30.1.23

A humilhação dos professores

Esta sistemática desconsideração dos professores em termos profissionais e sociais já vem de longe. Arrisco-me a afirmar que vem dos anos 70 do século passado, quando os jovens dessa época, na ânsia de se libertarem do autoritarismo vigente, desataram a desrespeitar os professores (e muitas vezes os próprios pais), convencidos de que a humilhação era uma forma de luta aceitável.
Ainda hoje recordo os conselhos de turma em que os professores eram obrigados a calar, independentemente das suas ações serem favoráveis ou desfavoráveis ao novo regime. A ponderação foi atirada para debaixo do tapete e o ruído foi fazendo o seu caminho...
A verdade é que, apesar de tudo, os professores eram necessários para avalizar a autossuficiência que ia crescendo e, durante algum tempo deixaram-se inebriar pela transformação do sistema educativo, sem perceber o caminho que estavam a trilhar.
Não perceberam que começavam a ser governados por esses mesmos jovens que os tinham humilhado, que paulatinamente subiam a escadaria do poder, através das juventudes partidárias, com o propósito de partilhar a riqueza resultante do financiamento europeu... e, sobretudo, sem perceber a falta de carácter dos novos protagonistas. 
Incompreensão estranha, porque muita dessa falta de valores estava bem à vista na indisciplina que ia crescendo nas salas de aula e no facilitismo da progressão escolar.
Tudo passou a ter um preço, e os professores passaram a ter um custo, deixando de ter formação remunerada, ficando à mercê de estratégias de bloqueio manhosas - diuturnidades, fases, escalões, cotas... concursos e mais concursos.
Sem falar do espantalho da autonomia supervisionada em que, apesar da constante mudança terminológica e da aparente governança aberta à comunidade dos encarregados de educação, das empresas e das autarquias, tudo se foi degradando no que respeita à fixação dos professores nos quadros das escolas, à sua formação e ajustada remuneração.
No essencial, mais do que o perfil do aluno ou do professor, o que está hoje em causa é o modo como foi gerado o perfil do governante, habituado a viver da juda externa, incapaz de produzir o que quer seja... rodeado por uma multidão de fâmulos, cujo único propósito é servir-se.

26.1.23

Botas-de-elástico!

 

Não sejam botas-de-elástico! Então, queriam receber o Papa Francisco, ali mesmo ao lado, num palco assente nas estacas provenientes dos incêndios de verão... 
O que está em causa não é a celebração do Papa com a Juventude de parte do mundo cristão, o que interessa é o que vem após... Tal como aconteceu com a EXPO 98, a relembrar a chegada à Índia 500 anos antes...
Agora, discute-se tudo, esquecendo, no entanto, o custo das caravelas que partiram em busca das especiarias, o custo das guerras do Império...
Lá no fundo, queremos continuar medíocres, e detestamos quem procura elevar-se aos olhos da FAMA... a inveja continua bem viva!
Até o Botas teve necessidade de celebrar o regime através da Exposição do Mundo Português... e ainda há pouco tempo,  Cavaco Silva não perdeu a oportunidade de referir o seu 'papel' no sucesso do Centro Cultural de Belém...
Sem OBRA, os governantes caem no anonimato. Não é só Deus que quer...

21.1.23

A suspeição

Se duvido é porque suspeito.
Outrora, suspeitava-se que andávamos a ser enganados, por isso se procurava com tanto afinco a verdade… e a ciência ajudava, ao contrário da teologia.
Hoje está na moda duvidar de todos aqueles que, de algum modo, têm de agir. A suspeita bate-lhes à porta, mesmo que não lhes tenha passado pela cabeça deixá-la entrar.
A honra morreu sem que nos tivéssemos apercebido ou, então, anda perdida no areal da suspeição.
O pior é que há quem seja pago (e bem pago!) para lançar o boato, o mujimbo… ao abrigo do direito de supor que, dizem, ser a nova forma de pensar... e de inculcar a desinformação.
Há quem seja pago para criar o caos informativo - os mercadores da mentira; os engenheiros do caos... Lembro, entretanto, que já José Rodrigues Miguéis, noutros tempos menos caóticos, assinava uma coluna no Diário Popular chamada a 'programação do caos'...
Asseguram-me que, nas redes sociais, a narrativa de desinformação tem uma potência de fruição / circulação 70% maior do que uma informação credível.
Por este andar, vou continuar a duvidar de tudo e de todos. Se me virem por aí de lanterna na mão durante o dia (e a noite) é porque decidi seguir o exemplo de Diógenes, o cínico...
Finalmente, começo a acreditar que a suspeição não passa de uma serva da alusão… ainda a procissão não saiu do adro!

