6.10.17

Competência essencial

Saber interpretar é uma competência essencial. Fernando Pessoa é um dos maiores intérpretes da condição humana. Fê-lo com um rigor inexcedível. Todas as suas "máscaras" são a expressão de um espírito geométrico que permanentemente procurou desmascarar o conhecimento tido como definitivo...
Nos tempos que correm não basta escrever sobre esta convicção, é necessário saber ilustrá-la... e mesmo assim!
Vem este arrazoado a propósito da resolução, inscrita no manual Sentidos 12 (versão professor), da seguinte pergunta: - caracterize o sujeito poético, justificando a sua resposta com elementos textuais pertinentes: O sujeito demonstra alguma confusão interior como se percebe pela primeira estrofe quando afirma "Tenho tanto sentimento / que é frequente persuadir-me de que sou sentimental..."
O problema é, no entanto, outro. Bastaria saber que a referência de sentimento é, à luz do conhecimento da época, distinta da de sentimental. É sentimental todo aquele que se deixa conduzir pelas sensações, pelas emoções... Por outro lado, o sentimento, embora possa ter origem na sensação, é uma realidade mental, drenada pela razão; é fruto da autoanálise e da imaginação: Mas reconheço, ao medir-me / Que tudo isso é pensamento / Que não senti afinal
Onde é que paira a confusão interior?
(...)
O que este poema demonstra é que o homem, por mais que racionalize, não tem qualquer ferramenta que lhe permita saber distinguir a vida verdadeira da vida errada, mesmo se as Ciências Humanas (Teologia, Filosofia, Psicologia...) insistem em defender que os sentidos são fonte de erro e a razão fonte de certeza, de verdade...

5.10.17

Preocupante

Quando tanta gente ignora o que é o sebastianismo, anda por aí um político que ainda não regressou à toca, mas que já promete voltar... E enquanto não regressa, procura-se um cordeiro que por ele se imole...

A Academia sueca diz que o Prémio Nobel de Literatura de 2017, Kazuo Ishiguro, é uma mistura de Jane Austen, Franz Kafka e de Marcel Proust... Uma mistura! Estou em crer que o António Lobo Antunes, para a Academia sueca, deve ser uma máscara do Rui Rio.

No dia República, também se celebra o dia do Professor. Nunca percebi porquê. Será porque a República os trata tão mal?

Em Espanha, continua o conflito entre o estado central e uma das regiões autonómicas. Será que ambos sofrem de amnésia?

Entretanto, já há previsão do número de mortos para o caso da Coreia do Norte insistir no confronto militar. Mais de dois milhões!

« A nossa inteligência abstrata não serve senão para fazer sistemas, ou ideias meio-sistemas, do que nos animais é estar ao sol.» Fernando Pessoa / Bernardo Soares

4.10.17

Da compreensão

"... uma zebra é impossível para quem não conheça mais que um burro." Fernando Pessoa / Bernardo Soares 

Nenhum burro está obrigado a reconhecer a existência das zebras. Com ou sem palas, o burro apenas procura o pasto, mesmo que tal signifique afastar-se do caminho. Na verdade, o burro nem sequer procura o espelho, só lhe interessa a cumplicidade asinina...
Se lhe passarmos a mão pelo pelo - ai o (des)acordo ortográfico! - a resposta é imprevisível. Vai do coice ao relincho!

Perguntaram-me hoje por que motivo não escrevia um livro. Fiquei sem avançar qualquer explicação, embora tenha pensado que, talvez, por preguiça ou, sobretudo, por desencanto...
Um livro para quê? Há tantos e tão maus, e se algum revela alguma qualidade é tão maltratado.

3.10.17

Por lá e por cá...

Por lá, Catalunha, greve geral contra o governo central de Espanha.
Por cá, notícia de que Passos Coelho vai recolher à coelheira.

Como acordei muito cedo, não me sinto capaz de avaliar os efeitos de tais comportamentos. De qualquer modo, o Governo de Madrid revela não saber ouvir as vozes do dissídio, tal como Passos Coelho não soube, atempadamente, tirar ilações do dia em que ganhou as eleições nas urnas e as perdeu no Parlamento...
E quando assim é, por muito que os adversários cantem vitória, os prejuízos são sempre irreparáveis...

Agora, sim, toca o despertador

Acordo, mal adormeço, mas só tomo consciência disso quando olho as horas. Preocupa-me a gata, não vá acordar do sono pesado e relutante quem não deve. Adormeço.
Volto a pegar o sono, mas os miados alertam-me para o perigo que só diminui quando a bicha se aninha no meio das minhas pernas.
Adormecemos, parece que o tempo decorre sossegadamente, mas agora é o calor de outubro, a boca seca que interrompem aquilo que costuma obedecer às leis do despertador.
Dou uma olhadela à lista dos amigos facebookianos despertos e, espanto, são vários, alguns da vida real que entram no trabalho à mesma hora... O que estarão a fazer, despertos a esta hora?
Pego no Livro do Desassossego e lembro que o volume, quebrado, que folheio, nunca chegou a ser um livro nas mãos de Bernardo Soares que, de verdade, não as tinha... folhas soltas, pedaços de deambulações plasmadas em fragmentos - plasma ou talvez magma de outras vidas, também elas imaginadas....
Agora, sim, toca o despertador. Foge-me a  página, insisto e registo  o que não é meu nem dele:

«Ah, outro mundo, outras cousas, outra alma com que senti-las, outro pensamento com que saber dessa alma! Tudo, até o tédio, menos este esfumar comum da alma e das coisas, este desamparo azulado da indefinição de tudo!» Bernardo Soares

2.10.17

Há por aí muitas caçadeiras já obsoletas...

A caça ao voto já terminou. Há caçadores mais satisfeitos do que outros e muitos de mãos vazias.  Agora, é esperar que os coelhos e as perdizes voltem a crescer, caso o Céu saia da sua impassibilidade e se digne regar os campos, já que os citadinos passam bem sem chuva...
Por mim, os resultados da caçada são os possíveis, pois, em democracia, há que aceitar a decisão do povo, até porque este povo é múltiplo nos interesses e nos anseios, sendo sonho maior deixar de ser caça e passar a caçador...
Finalmente, sinto que há por aí muitas caçadeiras já obsoletas, incapazes de deixar o terreno. De qualquer modo, o tempo se encarregará de as  encravar de vez...

1.10.17

A votos, em Portugal e na Catalunha

Lá fui votar. Cedo. Afluência reduzida.
Regressei duas horas mais tarde, mas não para votar, descansem. As filas tinham engrossado como já não via há muito.
Perplexo, pus-me a pensar na causa. Será expressão de um acréscimo de responsabilidade cívica? 
Mais logo, saberemos.

Entretanto, a nação catalã não desiste de mostrar ao estado espanhol que deixou de confiar nele e este vai dando provas de que não sabe negociar. E quanto ao rei espanhol, o que será feito dele, perguntará o ditador Franco...
Creio que a opção monárquica de Franco visava assegurar a união das nações... ou seria das freguesias?