31.12.19

45 anos de serviço público

Bem, estão concluídos 45 anos de serviço público. Ficam com quem os sofreu, porque o seu exercício nunca foi fácil, embora, por vezes, fosse gratificante… 
Ficam com quem os sofreu porque, demasiadas vezes, o sujeito de aprendizagem perdeu identidade para se transformar num objeto de ensino… 
Quando a Memória destes 45 anos se esbate, ao contrário de muitos outros que se orgulham de numerosos sucessos, resta um gosto amargo por não ter conseguido aplicar uma pedagogia diferenciada que libertasse cada aluno da formatação imposta pelo sistema educativo…
Resta um gosto amargo porque, ao longo destes 45 anos, os conteúdos foram perdendo significado, criando um tal vazio que poucos são, hoje, capazes de distinguir a verdade da mentira, como se a Ilusão nos bastasse…

30.12.19

A gaivota do 12º andar

Sobre o aparelho de ar condicionado do 12º andar, enquanto a gata dorme, a gaivota alimenta-se, sem perceber que está a ser observada…
Sem perceber? Esta certeza é capaz de ser exagerada… Afinal, o que sei eu da perceção das gaivotas…
E a Sammy continua a dormir, ela que espera horas pela visita de uma qualquer ave…
Por mim, vou continuar a leitura de Orlando, que já se encontra na fase fêmea, sem que eu compreenda como é que, à época, se passava de macho a fêmea com tamanha facilidade. 
Alquimia literária!
De qualquer modo, amanhã a gaivota regressará. A mesma? Macho? Fêmea?

29.12.19

Não há quem regule o trânsito

Os autocarros aproximam-se do terminal rodoviário na faixa que lhes foi destinada, no entanto ficam bloqueados. Ninguém parece preocupar-se.
Centenas de passageiros que optaram pelo transporte coletivo esperam impacientemente por terminar ou iniciar a viagem.
Não há um agente que regule o trânsito, que ponha cobro ao egoísmo de quem só pensa na sua comodidade…
A verdade é que dois ou três agentes na zona da Estação do Oriente seriam suficientes para tornar o trânsito mais fluido e para evitar o aumento da temperatura na zona - cerca de 2 graus.
E depois queixam-se das alterações climáticas, sem esquecer o estado depressivo em que vamos caindo…

27.12.19

Os nomes nada acrescentam

Bairro desaparecido
Não é por lhes citar os nomes que se tornam conhecidos. Os nomes não acrescentam nada. Sem obra individual, não há renome…
Há obras coletivas cujos trabalhadores morrem no anonimato, mesmo que os Saramagos percorram o alfabeto da nomeação. Um João, por exemplo, seja o primeiro ou o quinto, persiste por mais tempo na Memória… ainda que a resistência seja cada vez mais breve…
Entre tantos manuéis, só o primeiro assegurou um estilo, sem ter entrançado uma corda, que se saiba.
Já nem as lápides cumprem o ofício!

26.12.19

Faltam 185 dias

Dizem-me nesta data - e quem o diz não é profeta! - que faltam 185 dias. Não sei se acredite, até porque Virginia Woolf ( Orlando) assegura que

 «Infelizmente, o Tempo faz fauna e flora crescerem e definharem com espantosa regularidade, mas não tem o mesmo efeito tão simples na mente humana. Mais: a mente humana acaba por agir de forma correspondentemente estranha sobre o decorrer do tempo.»

A verdade é que os 185 dias podem ser mais ou menos, pois a duração não depende de nenhum robot, mas sim da mente que tiver lido (ou ignorado) um simples e-mail. Se a leitura for ativa, o tempo será significativamente encurtado. Caso contrário, os dias ficarão esquecidos no computador do burocrata… e eu às voltas com o biógrafo de Orlando: 

«Uma hora quando alojada nesse elemento tão bizarro que é o espírito humano pode ganhar cinquenta ou cem vezes a sua extensão segundo o relógio; inversamente , uma hora pode ser fielmente retratada no relógio mental como tendo durado um mero segundo.»

No meu caso, o tempo psicológico dá cabo de mim, porque uma vezes passa apressado; outras, de tão lento, acelera-me o tic-tac.

24.12.19

Boas Festas!


(Quanto ao fruto, se possível, deixem-no amadurecer. Basta vê-lo ganhar forma e cor...)


BOAS FESTAS A TODOS OS MEUS FAMILIARES, AMIGOS E CONHECIDOS!


Obrigado pela companhia!

22.12.19

O parque de estacionamento "Oceanário" é caro e serve mal

O parque de estacionamento 'Oceanário' fica ali ao lado - serve o Teatro de Camões, o Oceanário, a marina… 
Porém, serve mal!
Logo, à entrada, surge o aviso de que a Via Verde não está disponível. A caixa de pagamento fica no piso 0, o que nos dias de maior afluência provoca inevitáveis e demoradas filas. Apesar do elevado custo, o multibanco também não funciona...
Quanto aos acessos ao exterior, ninguém se ocupa da sua limpeza, sobretudo, em dias de chuva e nas horas em que os javardos vomitam escada abaixo, gerando situações que podem provocar quedas extremamente graves…
E claro, vigilante, assistente, funcionário, ninguém lhe(s) põe a vista em cima. Será por ser domingo?

21.12.19

Que Zeus nos acompanhe por estes dias!

