Temas e conceitos


I – Bilinguismo

François Grosjean, An introduction to bilinguism, Life with two languages
O bilinguismo em África: génese; factores militares / colonização
3000 a 4000 línguas para cerca de 150 estado
Encontramos o bilinguismo em 3 tipos de países: os monolingual (Japão; Alemanha); os bilingual e os multilingual
Em África, é frequente ser bilingue ou trilingue. Ver países como o Gana, o Zaire ou Uganda... aí, as crianças aprendem simultaneamente várias línguas...
Que factores levaram países como o Gana ou a Zâmbia a escolherem uma língua estrangeira como língua oficial?
The need for a written medium
O medo de clivagens se se privilegiasse uma das línguas locais
Por exemplo no Senegal, apesar do wolof ser falado por cerca de 90% da população e de ser uma língua franca do oeste africano, a lingua oficial é o francês porque (Meyers Scotton, 1978) a língua colonial permite aceder aos níveis sociais mais elevados... No Senegal, o francês assegura a mobilidade social.
No Níger acontece o mesmo, apesar do hausa ser falado por toda a população. Esta situação acabará por criar ressentimento e antagonismo, e por isso o futuro linguístico de muitas nações está longe de estar esclarecido...
As élites, muitas vezes com a ajuda dos ex-colonizadores, em vez de apoiarem as línguas nativas criando um código de escrita, desenvolvendo um vocabulário técnico e científico, reprimem frequentemente o uso público da língua nativa. Deste modo as elites, através de uma língua estrangeira, mantem nas mãos os negócios públicos...

Países multilingues
Por um lado, temos os países em que as principais línguas nacionais são reconhecidas como oficiais. Por ex. a Suíça. (Kloss, 1968)
Certos países decidiram ser oficialmente multilingues, pois querem reconhecer a identidade linguística de grupos, o que faz deles nações, e por outro lado querem ajudar certas minorias a manter e a defenderem-se face a grupos mais poderosos... adpotando deste modo o princípio territorial em detrimento do princípio da personalidade...
Problemas colocados pelo multilinguismo – o estatuto da língua
Q: como determinar o verdadeiro estatuto de uma língua num país multilingue?
R: É determinar como é que cada língua é aprendida e usada pelo povo para quem ela não é uma língua nativa.
R: a 2ª maneira de determinar o estatuto das línguas nos países bi ou multilingues é descobrir qual das línguas pede mais empréstimos às outras. A que for mais influenciada é a menos prestigiada.

Política linguística e minorias linguísticas

Muitas vezes, o bilinguismo é a consequência do contacto entre 2 grupos linguísticos que não têm a mesma importância... um deles não é reconhecido e por isso vê-se obrigado a aprender a língua dominante de modo a interagir com o grupo linguístico maioritário...
Minorias linguísticas e hierarquização de valores
O verdadeiro desígnio das autoridades nem sempre é conceder direitos iguais à minoria. Muitas vezes, esta política não é mais do que um 1º passo para assimilação do grupo minoritário. Os missionários cristãos em África, no séc. XIX e XX, converteram muitos povos pregando em línguas locais em vez de lhes imporem a sua. A assimilação era feita pela religião e mais tarde pela língua.
O desprezo e a repressão das minorias linguística
A minoria linguística é muitas vezes considerada como uma ameaça à nação, sobretudo desde que o nacionalismo foi considerado equivalente ao monolinguismo. A nação monolingue sente que a diversidade linguística poderá criar a cisão e o regionalismo, criando a instabilidade... Teme que a minoria tenha mais lealdade à sua própria língua e cultura do que à nação. Teme que a língua, porque é uma característica muito importante da identidade do grupo, se torne em foco de descontentamento, e possa conduzir a exigência de independência ou à anexação do grupo minoritário por um país vizinho.
Modos e situações: a) proibir a língua minoritária na escola com o consequente insucesso escolar... b) ser objecto de depreciação pública ao falar a língua da minoria...c) transferência forçada de populações; d)deslocar para o território das minorias muitos falantes da língua dominante e) ilegalização da língua da minoria f) a criança aprende a língua dominante em vez da língua materna; g) dialectalização – tornar a língua da minoria numa variedade da língua

A génese do bilinguismo
a) as migrações (por razões económicas, políticas e religiosas) b) as invasões militares + colonização: a língua do invasor como língua franca, sobretudo nas áreas urbanas c) a indústria e o comércio d) os casamentos mistos e) o nacionalismo e a política federal...
Davies escreveu: «a people without a language of its own is only half a nation. A nation should guard its language more than its territories – it’s a surer barrier, a more important frontier than forteress and river.»
As modernas nações africanas são bons exemplos do federalismo, onde o bilinguismo é norma – Tanzânia, Quénia, Senegal...
Em muitos países ser educado significa ser bilingue (Mackey, 1967) – Índia, Paquistão; África...
África – bilinguismo prolongado
As crianças aprendem primeiro a língua local e só mais tarde se tornam fluentes na língua franca, o que assegura a perpetuação do bilinguismo degeração em geração...

Bibliografia
Eptein, I (1915) – La pensée et la polyglossie, Lausanne, Payot
Frith, M. (1978) – Interlanguage theory: implications for the classroom.. Mcgill Journal of education 13: 115-165
Gallagher, C. (1968) - North African Problems and Prospects: language and identity. In Language problems in developing nations, eds. J. Fishman, C. Ferguson, and J. Das Grupta. New York: Willey
Kloss, H. (1967) – Bilingualism and nationalism. Journal of Social Issues 23: 39-47
Kloss, H. (1968) – Notes concerning a language-nation typology. In Language Problems
Lambert, W. (1980) – The two faces of bilingual education. Focus 3: 1-4
Mackey, W. (1967) – Bilinguism as a Word problem. Montreal: Harvest house

II- Maria de Lourdes Pintasilgo (1930-2004)
Bibliografia: As minhas respostas. Publ. D. Quixote (1985)

engagement dégagé: estou totalmente empenhada, mas ao mesmo tempo tenho um recuo em relação ao objecto do meu empenhamento.
o poder: é uma realidade difusa em todo o corpo social, e em que todos nós participamos. O meu entendimento do poder é o poder para fazer alguma coisa. Utilizando as expressões inglesas, não é o poder «over people», mas o « power to do something” para fazer alguma coisa...é um poder orientado. «Cada poder tem de ser limitado por outros poderes» (Montesquieu)
a noção de pessoa humana: a pessoa humana, hoje, não tem só os limites do seu corpo, tem também os limites do seu habitat (não só a sua casa, o trabalho, as relações sociais) – a extensão do conceito de pessoa...
a utopia: é uma ilusão absolutamente total... / horizonte de valores e de ideias
o futuro é hoje: l’avenir est au présent.
o mito de Einstein: que tudo em todo o universo tem uma só explicação global e que todas as coisas podem ser transpostas de um lado para o outro.
a defesa da oralidade: essa possibilidade de contar, isto é, de reactualizar, de reviver não só pela memória, mas de tornar presente pela forma como se conta – é indispensável para a própria estruturação da sociedade...
o conceito de mudança.
a esfera da referência: é aquela em que o sujeito está profundamente enraizado em cada instante, ou em cada sector da sua história.
participação: uma crítica ao monopólio de estado; um apelo à iniciativa civil; uma crítica à ausência de articulação das forças sociais no sistema político representativo.
Tocqueville: elogio da tradição norte-americana do autogoverno local...
desenvolvimento: este surge como a capacidade que tem a sociedade, em qualquer momento da sua história, de fazer face com os seus próprios recursos humanos à sua própria evolução histórica... o desenvolvimento deveria ser o grande factor de mobilização de todas as forças sociais, culturais e políticas... o modelo de desenvolvimento é uma questão que o hemisfério norte desenvolveu para o hemisfério sul, e que o hemisfério sul desenvolveu muito pouco...
o conceito de estado-nação: em África, de acordo com Ki-Zerbo, o estado-nação resultou de divisões meramente arbitrárias do poder colonial, cortando ao meio famílias culturais inteiras.

