13.11.13

Camões, a nossa escola

A Grande Gala no Coliseu correu bem!
Os convidados, os professores e os alunos que participaram nos vários números foram inexcedíveis, a começar pelo apresentador Júlio Isidro que deixou claro que o objetivo é angariar 13 milhões de euros para recuperar o edifício da Escola, símbolo da arquitetura escolar do início do século XX.
No geral, o espectáculo foi sóbrio, sobretudo na primeira parte. A segunda parte acabou por se alongar desnecessariamente, gerando alguma ambiguidade e alusões, na minha opinião, desnecessárias. 
O momento menos conseguido terá sido o da entrevista simulada por dois conhecidos apresentadores de televisão, em que, na verdade, terá faltado o entrevistador.
O diretor, os professores, os alunos e os funcionários que com ele colaboraram estão de parabéns.
Quanto a António Costa, gostaria de conhecer o motivo que o impediu de dirigir duas palavras ao público. Afinal, o arquiteto responsável pelo projeto de construção do Liceu Camões, Ventura Terra, foi vereador da Câmara Municipal de Lisboa... 

12.11.13

O Eleito

O eleito, mesmo que não acredite em si, tem sempre quem acredite nele, quem o empurre ou quem espere que ele seja capaz de resolver qualquer problema por muito grande que seja.
Em tempos, Camões, descoroçoado, ungiu o Príncipe, já Rei, e prometeu-lhe: 

«Só me falece ser a vós aceito, 
De quem virtude deve ser prezada.
Se me isto o Céu concede, e o vosso peito
Dina empresa tomar de ser cantada,
Como a pressaga mente vaticina
Olhando a vossa inclinação divina,
Ou fazendo que, mais que a de Medusa,
A vista vossa tema o monte Atlante,
Ou rompendo nos campos de Ampelusa
Os muros de Marrocos e Trudante,
A minha já estimada e leda Musa
Fico que em todo o mundo de vós cante,
De sorte que Alexandro em vós se veja,
Sem à dita de Aquiles ter enveja.» 

Assim termina a EPOPEIA, incentivando o Rei a partir para o norte de África, e contrariando todos aqueles velhos do Restelo que, mais do que a Fama, a Glória, a Vaidade, a Cobiça, estimavam a vida humana...
E o Poeta acabou desempregado, embora por pouco tempo...
Este desejado e ungido Rei era, ainda, o guerreiro que sonhava apagar o nome de todos os Alexandros e que esperava ser o herói de NOVA EPOPEIA. E foi esse sonho que o matou, apesar do Super Poeta, séculos mais tarde, lhe profetizar o regresso, depois do Nevoeiro, pois acreditava que o Mito era suficiente para despertar a Alma de um Povo, não percebendo que este Povo deixara de acreditar no Senhor e que, por mais que Ele quisesse, o sonho se desvanecera num fim de tarde...

PS. Dentro de momentos, também eu partirei para o COLISEU! Mas não levo armadura nem cavalgadura...

11.11.13

Até quando?

Mais de dez mil pessoas pessoas podem ter morrido nas Filipinas, mais de quatro milhões de crianças podem correr risco de vida, de violação, de colheita de órgãos que, aqui, na Terra, o importante é o resultado de um jogo de futebol, o novo gadget, a cor dos olhos, a conversa safada...
Aqui, na Terra, pouco interessa a fome, a violência doméstica, o despotismo dos credores e seus apaniguados, a quotidiana lavagem ao cérebro, desde que possamos regressar a casa em segurança, dormir na caminha sem pesadelos, e acordar, de preferência, na 1ª página de um diário nacional ou na página central de um semanário, sem falar na abertura do telejornal e no alinhamento contínuo do face... 
Aqui, na Terra, é dia de festa! Não há tufão, nem terramoto, muito menos maremoto! Há quem diga que o degelo ameaça a Cidade, mas que interessa! Enquanto ele não chega, as Filipinas ficam longe, o Congo ninguém quer saber o que lá se passa, a Síria já não existe, no Iraque a morte já não é surpresa... e no bairro vizinho alguém deixou de lá morar... Mas que importa!
... E claro que há sempre alguém que pergunta se eu ando a ler um livro de ficção! Porque, na verdade, tudo passou a ser ficção! Tudo se passa antes ou depois e bem longe daqui. Aqui, na Terra, é dia de festa...
Até quando?

PS. Acabaram de me oferecer 3€ por cada resposta de 250 a 350 palavras, com a garantia de classificar 100 respostas. Não dizem qual é a parte do fisco! Sei, também, que o autor da resposta irá pagar 20€ pela prova a que é obrigado... Tudo devidamente supervisionado, não se sabe a que preço!  
Aqui, na Terra, é dia de festa! Lá longe morreram mais de 10.000 pessoas...
    

10.11.13

Folha em branco...

Este texto é dedicado a um ministro que foi a Paris declarar que em Portugal ainda há muito por fazer na área do ensino. Espero que ele não estivesse a pensar na Educação!