Tem chovido, valha-nos o deus da chuva!
A comunicação social apresenta a chuva como inimigo do homem - tomba as árvores, destrói os jardins, inunda as casas, corta as vias de comunicação… indo ao ponto de desalojar e de retirar vidas. A chuva arruina o natal dos glutões e dos vendilhões. A chuva dá cabo do negócio, à exceção do da comunicação social…
Ninguém questiona o motivo por que a chuva dos ribeiros corre para os afluentes e destes para grandes (?) rios e se precipita no oceano… 
Parece que a montante não há ninguém que perceba que a oportunidade é única. Não há quem trace um plano de desvio dos caudais de modo a criar reservas capazes de suprir a cada vez maior escassez de água… não há quem trace um plano para acabar com o assoreamento … não há quem trace um plano para retirar o edificado dos leitos e das margens dos cursos de água…
Neste abençoado país, só há catastrofistas que sonham em ir a banhos.

19.12.19

Abençoada chuva

Vivendo o tic-tac, hoje, com chuva, ventos fortes e mau humor…
A alternativa de seca, calmaria e festa seria certamente mais atrativa, mas tão depressiva como as depressões que vêm atravessando a Península Ibérica.
Esta chuva tão arisca arrasta consigo a necessária limpeza e a reposição das reservas de água fundamentais ao bem-estar das gentes, da fauna e da flora, sem esquecer os minerais… Por isso a insatisfação deveria dar lugar ao agradecimento, apesar das constipações e similares.
Este tic-tac dos dias martela-me as meninges já cansadas da profissão. No entanto, sempre que chove sinto alívio e vontade de continuar.
A chuva que conforta a alma. Que seria de nós sem ela?

18.12.19

Do lado de cá...

Colocar a hipótese de que algum ser humano possa ser godot é uma presunção saída do inconsciente individual, incapaz de descortinar a fronteira entre a conveniente modéstia e a desmesurada soberba…
Pressinto que a modéstia não deve ser avaliada pela conveniência, mas é da natureza humana graduar tudo como se, habituada a rever-se no espelho, saltasse para lá do caixilho, à espreita de uma dimensão que sempre lhe foi vedada…
Do lá de cá não mora nenhum godot, mesmo que o façamos nascer entre as palhas de um estábulo ou nos alimentemos do corpo e do sangue - rituais de apropriação de quem receia não SER.
E será que há, por detrás dos rituais e dos sonhos, um qualquer godot, relojoeiro do multiverso? Eu simples relógio me confesso, vou vivendo até que o tic-tac se esgote. E basta!

17.12.19

Não sendo Godot

Não sendo Godot nem estando à espera dele, não deixa de ser estranho que, frequentemente, pense nele…
Tempos houve em que poderia esperar sentado à sombra de uma figueira… agora, sentado ou de pé, distante do quase inexistente figueiral, espreito os dias como se eles me fossem exteriores…
Espreito-os a desoras, à espera que se tenham esfumado só para me surpreenderem num regresso a horas ociosas de que nunca tirei proveito… 
E, apesar de o não querer confessar, sei que, mesmo que Godot pudesse desfazer a espera, hei de continuar à espera, o que não faz qualquer sentido…
Antes que se faça tarde, vou apanhar o metro e regressar à escola donde, verdadeiramente, nunca saí… Ultimamente, assalta-me a dúvida se alguma vez lá entrei.

15.12.19

Não queremos

O movimento das sardinhas em Itália
Não queremos, mas votamos na mentira dos políticos… 
Não queremos, mas ignoramos a prescrição das coimas que os partidos deveriam pagar…
Não queremos, mas fazemos vista grossa à sofisticação do mercado ilegal das drogas…
Não queremos, mas consumimos desalmadamente no natal e na passagem de ano…
Não queremos, mas hipotecamos a vida a todo o momento…
… e o pior é que não sabemos que, por vezes, a vontade é o nosso maior inimigo. 

12.12.19

Estetas do absurdo

Cansamo-nos de tudo, excepto de compreender.

O sentido da frase é por vezes difícil de atingir.
Cansamo-nos de pensar para chegar a uma conclusão, porque quanto mais se pensa, mais se analise, mais se distingue, menos se chega a uma conclusão.
Caímos então naquele estado de inércia em que o mais que queremos é compreender bem o que é exposto — uma atitude estética, pois que queremos compreender sem nos interessar, sem que nos importe que o compreendido seja ou não verdadeiro, sem que vejamos mais no que compreendemos senão a forma exacta como foi exposto, a posição de beleza racional que tem para nós.
Cansamo-nos de pensar, de ter opiniões nossas, de querer pensar para agir. Não nos cansamos, porém, de ter, ainda que transitoriamente, as opiniões alheias, para o único fim de sentir o seu influxo e não seguir o seu impulso.

Bernardo Soares
Gostaria de acompanhar Fernando Pessoa quando defende que não nos cansamos de compreender, e que o fazemos por uma «atitude estética», desinteressada da utilidade e da verdade... 
Parece que abdicamos da nossa vida, apenas para fruir a (as) dos outros..., sem, no entanto, os tomarmos como exemplo... 
Pelo menos, se não caminhamos  por nós, também não o fazemos pelos outros...
Estetas do absurdo, adormecemos sobre o mundo, enquanto que a chuva fustiga a o pátio.
(…)
Voltando atrás, creio que estes estetas são cada vez mais raros, mergulhados que andamos na mentira e no interesse.

