12.12.11

A dívida

Segundo o presidente da Câmara de Montalegre, Fernando Rodrigues, o município vai virar o ano sem dívidas e com dinheiro «em caixa» para 2012.

Feito extraordinário na atual conjuntura. Só é pena que alguém possa pensar que este município seja um dos mais pobres do país!

A não ser que a riqueza de uma autarquia (ou de um país) se meça pela capacidade de se endividar, nesse caso a satisfação de Fernando Rodrigues não passaria de um sintoma de infantilidade.

Por mim, penso que, no próximo 10 de Junho, o presidente Cavaco Silva deveria condecorar todos os presidentes de câmara cujos municípios virassem o ano sem dívidas.

10.12.11

Em Marvila, na Igreja de Santo Agostinho


Às 16 horas, na Igreja de Santo Agostinho, em Marvila, Ana Paula Russo (canto) e Carlos Gutkin (guitarra) interpretaram, com rigor e virtuosismo, canções populares e tradicionais de natal e espirituais negros. 
A talha dourava o templo; os (in)fiéis respeitosamente batiam palmas.. Só os quadros, desbotados, escondiam as cenas que, outrora, empolgavam os devotos.
O sol, a espaços, espreitava pelas janelas, mas, envergonhado, cedeu o lugar às lâmpadas estrategicamente colocadas...
Enquanto tudo decorria, eu ia meditando na inutilidade dos armazéns que se foram acumulando e empurrando a igreja de Santo Agostinho para a linha de caminho de ferro...
Provavelmente, nada do que acabo de escrever se verifica nesta malfadada Lisboa!Traído pelas sensações, invento quadros grotescos em vez de exaltar a lucidez que nos governa, apesar de Lúcifer.



8.12.11

Olhar distorcido

Estará a realidade distorcida ou sou eu que a vejo distorcida? Doravante, a dúvida fará parte da minha abordagem do quotidiano. Do quotidiano mesmo e já não da vida! O todo esgarça-se nos detalhes e o esforço para os reunir cansa até a percepção se diluir em sons sobrepostos que enlouquecem.

Terá a catedral ganho uma nova fachada ou apenas terá sido escondida por um arquiteto agnóstico?

Se os sinos tocassem, as vidraças deveriam estilhaçar-se!

7.12.11

“A dívida dos pequenos países é eterna.”

Afinal, Sócrates sabia o que fazia! Aprendera que os países não devem pagar as dívidas. Quem lho terá ensinado? – Os professores, certamente!

Assim se vê que um sistema educativo permissivo dá muito maus frutos. E há por aí tantos alunos mal aconselhados!

5.12.11

Sugestão…

Este ano, espero que o senhor presidente Cavaco promova a apanha dos cogumelos que certamente crescem nos jardins de Belém para que nenhum filho dos funcionários do Palácio fique sem uma prenda de Natal.

Ouvi-lo queixar-se da austeridade palaciana incomoda-me porque, de imediato, me faz pensar na tristeza da dona Maria que, apesar dos seus presépios, não difere muito da da minha avó Vitória que, para oferecer um rebuçado aos netos, tinha que consultar o marido e senhor.

Com um pouco de sorte, este ano, se seguir o meu conselho, o senhor presidente ainda poderá mandar servir uma sopinha de cogumelos. Porque para o ano…

3.12.11

Se me sentasse naquele banco…

Se me sentasse naquele banco, ficaria de costas para o lugar onde, dizem, vi a luz do dia. Considerando o tempo já passado, a disposição é a mais adequada, pois esse tempo está cada vez mais distante. O lugar ali está, embora desativado… Já ninguém ali nasce! Nem sei mesmo onde é que hoje é suposto nascer! E sobretudo que eu saiba ninguém ali segue a regra do Carmo

Sintomaticamente, se me sentasse naquele banco, continuaria a ver, como no primeiro dia, o quartel cuja origem remonta a 1806, o Regimento de Cavalaria nº 3, também ele desativado…

Embora, por segundos, tivesse pensado em subir a rampa e sentar-me ali de costas para o tempo já passado, não o fiz, não fosse a cavalaria carregar sobre mim.

Mas, deveras, o banco, em frente da igreja do Carmo, lembra-me um certo tempo de austeridade, de trabalho e de silêncio e tão intensa é essa presença que já não estou certo que aquele banco esteja de costas para o tempo já passado…

1.12.11

O feriado do 1º de Dezembro

Um estado laico e soberano jamais abdicaria de um feriado cujo simbolismo é identitário. Farisaicamente, o mesmo estado cede à Igreja Católica o 8 de Dezembro, como se todos os portugueses prestassem culto à padroeira bragantina…

O estado laico não deveria imiscuir-se nas questões de fé, favorecendo uma igreja e tolerando ou ignorando as restantes.

Ao estado, apenas, compete definir os feriados que celebrem os momentos (re)fundadores da nação. E eles não são assim tantos!