29.9.22

Afinal, os deuses


Afinal, os deuses são promíscuos e caprichosos e, sobretudo, não abdicam do respetivo poder. Ainda pensei que me poderia refugiar neles, mas basta atentar nos furacões que soltam quase diariamente para deixar de os respeitar.
Quanto aos homens, a sua emancipação (o humanismo) não passou de divertimento de quem deixou de saber preencher o tempo...
Talvez quando o comboio de alto velocidade chegar, com o país mais acanhado nas palavras de um ministro vulcânico, fiquemos ainda mais javardos, palavra nada diplomática como se sabe...

27.9.22

Por cá...



A natureza pode ser apenas bela, sem necessitar de servir ou de ser servida.
Infelizmente, com o homem tudo é diferente: à beleza prefere o poder de submeter...
E a submissão manifesta-se de muitas formas: uma delas é o espírito da manada...
Há, no entanto, assomos de rebeldia que merecem ser elogiados. Por exemplo, a rejeição da guerra na Rússia ou dos véus no Irão.

Por cá, também há alguns sinais de insatisfação sagazmente aproveitados por aqueles que procuram o poder de submeter enquanto a manada estrebucha.

25.9.22

A realidade

Citação:
A realidade, comovida, agradece, mas fica no mesmo sítio/ (…) / Ela sabe que os escritores/os pintores/e quem morre/ não gostam da realidade/ querem-na para um bocado/ não se lhe chegam muito, pode sufocar. (Cesariny, A Cidade Queimada)

No essencial, os mortais não gostam da realidade. Há quem chegue a deitar-se no chão à espera da imortalidade!

24.9.22

Um jovem juiz

 

O melhor é não dar nas vistas, embora se Juno nos tiver tomado de ponta, pouco possamos fazer para contrariar a sua vontade.
Seguro é que sozinhos soçobramos, a não ser que alguma entidade invisível possa tirar proveito da nossa ação...

Em termos práticos, esta lição tem poucos adeptos. Creio, no entanto, que há cada vez mais associações que exploram a natural fraqueza humana.
Talvez já tenham percebido que me encontro sob a influência virgiliana, apesar de ainda não ter chegado ao fim da Eneida...

Vejo que há por aí um jovem juiz a quem caiu em mãos um processo titânico. Parece que se espera que ele o leia integralmente, o que, certamente, supera em dureza os doze trabalhos de Hércules...
Se ele precisar de ajuda, estou disponível.

Citação:

A realidade, comovida, agradece, mas fica no mesmo sítio/ (…) / Ela sabe que os escritores/os pintores/e quem morre/ não gostam da realidade/ querem-na para um bocado/ não se lhe chegam muito, pode sufocar. (Cesariny, A Cidade Queimada)


20.9.22

A sombra

(Nada parece fazer sentido a esta distância. No entanto, nos infernos talvez seja sombra...)

Neste lugar caem, por vezes, ideias que, depois de vistas, são inverosímeis. Por exemplo, pensar que as ideias possam ser visíveis ou invisíveis é absurdo.
Ora, como o que mais apetece é a visibilidade, talvez não seja disparate pensar que a crise das ideias está crescer.
Assim, estão criadas a condições para que a força acabe por esmagar qualquer tentativa de mediação. 
Só o que vemos seduz, mesmo que consigo traga a destruição derradeira...

A canga

Não me parece correcto que os interesses individuais se queiram sobrepor aos colectivos. Isto não significa que defenda o primado do colectivo sobre o individual, só que há quem abuse, pondo o carro à frente dos bois...
E eu sempre tive uma certa estima pelos bois, nem que fosse porque a canga os tornava submissos...

17.9.22

A origem

 

A origem do quê?
Talvez pudesse responder, mas não quero, pois os deuses poderiam levar a mal...
De facto, da origem sabemos cada vez menos. E que importa?
O presente já nos basta.
E quanto ao futuro, quem vier que feche a porta.

O que vejo é quase nada e o que oiço menos ainda.
Claro, há sempre quem nos peça a conta como se pagar fosse a forma de fugir ao esquecimento...

Agora que o frio se aproxima, o melhor é desligar a corrente e hibernar, deixando as respostas para outra ocasião.
Desligar das palavras é uma tentação.

(Foto: Museu do vinho da Bairrada)

13.9.22

Chegado setembro

 Agora que a chuva regressou, parte das nossas vidas voltou ao normal. A outra parte escapa-nos e, como tal, o melhor é deixá-la seguir o seu curso.... De preferência, com uma pitada de sal e não necessita de ser o dos dominicanos..

(De Águeda às salinas de Aveiro, passando pela Quinta, em São Lourenço do Bairro. O atendimento da Drª Sílvia no solar do século XVIII é exemplar.)

De notar que nesta zona, a água parece não faltar.






10.9.22

O que fazer com estes deuses?

 

Já cheguei ao final do terceiro capítulo da Eneida. Leitura lenta, pois são mais as notas do que o texto...
À época, o mediterrâneo seria um mar assustador, mas o que mais impressiona é, afinal, a questão da responsabilidade. 
A ação humana era totalmente determinada pelos conflitos entre os deuses, cujo código de conduta era inexistente e a promiscuidade absoluta.

A talho de foice, parece que os deuses protestantes são os verdadeiros, pelo menos, para o rei Carlos III.
Por cá, fico com a ideia de que voltámos a ser uma colónia britânica, apesar dos verdadeiros deuses serem outros...
E depois queixam-se da irresponsabilidade humana! 

( A foto foi tirada no Museu do vinho da Bairrada.)

7.9.22

Dona Lídia

 

Dona Lídia já fez 80 anos. Trabalha há 56 anos ao serviço de senhores vários, uns terrenos, outros divinos. Continua a assegurar o seu sustento, sempre com um sorriso  e um discurso claro e conciso.
Combate as mazelas, sobretudo do joelho, deslocando-se de bicicleta em São Lourenço do Bairro e redondezas, todas, mais ou menos, ligadas à produção de vinho.
Esta foto foi por si autorizada, apesar do 'avental'. Eram 9 horas da manhã, depois de já ter ido a Vilarinho do Bairro buscar umas análises, que a não devem ter afligido. No momento, deslocava-se para para Paredes do Bairro.
Vive longe das redes sociais, mas não da realidade.

5.9.22

No dia do anúncio do bodo aos pobres

 


No dia do anúncio do bodo aos pobres, convido-vos a pensar na origem da riqueza que tal permite.
Talvez a foto ao lado nos ajude a explicar o gesto governamental.
Esperemos, no entanto, que Costa não esteja a repetir Sócrates, com as consequências de que muitos ainda se lembram.

3.9.22

Às ordens de Juno

 



Enquanto Eneias não recupera a armada ventalizada às ordens de Juno, deixo aqui uma nova foto da quinta de São Lourenço... (do Bairro).
Embora não me considere sob a atenção da deusa filha e esposa de Júpiter, prefiro não lhe dar pretexto a que solte os ventos à guarda de Éolo.



1.9.22

O sofrimento das vinhas

                 


                                        

A visita ao Museu do vinho da Bairrada vale a pena, nem que seja para perceber o sofrimento das vinhas em tempo de míldio.

O que seria, em tempo de Covid, ser injetado com estes instrumentos? E ainda há quem se queixe!

O Museu é muito interessante, mas não 'oferece' prova de vinho... nem vende.
A entrada custa um euro.