11.12.19

Piprô

Árvore. Talvez, eu não consiga atribuir-lhe qualquer relação com o sagrado, ou não queira envolver-me nessa hierofania, que permitiria colocá-la, lá longe, na Índia, como expressão da amizade entre irmãos de ambos os sexos.
Se me deixasse de hesitações, diria que esta árvore foi classificada como 'ficus religiosa' ou, noutra versão, como figueira do pagode, sem dança, apenas como celebração própria de um templo hindu.
Custa-me aceitar o sagrado, quando ele não é capaz de modificar sociedades, em que a defesa da honra autoriza a lapidação e deixa a violação impune.

10.12.19

Com ou sem marquês

Com ou sem marquês, bom seria que nesta quadra não persistíssemos no fervor das iluminações…
Pode parecer bonito, mas fica caro!
Quanto custam as iluminações de Lisboa? Será que a despesa não seria suficiente para retirar dos hospitais e das ruas todos aqueles que pelas mais diversas razões foram e vivem abandonados?


«José Lopes foi encontrado morto na tenda onde vivia, nos arrabaldes de Sintra, junto a uma estação de comboios. As causas não são conhecidas, nem sequer o dia ou a hora exatas da sua morte. Aos 61 anos, o ator vivia com as maiores dificuldades, e a notícia de que um amigo deu com ele um par de dias depois de se ter finado circulou nas redes sociais, com as mensagens de pesar misturando-se com a prece a um deus-remorso. »

9.12.19

São diferentes, valha-nos isso...

Um medronheiro na Portela!?

João Gama, da delegação da DRAPC da Sertã e responsável pelo núcleo da Pampilhosa da Serra salienta que “esta é uma cultura ainda pouco estudada, sendo uma planta difícil de apreender porque tem um ciclo muito diferente do habitual, com a floração a ocorrer ao mesmo tempo da frutificação, só perde algumas folhas na primavera e o fruto leva 11 meses a amadurecer é, assim, muito diferente das outras fruteiras, não há mais nenhuma igual”. 

Se tudo fosse igual, seria uma chatice!
E este também não é pardal! Ainda bem!

Não vem a propósito, mas surgiu-me agora um novo provérbio adequado à estupidez dos últimos tempos: 
A franga canta porque quer galo! O PAN assobia porque quer galho!

8.12.19

Talvez por ser domingo...


(…)

Zeus destruirá também essa raça de humanos de fala articulada,

quando acabarem nascendo já com as têmporas grisalhas.

Nem o pai será concorde com os filhos, nem os filhos com o pai,
nem hóspede com anfitrião, nem companheiro com companheiro;

nem um irmão será querido, tal como era antes.

Desprezarão os pais logo que envelheçam,

e vão repreendê-los proferindo duras palavras,

os cruéis, ignorando a vingança divina; e nem mesmo

 dariam aos velhos pais retorno pelo alimento que tiveram na infância.

O direito da força: um saqueará do outro a cidade.

Nenhum apreço haverá por quem é fiel aos juramentos, pelo justo.

ou pelo bom: antes o malfeitor e o homem - violência

honrarão. A sentença estará na força; reverência

 não existirá. O cobarde fará mal ao homem de maior valor

 com discursos tortuosos, e a seguir dirá “juro”.

 A inveja todos os humanos miseráveis

 acompanhará, voz dissonante, face odiosa, comprazendo-se no mal.

 Será então que, da terra de largos caminhos, partindo para o Olimpo,

 a bela tez a cobrir com véus brancos,

 irão ter com a tribo dos imortais, deixando os humanos,

Reverência e Indignação. E ficarão para trás dores amargas

para os humanos perecíveis: não haverá defesa contra o mal.

Hesíodo (meados do séc. VII a C.), excerto de Os Trabalhos e os Dias, O mito das cinco raças

Talvez por ser domingo, resolvi visitar Hesíodo porque, como diz a tradição, ele terá vencido Homero num concurso poético, pois preferia a paz e o trabalho à guerra e ao combate.


7.12.19

Com Nuno, guerreiro ou santo

Com Nuno, guerreiro ou santo, a cidade também vive às costas dele…
Consta que era excessivamente puritano e inimigo das mulheres e que, apesar de tudo, não se dava nada mal com os fidalgos castelhanos…
É difícil acreditar em tudo o que se diz, e isso já nada importa, o que vale é ouvir-lhe a história e deixar-se levar pelo brilho da cidade e ainda pelo espanto de ouvir um brejeiro adolescente espanhol ensaiar para um público familiar a primeira quadra de um soneto - aplaudida com entusiasmo…
Que pena não ter o ouvido do Fernão Lopes!

6.12.19

Nada falta nem a língua de pau!

Já não é o leão que ruge. Está em extinção, o rei da selva! À falta dela, nem o circo ou o zoo o podem salvar... Domesticá-lo também não faz sentido, a não ser em Alvalade.
Ligo a televisão e vai por aí uma tal confusão, com uns a entrar e outros sair, que já não sei para que servem as igrejas e os tribunais - tudo se passa no mundo virtual.
Nada falta nem a língua de pau!
Só uns tantos estão a mais - os idosos, os reformados, os doentes, os sem-abrigo, os desempregados, os precários, os enfermeiros, os professores, os polícias, os agricultores, os pescadores e até uma boa parte dos doutores… De qualquer modo, os sicários já começaram a afiar as facas.
E ainda se queixam do clima! Viva o Menino Jesus e o negócio do Natal! 

