7.1.19

Na lição de Bernardo Soares

Eu nunca aprendi a ler no pormenor  «um todo, uma coisa, uma voz, uma frase» -  como 'escreveu' um dia esse economista político que se fazia passar por ajudante de guarda-livros no círculo literário de Fernando Pessoa…
Na lição de Bernardo Soares, o pormenor não é apenas a parte, nem a sombra de Platão, nem os bonifrates de Shakespeare, há a vaidade de quem segue indiferente à engrenagem transformadora, há a banalidade de quem não compreende o poder da imaginação transfiguradora… há esse extraordinário alheamento de quem, um dia, ficou sem cabeça… e seguiu adiante…
Na lição de Bernardes Soares, já havia sinais de que um dia um fogoso presidente entraria em direto no programa televisivo de uma voz esgrouviada para a ajudar a anestesiar uma nação…
Tal como Bernardo Soares, começo a crer que tudo é absurdo...

6.1.19

Nomear cansa

Não chego a perceber se o inominável existe ou se este não passa de um anseio de rejeição de tudo o que poderia nomear. 
Mas nomear cansa… 
Ainda se nomeasse um inesperado deslumbramento - talvez a ave minúscula que me confunde na vegetação do frondoso jardim de Gonçalo Ribeiro Telles… O que é feito dele? Se calhar continua a desenhar círculos de água… 
(Distante do saco de Eça de Queiroz - que estranho - tenho dificuldade em imaginar a mochila queirosiana; um tablet evitaria aquela conversa pedante de quem nunca quis ler duas páginas seguidas nem sabe que as aves mergulham nos círculos do arquiteto…)
Abro na página 944..., e logo me encolho ao vislumbrar a insânia de um inquisidor insaciável… e ainda há quem se revolte, como se o lucro não fosse o valor dominante...

5.1.19

Apenas fiapos

Passaram sete anos e outros sete, dois ciclos concluídos!
Do que vem não se sabe em que ponto já vai e se respeita a predição… 
O que não faz sentido é desperdiçar o tempo a pensar nisso, até porque nada obriga a que haja renovação… 
Apenas fiapos de resignação.
Enquanto o fiozinho não se rompe, sigamos o caminho… depois alguém dirá o que tiver a dizer…

4.1.19

OURO

As cadeias estão lotadas. Não há dinheiro para construir novos estabelecimentos prisionais. Nem há dinheiro para valorizar as carreiras dos carcereiros…
(..)
Não faz sentido prender cidadãos tão impolutos… Se porventura algum pecado cometeram, uma penitência leve, com o acréscimo do pagamento balsâmico de uma ou outra indulgência, lava tudo. Nada que Melchior não tenha satisfeito em devido tempo…
Agora há que ir atrás dos canalhas e pô-los atrás das grades.

3.1.19

Não sei bem o que sinto

Ainda não me sinto em 2019, isto é, não sei bem o que sinto, pois tudo me surge sob um nevoeiro persistente. Não vejo nisto qualquer metafísica, nem já me contento com a explicação de que esta abarca tudo o que está para além da matéria…
Ando há anos a repetir definições cristalizadas, e isso aborrece-me cada vez mais… Aborrece-me o relativismo moral… Aborrece-me a indulgência… 
Aborrece-me a intransigência, porque as âncoras estão desertas, enferrujadas… já não há barco nem marinheiro que as procure...

2.1.19

O elevador

Vivi vários anos em espaços fechados e nunca tal me deprimiu. 
A disciplina do lugar deve ter contribuído para eliminar qualquer espécie de angústia. 
Por outro lado, o facto de ter nascido numa aldeia também não será alheio a esta ausência de temor - a aldeia não era delimitada por qualquer muralha, mas havia lá uma linha invisível, inultrapassável… O exterior despertava muito mais ansiedade, porque era um não-lugar, sede de todos os perigos…

Hoje, repentinamente, o elevador avariou no entre o 12º e o 11º andar. Fechado, esperei pacientemente, sem qualquer receio, que alguém me libertasse da clausura forçada. Foram 30 minutos, lentos, mas sem um mínimo de ansiedade…

1.1.19

Da insanidade mental em política

«Et pourtant, tout régime politique vaut ce que vaut le personnel politique qui le dirige et le fait fonctionner.» Atsutsé Kokouvi Agboli, Jeune Afrique, nº 1624

Se o regime político é a expressão do pessoal político que o dirige, hoje os brasileiros entraram na era da insanidade mental.
Infelizmente, os doente mentais estão a ser catapultados para o exercício do poder, com a aprovação da populaça e a manipulação de inconfessados interesses transnacionais.
E como se sabe, a doença mental não escolhe a cor política, qualquer uma lhe serve… mesmo que Bolsonaro prometa que a bandeira brasileira jamais acolherá o vermelho, apesar de apostar no seu derramamento…