31.7.18

Não é preciso estar só...

Traversare una strada per scappare di casa
lo fa solo un ragazzo, ma quest’uomo che gira
tutto il giorno le strade, non è più un ragazzo
e non scappa di casa.

Ci sono d’estate
pomeriggi che fino le piazze son vuote, distese
sotto il sole che sta per calare, e quest’uomo, che giunge
per un viale d’inutili piante, si ferma.
Val la pena esser solo, per essere sempre più solo?
Solamente girarle, le piazze e le strade
sono vuote. Bisogna fermare una donna
e parlarle e deciderla a vivere insieme.
Altrimenti, uno parla da solo. È per questo che a volte
c’è lo sbronzo notturno che attacca discorsi
e racconta i progetti di tutta la vita.

Non è certo attendendo nella piazza deserta
che s’incontra qualcuno, ma chi gira le strade
si sofferma ogni tanto. Se fossero in due,
anche andando per strada, la casa sarebbe
dove c’è quella donna e varrebbe la pena.
Nella notte la piazza ritorna deserta
e quest’uomo, che passa, non vede le case
tra le inutili luci, non leva più gli occhi:
sente solo il selciato, che han fatto altri uomini
dalle mani indurite, come sono le sue.
Non è giusto restare sulla piazza deserta.
Ci sarà certamente quella donna per strada
che, pregata, vorrebbe dar mano alla casa.

Lavorare stanca - Cesare Pavese

****

Atravesar una calle para escapar de casa
puede hacerlo un muchacho, pero este hombre
que anda
todo el día por las calles ya no es un muchacho
y no escapa de casa.

Hay tardes de verano
en que hasta las plazas se vacían, tendidas
bajo el sol declinante, y este hombre que llega
a una alameda de inútiles hierbas, se detiene.
¿Vale la pena estar solo, para estar siempre más
solo?
Trabalhar cansa

Não é preciso estar só para sair de casa e encontrar-se nas ruas desertas ou movimentadas, basta folhear uma página amarelecida pelo tempo e perguntar-lhe quem são estas criaturas tão silenciosas, ali esquecidas.
Desta vez, por um instante dessa solidão sobressai Cesare Pavese (1908-1950), cuja voz só o silêncio poderá consagrar, mas para isso é necessária a disponibilidade por ora perdida… esperemos que não para sempre!

30.7.18

A explicar o que não é...

Só amanhã é que a tarefa fica concluída, embora o resultado já tenha sido enviado por e-mail (novidade desta fase), que é necessário quebrar a rotina… tudo para agilizar o procedimento ou haverá um objetivo oculto?
Desta vez não vou comentar os resultados, pois eles nada acrescentam à ambição humana - há tantos caminhos mais lucrativos e menos cansativos! 
Os bons exemplos não faltam! E quanto ao argumento, o mais indicado é negar o que é, e explicar o que não é...
Depois de amanhã, acaba o mês de julho, embora eu não entenda porquê - capricho de imperador romano já esquecido. Por mim, aproveito a tendência e vou assobiar para outro lado, tal como o Ricardo Reis, que, dizem-me, 'não gostava de futebol', por causa da sua natureza "eufemera"...

29.7.18

Uma hora no Parque das Nações

Borboleta-Zebra 
A Iphiclides feisthamelii gosta do Parque das Nações. Foi lá que a encontrei esta manhã. Eu não desgosto do lugar, embora viva mais a norte…
Frequentemente procuro o Tejo, hoje mais distante pois a água retira-se por umas horas, deixando à vista uma fina camada de lodo sem grandes sinais de poluição… só as gaivotas pulavam na linha de água…
Entretanto, não muito longe, sentei-me numa esplanada a ler o Diário de Notícias, agora semanário, cujo formato me incomoda tal como a arrumação dos artigos, no geral medíocres… Há por ali articulistas pretensiosas e de duvidosa cultura. Alguns claramente zebrados... o que me traz à memória os barões do século dezanove. Pobre Garrett!

28.7.18

O robalo sabe nadar

Logo pela manhã procurei um peixe para grelhar e encontrei. Disseram-me que vinha do mar, o pargozinho… Colocado na balança, pesava pouco mais de um kilo. Preço com um descontozinho, já que as férias se avizinham: 33 euros.
Acabei por comprar uns carapauzinhos da Caparica, porque, na verdade, há funcionários públicos que nunca aprenderam a nadar… nem a pescar!

27.7.18

A inocência perdida

Perdidit antiqum litera prima sonum…

(Ele arruinou a pronúncia antiga… das primeiras palavras, isto é, perdeu a inocência.)

