7.7.18

Trata-se de sobreviver

Neste interminável ficheiro de autores e respetivas obras, surge-me  o amigo e poeta Silva Carvalho. 
Desta vez, folheio o livro "Ao Acaso" (1986), suspendo o registo, e vou lendo algumas das 300 oitavas, pensando que o Poeta merecia melhor sorte, isto é, merece ser lido e discutido…
e de súbito fixo-me em três versos:

      Trata-se de sobreviver, não de sentir ida
      a memória por algum desejo ou desperdício.
      Sentir, sabe-o bem, é o maior e árduo vício.

Afinal, é isso: trata-se de sobreviver, liberto da (in)voluntária memória - duplo fardo, na ausência e na presença - e, sobretudo, de evitar o sentir, porque este prende, aliena, queima a energia que ainda resta...

6.7.18

Uma classe esgotada

exaustão emocionalMais de 60% dos professores portugueses sofrem de exaustão emocional, provocada por causas como a excessiva burocracia e a indisciplina dos alunos, revela um estudo nacional com base em mais de 15 mil respostas de docentes.

Estou há tanto tempo no sistema que a conclusão não me surpreende em nada. Basta entrar numa sala de professores e ouvi-los…
Na verdade, as causas do cansaço são antigas. A diferença entre o passado e o presente reside no modo como na última década a classe política desclassificou os professores… e mais não é preciso dizer: todos sabem porquê e como… 
Uma classe política medíocre e, em muitos casos, analfabeta - culpa dos professores que os deixaram transitar...

5.7.18

Pensar aqui, para quê?

«Penser, c'est avant tout vouloir créer un monde (ou limiter le sien, ce qui revient au même).»                        Albert Camus, La Création Absurde 

Criar um mundo aqui, para quê? 
O que sei é que o simples registo daqueles que encontrei é inviável, primeiramente porque a memória pessoal se foi debilitando, talvez porque no momento certo faltou o tempo; depois porque o outro pode não sentir qualquer necessidade de integrar o mundo a preservar…
Ainda se escrevesse um romance, poderia limitar esse mundo às relações de antipatia e de simpatia, mas se no momento certo faltou o tempo, a única saída seria dificílima porque as personagens nunca chegariam a ter relevo, consistência, uma ideia - não passariam de traços inconsistentes, absurdos…
Pensar aqui, para quê?
Apenas, para dizer ao Tempo que estamos aqui  e que, apesar de sós,  não estamos sozinhos na sua companhia...

4.7.18

A alma caridosa

 A folha de Excel contraída numa página impressa.
(A vista cansada.)
- Vamos lá conferir as classificações das provas com os dados impressos! 
- Mas como se os não consigo ler?
Entretanto, uma alma caridosa decidiu que o melhor era fazer de mim. Deu tudo certo, felizmente!

Na 2ª fase, estarei de regresso, certamente, um pouco mais míope. Que importa desde que conte com a benevolência de nova alma!

Ontem, em silêncio paciente

Andei tão ocupado que não registei nada, não porque não houvesse nada para contar, mas por falta de tempo. Porém, a verdade é que estive mais de quatro horas à espera… em silêncio paciente, a beber água, só água com uma mistura intragável, para depois ser sondado do pescoço aos pés por umas criaturas brancas que se faziam de cordeirinhos mas não tinham nada de angélico…
Claro, histórias não faltariam se ainda valesse a pena contá-las, como a da velhinha incontinente, duplamente, que insistia na sua narrativa, independentemente do interlocutor a compreender ou não… ou até na ausência dele.

2.7.18

Que importa?

Que importa o lugar, só o tempo me foge!
Só hoje já estive numa dezena de lugares, sempre com uma preocupação: chegar a tempo, cumprir um prazo...
Mesmo no momento em que registo este pensamento, lastimo que a pressa me tenha feito esquecer do livro que tencionava continuar a ler, aproveitando a pausa forçada...
Só o tempo me foge!

1.7.18

No país das equivalências

Por paradoxal que possa parecer, cada vez fujo mais da opinião, até porque ter uma opinião implica partilhá-la.  Pressupõe pôr-se de acordo, tomar como sua uma ideia alheia… que, no íntimo, não se quer coletiva, porque o que queremos é impor a verdade, que enunciamos majestaticamente como nossa…
Por absurdo que possa parecer, estou há dias a ler textos de opinião em que o examinado é convidado a defender "numa perspetiva pessoal (…) o poder das palavras nas relações humanas."
Estou para aqui a fingir que a "opinião" e a "perspectiva pessoal" se equivalem, mas não consigo aceitar tal equivalência...