29.8.12

A picota de Montalegre

Esta picota (pelourinho) de Montalegre surge aqui para lembrar que há tradições que valeria a pena repor. Se voltássemos  a expor à vergonha pública todos aqueles que diariamente nos roubam, nos agridem, nos atraiçoam e nos aviltam não estaríamos, agora, sob a canga dos credores predadores.

Em nome do bom senso, tornámos a picota inútil, deixámo-la ao abandono nas praças, sem perceber que caíamos nas mãos dos falsos liberais que nos desgovernam.

E a propósito, quanto é que estamos a pagar por todos os pavilhões multiusos que foram sendo construídos nos últimos 25 anos?  

26.8.12

Ao lado da N103

Penedones (Chã – Montalegre). Pena de Donas (1258).Trata-se de um agregado que pertenceu a donas (freiras). Um agregado em que a pedra arrancada à serra continua a dominar a paisagem, em frente da albufeira do Rabagão.
No centro do lugar, não falta o templo de deus, no caso, talvez fosse mais adequado designá-lo como templo das donas que, de verdade, não vi em lado nenhum, tal como não vislumbrei os bois do Barroso, a não ser nas placas toponímicas… dos últimos, claro está! E como aparentemente nada acontece, vale a pena fixar os acontecimentos do dia: uma águia e um casamento, mesmo sem registo de ambos, tal como já acontecera com as donas…
Enfim, com tudo isto não quero rivalizar com A Barra do meu amigo António Souto. Mas como diz um meu outro amigo, é tudo uma questão de água: há quem prefira a salgada, eu prefiro a doce…

25.8.12

Depois da chuva…


Depois da chuva o lugar revela-se fantástico. Para quem procure o isolamento, não há melhor! A internet liga-nos por segundos descontinuados ao mundo. A rádio vende-nos os produtos locais, a começar pelo encontro anual de Vilar de Perdizes. Começa na próxima 5ªfeira. Quanto a jornais nem cheirá-los e a única televisão que enxergo está sempre desligada. Sós dois amáveis cães, de que desconheço a raça, me impediram de seguir caminho. Bem hajam!

23.8.12

Vilar da Veiga…





Um lugarejo que não chega a sê-lo ou melhor que não está à altura da paisagem natural. Em Agosto, uma paisagem humana, constituída por emigrantes de segunda e terceira geração, assalta as margens rodoviárias e fluviais, deixando um rasto de combustíveis fósseis e de degeneração linguística. As famílias, em automóveis de elevada cilindrada, exibem-se, convencidas que Vilar da Veiga em nada fica atrás das estâncias turísticas alpinas…

E talvez tenham alguma razão! No entanto, o estado e os empreendedores nacionais continuam a procurar o «eldorado» bem longe, desprezando o que a natureza nos vai oferecendo.

Na minha memória, entretanto, vai permanecer uma paragem de autocarro colocada diante de uma passadeira que deve ter equivocado o motorista, pois apesar de por ali passar três minutos antes da hora prevista, deixou três passageiros «pendurados» à espera do autocarro seguinte… Claro que uma hora mais tarde percebi que o senhor motorista estava em fim de turno e quanto mais cedo estacionasse o veículo à porta de casa, melhor!

Diga-se, de passagem,  que nunca percebi por que motivo, seja no Gerês seja em qualquer outra localidade, os motoristas de transportes públicos podem estacionar os autocarros à porta de casa…

22.8.12

De Aguada de Baixo a Viana do Castelo

Tudo indicava que o sol entrara em greve! De Aguada de Baixo a Viana do Castelo, só os portais eletrónicos  brilhavam: o automobilista nem tinha tempo para somar as vezes que lhe cobravam a passagem. Uma mina! E ainda se queixam que têm prejuízo!

Viana labiríntica mostrou-me a pedra escura da praia da Areosa, a pretexto de uma bica breve na esplanada que, afinal, serviria para conhecer meia dúzia de entusiastas da arte cinematográfica, em rodagem sobre o desaproveitamento de uma geração. Sem meios, confessam-se independentes! Fiquei a pensar no dia em que Antero exigira a António Feliciano Castilho que o deixasse ser independente, ser livre. Mas não deve ser a mesma coisa…

O Márcio Laranjeira era um desses entusiastas! Pareceu-me um desses seres cosmopolitas que se enganara no lugar e que insiste em andar por cá, qual outro Laranjeira ironicamente desesperado! E a Mariana, que em nada se assemelha à Mariana de Camilo, mais fina e, sobretudo, pareceu-me mais silenciosa, embora comedida…

O quadro deu-me que pensar, como se vê, sobre a facilidade com que se fala em terras de Viana: do iodo, do Bom Jesus, das touradas só para encornar os vianenses, da pronúncia do norte… e eu  a pensar que por uma razão que me escapa nunca consigo que o meu velho GPS consiga registar a vila do Gerês. A pensar nas consequências, com o gasóleo sempre a aumentar e o ordenado a diminuir. Sem subsídio de férias nem subsídio de refeição, lá acabei por zarpar para Terras do Bouro. Claro que o GPS só atrapalhou, o rio Caldo continua lotado como se todos tivessem subsídio de férias e subsídio de refeição, e o Vidoeiro também a abarrotar por motivos bem diferentes…

E a noite chegou, já com mossa, para aprender a ficar em casa!    

20.8.12

Aguada de Baixo–Águeda

Para chegar é preciso ter alguma paciência, mas vale a pena! Recomenda-se a quem procure repouso longe do bulício da cidade e da praia. Quanto a alimentação, se não gostar de procurar ou chegar ao domingo ou em dia feriado, avie-se pelo caminho.
Entretanto, os caminhos trilhados vão-nos explicando para onde foram os euros que, agora, tanta falta nos fazem: para além das estradas e das rotundas, os portugueses pelam-se por quartéis de bombeiros, centros de saúde, bibliotecas, pavilhões desportivos.
Os equipamentos multiplicam-se apesar da carência de utilizadores.
A «desmedida» é seguramente a palavra que melhor nos define. Que Nossa Senhora da Memória nos ajude!
MCG

15.8.12

A Palmeira


Chegou a hora de reinventar o passado. Não o que foi, mas o que resta…
Para chegar à casa, M. tinha que passar pela palmeira. Daquela palmeira avistava-se sobre o lado direito uma casa térrea. Donde é que aquela palmeira teria saído, se não se vislumbrava nenhum palmar entre vinhas, olivais e figueirais? Saía de casa e logo os olhos se fixavam naquela inesperada presença. Aquela fixação, ao contrário do que seria de esperar, não fazia sonhar. Era uma presença muda que ajudava a delimitar o caminho de pedra maltratada e que, quando as chuvas desabavam, assistia à transformação da rua em rio de lama. Para além da pedra e da lama, erguia-se, majestosa, a palmeira. Ainda, hoje, por lá continua…
Aquele pedaço de caminho que separava a casa da palmeira foi durante dez anos a aldeia de M.
Para lá da palmeira, a rua estava assombrada: havia cabras noturnas que devoravam os parcos canteiros de flores, havia cães que ganiam sem parar e, sobretudo, havia a violência das palavras grosseiras que fendiam os tímpanos de M. Essas palavras ainda hoje ecoam na mente de M. Talvez se possa admitir que ainda o assombram.
De facto não são só as palavras que ecoam… há também gritos. E em particular, tosses ininterruptas que atravessam o tempo e se repetem…