5.12.19

Zurzidela

«Na vida de hoje, o mundo só pertence aos estúpidos, aos insensíveis e aos agitados. O direito a viver e a triunfar conquista-se hoje quase pelos mesmos processos por que se conquista o internamento num manicómio: a incapacidade de pensar, a amoralidade, e a hiperexcitação.» Bernardo Soares, Livro do Desassossego

Já só há um manicómio, a Terra toda - o planeta dos estúpidos, onde 'os inteligentes são igualmente estúpidos' Fazer-se passar por inteligente deixou de ser necessário à falta de interlocutor… Só o silêncio poderá pôr cobro à vertigem destruidora…
No entanto, até o silêncio é estúpido porque é humano. Já pensei em medir o silêncio, mas sou incapaz porque não consigo libertar-me desta tendência para zurzir a torto e a direito...

4.12.19

(Des)contextualizando

«Quando nasceu a geração, a que pertenço, encontrou o mundo desprovido de apoios para quem tivesse cérebro, e ao mesmo tempo coração. O trabalho destrutivo das gerações anteriores fizera que o mundo, para o qual nascemos, não tivesse esperança que nos dar na ordem religiosa, esteio que nos dar na ordem normal, tranquilidade que nos dar na ordem política. Nascemos já em plena angústia metafísica, em plena angústia moral, em pleno desassossego político.» Bernardo Soares, Livro do Desassossego

A geração de Fernando Pessoa / Bernardo Soares, nascida no final dos anos 80 do século XIX e entrada na vida adulta na segunda década do séc., é aqui retratada como se tivesse sido empurrada para um beco sem saída… O retrato parece acertado…
No entanto, eu, que nasci na década de 50 do século passado, ao ler este fragmento de Bernardo Soares, vejo-me a pensar que a minha geração, do ponto de vista religioso, era descrente; do ponto de vista doméstico,  vivia à deriva. E quanto ao rumo político, parte da minha geração vivia na completa ignorância, formatada numa ideologia aviltante…
A verdade é que a angústia e o desassossego cresciam no esplendor do existencialismo e, sobretudo, nos campos rubros de papoilas povoados por orquestras anestesiantes, idolatradas como se os deuses tivessem descido à terra.
(…)
E hoje, por onde é que andam a religião, a moral e a ideologia? Há quem as veja nas mesquitas, nos areópagos, nos cais. Em cascatas ou em fiapos…

3.12.19

Gretado

Sinto-me gretado!
Dito deste modo, até parece que sou mais um dos fãs da jovem Greta. Compreendo o espírito da sua cruzada, mas nunca fui adepto de causas fraturantes…
Todos sabemos que a maioria das populações nada pode fazer para combater as causas das alterações climáticas nem mesmo para assegurar a sua própria sobrevivência. 
As decisões fundamentais têm de ser tomadas por meia dúzia de nações que há muito contribuem para o atual estado de coisas e que insistem que não há qualquer problema.
Como diria Bernardo Soares: «Uns inteligentes, outros estúpidos, são todos igualmente estúpidos. Uns velhos, outros jovens, são da mesma idade. Uns homens, outros mulheres, são do mesmo sexo que não existe.» 
E é esta a história da Humanidade. Raramente, os inteligentes conseguiram alterar o rumo traçado pelos estúpidos.

2.12.19

Capas

É isso, o povo gosta de capas!
O povo capado satisfaz-se com capas…
Outrora, também gostava do suco, do tutano, da seiva.
(…)
Por mim, não sei do que gosto, mas sei do que não gosto - de capas, de máscaras.
Bem sei que elas dão jeito para sairmos janotas, pobres idiotas.

1.12.19

Abre-se a Serra

Alvados, Gruta
Abre-se a Serra e do interior jorram formas múltiplas capazes de nos fazer sonhar com outras vidas, silenciosas e milenares…
Apenas sonhar, porque o tempo nos falta para lhes acompanhar o movimento e a linguagem. Sim, porque a Serra fala uma língua particular diferente, por exemplo, da do mar.
À superfície, no entanto, o vento continua a soprar e o trovão a ribombar, lembrando-nos quão pequenos somos se não nos recolhermos a meditar.
Para quê, pode alguém perguntar… Talvez para que a alma possa voltar a vibrar antes que o corpo nos falte, de vez.
O resto, a própria pátria, não passa de ilusão. 


30.11.19

A desproporção esmaga

Gruta de Alvados
Por aqui o tempo é desumano, arruma-nos a vida em menos de um centímetro…
Vista, deste modo, a desproporção esmaga, mas, na realidade, quem nos põe em sentido é a Natureza, essa criadora insaciável que já deve andar farta de nós.
No entanto, continuamos absortos nas nossas vaidades, nos nossos interesses, sem perceber que quem tudo tem a perder é a humanidade.
Na Serra d'Aire, a Natureza é um livro aberto da sua Arte e da nossa imbecilidade. Não esqueçamos que a Serra d'Aire é um aquífero insubstituível.
Esperemos que por aqui não haja lítio...

29.11.19

Mesmo sem carpinteiro

Igreja de São Pedro, Porto de Mós
Ainda estamos em novembro, mas o presépio já está em construção... Mesmo sem carpinteiro! 
Já lá vai o tempo em que não bastava o Espírito Santo… Nem era aceitável que pusessem em causa o papel do homem, mesmo que se tratasse de um José ludibriado...
Quanto ao Espírito Santo, disfarçado de pomba, tem feito a vida negra a crentes e descrentes, e não há quem lhe quebre a asa.
Por mim, já que a veneração pelo burrinho e pela vaquinha não diminui, creio que o melhor seria não esquecer a pomba branca, colocando-a sobre o alpendre que necessariamente abrigará  a castíssima Maria e o menino que, a esta hora, já estará arrependido de ter permitido que lhe chamassem Jesus…

28.11.19

Do erro se faz culto...

