15.10.18

Basta estar!

A verdade é que eles não querem saber, e não se importam de desperdiçar um tempo precioso… Até porque pensam que a glória não lhes escapará… Basta estar!
À dificuldade dizem não; preferem abrir um link e regurgitá-lo na hora aprazada. O trabalho intelectual não lhes causa dor; é apenas uma maçada…
Os textos perderam a autoria (cansa inquirir a referência); verdades ininteligíveis e enfadonhas sobre almas perdidas…
Deixemo-los estar!

14.10.18

Não basta ter sido uma criança mais ou menos afortunada...

Há dois ou três dias, perguntaram-me o que era uma varinha de condão e eu, que nunca fui muito dado ao mundo da fantasia, não consegui esconder a minha surpresa… Respondi que o melhor era o "menino" ir investigar…
Entretanto, lembrei-me que, na minha infância, me familiarizara com a varinha de vedor - o meu avô materno era um dos mágicos do lugar que conseguia com uma vara bifurcada de oliveira detetar a presença de água…
De qualquer modo, o tempo da varinha de vedor, creio, que já venceu, pois há, hoje, ferramentas de deteção mais fiáveis. O mesmo não terá acontecido com a varinha de condão ou com a varinha mágica. Basta entrar na secção de brinquedos de uma grande superfície comercial para a ver um pouco por todo o lado… 
Pensava eu que bastava ter sido uma criança mais ou menos afortunada para compreender enunciados do tipo:
«A inteligência lembra uma varinha de condão…»
«A mesma varinha, porém, por um uso intenso e persistente, acaba por esvaziar de realidade as coisas…» Jacinto do Prado Coelho, Diversidade e Unidade em Fernando Pessoa

Em suma, antes de compreender o paradoxo pessoano, lá terei que regressar a uma infância que não foi minha, e gastar algum tempo a explicar o contributo de Jacinto Prado Coelho para a interpretação da obra de Fernando Pessoa…
Mas como o tempo de atenção é extremamente curto, provavelmente não sairei da loja de brinquedos…

13.10.18

O furacão das televisões

As televisões, a esta hora, digladiam-se pateticamente à procura de imagens de infortúnio. Será em nome do serviço público ou de audiências?
A RTP1 mobiliza todos os recursos tecnológicos e humanos. E os repórteres não poupam nas palavras: prometem agravamento para as próximas horas…
Esperemos que o (a) Leslie não lhes falhe! E que nos deixe dormir tranquilamente!
Por enquanto, o coro das incriminações ainda não se consegue ouvir. No entanto, se a ventania se levantar...

12.10.18

Andava pingarelho na costa

Não sei se Sua Excelência ficou contente ao tomar conhecimento da demissão de um dos pingarelhos mais sisudos do Governo… 
Eu não posso ficar indiferente, pois a notícia esclarece que o "pingarelho se demitiu". A decisão só podia ser sua, afinal, pois esse é um traço específico da espécie a que pertence…
No caso deste pingarelho, por ora demitido, confesso que não sabia que a sua "arrogância" tinha fundamento. A polícia judiciária militar (PJM) não respondia às chefias militares, mas ao pingarelho da Defesa.
A subtileza da questão está em que Sua Excelência, Chefe Supremo das Forças Armadas, deveria, lá no âmago, sentir-se diminuída sempre que se lembrava que no Governo da Nação havia um pingarelho que se ufanava de andar melhor informado, ao ponto de saber que houvera um roubo que nunca o fora…

11.10.18

Há quem não goste do termo 'pingarelho'

Bem sei que há quem não goste do termo 'pingarelho' e que acredite que esta personagem está em extinção, não sendo digna de figurar em qualquer dicionário da especialidade…
No entanto, esta espécie é muito mais visível do que a cigarra… Em trinta segundos, eu consigo visualizar 'pingarelhos' nos Ministérios, no Parlamento, nas Autarquias, nos Partidos, na Magistratura, no Ministério Público, nas Forças Armadas, nas Universidades, nas Igrejas, nos Sindicatos, nos Clubes de Futebol, nos Hospitais, na Comunicação, dita, Social…
Esgotei os trinta segundos…

10.10.18

As competências do pingarelho

Quero primeiramente esclarecer que a noção de competência corresponde a uma combinação de conhecimentos, aptidões e atitudes adequadas ao contexto. (Isabel Simões Dias, Competências em Educação…)

O pingarelho é competente discursiva e comunicacionalmente, embora, por falta de conhecimento, não tenha nada a informar. 
A relação de interlocução do pingarelho é fácil, pois as armas a que recorre são as da estupidez…
O pingarelho revela um raciocínio lógico, pois, axiologicamente, o mundo divide-se em Bem e Mal, em Verdade e Mentira. Para o pingarelho, os demónios do Mal e da Mentira devem ser combatidos com recurso às armas mais mortíferas.
O pingarelho mostra-se confiante nas outras pessoas, desde que estas o sigam submissamente.
O pingarelho é um gramático extremamente competente, porque manipula as regras como ninguém. A sua felicidade maior é ordenar os homens e a natureza, vendo-os como nós de uma engrenagem em que as exceções são inadmissíveis.
No mundo do pingarelho, a competência estética é extremamente perigosa a antissocial.
O pingarelho odeia a cultura e a ciência, a não ser a da submissão e a do extermínio.
O pingarelho não é recuperável, porque a competência é de ordem interna, e a educação, para o pingarelho, só é aplicável ao rebanho. 

(Os pingarelhos crescem mais facilmente em ambientes abúlicos e nihilistas.) 

9.10.18

Chega de pingarelhos!

Leio certas notícias, volto-as do avesso, não para distinguir as verdadeiras das falsas, mas para lhes apreciar a cor - sobre o amarelo cresce o branco a transformar-se numa crosta esverdeada, azulada - a diluir-se numa aguadilha nauseabunda…
Neste lugar húmido e escuro, a notícia é, agora, fungo à solta, que, expressão de uma moral castradora e autoritária, se prepara para estrategicamente aniquilar o que resta da democracia…
Chega de pingarelhos!