30.11.15

Hoje, não posso omitir o essencial

30 de novembro, dia do passamento de Fernando Pessoa, deixou de ser para mim uma página do calendário para se tornar um lugar: há 41 anos casei e assim me mantenho; hoje, a Susana concluiu o mestrado, defendendo " O paradoxo da questão curda - a autodeterminação e a negociação turca", no âmbito do Trabalho de Projeto em Direitos Humanos e Movimentos Sociais; e hoje,  desisti do pedido de aposentação. 
Do casamento, a vida dirá.
Da conclusão do mestrado da Susana, registo a sua capacidade de superação de todos os obstáculos, desde a odisseia turca ao capricho de quem, desconhecendo o terreno, se perdeu em atalhos que, por vezes, levaram a mestranda ao colapso físico e psíquico.
Finalmente, este 30 de novembro é o dia em que decido não pactuar com o tratamento desigual a que o legislador vai submetendo os funcionários e é, também, o dia em que assumo que ainda tenho condições para 'orientar' uns tantos jovens, procurando que não se percam nos atalhos da vida.
(...)
Hoje, talvez, fosse mais fácil omitir o essencial, silenciando as palavras, mas a verdade é que, por respeito por todos aqueles que prezam os direitos humanos, não o podia fazer. 

29.11.15

Tantos são os indivíduos e tão diversos!

Há quem guarde tudo, ou melhor, há quem atire tudo para longe da vista. Gavetas, prateleiras, baús, sacos, sótãos e, sobretudo para a garagem.
Com o tempo, torna-se difícil circular em casa: mesas pejadas de molduras de outro tempo, bugigangas de múltiplas viagens, e despejos de quartos e de casas dos filhos nómadas...
Há mesmo quem, insatisfeito com o que tem, ainda traga da rua cadeiras, bancos, mesinhas de chá e até pequenas cómodas, isto sem falar nos eletrodomésticos falhos de resistência...

Hoje, fui procurar na garagem alguns dessas relíquias empoeiradas, e até uma saca de medicamentos fora-de-prazo encontrei. Ainda pensei que aquela saca tivesse pertencido a um daqueles parentes hipocondríacos que tudo compram, mas que, como seguro de vida, nada tomam. Lida a bula, decidem que o melhor é guardar na gaveta. Mas não, não há memória de como chegaram à minha garagem!

Há uns tempos, decidi catalogar livros, revistas, coleções, DVDs, manuais; já devo ir nos 2500 registos. Só que esta a visita à garagem está-me a enervar.
Olho e fico incapaz de determinar as categorias, as classes, as espécies, tantos são os indivíduos e tão diversos.
(...)
Tantos são os indivíduos e tão diversos!
Sinto agora que estou mais calmo, porque acabo de entender que a luta em defesa dos direitos humanos deve começar por combater as categorias, as classes, as espécies e, sobretudo lutar para que os indivíduos não sejam atirados para longe da vista, arrumados em espaços identitários, tal como é consagrado pelo pensamento multiculturalista.


28.11.15

Confesso que o idealismo já fez o seu caminho

Agora que estou em reflexão, confesso que o idealismo já fez o seu caminho.
Doravante, passarei a ser prático e minimalista, não hesitando em recorrer aos expedientes mais comuns.
Seguindo o exemplo de um avô, irei ser parco nas palavras e circunspecto na avaliação das 'novidades'.
Afinal, como ele, já vi de tudo um pouco; nada me surpreende. Longe de mim, querer perturbar os nefelibatas que, a todo o momento, se me atravessam no caminho.

(...)

Entretanto, vou conter a ira que me mina há largo tempo. Pode ser que a contenção acabe por dar resultado, apesar do sacrificado coração.

27.11.15

Cuidado com os extorsionários!

Ontem, escrevi uma carta ao António, embora soubesse que ele não teria tempo para a ler. Aquela carta mais não é do que um esconjuro.
Entretanto, hoje recebi uma carta da Odete a informar-me que o Estado quer penalizar-se em 29,5%, embora já tenha 41 anos de serviço público. A simpática Odete concede-me dez dias úteis para me decidir... Entrei, assim, em período de reflexão...

A verdade é que eu preferia que o António, em vez de ler a minha carta, lesse a da Odete, e a comparasse com outras que a mesma 'coordenadora de unidade' enviou a outros zelosos cidadãos que, para além de serem mais novos, trabalharam e descontaram durante menos tempo...

(...)

Não deixa de ser sintomático que, neste mesmo dia, bem cedo, um "amigo" de Sintra me tenha abordado, contando-me que, em tempos idos, fora engenheiro na Renault, e que presentemente era director da Worten. Perante a minha desconfiança, o "amigo" de Sintra resolveu avançar com um produto de uma qualquer linha CR, que era oferta de amigo para amigo... No essencial, tratava-se de um extravio que estaria a ser colocado de forma personalizada.
Só que o "amigo" não teve sorte, porque eu estava com pressa e, sobretudo, não o reconhecia. Entretanto, quando me preparava para o deixar a falar sozinho, o "amigo" de Sintra saiu-se com a seguinte proposta:  " - ao menos adiante-me o IVA".

26.11.15

Caro António

Caro António,

Já és primeiro-ministro, sonho antigo, resta saber se consegues dar conta do recado.
E para tal não te esqueças que é feio mentir e deixar as promessas por cumprir. Se tiveres que o fazer, não faças como o Pedro, para quem a culpa era do malvado Sócrates...

Como irás ter pouco tempo para ler, apenas acrescento que concretos são os portugueses e não Portugal, como pensa o Aníbal - os portugueses podem viver melhor ou pior, e tal depende da tua lucidez, da tua capacidade de diálogo, que não deves confundir com qualquer jogo florentino...

Nada espero, nem nada peço, a não ser que sejas um verdadeiro primeiro-ministro.

CARUMA

25.11.15

O narcisista

Ai de quem cai nas mãos dum narcisista!

O narcisista desconhece a distância, o que o impede de incentivar a dissolução das fronteiras.
Pelo contrário, o narcisista gera limites cada vez mais próximos, mesmo se imaginários...
e obriga-nos a expulsar o outro da fronteira. Só que, por vezes, o outro também é narcisista!

Os narcisos antecipam múltiplos charcos donde vários nenúfares irão ser expulsos...

Quando o outro é narcisista, a batalha sem fim...
Se o outro não for narcisista, então acabará dissolvido na fronteira. 

24.11.15

De cavaco para costa

O Presidente olha para o interlocutor, aprecia-lhe as companhias, e cogita etimologicamente: a língua destes salafrários  não vai além do registo corrente, como tal, de cavaco para costa, recuso-me a indigitá-lo; vou indicá-lo como primeiro-ministro e é quanto basta... mais tarde, veremos se ele percebe alguma coisa de etimologia!