29.12.23

Sobre os telhados

É lá que vivem!

Os detalhes do quotidiano disciplinado nunca chegaram a ser assimilados, não se sabe porquê...

Não me apetece assumir a responsabilidade já que outrora também eu parecia fadado a voos fantásticos, mas irrealistas.

Cedo aprendi a fazer a cama, até porque vivi mais de cinco anos em camaratas. E mesmo que essa disciplina não me tivesse marcado, quando cumpri o serviço militar ( em nova camarata) estava fora de causa deixar de fazer a cama, engraxar as botas, chegar a horas...
Claro que há quem não tenha tido necessidade de viver em camarata para aprender que há um conjunto de habilidades fundamentais para evitar que o caos se instale.

23.12.23

A chegada

No aeroporto da Portela, a enxurrada é a habitual, mas hoje ainda é maior. Nela vem a Susana, passar o Natal e entrar no novo ano... Para ela, espero que seja melhor, porque para mim chega-me estar, disponível...
Felizmente, moro perto e estou habituado a este movimento. Fico, no entanto, com a sensação de que alguém mandou abrir as comportas. Diz-me o Daniel que o culpado é o António Costa. Será?

21.12.23

Hoje, é quinta-feira

Ninguém quer almoçar comigo: a Maria Isabel comeu uma sopinha, mais cedo e refugiou-se na caminha, a pretexto da alergia ao frio; o Daniel, de férias, foi passear, mas disse que voltava à hora de almoço... Enfim, são duas da tarde... e eu espero.
Aproveito para avançar na leitura de Almoço de Domingo, de José Luís Peixoto. Parece que este livrinho foi escrito para mim, e não para o senhor comendador, Rui (Nabeiro)... Neste romance, o protagonista nasceu investido de um ritmo ponderado, reflexivo, que, de facto, me seduz, pois começo a aceitar os imponderáveis como se eles fossem naturais. O importante é estar no lugar certo.
Já não se trata de saber quem se é, mas de saber estar, em sossego, até que o vento sopre uma última vez.
O Daniel acaba de chegar. Agora, vamos almoçar.

17.12.23

O Louco e a Lua

Diz-me Nikolai Gógol que ' a Lua se fabrica, normalmente, em Hamburgo, e é de péssima qualidade (Diário de um Louco (...) o fabricante é um tanoeiro coxo, e vê-se logo que é imbecil, não tem a mínima noção de Lua. '

O Louco anunciara que ' amanhã, às sete horas, ocorrerá um fenómeno estranho: a Terra pousará na Lua.'

Nos próximos meses, Portugal vai ALUNAR, tantas são as promessas dos novos tribunos, obviamente coxos e imbecis... E nós vamos com eles!

15.12.23

Agora, o ruido de uma mota

A gata ressona. A mulher procura dormir, insiste na necessidade de dormir. Os olhos frustram-me o gesto de escrever.... os chinelos lá se acomodam nos pés...

(pensava no esquecimento que se instala, na morte da caruma, no absurdo da valorização da memória ... se tudo se torna cinza...)

A porta volta a abrir-se, os passos dirigem-se para a casa de banho, o interruptor foi desligado, a porta volta a fechar-se - são 20h40.

Aproxima-se, no falar madeirense, o parto. 

De acordo com o que fica dito, não vejo motivo para a celebração natalício... e nem é preciso pensar no que se passa na Faixa de Gaza, no Sudão ou na Ucrânia...

Triste parto! 

Por um momento, a noite será de reunião e de memória, triste.

11.12.23

Reencontro


Nunca o esqueci. Sobretudo, o rigor e a modéstia do Joaquim Amílcar Carvalho da Cruz (29/7/1941). Foi em Sintra (Escola Secundária de Santa Maria) que o conheci, quando fez a profissionalização em exercício...
Depois, cada um seguiu o respectivo caminho... E hoje descobri um artigo que dá conta da sua entrega à comunidade Torreense.

10.12.23

Fraqueza


Quando o silêncio só é interrompido pelo interesse, apetece-me voltar costas.... e deixá-lo a falar sozinho. No entanto, acabo por encontrar sempre uma desculpa para esse abuso, como se uma educação diferente pudesse ter moldado um ser mais solidário...
O prejuízo gerado por este comportamento é irreversível e a minha fraqueza indesculpável.
Nem o regresso a Jean-Jacques Rousseau me serve de consolo.
Entretanto, pela manhã, surge o nevoeiro, criando um vale efémero, fruto de uma velha doença dos olhos...  

6.12.23

Os eleitos


Os eleitos deixaram de ter qualquer poder. Sob suspeita permanente, ninguém os leva a sério... Parece que basta ser eleito para, de imediato, cair em suspeita...
Tudo aquilo em que tocam fica manchado e, mesmo, na sua vizinhança, cheira mal...

Deste modo, o melhor é não ser eleito e assegurar o lugar pela força. A única lei que respeitamos é a do mais forte. Ou será que nem essa?

De mal a pior!

Cá por casa, felizmente, nunca houve eleitos...