7.12.12

O retorno (romance)

O retorno, de Dulce Maria Cardoso, Tinta-da-China, 2012
Este romance, narrado por um adolescente nascido em Angola e obrigado a abandonar o território pouco tempo antes do 11 de novembro de 1975, dá voz àqueles que, afinal, não podem perdoar o modo como o 25 de Abril acelerou a independência das «províncias ultramarinas».
De um lado, muitos portugueses africanos, do outro lado, uma ideologia contrária ao colonialismo, mas que atira os novos países para as mãos das novas hegemonias - dos Estados Unidos à Rússia, passando pelo China.
Despojados dos bens, esses «portugueses de segunda» desaparecem simplesmente às mãos da vendetta ou acabam por ser colocados em Lisboa e entregues ao IARN que os encaminha para pensões, hotéis, parques de campismo...
Neste romance, a família do Rui é alojada no quarto 315 de um hotel de 5 estrelas no Estoril, onde espera ansiosamente o retorno do Pai que ficara retido pelas tropas de um dos movimentos de libertação. Dois adolescentes - um rapaz e uma rapariga - vivem, cada um à sua maneira, os novos sinais de discriminação na escola e no relacionamento social e, sobretudo, os efeitos do comportamento depressivo da mãe.
O hotel, repleto de retornados, é um espaço concentracionário, onde se vão revelando as queixas e as taras de um povo pouco solidário consigo próprio. A maioria destes «portugueses de segunda» , em muitos casos, nada conhecia da metrópole. Uma metrópole que não estava à altura de colónias como Angola e Moçambique, e por isso o objetivo era partir para a América, sem acreditar que um dia seria possível voltar a África!  

4.12.12

Testemunho

Há anos passei por um colégio prestigiado em que o diretor condicionava as classificações que os professores atribuiam honestamente aos seus alunos. Esse diretor fazia subir as notas, recorrendo a uma estratégia de natureza pedagógico-didática. Para fundamentar a classificação atribuída, o professor era obrigado a apresentar, em conselho de turma, os planos de recuperação escritos... Caso o não pudesse fazer de imediato, a subida era automática... Como último recurso, esse diretor recorria ao corte das horas extraordinárias que, à época, eram fundamentais para completar o sofrível vencimento de base.
 
Ontem, percebi que é possível os diretores (proprietários) utilizarem os mesmos argumentos para fazer descer as classificações, de modo a eliminar os alunos com maiores dificuldades de aprendizagem.
 
Há, contudo, uma diferença fundamental: no 1º caso, o colégio privado vivia das receitas resultantes do pagamento feito pelos pais; no caso atual, estes colégios vivem de receitas resultantes de transferências diretas do orçamento geral do estado e competem diretamente com a escola pública, deixando-lhe as sobras...
                                        sem esquecer que, pela amostra revelada na TVI, quem dirige estes estabelecimentos aproveitou a passagem pelo poder para montar este negócio fraudulento.

Dia XLV

www.vidaslusofonas.pt/antero_de_quental.htm
Ainda anoto este link, e fico-me por aqui, num dia sem sol e sem mar, a recordar aquele orientador de estágio, Alberto Sampaio, que, no início dos anos 80, teve a coragem de me dizer que eu andava «atirar pérolas a porcos» ao querer que os alunos dessa época entendessem a poesia de Antero.
E como a austeridade é a norma, a partir de hoje, qualquer nota que venha a tirar sobre a sala de aula passará a estar disponível no blog CARUMA - http://cabeleiragomes.blogspot.pt/
   

3.12.12

Sem tato

Sem tato, sem teto, entre ruínas, mas em contacto...
Este acordo é, para mim, um desatino!
Pior, no entanto, é o memorando!
Abjeto, execrando...

Dia XLIV

- A turma A fez teste. Aparentemente, os alunos não tiveram grandes dificuldades em resolver a prova.
- A turma J recebeu os testes classificados. A correção foi morosa. Primeiro: a maioria deixou o enunciado em casa, no cacifo... Segundo: não vi dos que obtiveram resultados mais fracos, qualquer preocupação em tirar notas.
A dispersão foi regra. A sala de aula parece um espaço recreativo!
O melhor será seguir a doutrina do Pregador e tornar-me o Clarão do Céu, porque o mundo prefere os sentidos à razão, isto é, o grito ao arrazoado, considerando os exemplos: Cristo, Batista, Pilatos e Isaías.
 
 

2.12.12

O humor de dezembro

Agora que entrámos em Dezembro, espero ansiosamente que ele chegue ao fim! O 10º mês do Calendário Romano tem a virtude de me fazer acreditar que o próximo mês será o de Março.
Nessa data já a TROIKA terá feito mais uma avaliação, a primeira, verdadeiramente, positiva, pois, entretanto, nada teremos gasto durante o hiato.
Nessa data, já o Governo terá decidido o fim do serviço nacional de saúde, o fim da escola pública, o fim dos pensionistas e reformados... e eu não terei que tomar qualquer decisão sobre o meu futuro.
Nessa data, já não haverá qualquer dúvida: estarei aposentado sem pensão ou, em alternativa, continuarei empregado, mas sem escola...
Quanto aos alunos, se não tiverem morrido à fome, deixarão, finalmente, de se preocupar em fazer gazeta...  
A propósito de humor de dezembro, reproduzo, com a devida vénia, a História Trágico-Marítima, de Vieira da Silva, 1944. A ver n'As Idades do Mar, Fundação Calouste Gulbenkian.

 

Interlúdio XIV

Serve a nota para dizer que no segundo teste de Literatura o aproveitamento foi medíocre. A culpa é certamente do docente!
Há, no entanto, aspetos negativos que vale a pena destacar. Onze anos depois, certos alunos continuam sem a noção do que significa compor um texto: faltam as noções de introdução, desenvolvimento e conclusão; as conexões são aleatórias e as conjunções utilizadas arbitrariamente; os sinais de pontuação, semeados ao desbarato... Em termos de interpretação, há quem responde ignorando o texto transcrito para análise. É como se ele lá não estivesse!
Por seu turno, a superficialidade na abordagem dos textos (e dos temas) revela a atitude perante a disciplina e, mais grave, perante a vida!
De qualquer modo, vou continuar a remar! Ainda há por ali umas pepitas!
Quanto ao PIL, vamos ver se a turma acorda. Apenas duas alunas fizeram a apresentação oral!