Residence - Saldanha

Nasce um Deus. Outros morrem. A verdade
Nem veio nem se foi: o Erro mudou.
Temos agora uma outra Eternidade,
E era sempre melhor o que passou.
Cega, a Ciência a inútil gleba lavra.
Louca, a Fé vive o sonho do seu culto.
Um novo Deus é só uma palavra.
Não procures nem creias: tudo é oculto.
                 Fernando Pessoa

Se tudo é oculto, para quê tanto barulho?
Se tudo é oculto, para quê tanto brilho?
(Do erro se faz culto...)

27.11.19

Os seguidores

Há quem nos siga por curiosidade e, talvez, por simpatia. Nunca sabemos ao certo o motivo nem se tal acontece de forma persistente.
Nos blogs, os seguidores parecem eternizar-se mesmo que já não nos visitem há muito. Poderíamos, talvez, bloqueá-los como nos é sugerido… mas nunca temos a certeza de quem, efetivamente, nos segue e porquê. 
Exceto, quando nos apercebemos de que o seguidor já faleceu. Surge, no entanto, uma dúvida: - Será que o finado não continuará, lá onde se encontra, mais atento do que os que ainda se mantêm vivos?

26.11.19

Estes pingos

Estes pingos irritantes martelam-me a cabeça como se ela fosse de lata ou de zinco. Para o caso tanto dá…
Fazem certamente falta estes pingos, mas a mim, que gosto de cheias, que imagino um país bem governado sempre que os rios e as barragens extravasam, estão a levar-me à insanidade de querer fugir deste monobloco, definitivamente...
Ainda pensei que Pessoa me pudesse acompanhar no desespero, mas ele prefere simplesmente entediar-se e passar a emoção a outro que a não possa ter e muito menos conceber... São de zinco os pingos de Pessoa e caem para além das cubatas de que outrora se terá aproximado, a medo… Ou talvez não!
No Arquivo de Fernando Pessoa não há cubatas… Por enquanto!

25.11.19

Não obstante

Em canteiros não calcados dá um ar da sua graça, embora a graça não seja da flora, apesar de atribuída à Deusa…
Se não entenderem não faz mal, a Flora não vos leva mal, pois andais entretidos em jogos florais com artificiais desfechos intestinais.
Longe anda a Moira, também não quer saber, nem já sabe como reformular 'o que tem de ser tem muita força.'
Os canteiros que sigam o seu caminho que nós, à força de ir por atalhos, continuaremos metidos em trabalhos, mesmo que involuntários… Já de pouco servimos, assim tão arrumadinhos. Nem para soldadinhos!

24.11.19

De Hipócrates a Balaão

Por estes dias, decorre o Juramento de Hipócrates pelos novos médicos… 
Duvido que a maioria tenha noção de quem foi Hipócrates (c.460-370 a.C.) e sobretudo que entenda que alguns dos evocados não são de confiar, a começar por Apolo…
Tendo em conta a exemplaridade da oração, transcrevo parte, esperando que os jovens médicos não acabem por trocar Hipócrates por Balaão:

«Juro por Apolo médico e Asclépio, por Higeia e Panaceia e por todos os deuses e deusas, tomando-os por testemunhas, que cumprirei este juramento e compromisso, conforme as minhas forças e o meu entendimento. Terei pelo  meu mestre nesta arte consideração igual à que tributo aos meus pais; compartilharei da sua vida; quando estiver falto de meios, eu lhos porei à disposição; estimarei a sua família, como se meus irmãos foram; e lhes ensinarei esta arte, se carecerem de aprendê-la, sem salário nem contrato…» (Tradução de Maria Helena Rocha Pereira, Hélade, Antologia de Cultura Grega)

23.11.19

Em linhas quebradas

Do que sei, não sei, a não ser esta vertigem de associar os contrários sem qualquer efeito prático, pelo menos inteligível…
Resigno-me na ideia de que outrora sabia, mas como se o esqueci, eu que sempre defendi que só sabe quem não esquece.
À minha volta, são tantos os que não esquecem, e poderiam ser bem mais se eu os não tivesse esquecido.
Tudo parece estar bem, não fosse essa ideia de perda que, por vezes, se transforma em fulgurações instantâneas, pleonásticas e absurdas.
Desadormeço e fico à espera desse retorno que, enquanto for dia, se revela impossível, a não ser em linhas quebradas…

22.11.19

Uma regressão espúria

Outono. Uma nespereira em flor. O sol, depois da chuva, disfarça o caixote de lixo… Despedido o guarda-chuva… tudo invertido, como se a seca já tivesse sido vencida…
Sigo na direção da Praça José Queirós, pintor e arqueólogo (13.7.1856-31.07.1920), fundador do Grémio Artístico que estaria na origem da Sociedade Nacional de Belas Artes… e vou pensando na descontinuidade das memórias que facilmente caem em associações espúrias - termo apelativo, mas que pode adjetivar uma regressão, isto é uma relação estatística entre duas variáveis, sem que, no entanto, nenhuma relação causa-efeito exista.
Neste caso, a flor da nespereira, a não ser na cor, nada diz deste José Queirós e muito menos de outros universos queirosianos, mesmo se coevos. E, ao contrário do que seria de supor, a nespereira floresce no final do outono ou no inverno…