III – João Carlos Espada, Público, 30 Nov.1992

O conceito de cidadania aponta para o conjunto das garantias legais que protegem a liberdade dos indivíduos e, por esse motivo, limitam o poder interventivo dos governos. Por outro lado, o conceito de cidadania europeia requer instrumentos supranacionais que aos olhos de um liberal suscitam sempre a inquietação do superestado europeu.
Flores d’Arcais (?) defendeu a vertente supranacional da cidadania e reclamou-se da tradição radical-liberal.
A cidadania diz respeito a garantias que a lei concede aos indivíduos, ao governo das leis, não à legislação dos governos.
A cidadania europeia deveria assentar no Conselho da Europa e na Convenção Europeia dos Direitos Humanos.
O europeísmo é hoje interpretado como favorável a um governo europeu supracional. Mas europeísmo não é necessariamente supranacionalismo.
Na tradição liberal anglo-americana, «internacionalismo» quer dizer sobretudo império da lei e comércio livre. Por «império da lei» entendia-se que a dignidade é igual para todos os indivíduos, e o seu igual direito à liberdade, decorria de uma lei natural anterior à criação dos governos – lei a que os governos deviam obedecer e fazer vingar. Os indivíduos, por sua vez, estavam habilitados a reclamar a prioridade dos seus direitos naturais, independentemente dos caprichos dos seus governos particulares. Quanto ao comércio livre, ele era entendido como meio privilegiado de fomentar a colaboração pacífica entre as nações, de não acabar com elas. Pretendia-se acabar com as barreiras entre as nações, para que as diferenças entre elas fossem usadas para fomentar a troca livre e, portanto, revertessem em benefício comum dos indivíduos.
J.C. E.: a cidadania europeia é um nobre ideal que não merece ser manchado com construtivismos de sabor jacobino... e deve inspirar-se em bons princípios: o império da lei; o comércio livre; a colaboração espontânea entre sociedades civis...

IV – Adaptação e Assimilação (contexto: imigração)
Adaptação: a um nível psicossocial a adaptação a uma situação, ao meio inter-humano, supõe sistemas de referência.
Definição de adaptação (Felix Neto): o conjunto das modificações que se operam nas atitudes, comportamentos, sistemas de representação saídos da sociedade de origem do imigrante, e por meio das quais o imigrante se esforça, na sociedade de acolhimento, por reconstruir a sua existência pessoal e social de modo satisfatório.

V – Des représentions collectives aux représentations sociales, vol. I, Moscovici, S. (1989)

Noção de representação colectiva: Durkheim, inventor do conceito, reconhece-lhe o direito de explicar os fenómenos mais variados na sociedade. As representações individuais têm como substrato a consciência de cada um e as representações colectivas, a sociedade na sua totalidade.
Para Durkheim, a representação designa prioritariamente uma vasta classe de formas mentais (ciências, religiões, mitos, espaço, tempo) de opiniões e de saberes sem distinção. Durkheim associa coletividade a permanência; individualidade a perceção e a imagem a flutuante...
Abandonnant l’opposition importante, mais arbitraire, de l'índividuel et du collectif, Lévy-Bruhl projette une vive lumière sur le rapport d’une société à ses représentations
Lévy-Bruhl insiste sur une autre opposition des mecanismes logiques et psychologiques d’un type à l’autre: les primitifs et les civilisés. Il fonde la pensée civilisée sur des siècles d’exercices rigoureux de l’intelligence et de la réflexion. La pensée primitive est tournée ver le surnaturel. Lévy-Bruhl apresenta os primitivos como se eles habitassem um outro estado da natureza. O princípio da participação substitui, no pensamento primitivo, o princípio da não-contradição.
De qualquer modo, Lévy-Bruhl contribui para chamar a atenção para a questão da incompatibilidade da representação em culturas diferentes (sombra-alma; sombra-ausência de luz). Para Lévy-Bruhl, o conceito de representação colectiva mostra a diversidade profunda segundo os quadros sociais, mais radical do que a que seguia os domínios (religião, mito, ciência...); por outro lado, põe a questão e inaugura o exame dos mecanismos psíquicos e lógicos de que resulta uma ordem mental.
Através da representação colectiva, Durkheim revela o elemento simbólico da vida social... Um símbolo representa outra coisa que «soi-même». É uma ideia que os homens partilham a propósito de um objecto, independentemente do objecto em si... Durkheim transforma o simbolismo num meio pelo qual a sociedade se torna consciente de si mesma, demarcação entre as componentes individuais e as componentes colectivas do laço entre os homens. Entre elas, figuram as regras e a linguagem cujos efeitos são certos sobre a natureza e a qualidade dos processos de pensamento. (...) deste ponto de vista, as emoções e os afetos são estimulados pelos símbolos inscritos nas tradições: os emblemas – bandeiras, fórmulas...
Com Lévy-Bruhl entra-se numa 2ª fase do estudo da noção de representação colectiva. O acento desloca-se do adjetivo para o substantivo.
Lévy-Bruhl influencia Piaget, como o sábio francês a propósito do primitivo, o psicólogo suíço parte do postulado de que a «criança não é parva» nem se encontra alguns degraus abaixo da criança mais idosa. Ela pensa é as coisas de forma diferente.
Piaget: «L’enfant est réaliste, car il présuppose que la pensée est liée à son objet, que les noms sont liés aux choses nommées et que les rêves sont extérieurs.
Para Piaget, a natureza das interacções aparece como um factor determinante dos modelos de pensamento e de perceção, das discussões e das justificações...
Há uma sociedade baseada nos constrangimentos e há uma sociedade baseada na cooperação: no interior desta sociedade, há várias, entre elas, a sociedade espontânea das crianças
Lévy-Bruhl: mentalidade quente (mística e participante); mentalidade fria (sensível à contradição –resultante de operações formais e de relações de cooperação)
Um dos pressupostos, em causa, comuns a Durkheim e a Lévy-Bruhl: a homogeneidade das representações transmitidas ao longo das gerações no seio de uma coletividade..
Freud – Estudos sobre parelesia histérica (1924) / Estudos sobre as teorias sexuais da criança (1908) – põe em evidência a força das representações: as explicações são provenientes do saber popular no 1º caso e no 2º dos contos e das lendas. (...) as teorias sexuais da criança têm um carácter social, cuja origem provem de um diálogo relançado pelo desejo do espectador e a manha dos actores. (...) os estudos freudianos trazem à luz do dia o trabalho de interiorização que muda o resultado colectivo em dado individual e marca o carácter da pessoa... mostram-nos por que processos as representações passam da vida de todos para a vida de cada um, do nível consciente para o nível inconsciente.

