30.6.16

A inocência do diretor do Museu da Presidência

«O Diretor do Museu da Presidência da República, Diogo Gaspar, é suspeito de levar para a sua residência de férias, no Alentejo, quadros e estátuas da instituição.»

Estou convencido de que o Diretor da Museu da Presidência, Diogo Gaspar,  levava as obras de arte para casa para as poder estudar sossegadamente. Os ex-presidentes eram muito espalhafatosos (Sampaio e Cavaco) e estavam sempre a interpelá-lo sobre os temas, a perspetiva, as cores, os materiais, o claro-escuro, a adequação ao lugar...
Se forem chamados a depor, Sampaio e Cavaco darão certamente testemunho dos fins de tarde, em que Diogo Gaspar, depois do apurado estudo provinciano, lhes satisfez minuciosamente a curiosidade.
Só esse zelo e abnegação podem explicar a necessidade sentida pelos ex-presidentes da República de o condecorar...

A luz verde do senhor Wolfgang Schäuble

O ministro das Finanças alemão, Wolfgang Schäuble, declarou esta quarta-feira que Portugal precisa e deve pedir um novo programa de ajustamento. Mais, acrescenta o governante alemão, se o fizer terá 'luz verde'.

Este alemão, apesar do recuo, disse o que a Alemanha quer de Portugal. Por mais que os nossos governantes se contorçam nas cadeiras ou inventem soluções para "esconder" a dívida dos bancos, das empresas, do estado e dos particulares, o caminho está à vista de todos... 

Penso que deveríamos levar a sério o conselho de Wolfgang Schäuble, e dizer-lhe que, em Portugal, "luz" e "verde" são termos incompatíveis... 
O senhor Wolfgang Schäuble, para além, de deixar de fingir que se precipitou, o melhor que tem a fazer é dar um pouco mais de atenção à cultura portuguesa, até porque nela encontrará muita da prepotência que o caracteriza.

29.6.16

Um exemplo de ironia: a excecionalidade da retenção

O Ministério da Educação defendeu que cabe às escolas decidir se um aluno com muitas negativas passa ou não de ano, no âmbito do caráter de excecionalidade das retenções previsto na lei, interpretado de forma livre pelos estabelecimentos.

Leio a nota do ME, tendo no horizonte a recomendação do FMI de que Portugal necessita de reduzir o número de professores, e eu concordo não com o ME mas com o FMI...
Há alunos que transitam com 7 classificações negativas e outros não. Transitam para onde? 
Pois, deve ser para o ano seguinte. E o que é que fazem no ano seguinte? Dão cabo da turma em que são inseridos e fazem perder a paciência ao Diretor de Turma, sem esquecer os pobres dos professores, às voltas com as chamadas estratégias de recuperação e / ou de enriquecimento. 
Muito da depressão dos docentes tem origem nesta trapalhada, em que muitos chutam para a frente de qualquer modo, porque é considerado incorreto reter o aluno ou, em alternativa, criar turmas de nível.
O insucesso não é apenas resultado da retenção. Em muitos casos, ele é fruto da transição. Há, por aí, muito sucesso individual que tem contribuído para o atraso estrutural deste país.
Não consigo entender por que motivo não são criadas turmas de nível nas disciplinas estruturantes, como Português, Matemática, Língua Estrangeira, História, Filosofia... com os recursos docentes e pedagógicos mais adequados.
Sim, mas para isso, o ME tem de se instalar nas escolas, averiguar o que lá se passa e disponibilizar os recursos financeiros necessários.

Nota final: a figura da autonomia pedagógica é, neste caso, uma boa desculpa para a (ir)responsabilidade do ME.


28.6.16

A ironia não é coisa séria!

Eu raramente leio a revista Visão. Não por falta de visão, mas por falta do vil metal. No entanto, quando o faço, consulto sempre a ficha técnica para verificar se o meu antigo aluno, Filipe Luís, por lá continua. Lembro-me dele, porque integrava uma turma do 9º ano (Escola Secundária de Santa Maria - Sintra) de boa cepa - vários alunos mostravam-se competentes no exercício da escrita, tendo já iniciativa jornalística e radiofónica...
Esta memória, creio que está correta, mas pode ser o resultado de "um desmiolado" capaz de "vender a própria mãe para dispor de acesso livre ao Estado" ou, em alternativa, uma daquelas "pessoas de bem que se servem dos gays para se promoverem". Esta classificação, um pouco contraditória, tem autoria: o sociólogo Alberto Gonçalves.
Quem, de vez em quando, lê os meus desabafos, sabe que eu tenho especial apreço por este sociólogo, que eu costumo encontrar ao domingo no Diário de Notícias. A verdade é que não esperava encontrá-lo na Visão, mas, afinal, ando mal aconselhado - ele deve estar um pouco por toda a parte, a destilar o ódio que nutre pelo PS...
Desta vez, o principal alvo é a sua direita que anda cega, o que me leva a pensar, provavelmente, de forma incongruente, que a ironia é um tropo incompreendido pela direita. A ironia não é coisa séria!
E curiosamente lembro-me que sempre me afligi quando os meus alunos não conseguiam perceber se aquilo que eu lhes dizia "era a sério ou a brincar"... 

(Visão, 8 junho 2016, última página.)

27.6.16

Renovação geracional

Num tempo de globalização e de mudança tecnológica constante, esperar-se-ia que aqueles que mais tempo trabalharam cedessem o lugar aos mais jovens. 
Essa substituição seria naturalmente regenerativa, porque traria nova energia, novas ideias e, principalmente, uma superior capacidade de lidar com a mudança...
Por exemplo, na educação, esse processo de substituição traria uma aproximação geracional que, em si, só poderia reforçar o clima relacional e, consequentemente, acelerar o desenvolvimento cognitivo...
Por essa Europa fora, as gerações mais velhas, em nome do statu quo, opõem-se à mudança, sempre que ela significa integração e aceitação do outro... 
Mas não são apenas os mais velhos, são, principalmente, os governantes que não compreendem que só a renovação geracional pode dar sentido à vida daqueles que, apesar de mais habilitados, se arrastam e fenecem pelas vilas e cidades e, ao mesmo tempo, garantir o futuro dos mais idosos.
Caso não consigamos fazer a tempo e de forma honrosa essa renovação, acabaremos, todos, mais pobres, mais revoltados e mais tristes.

26.6.16

Documento de orientação para reuniões de final de ano

Transcrição de documento disponibilizado por Paulo Guinote. 
Já por cá ando ao serviço do Ministério da Educação há mais de 41 anos, e nunca vi nada tão completo.
Burrocracia2

Ontem

Não sei se o jogo Portugal - Croácia merece tanto frenesim, mas a verdade é que Portugal passou esta etapa. 
Só não compreendo é que com tão bons jogadores, a bola não chega ao Cristiano Ronaldo.
O melhor seria, talvez, pedir a Nossa Senhora de Fátima que o Fernando Santos ponha o Renato Sanches a jogar de início e já, agora, que o autorize a rematar.
(...)
Não sei se, ontem, aconteceu alguma coisa mais neste país. Parece-me que o Fernando Pimenta ganhou o campeonato da Europa, mas não o de futebol...

PS. O canoísta Fernando Pimenta conquistou, no campeonato da Europa, duas medalhas de ouro, em Moscovo: K1 5000 e K1 1000.