7.7.13

Deslumbrados


Nesta rua, o calor seca as esplanadas, os restaurantes perdem o vigor; o vento deixou de soprar… Uma cor refulge, no entanto, a lembrar que a importação pode alegrar o olhar, mas acaba por destruir a genuinidade.
Deslumbrados com as soluções externas, perdemos o vigor e a cor, e deixamos que o calor nos seque as fontes…

6.7.13

A cena repete-se

Há dois anos, Sócrates, tendo ao lado Teixeira dos Santos em constrangido silêncio, anunciava que deixara de ter condições para governar...
Hoje, Passos Coelho, tendo ao lado Paulo Portas em constrangido silêncio, anuncia que volta a ter condições para governar...
Apesar da esperança do último tandem, a imagem não engana: a vitória será efémera, mesmo que, nos próximos dias, o presidente da república lhes estenda a passadeira laranja...
O mais grave é que a cena repete-se há uma década e já nos habituámos a viver assim, não percebendo que cada desistência, que cada demissão, que cada fuga, que cada cambalhota arruínam irremediavelmente o país.
E este laxismo vai alastrando. Na hora de legitimar a solução, o presidente da república atrasa-a...
 
 
 
 

5.7.13

Sem futuro...

Apesar do tema interessar a pouca gente, insisto que de nada serve viver no «mundo dos acontecimentos ocorridos». O sucesso dos folhetins (das narrativas em geral) resulta de um acerto e/ou branqueamento de contas desnecessário.
Ultimamente, a narrativa política, sob a forma epistolar, radiofónica e televisiva, passou a estar na moda. De repente, todos sentem necessidade de reescrever a História para que ela, de tão desacreditada, não se esqueça deles.
E esta tendência para nos deixarmos prender "aos acontecimentos passados" (M. Bakhtine) resulta de uma má gestão do tempo pessoal e político.
Acabo de ouvir que os partidos da coligação já entregaram ao presidente da república a solução para os problemas que até há dias não queriam enfrentar ou que preferiam adiar. Em princípio essa solução só pode estar orientada para o futuro e, em particular, para o atalhar da penalização que nos é aplicada pelos mercados... Em termos de presente e de futuro, o que deveria estar a acontecer era a remodelação do governo, com a tomada de posse dos novos ministros ou, em alternativa, a dissolução da assembleia da república...
Mas não! Amanhã, os partidos irão a banhos de manhã e ao fim da tarde dirigir-se-ão à nação. Para quê? Para nos apresentar a narrativa dos "acontecimentos passados", para justificarem o injustificável. Quanto ao presidente da república, esse vai esperar por 3ª feira para ouvir de viva voz a narrativa dos partidos...
Como já referi noutros "exercícios", a classe política tem uma perceção do tempo completamente desfocada e quando isso acontece a ação política torna-se criminosa. Parafraseando um ex-político: «Tenham paciência, a política é a política!»  
 

4.7.13

Da gestão do tempo político

Nestes últimos dias, a gestão do tempo político revelou-se completamente inadequada à realidade dos mercados, isto é, ao tempo da especulação financeira.
Qualquer hesitação dos agentes políticos é, de imediato, aproveitada nas bolsas, deitando a perder o duro trabalho de empreendedores e trabalhadores. 
A decisão não se compadece com delongas; ela exige clareza, concertação e celeridade.
Em Portugal, a resolução da crise não obedece a nenhum destes critérios: o primeiro ministro coloca uma "fórmula" de solução nas mãos do presidente da república, à 5ª feira, sabendo que, na 6ª feira, os mercados não perdoarão a falta de clarificação; o presidente vai reunir com os partidos na próxima semana, sabendo que os mercados continuarão a abrir na ignorância da falta de concertação...
Num estado moderno, a decisão política não pode estar à espera da realização de um congresso partidário!
Estes políticos, todos, vivem num tempo anterior à queda do Muro de Berlim!  
 

3.7.13

Da classe política

Em termos semânticos, o título deste "post" coloca-me algumas dúvidas.
Em primeiro lugar, o termo "classe" não designa adequadamente o conjunto de indivíduos que, supostamente, se ocupam do destino do país. Provavelmente, o termo "bando" cumpriria melhor a função. Em seguida,  aplicar o adjetivo "política" a este conjunto de indivíduos não faz sentido, já que estes apenas se ocupam de interesses individuais, familiares, tribais, partidários; o país é o terreno onde caçam, saqueiam...
Historicamente, Abril soçobrou na construção de uma  clássica política responsável ou, pelo menos, deixámos que, aos poucos, ela se fosse desmantelando, de modo a permitir o aniquilamento inequívoco do estado democrático.
Sem classe política responsável não há democracia e, também, não há democracia na rua.
Aquilo a que se assiste é a um enquistamento de posições à cabeceira de um povo moribundo, quando se esperaria uma conjugação imediata de esforços para evitar a queda no abismo.
Entretanto, os abutres já estão a postos! 

2.7.13

Sequestro político

«O reino do inter-humano excede em muito o da simpatia... A única coisa que importa é que, para cada um dos dois homens, o outro aconteça como outro particular, que cada um deles se torne consciente do outro e assim entre em relação com ele de tal modo que o não olhe nem use como seu objeto, mas seu parceiro num acontecimento vivo...» Martin Buber, The Knowledge of Man: Selected Essays (1965)
Ontem e hoje, a factologia política trouxe uma imagem do reino inter-humano totalmente contrária à defendida por Martin Buber - cada um dos protagonistas vê o outro como «seu objeto». E só essa visão objetificadora do outro nos pode justificar o estado de desnorte a que estamos a ser conduzidos.
Infelizmente, em Portugal, apesar de se discutir diariamente a formação académica, de se defender a avaliação de todo o tipo de instrução, descura-se a educação.
Sem educação, não há parceiros! E também é por isso que a política de austeridade não consegue resolver qualquer problema...
A resistência à objetificação é de tal modo frágil que um primeiro-ministro decide publicamente "sequestrar" o chefe do parceiro de coligação sem que se assista a uma revolta imediata do partido ofendido.
MCG

1.7.13

Cegarrega

  1. Chegou o tempo das cigarras! Com a queda de Gaspar, não há quem queira faltar às exéquias da formiga que tudo fez para nos espoliar ao serviço dos banqueiros internos e da troika. Creio, no entanto, que, a partir de 15 de Julho, não haverá mais espaço para cigarras.
  2. Nem eu sei por que motivo ainda fixo o nome de certos fantoches, sobretudo, quando, ao lidar com turmas de 27 alunos, tenho dificuldade em distinguir todos aqueles jovens que esperam que eu saiba reconhecer e premiar o respetivo esforço. Há quem diga que a memória é seletiva, capaz de privilegiar os afetos, as paixões... todavia, no meu caso, a seleção parece ser de tipo masoquista...
  3. Dando expressão a um ato ilocutório compromissivo, prometo que, em nome da saúde mental, me irei abster de nomear certos fantoches...