15.9.12

O alvo errado

Enquanto o povo, indignado, se manifesta nas principais cidades do país, mais de 35 grão-mestres das maçonarias regulares de vários países estão em Portugal.
O primeiro revela o seu objetivo, os segundos escondem-no. O primeiro luta contra a precariedade, os segundos vivem da precariedade do primeiro.
À TROIKA, o povo pouco importa! A TROIKA defende os interesses dos credores. E a TROIKA não se encontra no 57, Avenida da República, Lisboa

A esta hora, a nossa atenção centra-se no movimento dos indignados, mas quem nos governa são, entre outras sociedades mais ou menos secretas, os 35 grão-mestres das maçonarias regulares..., por muito que a maçonaria insista que se rege pelo valor da fraternidade.

Há séculos que escolhemos o alvo errado. Porquê?
E o caminho começa por aprender a viver sem necessitar de credores. E continua por julgar quem não nos revela a verdadeira origem e extensão da dívida. E termina pela assunção dos erros.

E por muito que nos custe os responsáveis são muito mais do que aqueles que vamos apontando a dedo.



11.9.12

Matizes e o azul


Entre o palácio e os pastéis de Belém mora o azul. Olho à direita, ao centro e à esquerda, e noto uma pequena nuance (matiz). Ao analisar a diferença, percebo que o azul mais apelativo ocupa o lugar principal. O azul da direita e da esquerda reconhece a centralidade, parecendo prestar vassalagem à presença estrangeira.
Se quiser ser rigoroso, ainda devo registar que o azul também se mostra na varanda superior, mas sem a mesma força que o do rés-de-chão.
E tudo sobre um fundo cor de rosa, em que talvez seja possível circular internamente entre a CGD  o Deustche Bank e a CGD.
No fundo, esta digressão não interessa a ninguém, apesar de todo este azul poder significar  que a vassalagem se expressa por insignificantes matizes. 
Quanto ao inquilino do palácio, não sei se ele aprecia o azul, e até posso supor que o azul mais carregado ali foi colocado para lhe lembrar a nulidade do seu poder.
Confesso, no entanto, que, hoje, escrevo sobre o azul para evitar falar dos dois temas que se me foram impondo ao longo do dia: a) os inadaptados, os degenerados, os hipersensíveis ( Nobre, Pessanha, Espanca, Mário Sá-Carneiro, Pessoa); as medidas da TROIKA liturgicamente apresentadas pelo sátrapa Gaspar.
/MCG

8.9.12

A agência da morte


No olho, surge o fruto. A flor já desapareceu e, em termos de futuro, nada parece acontecer. Fica apenas o efeito raramente apreciado por quem por perto passa.
Ontem, sob a anestesia do futebol, o primeiro ministro anunciou ao país que continua a dizer a verdade e que preza a transparência mesmo que o fruto das suas palavras traga o desespero e a morte. Há pelo menos uma agência que ele poderia criar: a agência da morte.
Essa agência deveria publicar semanalmente um boletim que nos dissesse quantos portugueses morreram na semana anterior e quais as causas desse esperado (inesperado) desaparecimento. Esta agência teria a virtude de gerar algum emprego e, de imediato, abrir concurso para substituir os falecidos. Asseguro que ela criaria mais emprego que a redução da taxa social única às empresas.
Entretanto, gostei de ouvir o senhor primeiro ministro afirmar que as medidas tomadas resultaram de um acordo, embora não tenha dito com quem. Um jovem turco da coligação terá dado a entender que o acordo fora alcançado entre os parceiros do governo, mas eu suspeito que não houve acordo nenhum. As medidas terão sido impostas pela TROIKA! Sem elas, a palmeira secava!
Para quem já viu um coelho ser enfeitiçado por uma cobra num terreno relvado ou árido, as palavras do senhor primeiro ministro não me surpreendem. O que me surpreende é que tanta gente inteligente lhe dê ouvidos e o absolva, sobretudo quando insistem em que todo mal foi feito até abril de 2011.

6.9.12

Não sei se...