Representações...
On conclut que l’écart entre les éléments collectifs et les éléments individuels paraît moins grand regardé de près que défini de loin… Piaget a éclairé la composition psychique des représentations, en égard aux relations sociales. Freud nous les a montrées, sous un autre angle, issues d’un processus de transformation de savoirs et a explicité la manière dont elles sont intériorisées.
Para a ciência das representações sociais / a psicologia social
Durkheim (1963) entende que «ce qu’il faudrait, c’est chercher, par comparaison des thèmes mythiques, des légendes et des traditions populaires, des langues, de quelle façon les représentations sociales s’appellent et s’excluent, fusionnent les uns dans les autres ou se distinguent.»
Moscovici propõe para a psicologia social: «au lieu de continuer à inventorier les opinions et les attitudes, qu’on étudie les représentations dont la richesse est évidente (...) la notion “représentation” est transférée à la société moderne (...) les représentations collectives cèdent la place aux représentations sociales.
Não são os substratos, mas as interacções que contam, como afirma Codol (1982): «ce qui permet de qualifier de sociales les représentations, ce sont moins leus supports individuels ou groupaux que le fait qu’elles soient élaborées au cours de processus d’échanges et d’interactions.
On raisonne dès lors sur des mécanismes psychiques et de communication produisant un phénomène spécifique au cours de ces milliers d’actes racontés, empruntés, effectués par tant d’individus…
O carácter moderno destes estudos transforma a psicologia social numa antropogia da cultura moderna. Do mesmo modo que a antropologia parece ser uma psicologia social das culturas ditas primitivas.

Bibliografia
René Kaës – Psyhanalyse et représentation sociale...

VI – Une perspective interculturelle en psychologie et en pédagogie
(Pierre Dasen, 1983)

Enculturação
Cada um nasceu e cresceu numa cultura particular que se pensa universal (atitudes e valores). Vantagens: harmonia com o meio social.
Limitação: incapaz de aceitar um vasto leque de comportamentos (outras culturas).
A perspectiva intercultural combate a generalização através do método comparativo, situa as ciências humanas no contexto da diversidade e da relatividade culturais. No essencial e no conjunto, as pesquisas interculturais mostram que os mecanismos essenciais da psiquê humana são universais, mas que se exprimem de maneira muito diferente de acordo com o contexto cultural. Por exemplo, Freud e Piaget não se aperceberam da sua enculturação na sociedade industrial e judaico-cristã. Ex.: a explicação do complexo de Édipo reflecte a relação triádica do sistema social em que Freud vivia: o pai é ao mesmo tempo quem detém o poder sobre o filho, e o amante da mãe. Nas sociedades matrilineares, estas duas funções estão separadas: é o tio materno que é o responsável pela educação, quem detém o poder...é contra ele que se dirigem os fantasmas agressivos e não contra o pai. Há um mecanismo idêntico, mas que toma formas diferentes de acordo com a estrutura social. Ver LUÉJI. O conceito de espaço é extremamente valorizado e desenvolvido nas populações nómadas que vivem da caça e da colheita, em detrimento de conceitos quantitativos, quando com as populações sedentárias que praticam a agricultura de subsistência acontece precisamente o contrário.
Por vezes, as consequências são desastrosas: a exportação do modelo de psiquiatria ocidental. As doenças mentais, existentes em toda a parte, inserem-se em sistemas explicativos totalmente diferentes de acordo com as culturas, às quais correspondem terapias tradicionais totalmente apropriadas (por vezes semelhantes a certas descobertas ocidentais recentes – terapia de grupo ou de família...
Em pedagogia, há que reflectir nos efeitos da exportação do modelo ocidental de escola durante a era colonial...

VII – Interculturalismo
Rey-Von-Almem, M. (1984) – Pièges et défis de l’interculturalisme

Definição
Quem diz intercultural diz necessariamente, dando todo o seu sentido ao prefixo «inter»: interacção, troca, abertura, reciprocidade, solidariedade objectiva? E dirá dando sentido pleno à palavra «cultura»: reconhecimento de valores, dos modos de vida, das representações simbólicas a que se referem os seres humanos nas suas relações com outrem e na sua apreensão do mundo, reconhecimento da sua importância, do seu funcionamento, da sua diversidade, reconhecimento das interacções que intervém simultaneamente entre os múltiplos registos de uma mesma cultura e entre as diferentes culturas?

O âmbito
O interculturalismo postula (e trabalha para) uma abertura institucional, social, geográfica e temporal. Inscreve-se na história, isto é, ao mesmo tempo no presente e no futuro, tomando em consideração o passado. O seu campo de referência e de acção situa-se tanto no espaço internacional como local.
Como foi na Escola que foi posto a nu de modo mais evidente a desigualdade de oportunidades, foi lá que se desenvolveu a pedagogia intercultural cujo objectivo é atingir os objectivos escolares de democratização, igualdade de oportunidades e de desenvolvimento cultural. Porém, como afirma Porches, o interculturalismo diz respeito a toda a sociedade, e a todas as sociedades nas suas relações com a diversidade... Pela sua própria natureza, o intercultural é interacção de componentes múltiplas.
Argumentos contra o intercultural
Toda a acção respeitante aos migrantes porque estes pertencem à mesma «sociedade ocidental» que as sociedades de acolhimento (ver Suiça). Culturalmente, os migrantes são associados aos nacionais e as únicas a tomar são: assistência social e pedagogia compensatória.
A este ponto de vista respondem certos imigrantes com um comportamento de defesa, de salvaguarda dos valores de origem representados em particular pela língua. Este movimento deu origem à reivindicação justificativa do bilinguismo para os imigrantes...mas que poderá isolar os imigrantes (2ª geração) sem valorização social das suas competências linguísticas – ver propostas de ensino separado (em escolas ou em classes) para as crianças do mesmo origem. O problema coloca-se quando se reivindica o ensino da língua materna para os imigrantes (e só para eles) como primeira língua estrangeira... mesmo se esta língua não é posteriormente considerada em termos de formação profissional.
Muitas vezes, instaurou-se uma estrutura sem diálogo. A instituição escolar do país de acolhimento, dando prioridade à assimilação pelos imigrantes da cultura local, considera irrealista o facto de manter duas culturas. Sem se lhes opor, mas também sem as encorajar, ela deixa aos pais e aos representantes dos países de origem a responsabilidade de tal projecto. Cursos de língua e cultura são então ministrados fora do quadro escolar. Inconvenientes: estigmatizados pela escola; sobrecarga intelectual; inadequação pedagógica; fosso entre a cultura de origem e a dos imigrantes; divididos entre duas culturas; anomia (desorganização – interferência linguística).
Frequentemente a recusa do intercultural corresponde a uma forma de salvaguarda dos privilégios – protecionismo ou de integrismo (atitudes encontráveis em ambas as culturas). Teme-se o desequilíbrio que a valorização das competências dos imigrantes provocará nas relações sociais...
C’est la portée de la culture qui est mise en cause. O intercultural não é mais do que um alibi, porque o fenómeno migratório é de ordem política e económica e portanto será nesse terreno que se encontram as soluções. Neste caso, o intercultural (atitude reducionista) torna-se sinónimo de estrangeiro ou de exótico.
Por vezes, limita-se o intercultural ao conhecimento intelectual do outro e a análise comparativa ou contrastiva substitui-se à interacção em vez de a clarificar.
Se o interculturalismo está ligado ao respeito das diferenças entre sociedades, grupos, indivíduos no interior de um grupo, surge com muita frequência, de acordo com a experiência de cada uma particularização (portanto, exclusões): um privilegia as relações internacionais; outro, os problemas das minorias étnicas; um terceiro, o regionalismo.
Se o interculturalismo puser em evidência os factores culturais ligados à inserção social dos imigrantes e ao sucesso escolar, esquecerá facilmente a função da língua. Surge frequentemente uma oposição entre intercultural e linguístico: descuida-se o ensino da língua local aos imigrantes recentes em proveito da sua inserção social, desinteressam-se do ensino da língua de origem para os imigrantes a favor de um ensino intercultural para os autóctones.
Pode-se falar das rivalidades entre modos de vida, referências e expressões culturais nos países de origem e na imigração...
O intercultural identificado a uma metodologia, a uma disciplina, atividade ou estrutura é confinado na pedagogia da descoberta, no ensino das línguas, no folclore, o 3º tempo pedagógico, as festas, as atividades paraescolares... o intercultural cristaliza-se, imobiliza-se...
A abordagem intercultural torna-se dominadora – formulada por uns, é imposta aos outros. O poder e a competência são unilateralmente definidos: a metodologia substitui o diálogo... uma nova forma de arrogância...
Quais são as saídas?
Na Suiça não faz sentido falar de intercultural, porque este país defende uma política de integração dos estrangeiros – os cursos não são integrados nos horários; a formação dos professores não aborda o problema do diálogo com os estrangeiros...
Propostas
O intercultural deve ser situado na diversidade do quotidiano.
Formular o intercultural é clarificar o seu trajeto: criar uma comissão multicultural entre autoridades escolares, associações de professores e representantes dos cursos de língua e culturas de origem no primário; desenvolvimento de bibliotecas interculturais; encontros de professores; criação de um grupo de trabalho tendo como objectivo definir o modo de incremento de uma pedagogia intercultural na escola; propor instrumentos pedagógicos adequados...