21.11.19

Na língua sem algemas

Ignorar em nome da tolerância - cínica condescendência - pode  causar náuseas… Vê-los fechados em celas de autossatisfação dá vontade de os esganar… Mas para quê?
… Continuar a explicar palavra a palavra - o étimo, a família, o sentido, o uso, a posição - dá-lhes cabo da alma, que não sabem que ainda têm, sobretudo se lhes faltar a religião anestesiante dos rebanhos...
Tresmalhados, não entendem que a língua que lhes convém é a antiga e não a dos empréstimos e dos grunhidos… e que, por ser antiga, a língua é a luz à sua disposição, porque nela vive toda. O tempo pode deprimir. Não no tempo, mas na língua é que a viagem pode conduzir ao âmago do Ser.

18.11.19

Não há aumentos...

Incapaz de definir as necessidades de recursos humanos para um funcionamento ajustado do Estado, o Governo continua a penalizar a função pública. Pouco importa quem governa, a direita insiste numa diminuição cega do número de funcionários públicos; a esquerda procede à engorda cega do mesmo Estado, sem, no entanto, satisfazer as necessidades nas áreas essenciais…
Incapaz de determinar as necessidades, o Governo aposta na descentralização, duplicando as funções, criando micro-estados conforme o estado de alma do senhor primeiro-ministro, aumentando a despesa pública… E como tal não há aumentos para ninguém!
Claro que não irá faltar o argumento do aumento do salário mínimo e da reposição de vencimentos e de pensões, porém todos sabemos que isso é  mentira.
Por exemplo, qual é a família portuguesa que, após a martelada reposição, está em condições de comprar casa com o mesmo peso no orçamento familiar que teria no ano 2000?

17.11.19

Mexericar

Praia de Carcavelos
Ora aí está uma palavra que eu não devo utilizar, pois 'não é própria de gente educada' - mexericar.
Diz o escritor Joel Neto que «se a literatura não vencer os grilhões do seu tempo não serve para nada», como se o inimigo fossem as redes sociais, espaço de mexericos... 
O escritor parece querer ignorar que uma boa parte da literatura ocidental teve origem no mexerico e que, em muitos casos, se limitou a tricotar a vida alheia.
Parece-me que as redes sociais são um dos 'lugares' onde o escritor pode beber as intrigas do seu tempo - claro que se não tiver o engenho e arte, nunca ganhará a batalha!
Por mim, não me interessa intrigar, apenas confesso que, ontem, ao anoitecer, fui, a pedido, à praia de Carcavelos e por lá tudo estava sossegado. A brisa era suave, a temperatura desceu aos 10 graus, a ondulação leve... Só não senti o cheiro do mar, e talvez a culpa fosse das minhas narinas...
Em conclusão, não tenho jeito para mexericar.

16.11.19

Bem tento ver apenas o trigo...

"- Senhor, não semeaste tu no teu campo boa semente? Por que tem, então, joio? E ele lhes disse: Um inimigo é quem fez isso. E os servos lhe disseram: Queres, pois, que vamos arrancá-lo? Porém ele lhes disse: Não; para que, ao colher o joio, não arranqueis também o trigo com ele. Deixai crescer ambos juntos até à ceifa; e, por ocasião da ceifa, direi aos ceifeiros: colhei primeiro o joio e atai-o em molhos para o queimar; mas o trigo, ajuntai-o no meu celeiro."
Mateus 13...

Há tarefas que me trazem de volta a parábola do trigo e do joio, mas que, pensando bem, não posso aplicar sem reservas nesta minha função, em particular, por estes dias… 
Arrancar o joio numa escola, oficialmente, inclusiva? Nem pensar! Que medre sem obstáculos, mesmo que asfixie o trigo…
Queimar o joio no final do ano letivo numa escola sem retenções? Impossível!
Do trigo que sobrar, o Senhor acabará por me perguntar por que motivo a tulha anda tão vazia…
Creio que o Senhor nunca terá imaginado - passe a blasfémia! - que o melhor seria não ter criado a erva daninha.
Por mim, bem tento ver apenas o trigo, mas o que oiço e leio dana-me os ouvidos e entorta-me os olhos.

15.11.19

Uma chave esquecida

Em composição
E se uma chave esquecida fosse capaz de provocar um pesadelo?
é bem provável! Qualquer lapso pode ter consequências indesejadas… No entanto, a interpretação do sonho parece apontar para a necessidade de não falhar os pagamentos à Segurança Social, pois esta é implacável com os faltosos, indo ao ponto de recorrer à penhora de quem se encontre nas redondezas…
Ora uma chave esquecida (e nunca mencionada) pode ser o meio para 'recuperar' uma autocaravana, anteriormente vendida, dando início a uma longa viagem por vales e montanhas, sem qualquer remorso…
O problema é que toda a viagem tem um fim, trazendo à tona a necessidade de devolver o veículo, esperando que o novo dono não tivesse dado conta do seu desaparecimento…
Ainda se o sonho tivesse sido interrompido e a memória dele apagada, mas não… a infração continua presente. Há mesma uma tentativa desesperada de convencer o proprietário, mas quem atende o telefone é uma criança que nada questiona, apenas ouve… até que uma voz pesada ordena: - Desliga o telefone!
Ciente de que o crime foi descoberto,  o ladrão procura um público (no caso, à beira de um coreto de um jardim familiar) que lhe possa aliviar a consciência ou, sobretudo, ajudá-lo a encontrar argumentos que lhe evitem os calabouços… e é, então, que, no meio da esplanada, avista o bastonário que, de imediato, lhe assegura que nunca tomou nota de um caso daquele tipo, mas que há solução para tudo… e no ato pede-lhe o número de telefone…  e 500 euros adiantados para dar início à defesa.
Felizmente que tudo não passou de sonho repetido, à exceção da cartinha registada da Segurança Social e da chave da autocaravana  já  deitada fora, que não da maldita memória…

