28.5.23

O livro por escrever...

Herberto Helder: «escrevi porque tinha um problema de ódio a resolver.»

Eu nunca fui capaz de odiar ninguém, isto não quer dizer que não tenha sido atormentado aqui e ali. No entanto, preferi seguir caminho à espera que o tempo tudo sanasse...
Talvez não tenha sido a atitude mais adequada, mas não me passava pela cabeça resolver os conflitos através da escrita panfletária ou outra...
O que de aqui resulta é que os curiosos ficaram sem acendalha para darem satisfação à coscuvilhice que lhes mina a mente.
E assim se explica porque nunca escrevi um livro...

21.5.23

Aposta falhada

 «Car on instruit les ignorants pour que, d'ignorants qu'ils étaient, ils deviennent des gens instruits.» Maître Eckart, La Divine Consolation


Sinto-me traído. O espectáculo dos últimos dias revela que, se houve alguma aprendizagem, foi a da dissimulação, com o único objetivo de chegar o mais depressa possível ao pote. Toda a argumentação é pidesca e obscena, encapotada, no entanto, de espírito democrático.

(Cuidado com os poços! Quando menos esperamos, surgem os cavacos escondidos pelas silvas...)

18.5.23

Era necessário fazer-lhe a folha!

Afinal o Dr. Pinheiro vinha do Gabinete anterior, com o monopólio do dossier TAP... Não é difícil imaginar que o Gabinete constituído em Janeiro, incapaz de compreender em tempo útil o que estava em causa,  entrasse em conflito com o Adjunto...
Das audições de ontem, fiquei convencido que a familiaridade que governa estes gabinetes só pode acabar em violência, até porque a sua constituição já é indicador suficiente... sem ser mesmo necessário falar do protagonista que se esconde numa chamada telefónica para demitir o Dr. Pinheiro...
Consta que outrora o Dr. Salazar também tinha o costume de demitir os ministros pelo telefone...

14.5.23

Da poeira das praias almadenses

Hoje, fui à Praia da Mata... Continuo sem perceber por que motivo a Câmara de Almada não cuida dos acessos...É só pó, poeira!
Provavelmente, o povo procura ali o pó em que se há de tornar e que, paradoxalmente, seria um dos indícios da alienação, na vulgata marxista...
Só que este povo já não é de Deus, a não ser por precaução, não vá a eternidade estar à sua espera... 
Se eu vivesse para (e em) Deus, não estaria aqui a queixar-me, nem sequer me aperceberia da sujidade que me envolve o corpo... 
O batismo teria sido suficiente e a poeira não me afetaria a ideia...

10.5.23

O sentimento

«Um sentimento é um estado afectivo que se produz por causas que o impressionam. Estas causas podem ser alegres e felizes, ou dolorosas e tristes. O sentimento surge como resultado de uma emoção que permite que o sujeito esteja consciente do seu estado anímico.
Os sentimentos estão vinculados à dinâmica cerebral e determinam de que forma uma pessoa reage perante distintos acontecimentos. Trata-se de impulsos da sensibilidade relativamente ao que se imagina como sendo positivo ou negativo.
Por outras palavras, os sentimentos são emoções conceptualizadas que determinam o estado afetivo. Sempre que os sentimentos são saudáveis, o estado anímico alcança a felicidade e a dinâmica cerebral flui com normalidade. Caso contrário, o estado anímico não está em equilíbrio e podem surgir perturbações como a depressão.
As alterações nas cargas emocionais determinam as características dos sentimentos. As emoções podem ser breves no tempo, embora possam gerar sentimentos que se mantêm durante períodos bastante extensos.
Os sentimentos podem ser positivos quando promovem boas ações, ou prejudiciais se fomentarem más ações. Neste último caso, é importante que o homem consiga dominar os seus sentimentos e modificá-los. Por exemplo: Um sujeito que sinta ódio planeia realizar um assassinato. É portanto imprescindível que essa pessoa controle o seu sentimento de ódio de modo a evitar o crime.
A pessoa nunca se deve guiar unicamente pelos seus sentimentos, uma vez que estes são instintivos e, como tal, podem representar uma perda de liberdade para o ser humano ou promover actos irracionais, tal como mencionado no exemplo anterior.»

A citação vai longa, mas o objetivo é clarificar o significado de uma palavra que se vulgarizou de tal modo que a irracionalidade campeia...  Uma guerra não tem início apenas porque o tirano assim o decide, mas porque nos esquecemos de que a paz deve ser preservada a todo o custo.

7.5.23

Na Almirante Barroso


Esta é a minha janela. Sempre que regresso, estaciono nesta rua, dou uma espreitadela aos jacarandás e verifico se os contentores do outro lado do gradeamento já foram retirados... De novo, só a flor que se vai repetindo anualmente... e já passaram três anos.
No entanto, na última noite, voltei à caixa geral de aposentações a participar a minha decisão de me aposentar em definitivo, e já não é a primeira vez que tal me acontece... Numa estranha caixa de areia, com pequenos vales e algumas colinas, ficou registado a chumbo que o melhor é deixar de olhar para trás, até porque o futuro não se deixa vislumbrar.
Regressei ao restaurante chinês da rua Actor Taborda, nº51, porque o Dia da Mãe lá me levou, apesar da minha já ter partido, levando consigo o que nunca pudemos dizer...

2.5.23

O poder enlouquece

Acabo de ler O rei Lear, de William Shakespeare.
O que é que posso dizer desta tragédia? Pouco. Nunca fui rei, mas compreendo que há momentos em que começamos a errar as escolhas que fazemos... E quando tal acontece, não há volta a dar, pois o que move os herdeiros (e os súbditos) são as paixões... e estas rapidamente se desinteressam do bem comum...

Creio que o António Costa, tal como o rei Lear, já se deixou enredar pelos seus favoritos, perdendo assim o pé da governação. A vantagem dele (desgraça nossa!) é que ele não é o último louco... o Marcelo tudo fará para o ofuscar.

Esta manhã, ainda não tinha concluído a leitura, e já começara a pensar que a passagem do tempo em nada contribui para aprimorar da inteligência: a lucidez é um privilégio de muitos poucos, concedido pela hora em que se nasce...