VIII - A comparação intercultural
(Brill, B. e Lehalle,H., 1988)

Todo o desenvolvimento psicológico se processa num meio social particular, o que significa que para explicar a génese dos processos o quadro das sociedades ocidentais é insuficiente... o que impõe a comparação intercultural de modo a identificar as influências específicas do meio social e cultural que depende por sua vez dos condicionalismos impostos pelas trocas do homem com o seu meio.
Ver Mead (1978)
O comportamento e o respetivo desenvolvimento resultam da acção conjunta e interactiva dos genes e do meio. Noção de interacção.
A psicologia procura dar conta dos comportamentos nos seus aspectos sociais e individuais. Nestas condições, a antropologia social – tal como é definida por Muriget (?) e Firth (1970) -, parece trazer a dimensão comparativa necessária ao estudo dos comportamentos sociais... porque a antropologia social (e cultural), partindo dos conhecimentos adquiridos através da etnografia – trabalho no terreno (observações, descrições, classificações levando à redação de uma monografia sobre o grupo social observado) e da etnologia que, tomando como base os dados etnográficos, tenta realizar sínteses de 1º grau: síntese geográfica (comparação de grupos sociais vizinhos), histórica, sistemática... os dados fundamentais da psicologia são constituídos de atividades, comportamentos ou juízos actuais e observáveis... as produções não constituem em si objecto de análise.
As análises psicológicas são mais sistemáticas, mais objetivadas... o etnólogo faz uma abordagem holística (global) correndo o risco da subjetividade... mas também, do ponto de vista das correntes internas da psicologia, o aspecto comparativo é essencial.
Comparações interculturais do desenvolvimento psicológico...
O termo intercultural pressupõe a delicada definição do conceito de cultura
O termo cultura visa sistematicamente designar o que faz a originalidade das sociedades humanas e o que faz a especificidade de cada uma delas considerando que os grupos humanos podem partilhar elementos culturais análogos...
Na prática, as culturas são apreendidas simultaneamente em dois níveis: um nível material (os comportamentos e os produtos da atividade humana) e um nível simbólico ou «subjetivo» (representações colectivas, significações associadas aos comportamentos ou aos objetos,etc.).

IX – A imigração: 2ª geração
(Félix Neto)
A imigração é uma situação de mudanças múltiplas que vai obrigar o sujeito a «atravessar várias crises de identidade com arranjos sucessivos da personalidade.»
Para Malewska-Peyre (?) são sinais de crise de identidade:
- A incoerência da auto-imagem;
- A auto-desvalorização.
Quanto mais baixo é o nível escolar e a escolaridade perturbada, mais negativa é auto-imagem.
O jovem debate-se com situações-problema, que se reforçam mutuamente:
- Situação de competição (entrada no mundo do trabalho);
- Situação de fracasso, desconfiança, solidão afetiva... o que poderá levar à delinquência e a comportamentos desviantes.
Para explicar as causas da delinquência dos jovens estrangeiros, é necessário considerar uma pluralidade de factores sociológicos e psicossociais:
· o estatuto socioeconómico desfavorecido;
· as condições precárias do alojamento;
· o insucesso escolar;
· as dificuldades de inserção no mundo do trabalho;
· a regulamentação da estadia no país de acolhimento;
· as dificuldades de adaptação social em conexão com a história da família e com a matriz cultural do país de origem.
Durkheim propôs o conceito de anomia que faz intervir a noção de aculturação brusca e de mudança acelerada dos valores sociais: em tais situações, o indivíduo torna-se menos capaz de estabelecer uma hierarquia de prioridade entre os papéis diferentes que deve desempenhar; os critérios para se conformar às obrigações de determinado papel social tornam-se mais incertos...

X - Quadro enunciativo
“Falar, é certamente trocar informação; mas é também efetuar um acto regido por regras precisas, que pretende transformar a situação do recetor, e modificar o seu sistema de crença e / ou a sua atitude comportamental; correlativamente compreender um enunciado, é identificar, além do seu conteúdo informacional, o seu alcance pragmático, isto é o seu valor e a sua força ilocutória.”[1]
Estas regras distribuem-se por dois planos diferentes e complementares da situação de comunicação e elas são, conforme o plano, de natureza e de funções diferentes. O 1º é o do quadro enunciativo que delimita o espaço / tempo objectivo da situação, o 2º o do campo enunciativo que delimita o espaço / tempo realmente vivido pelos actores da situação de comunicação.
O quadro enunciativo esclarece o contexto social e espácio-temporal da situação de comunicação, as características proxémicas do espaço de comunicação, as condições materiais, económicas, socio-políticas que determinam a produção da troca verbal.
A relação de lugar / a posição enunciativa...





Quadro enunciativo e as leis do discurso
ü A lei da informatividade: não enunciamos algo de que o alocutário já tenha conhecimento, porque temos a intenção de proporcionar informação.
ü A regra da pertinência (argumentativa ou situacional): o enunciado deve ser fundamentado nas condições e na intenção da troca comunicacional.
ü A lei da exaustividade: esta lei obriga o locutor a dar sobre o tema que aborda as informações mais fortes que possua e que sejam suscetíveis de interessar ao alocutário.
ü A lei da sinceridade: ela enuncia simplesmente que falar é mostrar-se sincero, convicto, independentemente da verdade do enunciado.
Comunicar é instaurar uma relação de força.

Campos enunciativos
O campo enunciativo é a relação de força que une os interlocutores no interior de um espaço / tempo de interlocução.
No ensino, podemos encontrar cinco grandes jogos de enunciação, cinco jogos de poder:
Jogos de negação
Jogos de ruptura
Jogos de autorização
Jogos de perícia
Jogos de escuta
Designamos por campo enunciativo de negação a situação de comunicação em que pelo menos um dos interlocutores põe directamente em causa a relação de lugares saída do quadro enunciativo.

