4.8.13

Um livro imperdível

Há livros que devemos ler, mas que podem ser lidos em qualquer altura, mas há outros que é imperdoável não os ter lido no momento certo. No caso, é imperdoável que aqueles que se preocupam com o governo da coisa pública não o tenham feito à data da sua publicação - 1995. Estou a referir-me à obra de Zygmunt Bauman " A Vida Fragmentada - Ensaios sobre a Moral Pós-Moderna".
No essencial, os tempos que vivemos são fruto da política de desmantelamento das instituições levada a cabo por Thatcher (e por Reagan), uma política que, após a unificação da Alemanha e o desmoronamento da URSS, passou a ser regulada pela finança supranacional. A própria União europeia foi obrigada a trocar o princípio da subsidiariedade pela «cultura de casino cósmico» , em que tudo se calcula em termos de «impacto máximo e obsolescência imediata» (op. cit., pág.269).
Passámos a existir enquanto contribuintes e consumidores. Caso não consigamos manter esse estatuto, deixamos de ser recicláveis e passamos à categoria de dispensáveis, isto é, para os políticos somos "elimináveis", pois só assim as economias poderão ser revitalizadas.
Os "elimináveis" não passam de um produto tóxico, de "imparidades"... acabando como arma de arremesso político entre os gestores do «casino cósmico» e aqueles que, ainda, se consideram representantes de um pensamento de "esquerda". Só que com o desmantelamento do Estado, a "esquerda" deixa de existir, a não ser como entidade fragmentada e nostálgica que nada pode impor.
Em Portugal, nada do que está a acontecer, em 2013, é novidade para Bauman, em 1995.

3.8.13

Albufeira do Cabril

Partida: Parque de Campismo do Pedrógão Grande. 1º alcatrão, depois terra batida, plana. A Ilha expõe-se em forma de casco de embarcação e oferece descanso e a possibilidade de merendar para quem se tenha aviado em terra.
Como não há ilha sem encosta, os mais afoitos podem descer até à linha de água, desde que não esqueçam que vão querer regressar...
Duração: duas horas, a não ser que levem cana de pesca ou queiram mergulhar nas águas da albufeira.
/MCG

2.8.13

Confluir


Juntam-se as águas e seguem o seu curso, alheias a hierarquias de estado ou de qualquer outra espécie e, simultaneamente, as margens iluminam-se, gratas à conformidade que assim as guia.
A cada passo, a natureza dá o exemplo, mas nós preferimos ignorá-lo em nome de uma cultura que insiste em defender uma identidade artificiosa, de uma soberania que já perdemos…
Ouvi há pouco que temos mais um partido: o MAS – Movimento Alternativa Socialista. Um partido para o futuro que quer voltar ao passado: ao escudo, à bancarrota, ao Estado-nação. Mais um grupo de “intelectuais” que não entende o mundo em que vive…  

31.7.13

Na Foz do Alge


O título pode não corresponder, pois não é fácil chegar ao parque de campismo da Aldeia Foz de Alge, sobretudo quando o GPS Sony não reconhece as novas vias, e acabamos por enfrentar a íngreme  subida que leva a AREGA. Aqui, não há sinalização, a não ser o simpático indicador humano que lá mandou virar à esquerda e depois à direita, atravessando a floresta de 3 km, e depois já haveria placas… Havia, mas nenhuma que indicasse a estrada para o camping.
Acabei por atravessar a Aldeia da Foz de Alge, com o credo na boca, pois quem desenhou as ruas nunca imaginou que por ali viesse a passar uma autocaravana. Eu próprio ainda estou sem saber como é consegui não derrubar nenhum beiral…
Enfim, cheguei a um parque com uma receção acolhedora, bem situado junto ao Zêzere, com as cigarras em plena cantoria. No entanto, a música de fundo bem alto – um misto etno-pimba – não ajuda quem procura o parque para descansar!
(Tudo seria  ainda mais agradável se a Sony tivesse alguma consideração pelos utilizadores dos seus GPS – caros e sem possibilidade razoável de atualizar o software, e se os Institutos que tutelam as estradas e o turismo se preocupassem em sinalizar devidamente as estradas, os locais de interesse e os respetivos acessos…)

30.7.13

O nosso interesse

O que é que nos interessa?
De forma seca, interessa-nos a comodidade e, sobretudo, que não nos incomodem.
A comodidade assegura-se com património, um bom salário, a sorte grande, um corpo jovem e em forma. Tudo o que se oponha é já um incómodo!
A crise é um incómodo, mas que só incomoda, por enquanto, uma minoria. Enquanto houver sol e praia, subsídio, mesada, cartão de crédito, saúde, a maioria segue incólume.
Pode-se até pensar que a cobertura de viaduto, um banco de jardim, uma cela são abrigo suficiente para que não nos incomodemos...
Claro que continua a haver aqueles que, incomodados, partem! Tal como no passado, sempre houve homens e mulheres que rejeitaram o fado e reconstruiram as suas vidas noutras latitudes...
Por cá continuam as moções de censura e de confiança, sem que seja possível romper com o comodismo das nossas posições.

29.7.13

Carris desrespeita os utentes do 783

O utente chega à paragem, olha o painel informativo e percebe que daí 14 minutos tem um autocarro para a Portela, no caso, o 783. Poderia, entretanto, ter aproveitado o 783 para o Prior Velho, mas com o inconveniente de ficar apeado antes de chegar ao destino.
Decidira esperar. O tempo escorre até que, subitamente, passam a faltar 34 minutos. Porquê? Ninguém sabe! O painel informativo nada explica.
Pacientemente, o utente da Portela rende-se à espera de novo 783 para o Prior Velho, mesmo ficando apeado...
Surpreendentemente, às 12h38, na Praça do Saldanha, o 783 passa vazio...RESERVADO... e o utente continua à espera sem qualquer explicação...
 

28.7.13

Ser / estar na notícia sem mestre de cerimónia

- O que fazem três milhões de indivíduos na praia de Copacabana?
Os crentes dizem que estão lá para estar próximo do Papa Francisco. A verdade parece, no entanto, ser outra: estão lá para estar na notícia, para fazer parte da notícia. Ainda assim, há muitos, crentes ou não, que se deslocaram para "ser notícia". E, para o efeito, vale tudo: banho na onda alterosa, protesto contra o governador, revolta contra a hipocrisia da Igreja Católica...
O próprio Papa franciscano (?) procura, sob o olhar das câmaras fugazes, não ser ocultado pelo movimento das ondas humanas.
Uma das lições que, provavelmente, este Papa poderá extrair do evento é que não lhe basta ser notícia para existir, pois a sua ação poderá reacender não só a fé, mas, sobretudo, antigos demónios que durante séculos devastaram a terra em nome de uma Ideia que se queria única e verdadeira.
Paradoxalmente, perto de Santiago de Compostela, um pequeno burgo abandonou tudo o que estava a fazer para socorrer as vítimas de um infausto acidente ferroviário, sem quererem ser /estar na notícia... Esses, sim, existem!
Existem sem encenações nem mestres de cerimónia!