8.9.14

Razão e emoção

Poderá a razão agir indiferente à emoção? Se isso fosse possível, tal significaria que o coração não se deixaria abalar pelos estímulos sensoriais...
Uma das formas de iludir a intranquilidade quotidiana é o recurso à placidez, à paciência. Receio, todavia, que a paciência mais não seja do que uma manifestação de masoquismo e de auto-controlo.

Tantos são os estímulos negativos recebidos pelo coração!Mas ninguém quer saber, tal é o egotismo reinante... 

7.9.14

Menos que zero….

Na política como no desporto, na saúde como na educação, na justiça como na segurança, caímos num lugar indescritível. Poder-se ia pensar num não-lugar, mas infelizmente o lugar  é de violência, fraude, mentira, saque, desrespeito, ignorância… De nada serve procurar os rostos, porque todos somados são menos que zero…

E menos que zero mata qualquer utopia, qualquer outro lugar alternativo a este. Escorregámos para um redemoinho sem fundo, onde vivemos  alapados às paredes.

6.9.14

Vazio

Vazio. Equipamento social vazio neste fim de tarde…

Vazio. Só as aves, periquitos de colar, pontuam furiosamente o cimo das árvores…

E eu alargo o olhar, vazio.

/MCG

5.9.14

Na Travessa dos Pescadores

Na parte antiga da cidade de Lisboa, os senhorios (?) procuram recuperar os prédios em ruínas com o objetivo de os rendibilizar. Quem entra naquelas construções vê certamente a melhoria dos espaços e das infraestruturas.
Há, contudo, dois ou três aspetos preocupantes: a estreiteza das vielas e a consequente impossibilidade de mobilizar, com a necessária celeridade, serviços de bombeiros e de saúde; a inexistência de elevadores, obrigando os inquilinos a esforços desumanos; e a pequenez das acomodações, lembrando os viveiros de outrora…
Esta ideia de conservar o antigo tem custos elevados!
( Na foto desaparecida, estava bem visível o engenho exigido para superar as dificuldades de mobilidade. Em, particular, gosto da escada lançada no vazio…)
II
Sufoco!
Não é só o calor e o mau cheiro, mas também a náusea que se vai abatendo sobre as pessoas… Para além da falta de respeito e, sobretudo, de responsabilidade… Uns tantos condenados de curta duração e muita mentira nas arenas internacionais!
Lembrei-me agora do Raul Brandão e por isso mais não digo.

4.9.14

Ler em português para conhecer


Há uns dias, José Eduardo Agualusa proclamava que o mercado do livro lusófono em Portugal não tem futuro.
Afinal, o que é que os portugueses andam a ler? Será que leem, apenas, em Inglês? Ou já deixaram de ler?
E mais importante, ainda, a leitura traz-lhes conhecimento? Ou só divertimento?

Aparentemente, em inglês, lemos livros técnicos e, em português, leríamos livros de divertimento... No entanto, os meus alunos, para se divertirem, preferem ler em inglês ou traduções de autores anglossaxónicos... Os que ainda leem!

Deste modo, ler em português para conhecer ou para se divertir é cada menos frequente. Porquê?
Onde é que devemos procurar as causas? No leitor ou no escritor?

2.9.14

A Europa Alemã

Num artigo publicado hoje no Financial Times, em conjunto com Karl Lamers, antigo porta-voz da CDU alemã para a política externa, Wolfgang Schäuble sugere que a Comissão Europeia passe a ter "um comissário europeu para o Orçamento, com poderes para rejeitar os orçamentos nacionais, caso eles não correspondam às regras que acordámos em conjunto".
O pensamento de Wolfgang Schäuble não é novidade! Já, em 1940, Walter Funk defendia na capital austríaca: «A política económica alemã tem por objetivo acabar com a atomização económica da Europa, considerando uma loucura a autarcia excessiva na qual todo o país pequeno deseja fabricar tudo, desde o botão até à locomotiva pesada.» No mesmo ano, já defendera «a intensificação de toda a vida económica no espaço vital europeu.»
Por seu turno, a 10 de outubro de 1940, Raffaello Riccardi «descrevia o alargamento da solidariedade já existente dentro do Eixo e apelava à criação de uma hierarquia económica entre as nações, que determinaria o acesso às matérias-primas; para esse efeito, os velhos impérios coloniais seriam redistribuídos.»
Encontrei estas pérolas na obra " Salazar - Uma Biografia Política" , vol. III,  de Filipe Ribeiro Meneses. No Capítulo II, Estudando a «Nova Ordem», páginas 60 e 61. 
Vale a pena comparar o projeto italo-alemão dos anos 40 com o pensamento politico alemão atual. Sobretudo, no momento em que o Sr. Putin começa a assustar a Alemanha...
E não se esqueçam de comer mais fruta e legumes: "Comam! Vocês devem comer, eu devo comer, nós devemos comer", disse o ministro Christian Schmidt em declarações à Deutschlandfunk, uma rádio alemã. 

1.9.14

O mundo, o sujeito e a máscara...


A virtude estóica é a renúncia a todos os bens do mundo e cujo curso é fatalmente determinado.

Não sei se a expressão "todos os bens do mundo" inclui o sujeito. Não sei se o sujeito pode alguma vez assumir-se como uma entidade autónoma, isto, apesar da longa tradição ocidental proclamar essa autonomia do sujeito.
Admitamos, por um instante, que o sujeito é "um bem do mundo" e que como tal se encontra "fatalmente determinado". Neste caso, que lugar haverá para a renúncia, para a passividade, para o distanciamento?Admitamos ainda que o sujeito mais não é do que "um bem do mundo", em que só este último avança ou recua, que lugar fica para a ação individual virtuosa ou viciosa?
(...)
Por este andar, chega-se à conclusão de que o Bem e o Mal (Deus e o Diabo) são uma inevitabilidade do mundo a que não podemos renunciar ou, pelo contrário, propriedades do sujeito que não pode livremente aspirar à virtude estóica...
(...)
A vida fica deste modo difícil de gerir, incapaz de compreender se é apenas mundo, se é apenas sujeito. Mas, o pior são as máscaras que se vão multiplicando e que, na representação, fingem ora ser o mundo, ora ser o sujeito.