XI – Cultura – especificação 
(B. Bill, e Lehalle, H. 1988)
O termo cultura visa simultaneamente designar o que faz a originalidade das sociedades humanas e o que faz a especificidade de cada uma delas... considerando que os grupos humanos podem partilhar elementos culturais análogos.
Na prática, as culturas são apreendidas simultaneamente em dois níveis: um nível material (os comportamentos e os produtos da atividade humana) e um nível simbólico ou “subjetivo” (representações colectivas, significações associadas aos comportamentos ou aos objetos, etc.).
O termo “herança cultural” mostra bem que os elementos culturais são transmitidos de geração em geração. Esta transmissão, com eventuais modificações, deve ser considerada de um ponto de vista adaptativo, devido aos laços possíveis entre a cultura e as adaptações às condições de vida.
A nível individual, os determinantes culturais dos comportamentos são mais ou menos explicitamente reconhecidos. Entretanto, os elementos ou práticas culturais são sempre positivamente valorizados, pelo menos nas culturas relativamente homogéneas. Esta valorização faz-se acompanhar eventualmente de estereótipos negativos, em relação a outras culturas ou simplesmente em relação a grupos sociais vizinhos.
Mas como distinguir as culturas umas das outras? Actualmente é difícil considerar as culturas como entidades isoladas, analisáveis unicamente na sua especificidade.
Se o objectivo é a comparação intercultural do desenvolvimento psicológico há focalização nos aspectos ambientais e no facto de que as culturas estão ligadas às características particulares do meio físico e social – o que explica a importância das descrições e análises etnográficas (...) veja-se o caso das crianças emigrantes, em que um meio social determinado pode resultar da interacção entre diversas culturas existindo por outro lado de modo + /- homogéneo...
Na terminologia que utilizaremos, o aspecto puramente comparativo será dito intercultural, a identificação de variáveis locais (em particular interindividuais) receberá o qualificativo de intracultural e o termo transcultural[2] corresponderá à procura de processos mais gerais que tal ou tal realização cultural particular.
[1] -C.Kerbrat Orrechioni, L’énonciation de la subjectivité du langage, Paris, Seuil, A.Colin
[2] - ver o termo inglês “cross-cultural”.

O texto em ação

I - O ENUNCIADO[1]
A matéria linguística é apenas uma parte do enunciado. Existe uma outra parte, não verbal que corresponde ao contexto da enunciação.
O contexto de enunciação é composto:
a) pelo horizonte comum: coordenadas espácio-temporais; objecto ou tema do enunciado (referente);
b) a avaliação, isto é a relação dos locutores com o que se passa.

A diferença entre enunciado e proposição, unidade de língua, consiste em que o primeiro é necessariamente produzido num contexto particular, que é sempre social, enquanto que a segunda não tem necessidade de contexto.
O enunciado é dirigido a alguém.
O próprio locutor é um já um ser social.
Todo o enunciado pode ser considerado como fazendo parte de um diálogo.

II - Competência de Compreensão prática[2]

1. Acção: Aquilo que alguém faz.
2. Objectivo: As acções implicam objectivos cuja antecipação não se confunde com qualquer resultado previsto ou predito, mas compromete aquele de quem depende a acção.
3. Motivo: Por outro lado, as acções remetem para motivos que explicam porque é que alguém faz qualquer coisa.
4. agente: As acções têm ainda agentes que fazem e podem fazer quaisquer coisas que são tomadas como obras suas.
· Identificar um agente e reconhecer-lhe motivos são operações complementares
5. circunstâncias: Os agentes agem e sofrem em circunstâncias que eles não produziram e que, contudo, pertencem ao campo prático.
6. interacção: Agir é sempre agir “com” outros. A interacção pode tomar a forma da cooperação, da competição, ou da luta...
7. saída (epílogo) - O desfecho da acção pode ser uma mudança de sorte no sentido da felicidade ou do infortúnio...
· As perguntas sobre o quê, porquê, quem, como, com ou contra quem da acção supõem respostas em que os termos atrás referidos surgirão.
· Dominar a rede conceptual no seu conjunto, e cada termo a título de membro do conjunto, é ter a competência que podemos designar por compreensão prática.

III - Competência de compreensão narrativa[3]
Qualquer narrativa pressupõe da parte do narrador e do seu auditório uma familiaridade com as seguintes noções:

Agente
Objectivo
Meio
Circunstância
Socorro
Hostilidade
Cooperação
Conflito
Sucesso
Falhanço

IV - Técnicas e métodos[4]
· Exprimir ideias e sentimentos implica procurar a clareza: de vocabulário, de pensamento; organizar o discurso em função de um objectivo a atingir, definir as diferentes etapas do discurso, caminhar de preferência do geral para o particular...
· Dialogar sob um modo familiar ... é preciso distinguir a conversação da “causerie”, do colóquio, da conferência, do diálogo, do “entretien”...
· Recontar: situar as bens personagens e as circunstâncias da acção; sugerir a atmosfera com notas bem precisas...; ordenar os diferentes elementos e episódios da narrativa...; adaptar o estilo da narrativa ao suporte (escrito ou oral), assim como à natureza do auditor...; encontrar o tom adequado à matéria da narrativa...
· Demonstrar
· Persuadir
· Polemicar
· Fazer um discurso
· Descrever
· Questionar
· Esquematizar
· Situar
· Debate
· Entrevista

V - Planificar é antes de mais reflectir sobre as funções intelectuais , finalidades, técnicas e processos de educação

Funções intelectuais
Funções de aquisição e de conservação
· Observação
· Memória
· Atenção
Funções de elaboração
· Compreensão
· Transposição ou compreensão de afirmações figuradas
· Interpretação
· Extrapolação
· Juízo / apreciação
· Expressão de uma opinião a propósito de uma noção
· Raciocínio / espírito combinatório
· Dedução / indução
· Imaginação
· Invenção ou descoberta de uma relação nova entre elementos dados
· Expressão
· Tradução através de uma linguagem duma relação entre os factos ou os conceitos
Funções de execução (programas de acção)
Iniciativa
Método de trabalho

Finalidades, técnicas e processos de Educação

Valores e finalidades
Técnicas e processos correspondentes
· Conservação da aquisição
· Aceitação, respeito, obediência, disciplina
· Imitação, concorrência
· Formação do homem segundo um modelo, desenvolvimento de um tipo de homem pré-determinado
· Aquisição de conhecimentos de acordo com resultados testados
· Memorização
· Respeito pelo Mestre
· Reprodução de modelos propostos
· Trabalho individual

Valores e finalidades
Técnicas e processos correspondentes
· Pôr em questão
· Imaginação, disponibilidade, autonomia
· Dinamismo, adaptação
· Iniciativa inovadora
· Responsabilidade
· Originalidade
· Cooperação
· Desenvolvimento do maior número possível de capacidades
· Resolução de problemas
· Atividade dos alunos
· Criatividade
· Reflexão pessoal
· Mestre animador; cooperação com os alunos
· Trabalho de grupo
· Iniciação aos métodos de trabalho
· Autogestão; participação dos alunos na escolha dos domínios de estudo, dos métodos...
· Documentação
· Expressão

VI - Condições de realização, situação de comunicação e situação de enunciação

Condições de realização
Situação de comunicação
§ Os contactos entre o ou os locutores e aqueles a quem se dirigem são próximos ou afastados uns dos outros? O contacto entre eles é imediato ou diferido?
§ As características formais da troca:
- trata-se de uma comunicação isolada ou incluída num acto mais largo ( exemplo: entrevista ou conversação telefónica retransmitida pela rádio)
- o interlocutor é único ou múltiplo?
§ As trocas entre várias pessoas:
- qual é o número de participantes?
- será possível contar as vezes que cada um “tomou” a palavra?
- a comunicação assenta num ritual preciso?
§ O tema:
- é apresentado de forma explícita?
- é de referência concreta ou abstrata?
- reporta-se a um acontecimento?
§ As finalidades:
- trata-se de uma transmissão de um “saber” pedagógico ou outro?
- o locutor esforça-se ou não em convencer os seus interlocutores?
- fazem afirmações sem objecto definido?
Situação de enunciação
§ A um único locutor e a um único interlocutor podem responder, ao nível da elaboração do discurso, vários enunciadores e enunciatários.
§ A linguagem não é apenas representativa ou informacional; ela contém no seu seio elementos auto-referenciais que reenviam não para o conteúdo do discurso mas para a sua elaboração: “dès qu’on parle, on parle de sa parole” O.Ducrot, 1980
§ Esta concepção da linguagem implica uma reabilitação dos fenómenos tidos como falhados, como hesitações, ou certas formas de construções segmentadas... cujo papel é indispensável para a interpretação dos discursos orais.
§ A realização técnica do documento:
- duração
- qualidade
- utilização ou não de um suporte escrito prévio
- o papel do micro (escondido ou descoberto)
- carácter amador ou profissional da realização
§ Localização:
- nome da cidade ou da região
- lugar da realização (estúdio, interior, ar livre...)
§ Data
§ Contexto de realização
- acontecimento de ordem: familiar, profissional, política
§ Referentes socioculturais:
- locutores ( sexo, idade, profissão)
- relações ( familiares, profissionais e/ou amigáveis; presença ou não de relações hierárquicas)