14.11.19

Vidas

O que é que eles estão ali a fazer? Será por vaidade?
Estarão a sonhar ou simplesmente pensaram ver ali o tronco de um velho plátano camoniano?
A leitura não parece interessar-lhes… o que não surpreende quem por ali passa… 
(Ainda agora o átrio vergava ao peso da efemeridade de uma vida, sem dar conta de outras vidas que por ali passaram…)
Os rios oceânicos de Sena corriam longe dos salgueirais e contra a estupidez que nunca percebera o legado do Poeta - o único que carregara a Pátria até ao fim.

13.11.19

É tudo tão...

É tudo tão fútil
que se quisesse
rimava com inútil

Despegados do ecrã
apagam-se os olhos
esgueira-se o sorriso

Já no vazio
alheios seguimos

É tudo tão inútil
que se quisesse
rimava com fútil

Já no vazio
seguimos alheios

Ou talvez não.

12.11.19

A prosa inútil dos dias

Um trambolhão ou uma escorregadela pouco importam! 
Com um pouco de sorte, pode haver quem veja no ato um poema, com ou sem narrativa, sob forma métrica ou dessa outra coisa indistinta a que chamam prosa…
Talvez fosse melhor reduzir tudo a poema para o qual se olhe como se fosse uma maçã, mas sem qualquer vontade de a cheirar ou de a comer… 
Um poema sem ideias, sem ritmo - um poema deitado.
À espera que o levantem da prosa inútil deste ou de qualquer outro dia.
Ainda se o dia fosse poema!

11.11.19

Da pouca sorte

O melhor é não confiar na Providência!
(Na vida avance só depois de se assegurar que o piso está seco ou se não há nenhuma grelha em falta ou mal colocada...)
Não foi o caso, mas também não é recomendável caminhar com o olhar preso ao telemóvel... a verdade é que a senhora, descida a escadaria do metro de Moscavide, tropeçou numa grelha ao nível do solo, ficando muito combalida... e nas mãos de outros passageiros, felizmente, já que pessoal de segurança da estação nem vê-lo...
Poder-se-ia pensar que a senhora teve pouca sorte, mas a 'pouca sorte' resulta quase sempre da nossa inércia ou da nossa confiança infinita...
Para superior entendimento do tradicional grito de pouca sorte nacional, o melhor é consultar O Labirinto da Saudade de Eduardo Lourenço.

10.11.19

A canalhice

O problema é que há cada vez mais gente a gostar de canalhas, seja qual for a orientação política ou religiosa.
Farta de votar ou de seguir canalhas, em vez de tudo fazer para os eliminar, a gente cai nos braços de canalhas de sinal oposto, aparentemente.
Em síntese, com tanta canalha à solta já ninguém se safa de ser incluído no coletivo.

9.11.19

'Munição ao canalha'

O Presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, pediu hoje aos brasileiros para não darem "munição ao canalha”, que disse estar "livre, mas carregado de culpa", um dia depois da libertação do antigo chefe de Estado, Lula da Silva.

Ao que o Brasil chegou!
A cultura democrática enlameada…
Por este andar ninguém se aproveita!
E nós vamos pelo mesmo caminho…. 
(A língua portuguesa tudo acolhe!)

8.11.19

Uma jovem desesperada vai para a prisão

Uma jovem desesperada, que deita o bebé  para o caixote do lixo, vai presa, como se pudesse repetir o ato nos próximos dias. 
O pedófilo continua por aí à espera de julgamento.
Os autores de violência doméstica, quando identificados, regressam a casa…. ou às redondezas.
Os criminosos de colarinho branco andam à solta, rindo-se na cara dos que foram e continuam a ser roubados

Não entendo o que é que o legislador tem andado a fazer, a não ser que seja agressor  e ladrão.

7.11.19

De boas intenções está a educação farta

O programa do Governo, conhecido no final de outubro, prevê a criação de um “plano de não retenção no ensino básico, trabalhando de forma intensiva e diferenciada com os alunos que revelam mais dificuldades”.
De boas intenções

Quantas vezes o propósito já foi proclamado? Quanto dinheiro já foi desperdiçado?
Elaborar um plano nem é assim tão difícil!
O problema surge na implementação do plano. 
Quais são os recursos humanos e materiais disponiblilizados, considerando os múltiplos perfis de insucesso?
Como é que são selecionados e formados os agentes dessa ação «intensiva e diferenciada»? E por quêm?
Finalmente, um plano desta natureza não pode ser elaborado a partir da ideia economicista de que, no final, a despesa será menor do que a que resulta da retenção.
Nesta matéria, a solução não está na poupança, mas, sim, no investimento.

6.11.19

Não vou citar a Sofia...