Ontem, alguém que diariamente se confronta com os efeitos das novas aplicações informáticas, dos novos códigos, das novas decisões, perguntava-me se ninguém protesta, se ninguém se opõe... e prometia-me escrever um livro a denunciar como vamos sendo despojados dos direitos mais elementares.
Passadas algumas horas, dei comigo a pensar que Aquilino Ribeiro mostra na sua obra como os povos das serras e do interior iam perdendo o direito à partilha de baldios, logradouros e até dos adros das igrejas. Aqueles povos foram perdendo o espírito comunitário e, com o tempo, foram atirados para o isolamento. Hoje, as escolas, as capelas, as fontes, tudo fecha e as crianças são enviadas para longe, tal como os pais são convidados a partir para o estrangeiro...
Para os que insistem em ficar, o futuro passou a estar à distância de um clic de validação. Se o cidadão falhar fica fora do concurso sem apelo nem agravo. Se quiser reclamar, os burocratas encarregam-se de informaticamente tornar o processo tão complexo que mais vale desistir... Por outro lado, as leis mudam como cata-ventos e ainda por cima geram códigos obscuros que são aplicados discricionariamente, atrasando a decisão, de modo as que uns arguidos apodreçam nas cadeias e outrem usufruam de eterna liberdade.
Num tempo em que o pastel de nata vendido no bar de uma escola passou a ser vigiado (ai dele se ultrapassa os 80 (?) gramas!) outros fazem e desfazem sem prestar contas a ninguém, pondo em causa a saúde, a segurança e a paz de espírito de quem se habituou a cumprir e, sobretudo, a servir a comunidade...
Não sei se fale, se cale! 

4.9.12

Apesar de tudo



Apesar de tudo, ainda há sinais de futuro. Basta estar atento e apostar na vida!

Vivemos numa sociedade que multiplica os sinais de morte, que convida à desistência ou, pelo menos, à indiferença. E esse decadentismo é tão forte que aprendemos ( e ensinamos) a elogiar aqueles que antecipam «o fim», sem perceber que esta categoria da realidade não é absoluta.

2.9.12

Caminhos…

Léon Bloy par lui-même

S. Paulo: « Nous voyons toutes choses dans un miroir.»

Tudo me surpreende desde o autorretrato de Léon Bloy (1846-1917) até ao título da obra panfletária “Belluaires et Porchers”, para cuja tradução proponho “Gladiadores e Porqueiros” o que talvez possa cativar algum leitor mais faminto…

Traduzir esta obra é uma aventura condenada ao fracasso tal é a violência da palavra escolhida, da imaginação verbal do autor, capaz de conciliar o inconciliável num universo em que dominava o antissemitismo, o dinheiro, o colonialismo.. o espírito burguês hipócrita e acomodado.

À medida que leio Belluaires… pressinto que por detrás se encontra um homem zangado, e por isso volto ao início dos capítulos à espera que cada palavra ilumine o motivo, esclareça a traição.

Atravesso as páginas, recuo e avanço, penso em desistir, até que percebo que para Léon Bloy o anúncio da morte de Deus era um´anátema e que, visceralmente católico, condena todos aqueles que se arvoram como pilares da igreja… uma igreja que ignora o Paul Verlaine, autor de SAGESSE (1881)… o único POETA CRISTÃO.

O olhar fixo num espelho feito de símbolos, L. Bloy, manipula a língua como se a palavra fosse o único caminho para a conversão, de comunhão… e por isso tantos se deixaram persuadir: Alfred Jarry, Louis Ferdinand Céline, George Bernanos, Marc- Edouard Nabe…

No que me diz respeito, continuo surpreendido pelo olhar daquele que, medíocre aluno, medíocre empregado, desejou um dia ser pintor, tendo alternado entre o misticismo e a revolta, mergulhado na pobreza extrema, por vezes classificado como anarquista de direita, mas que, no essencial, recusava o fenecer das almas.

E essa não deixa de ser uma questão central!

1.9.12

O regresso da TROIKA

Depois dos banhos, o regresso à terra. A TROIKA voltou para cobrar o que nos emprestou, independentemente do empobrecimento geral ou, mesmo, da fome.

A escola perde professores e irá perder alunos. A saúde tem menos utentes e o país ficará cada vez mais doente.

Tudo envelhece fora de tempo, exceto a Serra do Barroso que, descabelada, espera que a chuva regresse…

Eu espero pelo Dilúvio!