[1] - Tzvetan Todorov, Mikhail Bakhtine le principe dialogique..., Théorie de l'Énoncé, page 67..., Seuil
[2] - Paul Ricoeur - Le temps et le récit 1
[3] - Paul Ricoeur - Le temps et le récit 1
[4] - Dominique Dauvois, L’expression et communication, Fernand Nathan



Discurso da narrativa 

(Gérard Genette, Arcádia  - L73564)

Tempo da narrativa

A narrativa é uma sequência duas vezes temporal: há o tempo da coisa contada e o tempo da narrativa.

Tempo da história e tempo da narrativa

Estudar a ordem temporal de uma narrativa é confrontar a ordem de disposição dos acontecimentos ou segmentos temporais no discurso narrativo com a ordem de sucessão desses mesmos acontecimentos ou segmentos temporais na história, na medida em que é indicada explicitamente pela própria narrativa ou pode ser inferida deste ou daquele indício indirecto.

Anacronias: analepse e prolepse. Diferentes formas de discordância entre a ordem da história e a da narrativa.

A narrativa isócrona, o nosso hipotético grau zero de referência seria, pois, uma narrativa de velocidade igual, sem acelerações nem abrandamentos, em que a relação duração da história / extensão da narrativa permanecesse constante.

Anisocronias – efeitos de ritmo (mudanças)

Movimentos narrativos. Os 2 extremos são a elipse e a pausa descritiva; os 2 intermédios, a “cena”, na maioria das vezes dialogada e o “sumário”, ou narrativa de forma abreviada.

Elipses: implícitas e explícitas.

Frequência narrativa: as relações de frequência entre narrativa e diegese:

- contar uma vez aquilo que se passou uma vez (forma singulativa)

- contar n vezes aquilo que se passou n vezes ( forma iterativa)

- contar n vezes aquilo que só se passou uma vez (forma hipotética, repetitiva)

- contar numa única vez aquilo que se passou n vezes forma iterativa)

 

Modos da narrativa

Narrativa de acontecimentos – transcrição do suposto não verbal em verbal

Narrativa de falas

 

Estados do discurso (pronunciado ou “interior”):

- discurso narrativizado ou contado

- discurso transposto, em estilo indirecto

- discurso relatado (reportado) de tipo dramático

 

 

Perspectiva / Ponto de vista

Interior

Exterior

Identidade do narrador

 

Acontecimentos analisados do interior

Acontecimentos observados do exterior

Narrador presente como personagem da acção

O herói conta a sua história

Uma testemunha conta a história do herói

Narrador ausente como personagem da acção

O autor analista ou omnisciente conta a história

O autor conta a história do exterior

 

A – Quem vê?

B – Quem fala?

 

Poétique 14, 1973

·         Philippe Lejeune, Le pacte autobiographique

·        Gerald Prince, Introduction à l’étude du narrataire.

 

Sinais que podem retratar o narratário

o   Enunciados onde o narrador o designa por palavras como leitor, ouvinte ou por locuções como meu caro, meu amigo.

o   Enunciados que lhe atribuem profissão, nacionalidade

o   Enunciados em que é designado por pronomes e formas verbais de 2ª pessoa

o   O pronome “nós” pode referir-se ao par narrador-narratário

o   Questão de retórica

o   Deícticos que remetem para um outro texto do conhecimento do narrador e do narratário

o   As comparações e analogias

o   “les surjustifications” – todo o narrador explica mais ou menos o mundo das suas personagens, motiva os seus actos, justifica os seus pensamentos. Se acontece que as suas explicações, as suas motivações se situam num plano da metalinguagem, da metarrativa, do metacomentário, são sobrejustificações.

·         João David Pinto Correia propõe as seguintes possibilidades narrativas

Episódios autobiográficos propriamente ditos (viveu) – narrador autodiegético

Episódios testemunhados (viu) – narrador homodiegético

Episódios apenas transmitidos (soube) – narrador heterodiegético.

 

Definição de AUTOBIOGRAFIA:

 

Récit rétrospectif en prose qu’une personne rélle fait de sa propre existence, lorsqu’elle met l’accent sur sa vie individuelle, en particulier, sur l’histoire de sa personnalité.

 

Esta definição joga com elementos pertencentes a 4 categorias diferentes:

 

1)      Forma de linguagem: récit; en prose

2)      Assunto tratado: vida individual, história de uma personalidade

3)      Situação do autor (cujo nome remete para uma pessoa real) e do narrador

4)      Posição do narrador: identificação do narrador e da personagem principal; perspectiva retrospectiva do récit.

É uma autobiografia toda a obra que preenche ao mesmo tempo as condições indicadas em cada uma das categorias. Os géneros vizinhos da autobiografia não preenchem todas estas condições:

- Memoria (2)

- Biografia (4a)

- Romance pessoal (3)

- Poema autobiográfico (1b)

- Jornal íntimo / diário (4b)

- Auto-retrato e ensaio (1a e 4b)




 

                A FRASE NO TEXTO

 

                Suporte principal: A Frase no texto. Algumas propostas de trabalho para a aula de língua materna, (p.227-234) Joaquim Fonseca, Linguística e Texto...

 

                a) O texto não é (...) tomado como objecto de uma reflexão ou de uma exploração que explicite apropriadamente a sua estruturação e o seu funcionamento na interacção comunicativa.

 

                b) As actividades de reflexão e de exploração dos produtos verbais (...) se não se circunscrevem já estritamente à imanência da frase como construção gramatical, raramente atingem o nível transfrástico e do texto.

 

                c) É tempo de, na didáctica da língua materna, se assumir o texto como unidade “originária” da interacção verbal...

 

                d) Na reflexão de índole linguística sobre o texto, uma tarefa se impõe de imediato: captar o que perfaz - e como se perfaz - a sua unidade semântica global e a sua relevância contextual. Realizando-se o texto numa sequência de frases, trata-se basicamente de indagar sobre o que garante a continuidade de sentido que ao mesmo tempo as percorre e as incorpora num complexo significativo unitário que funciona adequadamente numa dada situação de comunicação.

                Os grandes conceitos aglutinadores da reflexão parecem ser os de coerência / coesão global e de coerência / coesão local...

 

[1]  - COESÃO LEXICAL. Este processo de coesão opera por contiguidade semântica, isto é, as expressões linguísticas que entram numa relação de coesão lexical caracterizam-se pela co-presença de traços semânticos. Destacamos os seguintes processos de coesão lexical, definidos pelo tipo de contiguidade semântica entre expressões linguísticas:

 

REITERAÇÃO

 

 

SINONÍMIA

COSÃO LEXICAL

 

ANTONÍMIA

SUBSTITUIÇÃO

HIPERONÍMIA

 

 

HIPONÍMIA

 

A reiteração consiste na repetição de expressões linguísticas; a contiguidade semântica caracteriza-se, neste caso, pela identidade dos traços semânticos.

 

                A substituição pode efectuar-se por:

 

                 sinonímia

 

                 antonímia

 

                hiperonímia: a primeira expressão mantém com a segunda uma relação classe-elemento.