19.1.23

Amílcar Cabral, assassinado há 50 anos



Nasceu em Bafatá (Guiné-Bissau), filho de Juvenal Cabral e Iva Pinhal Évora, a 12 de setembro de 1924. Morreu a 20 de janeiro de 1973, assassinado.

(ver Amílcar Cabral, in Página: editar (blogger.com))

A verdade continua por apurar...


18.1.23

A maldade não é uma figura

 

A ironia aborrece-me, já não me salva o dia, pois a maldade está tão entranhada no quotidiano que o discurso oral ou escrito emudece.
Desviamos os olhos, cerramos os ouvidos e seguimos adiante como se nada estivesse a acontecer...

Ainda pus a hipótese de que a maldade pudesse ser uma figura; consultei Pierre Fontanier, mas ele desconhece-a, tal como Cícero, Quintiliano ou Dumarsais...
Parece que a maldade não é uma construção… ela vem da raiz e espalha-se vertiginosamente, alheia à educação… Só necessita de alguma instrução inicial... o aprimoramento vem com as companhias.
Ou ando a ver e a ouvir mal?

10.1.23

A síndrome de Schreber...

No capítulo Dominação e Paranóia, Elias Canetti, Massa e Poder (1994), traça o retrato de um ser abjecto. Não resisto a transcrever a passagem que melhor se aplica ao comportamento atual de Putin:

«A tendência mais profunda de qualquer detentor do poder «ideal» é que ele próprio seja o último a permanecer vivo. O detentor do poder envia os outros para a morte para que ele próprio seja poupado, desviando a morte de si. Não é apenas a morte dos outros que lhe é indiferente, tudo nele o impele para que a morte ocorra de um modo massivo. E recorre muito particularmente a esta solução radical quando a sua dominação sobre os vivos é contestada. Logo que se sente ameaçado, a sua paixão por ver todos os indivíduos mortos diante de si e trorna-se muito difícil de controlar com argumentos racionais.» 

7.1.23

A IRONIA


Como há cada vez mais pessoas incapazes de compreender um enunciado marcado pela ironia, eis uma breve elucidação:

1. Etimologicamente, a ironia é a acção de interrogar fingindo ignorância. É o processo utilizado por Sócrates para levar o seu interlocutor a enunciar um absurdo que ele irá corrigir.
2. Figura de retórica que consiste em apresentar como verdadeira e séria uma proposição claramente falsa ou inadmissível. Neste sentido, a ironia engloba o humor...
3. Sentido comum: atitude trocista

A ironia pode ser expressa por:

1. Por uma figura de palavras: antífrase ( Aquele fidalgo é um pobre homem.)
2. Por uma figura de pensamento que consiste em encadear proposições contrárias à verdade:
  • Pelo encadeamento lógico essencial que reduz uma proposição até ao absurdo.
  • Acentuando o contraste entre os factos e a justificação que deles se dá.
  • Exagerando.
  • Pela repetição.
  • Pelo desvio entre a linguagem poética e a realidade que ela sugere.
  •  Pelo paradoxo.

6.1.23

Dia de Reis

 

Dia de Reis ou dia de privilégios?

Bem sei que os tempos eram outros, mas à luz das estrelas que nos regem, desconfio que os Reis Magos não têm entregue a declaração de rendimentos e, sobretudo, não clarificaram a origem dos proventos...

Espero que o Correio da Manhã e o Ministério Público não ignorem a situação… sem esquecer as condições de vida dos pobres camelos que os vão transportando ao longo dos tempos.

PS: Encontrei este presépio na distinta cidade de Sacavém...


4.1.23

A tropeçar

Tropeço no tempo...
Ficaram para trás rostos que deveria guardar - ainda há datas que recordo, que, entretanto, já só servem para acentuar a efemeridade, minha.
Paradoxalmente, a cada dia que passa, fico mais perto desses rostos delidos…

Ainda a memória que não consola, mas que alerta. Voltei ao Rossio e fiquei com a sensação de que o património pode ser restaurado... só eu é que não!

2.1.23

O novo ano

O novo ano perdeu a maiúscula e entrou desconfiado. 
Afinal, o Putin continua a desafiar a paciência dos povos. Lá no íntimo, o ditador espera que alguém tenha suficiente coragem para o eliminar...
Do Lula, o Brasil ainda não sabe se a comoção do regresso conseguirá que o seu Governo leve a cabo os desafios que ao mundo vai proclamando...
Por cá, vivemos na dúvida se o Costa aproveitará para remodelar o Governo, libertando-o dos delfins… Por seu turno, o Marcelo promete continuar a voar, sem que saibamos quanto custam as suas viagens…
Quanto a mim, desconfio do quê? O novo ano acabará por responder.