31.7.20

Se cada vida é uma enciclopédia

Tondela
Se cada vida é uma enciclopédia, o desafio de lhe percorrer as avenidas torna-se penoso, porque os caminhos se tornaram encruzilhadas que foram determinando cada momento. Foram-se os princípios e ficaram as circunstâncias…
A vida é determinada por circunstâncias cada vez mais desligadas da narrativa anterior. Veja-se o que está a acontecer em 2020! O elo quebrou-se e, agora, de nada serve olhar para trás…
O presente é determinado pelos erros que formos cometendo ou evitando. A astúcia está no jogo da vida que pode ser de morte.
Agora joga-se à porta fechada, mas melhor fora que as portas se abrissem e entrássemos com o respeito devido.

30.7.20

Estados...

O que é que significa viver em estado de emergência ou de alerta?
Ir à praia ou ao campo... ao shopping ou à boutique... ao bar ou à discoteca?
Gozar férias no estrangeiro ou regressar à terra de origem?

(Tudo feito de acordo com protocolos definidos pelas autoridades de saúde para que os hospitais não voltem a entupir… e os velhos deixem de morrer em silêncio.)

A semântica parece variar de contexto para contexto, como se o problema não fosse mundial. E depois há o outro problema - o da derrocada económica e social. Por aqui ainda há quem acredite que se formos à praia ou ao campo, ao shopping ou à boutique, ao bar ou à discoteca; se os emigrantes regressarem à origem… e se nos empanturrarmos de leitão e de marisco, de cervejas e outras libações, então, a nação salvar-se-á…
Haja paciência!

28.7.20

A borboleta e o cão

A borboleta não incomoda, mas um cão à solta pode incomodar e muito…
A borboleta, apesar da cor, é quase invisível. Por vezes, não fosse a abelha, nem dávamos conta da sua presença. 
O cão também sabe esconder-se, porém se a presa o atrai, torna-se audível e ataca a canela sem olhar a quem… E pode ser irritante se nos toma de ponta.
E a irritação é algo com que não sabemos lidar…
Vem isto a propósito do quê? - De certas bandeiras que insistem em acirrar ódios antigos…

26.7.20

Uma pessoa foi morta

Uma pessoa foi morta a tiro na principal avenida de Moscavide. Era sábado de compras e de coscuvilhice, o sol começava a escaldar… Disse-se de imediato que a vítima era negra e, mais tarde, que era ator… Não estou a ver a importância da cor, nem se de profissão, a pessoa era profissional ou amador…
Estou sem saber se o homem que matou não gostava de negros ou de atores, mas dizem-me que tinha 80 anos e que foi imobilizado pelos populares. Estranho que estes não tenham tentado fazer justiça pelas próprias mãos.
Será que os moscavidenses não gostam de negros ou de atores? Ou será que a idade do homem lhes impôs um certo distanciamento?
Entretanto, o aproveitamento sectário já está em marcha. 
Para perceber a causa da morte gostava de saber se o homem que matou algum dia foi pessoa...

23.7.20

Pintar a cara de preto

Caramulo
Dou-me mal com o calor… E a prova disso é que, enquanto leio Pensar o Mundo de Manuel Maria Carrilho, vou relendo uma velha Gramática Latina…
Claro que vou espreitando a informação, mas esta é tão deprimente que já não sei o que pensar deste pequeno mundo lisboeta: parece que decidiram pintar as ruas de verde, azul, de laranja… 
Os decisores de Lisboa e Vale do Tejo deveriam era pintar a cara de preto. Afinal, na periferia e no interior da capital, as condições de alojamento são miseráveis e quem lá vive, se não é clandestino é precário… e trabalha para patrões habituados a pagar impostos nos países frugais…
Outros vão reconstruindo espigueiros, deixando o pavimento dos arruamentos ao abandono…

21.7.20

Da varanda...

