7.9.13

Em setembro, estamos mais pobres...

Em setembro estamos mais pobres do que em julho! Qualquer um o sabe, sobretudo se for funcionário público, aposentado, reformado, pensionista... No entanto, surgem convites para eventos de todos os lados.
Esta realidade perturba-me porque não consigo encontrar uma explicação para tal contradição. Talvez uns tantos não se importem porque estão habituados a que no Outono as folhas caiam e por isso considerem que o empobrecimento é apenas temporário, embora para outros ele seja definitivo. Mas esses já não contam! Saem definitivamente da estatística...
Parece-me, contudo, que os indiferentes ao acréscimo da pobreza não se veem apenas como folhas outonais, pois de, algum modo, o empobrecimento alheio lhes traz vantagens.
 
E também me perturba que os que estão a ficar mais pobres tenham de esconder essa realidade, fingindo que nada acontece.
Diz o MEC que, até 2017, as escolas (quais?) vão perder 40.000 alunos! Porque será?
 
 

6.9.13

Jane B. par Agnès V.

Há dias ficou-me na retina um plano em que uma jornalista, dando conta do avanço de um incêndio, se colocou na extremidade oposta de uma rua, deixando-nos sob a ameaça de que o fogo iria avançar para dentro da aldeia, destruindo-a, enquanto que a equipa que filmava a tragédia iria certamente recuando, como se a aldeia não necessitasse de ser defendida e as imagens fossem mais importantes do que as vidas e as coisas...
Ontem, fui à Cinemateca ver  o filme Jane B. par Agnès V. /1988, e nele tudo se passa de modo bem diferente: a cumplicidade entre a realizadora (Agnès Varda) e a atriz (Jane Birkin) é tão forte que a câmara não só não recua, criando distância, como, na verdade, envolve o corpo de tão perto que gera a ilusão de o querer possuir - a ideia é a de que Varda possui cinematograficamente Birkin, tendo, para o efeito, saído do papel de realizadora para o de personagem, embora estática, e, de que, por seu turno, a volúvel e insatisfeita Birkin, apesar de se sentir amedrontada pelo «olho» da câmara, se deixa efetivamente possuir...
O cinema, neste caso, devora os corpos para os preservar, imobilizar, retratar, mitificar. Pelo contrário, a televisão ameaça-nos, ao mesmo tempo que deixa os corpos entregues a si próprios. 

5.9.13

A escrita dos incêndios

A propósito da "cinematografia" de Robert Bresson, Eduardo Prado Coelho escreveu na crónica O Lado Mais Severo dos Incêndios: «Em cada um dos seus filmes sentimos sempre o lado mais severo dos incêndios - a austeridade da escrita, incandescência da verdade que dessa escrita emerge.»
 
Os incêndios não se repetem! Não há um manual que ensine a combatê-los. Toda a aprendizagem anterior pode desfazer-se numa faúlha.  No terreno do incêndio, o que conta é a acuidade interpretativa, pois à austeridade dos meios é preciso opor uma decisão firme, mas humilde...
Ora, tal como suspeitava, 35.000 estudantes integram o corpo de voluntários dos bombeiros, sendo atirados para a severidade do fogo... A muitos destes estudantes, para além da reduzida formação, faltam a acuidade interpretativa e a humildade...e, deste modo, são os primeiros a morrer.
Tal como os filmes não servem para reproduzir o que já existe (lição de Robert Bresson), cada incêndio surge como um novo desafio para o qual nunca estaremos preparados - razão suficiente para mudar completamente de realizador... Um realizador que entenda que "não precisamos de mais mártires"!
 

4.9.13

Os fios da aranha

Quando as palavras se levantam em gritos de otimismo, suspendo-me à espera... e, subitamente, as aranhas desenrolam o fio, ainda, eufórico da duração...
Fico sem nada poder acrescentar, a não ser palavras de incentivo.
Ah, quem me dera ser capaz de não me conter!
 
Há esperanças que nos protegem, mas que, simultaneamente, nos trazem mais dor. E a dor acrescida poderia ter sido perfeitamente evitada se as palavras tivessem seguido o seu caminho, se não tivessem sido retidas por um subconsciente castrador.
 
Agora, como esta manhã, vou sair das palavras, vou a uma rua aonde atravessam pessoas e circulam carros, vou lá e só encontro os fios da aranha...

3.9.13

Quem cala consente...

Já cheguei a uma idade em que me arrependo sempre que decido argumentar com alguém (contrariar) que defende uma ideia nociva ao bem comum ou que revela uma interpretação delirante da realidade ou que age com prejuízo manifesto para o Outro...
Sabendo que rarissimamente da argumentação surge a luz e que o ato me afeta os neurónios ao ponto de me sentir à deriva, prometo ficar em silêncio - deixar o corpo no lugar - e partir... Infelizmente, nunca vou longe! As vísceras contorcem-se, repetindo: - Quem cala consente!
Há quem viva assim, à beira do precipício, de consciência pesada, pois não atalhou a tempo. E porquê?
 
(Não dou exemplos para não dar azo a que alguém queira responder, tirando-me, desse modo, do silêncio em que vou caindo. A queda traz-me, no entanto, inquietação, pois sei que por perto há um abismo pronto a libertar-me, em definitivo.)
 
 

2.9.13

Não precisamos de mais mártires!

No combate aos incêndios, vários jovens morreram  ou encontram-se em estado crítico ! Por inexperiência? Por falta de preparação e de enquadramento? Por incumprimento das ordens dos superiores? Por voluntarismo? De acordo com as notícias, alguns desses jovens não têm mais do que 18 anos!
Ora, na minha perspetiva, a sociedade atual, ao descurar a disciplina seja nas famílias,  seja nas escolas, seja nas ruas, acaba por gerar indivíduos que, apesar do espírito abnegado e solidário de muitos, não estão preparados para combater em circunstância que exigem obediência e cumprimento rigoroso dos procedimentos...
Ao ouvir as palavras dos comandantes (?) dos bombeiros, fico frequentemente  com a sensação de que cada um dirige soberanamente um pelotão à distância, ignorando os restantes pelotões que se movem no terreno... Estamos perante unidades de combate que agem por conta própria ou à voz de um GPS incapaz de interpretar o movimento dos homens, dos veículos, dos ventos e das temperaturas...
Não precisamos de mais mártires!

Entretanto (3.9.2013), morreu mais um bombeiro: um jovem de 19 anos!
 

1.9.13

A centenária oliveira e uma figueira



Apetece-me preservar a oliveira centenária e a figueira mediterrânica! O tempo e a cultura que delas emanam deveriam ser aprofundados. Sei, todavia, que este meu desejo, na fase de desgoverno em que vivemos, não faz sentido, até porque eu raramente como um figo. Mas isso não importa! Preservar a oliveira significaria abrir caminhos, limpar terrenos, podar árvores…

Curiosamente, esta oliveira e esta figueira não me exigem que as regue! Apenas, me sugerem que dava jeito algum desbaste das apressadas vergônteas… E, sobretudo, não querem qualquer exclusivo. O que estas árvores pedem para si deveria ser extensivo a todas as irmãs que as acompanham na roda do tempo.

O problema é que na capital, há quem retire aos proprietários os meios necessários à limpeza do terreno, à abertura dos caminhos, à poda das árvores. E quando estas árvores forem devoradas pelo fogo, então, sem pudor, serão apontados os pirómanos: alcoólicos, pastores, desempregados, maridos enganados…

Porém, se nos dessemos ao trabalho de escutar a centenária oliveira, ouviríamos uma voz a apontar para a capital, para o capital…

/MCG