoante julgava saber, que a sagração das basílicas se deve fazer
aos domingos, e eles responderam que sim, segundo o Ritual, e então el-rei
mandou apurar quando cairia o dia do seu aniversário, vinte e dois de outubro,
a um domingo, tendo os secretários respondido, após cuidadosa verificação do
calendário, que tal coincidência se daria daí a dois anos, em mil setecentos e
trinta, Então é nesse dia que se fará a sagração da basílica de Mafra, assim o
quero, ordeno e determino, e quando isto ouviram foram os camaristas beijar a
mão do seu senhor, vós me direis qual é mais excelente, se ser do mundo rei, se
desta gente.
Deitaram
reverentemente alguma água na fervura João Frederico Ludovice e o doutor
Leandro de Melo, chamados à pressa de Mafra, aonde o primeiro tinha ido e onde
o segundo assistia, os quais, com a memória fresca do que lá viam, disseram que
o estado da obra não consentia tão feliz previsão, tanto no que tocava ao
convento, cujo segundo corpo se ia levantando lentamente de paredes, como à
igreja, por sua natureza de delicada construção, um assembramento de pedras que
não poderia ser feito à ligeira, vossa majestade o sabe melhor que ninguém, se
tão harmoniosamente concilia e equilibra as partes de que se forma a nação.
Carregou-se o sobrancelho de D. João V, porque a cansada lisonja em nada o
aliviara…
José Saramago, Memorial
do Convento.
1. «Desta
meditação e agonia não saiu el-rei para vestir o burel da penitência e da
renúncia.»
1.1. Aponte
as razões da meditação e das preocupações do monarca.
1.2. Identifica
a decisão tomada e a respetiva fundamentação após essa meditação.
1.3. Explique
o sentido da expressão transcrita.
2. Transcreva
um exemplo de discurso direto, outro de discurso indireto e, finalmente, um
outro de discurso indireto livre, explicando os efeitos da sua utilização.
3. No
final do segundo parágrafo é possível delimitar uma marca de intertextualidade.
Transcreve-a e explica a sua génese e o objetivo autoral.
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