 

                hiponímia: a primeira expressão mantém com a segunda uma relação elemento-classe

 

                 [1] COERÊNCIA TEXTUAL

 

                A conectividade conceptual é um factor de textualidade que resulta da interacção entre os elementos cognitivos apresentados pelas ocorrências textuais e o nosso conhecimento do mundo. Assim, uma condição cognitiva sobre a coerência de um texto é a suposição da normalidade do(s) mundo(s) criado(s) por esse texto: um texto é coerente se os elementos / esquemas cognitivos activados pelas expressões linguísticas forem conformes àquilo que sabemos ser a estrutura dos estados, processos e eventos; as relações lógicas entre estados de coisas; as propriedades características dos objectos de um mundo “normal”.

 

                e) É necessário conduzir os alunos, por um lado, a captar as indicações que cada frase contextualizada fornece sobre o quadro enunciativo em que foi produzida -[enunciado] - e sobre o próprio desenvolvimento discursivo, e, por outro lado, a reconhecer e a explorar as articulações entre os produtos verbais e o referido universo de conhecimentos, crenças e valores envolvidos na configuração dos discursos e na produção do sentido.

 

                ® Algumas pistas de trabalho no que respeita às relações entre frases por que se realiza o texto:

 

·      Trata-se de encarar a frase como segmento particular de um todo em cuja configuração participa e do qual resultam incidências específicas no seu próprio desenho.

·      Trata-se de descobrir na gramática da frase dimensões da gramática do texto.

·      O que significa explorar as dimensões da formação do transfrástico:

1.    Os relatores - instrumentos de junção ou de combinação

2.    co-referência[1]

3.    cross-referência

4.    Arranjos internos na organização da frase

 

                Temos assim:

 

                1. A transformação de frases complexas numa sequência de frases sintacticamente independentes

 

                2. A transformação de frases sintacticamente independentes em frases complexas

 

Nada mais puro que a origem de um bom vinho.

Nada mais simples que a embalagem Tetra Pak.

Tetra Pak, a embalagem sem ar, mantém bom o que é bom. Nada mais, nada menos

Simples como todas as grandes invenções depois de longamente experimentadas.

Assim, mais do que uma embalagem, Tetra Pak é o sistema mais simples de levar até si qualidade de vida.

Afinal, é por razões bem simples que a embalagem Tetra Pak já faz parte do quotidiano alimentar de dez milhões de portugueses.

Sábado, 10 de Fevereiro de 1990

 

Este tipo de exercícios permitirá captar as condições de uso das várias classes ou sub-classes desses instrumentos de conexão.

 

                ® O estudo das relações inter-frases deverá dar ocasião a um tratamento particular do léxico

 

                3. Comente a construção do 1º parágrafo[2] do texto As Praias de Goa, nomeadamente a articulação lógica entre o primeiro e os restantes períodos.

 

                4. Atente no emprego da passiva no 2º parágrafo:

 

·      transforme o 1º período em frases simples, reescrevendo-o;

·      reflicta sobre as implicações, em termos de sentido, do recurso quer ao uso da activa quer da passiva.

 

               

·      Goa: As praias de Gama

 

      Talvez tenha sido Vasco da Gama, o descobridor português, o primeiro a vê-las com olhos de cá. Buscava nelas, por certo, mais o desembarcadouro, a conquista, o negócio que a Europa almejava nas Índias. Ter-lhe-ão passado ao largo a beleza dos sítios, os coqueiros alinhados, a areia fina que cinco séculos depois mobilizariam charters, turismo de massas em busca do exotismo possível. Goa fez-se um dos estados da Índia actual trilhando uma linha da História que a submeteu a vários poderes, lhe moldou o nome (em sânscrito Gove, Govapuri e Gomant, entre outras designações) durante séculos, caldeou as gentes.

    Retomado pela Índia em 1961, o território de Goa passaria pelo fogo lento da recolonização, o torna-viagem dos hindus afastados de uma sua parcela, templos dizimados pela expansão da fé cristã, língua estranha imposta. E cedo retomaria novos caminhos, diluindo o passado próximo nos enredos do passado, reassumindo uma cultura nova. Fez-se estado, em 1987, o hindi sobrepôs-se como língua oficial, o processo de crescimento do país encontrou aqui uma ponta de lança - e o turismo estava no pacote. Incontornável, como o mar azul, as areias finas, o sossego de paragens remotas. E um mundo soberbo à descoberta, com parques de vida selvagem, rios estranhos, monções para quem aprecie o jogo com as forças da natureza.

     Hoje está feita a esse novo estilo. A herança lusa é iniludível, há nomes que marcam tantos monumentos.

     A Velha Goa perdura, claro. É um conjunto arquitectónico sob a alçada do Archaelogical Survey of India (como a generalidade do património histórico), um acervo de brilho adormecido pela rotina dos circuitos turísticos - o culto foi levado com as populações que há dois séculos abandonaram o local na sequência de um surto epidémico. (...)

    Elsa Andrade,in Raízes - Laços e Língua, nº1

 

 

                5. A exploração de laços de tipo funcional

 

                6. Captar nexos entre as frases do texto sob o ponto de vista accional

 

                7. Explicitar as ligações implicitamente estabelecidas

 

·      CASA NA CHUVA

 

    A chuva, outra vez a chuva sobre  as oliveiras.

    Não sei porque voltou esta tarde

    se minha mãe já se foi embora

    já não vem à varanda para a ver cair

    já não levanta os olhos da costura

    para perguntar: ouves?

    Oiço, mãe, é outra vez a chuva,

    a chuva sobre o teu rosto.

    Eugénio de Andrade, Escrita da Terra

 

     O ENUNCIADO

 

               A matéria linguística é apenas uma parte do enunciado. Existe uma outra parte, não verbal que corresponde ao contexto da enunciação.

                O contexto de enunciação é composto:

                a) pelo horizonte comum: coordenadas espácio-temporais; objecto ou tema do enunciado (referente);

                b) a avaliação, isto é a relação dos locutores com o que se passa.

 

                A diferença entre enunciado e proposição, unidade de língua, consiste em que o primeiro é necessariamente produzido num contexto particular, que é sempre social, emquanto que a segunda não tem necessidade de contexto.

                O enunciado é dirigido a alguém.

                O próprio locutor é um já um ser social.

                Todo o enunciado pode ser considerado como fazendo parte de um diálogo.

 

                I

 

dinheiro / moedas /notas /capital

garotos / miúdos / putos

limpa-vias / limpa-calhas

toupeira / talpídeo / cava-terra / rato-cego

claridade / luz / raio / dia / noite / escuridão / negrume / lâmpada

casório / casamento / divórcio

esquina  / rua / passeio / bairro

macaco / maquinismo / primata / fato de ganga / finório / idiota

tesouro / erário / riqueza

freguesia / clientela / paróquia / subdivisão de um concelho

estrídulo / estridente / agudo / áspero /doce

exangue / esvaído / forte / pálido

pilastra / pilar (de quatro faces)

respiradouro  / resfolegadouro

pátina / oxidação / verdete

arroz / gramínea / rizicultura / orizicultura / orizícola / bagos / doce / grão / maná

palácio / casebre

 

                II

 

 

·      A três de Janeiro de 1564, o Papa Pio IV enviou um Breve ao rei D. Sebastião para lhe recomendar dois teólogos portugueses que, durante os trabalhos do Concílio de Trento, prestaram um valioso contributo  para a obra reformadora da Igreja. Um era D. Jorge d’Ataíde, nomeado depois bispo de Viseu, e o outro o Dr. Diogo Paiva de Andrade. Paiva de Andrade notabilizou-se ao defender, em pleno Concílio, a legitimidade do matrimónio dos padres, conforme refere monsenhor José de Castro em “Portugal no Concílio de Trento”: No dia 22 de Maio de 1563, os teólogos terminaram o estudo dos artigos sobre o Matrimónio. Diogo de Paiva de Andrade já tinha falado sobre outros artigos. Contudo, por causa da sua erudição e engenho aprouve aos senhores Legados que, de novo, falasse sobre o casamento dos clérigos, e o seu discurso satisfez maravilhosamente a todos.”