Da varanda do hotel Golden Tulip (Caramulo)
Concluída a estadia, o caminho de regresso... a casa, a última, porque na vida há muitas casas, cada uma com a sua história…
Pena é que as casas vão ficando desertas; as memórias dos seus habitantes apagam-se sem deixar notícia…
Talvez tenha sido por isso que John Banville escreveu O Mar, numa derradeira tentativa de prender o presente do passado.
Concluída a leitura, fica a ideia de que Banville domina a técnica da composição, só que do passado o que se pressente é a inventiva do autor.

19.7.20

metamorfose

O homem, que foge da destruição, aposta na preservação e no restauro…
A natureza, que de nada foge, transforma…
Eu já não fujo nem transformo, apenas observo, embora não queira cair no alheamento. 
Só que as ações humanas são tão cretinas que  eu gostaria de ser vegetal numa encosta verdejante de uma serra…qualquer… Sem jesus, nem vieiras, nem venturas, nem cristinas e, sobretudo, sem espíritos santos, mexias, sócrates e outros cardeais…

16.7.20

Escadinhas de D. Jaime

A toponímia de certos lugares tem particularidades evocativas inesperadas.
Desta vez, a associação foi instantânea. Uma jornalista entrevistava o diretor de uma escola secundária de Lisboa: - D. Jaime, o que é que pensa do modo como…; e o diretor respondeu o melhor que soube, aproveitando para vincar a sua discordância… 
Nada de novo, a não ser que a jornalista se despediu de D. Jaime…
Ora a secular escola não fica assim tão longe da rua Tomás Ribeiro, o autor de D. Jaime ou a Dominação de Castela, nascido na Parada de Gonta, Tondela, a 1 de julho de 1831...
O poema foi elogiado por António Feliciano de Castilho, que chegou a compará-lo com Os Lusíadas, de Camões. 
Os caminhos por onde passamos são pródigos e, talvez, a jovem jornalista estivesse a falar /escrever direito por linhas tortas… Acontece a muita gente!

(Des)confinado

Não fosse o inimigo invisível, diria que esta foto seria expressão de um viajante despreocupado...
Não vou referir o lugar para não provocar nenhum indesejável ajuntamento.
Deixo apenas o registo de que daqui se avista  a serra da Estrela, o que, por instantes, me fez pensar na montanha de "Aparição" do Vergílio Ferreira, eu que escolhi ler por estes dias "O Mar" de John Banville.
No ano passado, curiosamente, lia a "Montanha Mágica"...
Interrompo o registo, porque, aqui, o canto das aves me desconfina... 

13.7.20

Por conveniência

Praça duque de Saldanha
O neto do marquês de Pombal nunca imaginou que um dia a retina do cidadão comum haveria de dar mais relevo ao guindaste que se eleva na praça do que à sua ação militar e política ao longo do século XIX, já não falando dos estudos filosóficos e homeopáticos a que se dedicou…
O olhar adapta-se às alterações do contexto, o que se aceita… o que não se compreende é o esquecimento em que mergulhamos, apesar de não ser difícil entender que o fazemos por conveniência…
E as conveniências alicerçam-se na manipulação diária da informação, havendo quem não se importe de inventar ou de viciar as fontes…

11.7.20

A atual pandemia

(O tempo é de desacordo. E isso, em si, não é assim tão mau…)

A atual pandemia trouxe a nu a dificuldade em acordar procedimentos saudáveis (…)
O problema é que o vírus não afeta, só, o local, tornou-se global, mesmo que uma parte da humanidade reaja com desdém… E a solução parece estar cada vez mais distante de quem, efetivamente, dela precisa…
A Ciência e a Política coabitam promiscuamente, e a última não descansará enquanto não reduzir a primeira à condição de criada…

10.7.20

Praia da Mata

Sexta-feira. 11:30. Muita areia, mas o povo não resiste ao acantonamento…
No bar-restaurante da praia, nova gestão - francesa. Ainda sem ritmo, mas promete, a cozinha...
Só é pena que o Município de Almada ainda não tenha descoberto as vantagens do asfalto e de um parqueamento disciplinado!
A água do mar continua fresquinha...