Todos os dias, recebo a notícia de alguém que se deixou seduzir pelo dinheiro. Parece uma inevitabilidade. As vítimas são, quase sempre, deslocados, idosos, analfabetos e até alguns apressados nada inocentes…
A verdade é que se enriquece em muito pouco tempo, mas não com o salário, por exemplo, de funcionário público...

26.7.18

As larvas

As larvas alimentam-se de matéria vegetal, o que, em muitos casos, dá cabo das flores, das folhas… Por estes dias, preferia que elas trocassem as sardinheiras pelos dirigentes deste país, políticos ou não, sem esquecer os carpinteiros, os vidraceiros…
Seguramente, as larvas estão no seu direito e prestam preciosos serviços… e bem podiam alargar o seu raio de ação… Eu ficaria feliz!

Desejando que as larvas tenham ouvido a minha sugestão, reporto aqui uma conversa magistral das minhas vizinhas de bairro: 
- Os resultados dos exames são uma miséria!
- Não admira! Entregam as provas para classificar aos «contratados», e bem sabemos que eles se estão na tintas…
- Eles querem lá saber!
- Não têm qualquer formação… a culpa é da "geringonça"...
- Que saudades do Nuno Crato!

25.7.18

É sempre a descer!

As aulas tradicionais já não me interessam. São secantes para mim também. Adaptar-me-ei aos novos contextos, comprarei rodinhas para as secretárias, ouvir-se-á música nas aulas, leremos Camões e Pessoa em voz alta sem noções de versificação à mistura, cantaremos Os Lusíadas em rap e a Mensagem em fado, faremos apresentações com guitarra, máscaras de teatro e fantoches, percorreremos Lisboa aos fins de semana sem a burocracia assustadora das visitas de estudo e descobriremos Saramago devagarinho, muito devagarinho, ao som do Tejo, estendido lá em baixo, ao Sol, na linha do horizonte. Treinadores de Portugal
Sou professor há 44 anos. Tenho aqui ao lado 25 provas de exame para classificar, mas perante o pronunciamento da «formadora profissional na área comportamental», Carmo Machado, vão ter que esperar…
Diz ela que o mundo mudou, que os professores estão cansados e desmotivados, que as aulas tradicionais são secantes, que não aprendeu nada na escola de que se lembre agora (Handy, 1992), pois eu lembro-me do poeta que "prefere rosas à pátria" porque os outros homens, por muito que se esforcem por satisfazer a vaidade pessoal e coletiva, nada acrescentam à Natureza, ao Universo… mas os alunos não compreendem por que motivo o Poeta é secante, os professores anacrónicos, a leitura não é negociada, os seus interesses não são ativados…
Assim sendo, não me vou esquecer de comprar rodinhas para a minha cadeira e promover uma corrida do Camões (Praça José Fontana) até ao Pessoa (Martinho da Arcada). Pelo caminho ainda posso passar pela Loja do Senhor Verde e visitar a Oliveira do Senhor Saramago… É sempre a descer!

24.7.18

Apenas o lamento

Perante os desastres que vão ocorrendo, as palavras pouco podem acrescentar. Apenas o lamento inconsequente, pois há muito deixámos de respeitar os elementos… Até na terra que os concetualizou, o fogo, que não o de Prometeu, segue o seu caminho, indiferente à ganância humana e ao feitiço do "carpe diem" … 
Prometeu,  desprezado pelos deuses, é hoje vilipendiado pelos homens. 
De qualquer modo, a Natureza segue o seu curso, a lembrarmo-nos que sem Ela nada seremos...

23.7.18

Iliteracia funcional

Um dia Edgar Poe escreveu que nove em cada dez casos, no jogo de xadrez, quem ganha é o jogador mais atento e não o mais hábil…
Admitindo que o escritor tem razão, parece-me que as escolas, em vez de discutirem a desatenção e a dispersão provocadas pelos smartphones, tablets e computadores, melhor seria que promovessem atividades capazes de fixar a atenção duradoiramente. 
Se tal tivesse acontecido, não teríamos hoje um acréscimo de iliteracia funcional… nem tantos habilidosos intrujões e burlões...

22.7.18

Uma pá de cal...

Forno de Cal, Paço d'Arcos
Lá chegará a hora em que a pá (literal ou simbólica) porá termo a todas as recriminações, a todas as suspeitas, a todas as insubmissões.
Por enquanto, talvez seja sensato dar mais atenção à origem e utilização dos elementos, ao papel que eles tiveram na construção e preservação da sociedade…
A cal é uma dessas substâncias aglomerantes que sempre me impressionou pela sua multiplicidade de aplicações… pela relação salutar que mantém com a temperatura…
Se eu fosse cal, creio que suportaria muito melhor o desassossego com que me mantenho...