      Sábado, 28 de Setembro de 1990

 

·      13 de Agosto de 1989

 

      Sinceramente ignoro o que a minha mãe via na criatura mas quando estava a morrer foi a ela que chamou, não a mim, a ela que pediu ajuda para encontrar o ar que faltava segurando-lhe a mão, e agora imagine-se a minha figura, o padre às voltas no quarto com as rezas e as benzeduras e em lugar da filha dava com uma bailunda de sandálias de plástico armada em parente à cabeceira da cama, eu empurrada para um canto como ferro-velho junto ao pateta do meu marido, um verbo de encher a que ninguém de bom senso dava atenção, imagine-se a vergonha do quadro, a ingrata da minha mãe trocando a dedicação da família pela criada, trocando-me diante de toda a gente por uma mulherzinha de senzala

     (e se me troca por uma mulherzinha de senzala o que sou eu afinal?)

     Lobo Antunes, O Esplendor de Portugal, p. 227.

      

·      As armas e os barões assinalados

Que, da Ocidental praia lusitana,

Por mares nunca de antes navegados,

Passaram ainda além da Taprobana,

Em perigos e guerras esforçados

Mais do que prometia a força humana,

E entre gente remota edificaram

Novo Reino, que tanto sublimaram;

 

E também as memórias gloriosas

Daqueles reis que foram dilatando

a Fé, o Império, e as terras viciosas

De África e de Ásia andaram devastando;

E aqueles que por obras valerosas

Se vão da lei da morte libertando:

- Cantando espalharei por toda a parte,

Se a tanto me ajudar o engenho e a arte.

 

Cessem do sábio Grego e do Troiano

As navegações grandes que fizem;

Cale-se de Alexandro e de Trajano

A fama das vitórias que tiveram;

Que eu canto o peito ilustre Lusitano

A quem Neptuno e Marte obedeceram.

Cesse tudo o que a Musa antiga canta,

Que outro valor mais alto se alevanta.

Luís de Camões, Os Lusíadas, Proposição

 

       A verosimilhança 

consiste numa relação com a realidade. De Platão a Aristóteles, a verosimilhança é a relação pertinente com outro texto, geral e difuso da opinião pública. Para os clássicos franceses, a comédia tem a sua própria verosimilhança, diferente da tragédia; há tantas verosimilhanças quantos os géneros, e as duas noções tendem a identificar-se. Atualmente, fala-se de verosimilhança de uma obra na medida em que esta tenta fazer-nos crer que ela está de acordo com o real e não com as suas próprias leis. Introduction au Vraisemblable, Tzevetan Todorov)


Quem se lembra de  D. Nicolau Água-rosada, de José Eduardo Agualusa?

1. A inacreditável,  mas verdadeira história – paradoxo.
2. Boletim oficial de 25 de Março de 1857: fonte concreta, anónima e difusa; relato não confirmado.
3. Estranhos prodígios / incomum vivacidade.
4. Fundamentação científica do fenómeno feita por Jácome Ulisses Filho.
5. Situações hipnóticas. Afastamento do real – da hipnose à prestidigitação.
6. O prestidigitador torna-se cientista aos olhos de Nicolau Água-Rosada e Sardónia, príncipe do Congo, filho de Henrique II.
7. Um brilho de inusitado interesse surgira nos olhos do brasileiro.
8. O jovem príncipe conta a sua própria história.
9. Desenraizamento provocado pela educação em Lisboa – consequência.
10. O seu destino cruzou-se irremediavelmente com o professor Jácome Filho.
11. Nicolau odiado pela sua gente.
12. Jácome Filho parecia particularmente interessado em saber o que Nicolau pensava dos ideais autonomistas.
13. Repetição do espectáculo oito dias mais tarde para um público seleccionado – domingo.
14. Tradição em Bungo Housa.
15. Timidez superada pela atitude do dono da casa
16. Número prodigioso – uma das meninas adormecida vogou até ao teto.
17. «tivesse a curiosa experiência sido realizada ao ar livre e a jovem estaria hoje a navegar entre as estrelas…» … aponta o destino de Nicolau com que termina a estória - «contra a lua imensa, redonda e branca como uma moeda de prata, recortava-se frágil a silhueta de um homem…» 

(Nada parece fazer sentido a esta distância. No entanto, nos infernos talvez seja sombra...)

 



[1]  - “ Uma das condições a que um texto deve obedecer para constituir uma unidade semântica é a de assinalar, através da utilização de formas linguísticas apropriadas, que os objectos designados por uma dada expressão são introduzidos pela primeira vez no texto, já foram mencionados no discurso anterior, se situam no espaço físico perceptível pelo LOC e / ou pelo ALOC, existem como objectos únicos na memória do LOC e / ou do ALOC, ... Chamamos a esta condição COESÃO REFERENCIAL... Existe referência sempre que, numa situação concreta de comunicação, um dado objecto é levado ao conhecimento do ALOC, pela primeira vez nessa situação, através de uma dada instrução linguística formulada pelo LOC. A forma dessa instrução varia em função do conhecimento que o LOC tem - e pressupõe que o ALOC tenha - do referido objecto.

    Quando um ou mais fragmentos textuais (b, c, d,...) são interpretados como idênticos, do ponto de vista referencial, a um dado fragmento textual a, presente no discurso anterior ou subsequente, diz-se que são co-referentes: O João¢ feriu-se¢ com o abre-latas; O Luís disse à Maria¢ que esperava por ela¢ no café.

    Mª Helena Mira Mateus et alii - Gramática da Língua Portuguesa, p. 143 a 145.

[2]  - Oração - Período - Parágrafo

     Período é a frase organizada em oração ou orações.

     São termos essenciais da oração o sujeito e o predicado.

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Marcadores discursivos (Gramática de Português, Análise do discurso, retórica, pragmática e linguística textual, Porto editora)

Conectores

aditivos

e, adicionalmente, ainda, além disso, igualmente, também, de novo, pela mesma razão, do mesmo modo, inclusive…

consecutivos (causa / consequência

assim, consequentemente, daí, então; logo, pois, assim pois; deste modo, em consequência, portanto; por esta razão, por conseguinte, por isso…

contra-argumentativos ( contrastivos e concessivos

mas, contrariamente, já, ora, agora; em vez de, por oposição, pelo contrário, antes pelo contrário; contudo, todavia, no entanto, ainda assim, mesmo assim, apesar de…

Estruturadores da Informação

organizadores / enumerativos

em primeiro lugar / em segundo lugar; por uma parte / por outra parte; por um lado / por outro lado…; por último, em último lugar, por fim…antes, durante, enquanto, entretanto, então, logo, após, depois, em seguida, seguidamente…

comentadores /de digressão (com comentário para nova informação ou comentário lateral)

pois, pois bem, a propósito, por certo, de outra maneira…

Reformuladores

explicativo ( ou de explicitação-particularização)

isto é, ou seja, quer dizer, a saber; especificamente, em especial, em particular, nomeadamente; por exemplo…

de rectificação (ou de contraste substitutivo)

mais precisamente, ou melhor, por outras palavras, mais correctamente…

de distanciamento

em qualquer caso, em todo o caso, de todas as maneiras, de qualquer maneira…

de síntese ( ou recapitulativos)

assim, em conclusão, em resumo, em síntese, em suma, em definitivo, ao fim e ao cabo…

 




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