Não vou citar a Sofia, com ou sem /ph/, nem vou procurar a máscara que melhor convenha à poesia, vou (in)disciplinadamente cumprir mais um dia…
Nem no muro vou abrir qualquer fenda… Basta caminhar na rua, em qualquer rua, para a ver desconsolada, de mãos vazias, ainda adulada por uns tantos corifeus, avessa a que lhe recordem que já cá não está.
No areal, os cavalos sem crinas ao vento galopam desnorteados… e eu sem rédeas, sigo ou fujo não sei se dos mortos se dos vivos. 
Tanto faz, não importa se sigo ou fujo, o importante é que não pare, porque mesmo que o quisesse fazer, a decisão nunca foi dela e muito menos minha.

5.11.19

O dia de hoje é de tristeza!

Lagoa Azul, Sintra
O dia de hoje é de tristeza. O colega Eduardo Pinheiro partiu sem aviso ou, talvez, tenha sido eu que tenha andado distraído…
De qualquer modo, o aviso, nesta despedida, também não serviria de nada.
Do Eduardo fica-me a ideia de alguém que acreditava que o ensino pode contribuir para melhorar a condição humana e que por isso se empenhava intensamente mesmo que nem sempre fosse compreendido.
Por vezes, mais vale uma pitada de incompreensão… 
As palmas só confortam quem não segue, por ora… 

4.11.19

O milagre dos chumbos

Museu Bordalo Pinheiro
Acabar com os chumbos dá 250 milhões. 
Não se pense que acabar com os chumbos pode custar 250 milhões de euros… É muito mais fácil, decreta-se o adiamento dos chumbos… Sem avaliar o custo!
De qualquer modo, com ou sem chumbos, a evidência do falhanço do sistema de ensino está aí: no parlamento, no conselho de ministros, no ministério da educação, no ministério da saúde… no ministério das finanças…
Em vez de se apostar na reforma do sistema de ensino, adaptando-o às necessidades do século, corta-se...
Mas não segundo a divisa "Inutilia truncat".

3.11.19

Com tanta ciência!

As borboletas de Rafael Bordalo Pinheiro
Quanto ao aeroporto no Montijo, a escolha desagrada-me. Na amplidão do Alentejo, não deveria ser muito caro construir as pistas necessárias para libertar Lisboa, deixando-nos mais próximos da Europa, de África, das Américas… E depois as aves agradeceriam, creio eu.
Com tanta ciência, parece incrível que esta não tenha peso na decisão. Só o dinheiro ordena!
Nem os nefelibatas compreendem tamanha burrice.

PS. Não sei se sou objeto de censura, mas, com alguma frequência, as fotos desaparecem e o autor deste blog é reduzido ao anonimato.
O mais provável é que todas estas ocorrências mais não sejam do que um sinal de que o inverno se aproxima, com minúscula… 
Mas ainda falta o São Martinho!

2.11.19

Jorge de Sena em dia de finados

Paineira em flor
Talvez porque nascera no dia de finados - faz neste sábado 100 anos - Jorge de Sena terá sentido necessidade de contrariar a lamúria humana… 
(Rezar por rezar que se reze pela vida para que esta seja menos estúpida e tétrica…)

De morte natural nunca ninguém morreu.
Não foi para morrer que nós nascemos, 
não foi só para a morte que dos tempos 
chega esse murmúrio cavo,
inconsolado, uivante, estertorado,
desde que anfíbios viemos a uma praia
e quadrúmanos nos erguemos. Não.
Não foi para morrermos que falámos,
que descobrimos a ternura e o fogo,
e a pintura, a escrita, a doce música.
Não foi para morrer que nós sonhámos
ser imortais, ter alma, reviver,
ou que sonhámos deuses que por nós 
fossem mais imortais que sonharíamos.
Não foi. (…)
Jorge de Sena, De morte natural…, 1 de Abril de 1961, Sábado de Aleluia

1.11.19

Uma situação educativa insólita



Ontem, um grupo de professores da  Estremadura espanhola visitou a Escola Secundária de Camões entre as 21 e as 23 - horas tardias pouco adequadas à visita do edifício, em obras…  Apesar disso, tiveram oportunidade de admirar a frontaria, o Ginásio, a Biblioteca Velha, a BE/CRE e uma sala de aula matricial… quase tudo do Ventura Terra.
O grupo era constituído por professores de Português - língua estrangeira - que se deslocaram a Portugal motivados pela leitura da "A Viagem do Elefante" de José Saramago e, também, com "o objetivo de potenciar relações que permitam estabelecer intercâmbios entre instituições espanholas e portuguesas"...
Não creio que esta visita tenha cumprido os objetivos, porque escolhi uma abordagem cultural, fazendo uma exposição sobre a história dos edifícios escolares, em particular do Liceu Camões, e sobre o sistema de ensino no século XX, conduzindo posteriormente os docentes espanhóis - cansados da viagem e sem jantar - para o 'monobloco' 06  instalado no antigo estacionamento...
E lá chegados foram contemplados com a 'oferta formativa' do presente ano letivo e, sobretudo" com uma seleção de textos de Fernando Pessoa que, recorrendo eu ao velho comentário textual e cultural, os terá deixado com vontade de não voltar tão cedo ao "Camões"... Entretanto, os poucos alunos do 12º ano, turma 3, que se dignaram ir à aula das 22 horas ainda devem estar a pensar no insólito da situação...
De qualquer modo, todos os presentes tiveram oportunidade de "viajar" no "chevrolet" do engenheiro Álvaro de Campos - de Lisboa a Sintra… perto da meia-noite, ao luar/ cada vez menos perto de mim...