8.7.20

Desproporcional...

Desproporcional? Talvez!
Tudo depende da distância…
Só quando nos aproximamos é que podemos compreender a relatividade da nossa visão, da nossa crença…
Há quem ensine que a crença é o que mais nos aproxima da verdade, da nossa verdade, porque, afinal, a arquetípica não existe…
A ciência não tem resposta, porque não descobre o sentido. Sem sentido não há ciência!
Resta, no entanto, o sem sentido que, em muitos casos, se torna matéria da imaginação - esse planeta que pode ser solução para o problema que é a vida…

6.7.20

O lado de lá

Brilha ao sol, a cidade. Asseada, espelha uma realidade distorcida, porque do outro lado, falsamente confinada, a cidade despeja a obscuridade da pobreza nos transportes pensados para a criadagem desgarrada…
Entre eles, há mordomos cujo objetivo é passar para o lado de cá.
Quem é que sabe verdadeiramente o que se passa do lado de lá? Por exemplo, na freguesia de Santa Clara, que reúne as antigas freguesias da Ameixoeira e da Charneca…

5.7.20

524.000 pensionistas têm mais de 80 anos

Convém não ignorar a informação da Segurança Social portuguesa, via Correio da Manhã. E nos outros países, a situação é idêntica.

Perante esta realidade, compreendo a reação do governo inglês. Na noite passada, as centenas de milhar de britânicos que foram para a rua «agiram com responsabilidade».
A noção de 'responsabilidade' deve ser interpretada com uma boa dose de cinismo. 
O governo inglês, afinal, ao proibir a vinda de ingleses está a proteger os nossos idosos. 

4.7.20

O que seria dos ingleses sem os portugueses?

A História ensina que, pelo menos, desde o século XIV, o destino de Inglaterra passou a estar dependente da ação portuguesa: fomos nós que demos visibilidade à ala dos namorados; fomos nós que elevámos a família Lencastre aos píncaros da fama. Dona Filipa, mãe da ínclita geração, tornou-se madrinha de Portugal… 
Sem a expansão portuguesa, o que seria dos corsários e dos piratas ingleses? Se nós não tivéssemos insistido no mare nostrum, os ingleses nunca teriam lançado as bases do império britânico, nem teriam apostado na apropriação das matérias-primas dos territórios que foram ocupando, incluindo a terra lusa…
Até o Ultimatum ficou a dever-se à insensatez do mapa cor de rosa!
E, sobretudo, nenhuma destas proezas teria sido realizada sem a ajuda dos vinhos do Porto e da Madeira.
Reconheça-se que nas vitórias dos britânicos, houve sempre contributo português. Por exemplo, nas últimas décadas, nós cedemos-lhes o Algarve para que pudessem gozar o sol e o mar, os campos de golf… muita cerveja e vinho…
Perante a lamúria atual, há uma coisa que eu não entendo: quem são verdadeiros beneficiários da atividade turística algarvia? Os portugueses?
Os ingleses são uns ingratos, apesar de, no Reino Unido, darem emprego a mais de 250.000 portugueses.

2.7.20

Assim não vamos lá!

O Governo quer segurar tudo ao mesmo tempo. No entanto, não há dinheiro. Se não há, para quê isentar, subsidiar, nacionalizar, injetar capital, emprestar a fundo perdido, impor moratórias? Prometer para não cumprir!
Anda tudo de mão estendida nesta barataria…
Se não deixamos falir quem nada fez para proteger a atividade, então o Estado diluir-se-á nas mãos dos predadores e a Nação apagar-se-á de vez.
O COVID-19 apenas traz ao de cima o pior de nós próprios - o medo e a irresponsabilidade.