29.2.24

A maré

Acabo de ler Auto-de-Fé, de Elias Canetti. Compreendo, finalmente, o título: Kien, o homem - livro, depois de ter caído numa misantropia absoluta, desceu ao inferno dos desclassificados física e intelectualmente.
Kien, quando de lá saiu, com a ajuda do irmão, amado diretor de um manicómio e ex-ginecologista idolatrado, acabou por romper, em definitivo, com a comédia humana da loucura, incendiando a sua amada biblioteca e ardendo nela.
Tal como a maré, a leitura foi enchendo e esvaziando...

21.2.24

A cortina

Um indivíduo foca o olhar, mas não há certeza se descortina (se vê para lá da cortina...)
A cortina está cada vez mais presente, mesmo que o oftalmologista assegure que está tudo bem... não sabe é se os neurónios andam confusos.
Eu também evito pronunciar-me, sobretudo desde que me dedico à leitura do Auto-de-Fé, de Elias Canetti.
A minha expectativa era bem diferente, todavia reconheço que o mundo representado, entre as duas Grandes Guerras, não augurava nada de bom para a Humanidade...  tal como os dias que atravessamos...
Depois de Aristófanes, Canetti... entrei no território do absurdo... e não quero sair de lá, apesar da cortina interior...


 

13.2.24

Ao Sol falta o predicado...

A caruma deixou de fazer sentido. Os pinhais foram ardendo e a paisagem está cada vez mais deserta. Nem a chuva os consegue recuperar...
Por agora, as imagens ainda continuam ativas, mas mesmo essas é necessário desbastá-las, de redundantes que se tornaram.
Digamos que, para preservar alguma caruma, é necessário reduzi-la significativamente... e para isso é preciso tempo. 
Hoje, parece que chove, mas não chove, e ao Sol... Pois é, anoitece, venta, chove... e ao Sol falta o predicado!

8.2.24

Chove...

Lá fora, chove. O estranho é que cá dentro também chove.
A chuva das ruas escorre para as sarjetas.
A chuva desta sala cresce sem se escoar... Avoluma-se à espera que as comportas se abram, mas estas recusam-se.
A chuva das ruas corre até se perder...
A chuva desta casa avoluma-se até nos perder.

4.2.24

A vertigem reivindicativa

Partindo do princípio de que somos todos iguais, então merecemos todos ser premiados do mesmo modo...
Pois é, sempre pensei que não era bem assim e, sobretudo, que reivindicar seria um ato de dignidade que não deveria por em causa a segurança das pessoas e afundar a coletividade.
De momento, o que surge na rua é um movimento que visa acabar com o regime democrático e, como tal, não acredito que venham a impedir o ato eleitoral de 10 de março, pois os antidemocratas desta Hora procuram por todos os meios atingir nesse dia um resultado que os coloque no poder.

1.2.24

A queda


Ninguém quer cair, mas a queda é inevitável. Dizê-lo é absurdo. Escrevê-lo, desnecessário. Não fosse o ritmo e há muito teríamos deixado tal termo de parte...
Neste hemisfério, em fevereiro, o ritmo começa a empolgar, mas insistimos em tropeçar. 
O melhor é desligar dos media: caminhar ou voltar às NUVENS de Aristófanes... e esperar que o raciocínio injusto dê cabo dos argumentos do raciocínio justo.
Sucedem-se os exemplos de queda, no entanto nada nos diz que o castigo esteja próximo, tantos são os sofistas...
 
Começo a pensar que a queda é culpa do pensamento socrático ou, talvez, do castigo cristão.