Folha em branco... porque um deus desconhecido (ignoto deo) se instalou no ecrã, impedindo-me de qualquer gesto que não fosse autorizar a instalação do internet explorer 11.
Consciente do erro, o deus desconhecido passou mais de 20 horas em processo de reversão, proibindo-me de encerrar a atividade que, afinal, não podia iniciar.
O update automático é tão voluntarioso que, apesar de o forçar, ele não desiste da instalação e mesmo agora espreita no rodapé. Já tentei controlar-lhe o automatismo, mas ele acusa-me de pôr em perigo a segurança da máquina...
A sorte deste windows update é que eu passei o dia em manobras que me levaram a Porto Alto. Lugar que conheci há oito anos como início de um ciclo a que um deus desconhecido (ignoto deo) insiste em pôr termo.
Bem! Neste último caso, não se trata de um deus totalmemente desconhecido, trata-se de um avatar diabólico com pouca cabeça, mil patas e uma cauda serpenteada...
Pelo meio, ainda tive tempo para registar uma oportuna reflexão de Harold Pinter sobre a recepção da poesia: « O problema  com este tipo de pessoas é que quando lêem um poema nunca abrem a porta e entram. Contentam-se em inclinar-se e espreitar pela fechadura. Não fazem mais nada.» Os Anões, 1952-1956.

Esta ideia de só espreitar pela fechadura traz-me, também, à lembrança os resultados dos exames nacionais de uma certa escola secundária: Português - 10.43; Matemática A: 10.46; Biologia e Geologia: 8.41; Física e Química A: 8.45; Todas as 8 disciplinas: 10.13. Público, sábado 9 novembro 2013.Uma comunidade

8.11.13

Um funcionário público qualquer

Este texto é dedicado ao ministro que, na Assembleia da República, me tratou como «um funcionário público qualquer». A partir desta data, sempre que vir um agente da autoridade irei lembrar-me que o meu corpo não tem nada de especial e que a minha profissão, na atual república, é desprezível. 
(...)
Deveria poder aceder por uma de três portas. Mas não, só por uma, e de lado. O automobilista é assim mesmo, não respeita a lei da boa vizinhança. Não o faz por má vontade, porque esta não chega a ter tempo de se pronunciar: o automobilista espreita o lugar, arruma o carro e vira as costas sem olhar à esquerda ou à direita.
 
A porteira chega a horas: abre a porta que dá para o pátio das traseiras, enche de água um balde, mergulha o esfregão, e desaparece, deixando a vassoura apoiada na ombreira... Talvez me tivesse emprestado o comando que abre o portão que dá acesso à garagem! Só às 16h30 lhe vejo os olhos de quem por nunca os despegar do trabalho parece numa infindável viagem.  
 
Neste dia em que decidi libertar a autocaravana do recheio, percebi que a crise pode ser libertadora: liberta-nos de tudo o que fomos acumulando, deixando-nos as pernas mais pesadas e as expectativas goradas... 
 
(No início da frase, cheguei a escrever "minha autocaravana", mas desisti. Neste país, nada é nosso, sobretudo se a posse resultar de demorado e honesto trabalho.)
 
Quantos países ficam por visitar e, sobretudo, os lagos cimeiros, os campos de alfazema, as estepes russas e as chanas africanas...
Esta ideia do caminho que fica por percorrer deixa-me, hoje, uma dor difusa, mas aguda. E, principalmente, fica a certeza de que o esforço despendido é inútil. Ou talvez mais não seja do que a expressão do meu tempo, pois, neste caso, o único tempo que vivo é o meu...
 
Entretanto, sei que, hoje, houve greve! Mas não sei o que se passa para lá da rua que percorro da autocaravana à garagem, com uma breve deslocação à agência  da Caixa Geral de Depósitos, nos Olivais. Lá, as máquinas automáticas tinham secado! Penso, todavia, que o facto nada teria a ver com a greve: Simplesmente, os reformados e pensionistas acorreram ao banco, antes que o Governo lhes roubasse, em nome da crise, as parcas mensalidades...
Agora já só ligo a televisão na hora de adormecer. Até lá, estou a tentar perceber Os Anões de Harold Pinter. 
 

7.11.13

Que a onda já me leva

A onda não tem cor, mas basta vestir uma camisola para ganhar coloração. E quando um grupo veste a camisola,  refulge a cor mesmo sem convicção.
O grupo serpenteia em melopeia e a onda retrai-se em fímbrias de espanto...
Eu, cego e surdo, fico indistinto no aroma do fado...
 
Nada mais posso dizer que a onda já me leva
Que a onda já me leva
Indistinto no aroma do fado...

6.11.13

Um cemitério de palavras

Estou a preparar-me para passar o resto dos meus dias a dialogar com o passado.
Um passado quase milenar que me permitirá revisitar as campas de trovadores de partidas sem regresso e de jogos de sombras palacianas.
Um passado quase milenar de clérigos goliardos, de déspotas régios e de ordens devassas.
Um passado ao serviço de uma fé fundamentalista e argentária, de uma fé censória e inquisitorial.
Um passado de capitães aventureiros, mercenários, traficantes e... de abril...
... mas, agora, reparo que me enganei nas campas.
 
Coitado de mim que, impedido de dialogar com o presente, me enganei no cemitério.