21.7.18

Burlões e aldrabões

O Presidente da Câmara de Pedrógão Grande ainda experimentou o argumento da inveja… O vizinho denuncia porque é invejoso, pelo menos, desde o século XVI - ver Garcia de Resende… Camões acabou por escrever a Epopeia, sem no entanto, escapar à inveja coeva que lhe limpou a biografia. O próprio revela sintomas da doença coletiva, pois o Gama não se lhe compara em engenho e arte…

Não são só as multas que prescreveram. PS, PSD e CDS foram condenados pelo Tribunal Constitucional, em 2013, a devolver um milhão de euros, mas o Parlamento confirma ao SOL que chegou a ‘acordo’ com os partidos e nem todos os montantes que lhe eram devidos foram pagos. AR perdoa as dívidas dos Partidos

Durante muito tempo, utilizei o argumento da inveja, apesar de não ignorar o conteúdo da ARTE DE FURTAR, agora, creio que vou recuar e passar a defender a ideia de que a matriz da portugalidade está desde o início contaminada pela burla e pela aldrabice… e a literatura não passa de um aformoseamento da realidade, como diria o Fernão Lopes, entretanto, mandado recolher à Torre do Tombo.

20.7.18

Mais uma mocada no contribuinte

De momento estou bastante aborrecido - refém dum incumpridor construtor civil - vou lendo artigos de velhos jornais à procura de alguma pepita, e espreitando as notícias do dia… Ora, a espreitadela cai sobre as inevitáveis "almofadas financeiras"...
Perante a banalização do termo, não resisto à pesquisa da origem da palavrinha Almofada:

Origem da palavra Almofada

Do árabe al-mokhadda, que significa “o lugar da face”, “travesseiro” ou “coxim”. A palavra “almofada”, segundo alguns etimologistas, teria origem no árabe, al-mokhadda, sendo o prefixo al utilizado como um artigo definido, como “o” ou “a”. Aliás, grande parte das palavras começadas com o prefixo "al" na língua portuguesa são de origem árabe. A expressão al-mo seria relativa a “o lugar”, pois o termo ma / pode ser traduzido por “lugar” ou “posição”.Por fim, khadda é uma derivação da palavra khaddon, que quer dizer “face” ou “rosto”.
Ou seja, por estes dias,  "almofada"  passou a significar mais uma mocada no contribuinte! 
Já agora, se fossemos brasileiros, em vez de 'almofada' diríamos 'travesseiro'. E compreende-se! E eu que sou do tempo em que na esteira ainda havia um travesseiro! Quanto ao número de almofadas, esse dependia da situação financeira de cada família...

19.7.18

A Poesia passa bem sem a História

É lugar-comum defender que a Poesia passa bem sem a História, o que nos livra de incómoda erudição e, sobretudo, nos limpa a alma. 
Vem isto a propósito da prova de exame de Português (12º ano, 2ª fase) que, mais um vez se serve de Ricardo Reis, o heterónimo de Pessoa (que o de Saramago ficou na gaveta), "autor" da ode "Prefiro rosas, meu amor, à pátria" (1.6.1916)…, o que me obriga a recordar o desconforto pessoano perante o desfecho trágico (mais de 8000 mortos) da batalha naval da Jutlândia (31.5.1916) / post de 15.6-2015

A ataraxia na poesia de Ricardo Reis é uma questão mal fundamentada

Definição:
«Constituindo (a ataraxia ) um estado anímico, exprime um ideal de sabedoria, um fim ou telos a atingir pelo filósofo (...) É concebida como uma ultrapassagem racional da demasiada humana vulnerabilidade e sujeição à fortuna e aos acidentes, sejam estes de origem interna, as paixões, sejam provenientes do exterior, como as doenças, a pobreza, as desgraças, o mal físico, ou o desaparecimento de entes queridos.» Rui Bertrand Romão, in Dicionário de Filosofia Moral e Política.

O conceito de ataraxia é fundamental para a compreensão da filosofia de vida de Fernando Pessoa / Ricardo Reis:

Prefiro rosas, meu amor, à pátria,
E antes magnólias amo
Que a glória e a virtude.
Logo que a vida me não canse, deixo
Que a vida por mim passe
Logo que eu fique o mesmo.
Que importa àquele a quem já nada importa
Que um perca e outro vença,
Se a aurora raia sempre,
Se cada ano com a Primavera
As folhas aparecem
E com o Outono cessam?
E o resto, as outras coisas que os humanos
Acrescentam à vida,
Que me aumentam na alma?
Nada, salvo o desejo de indif'rença
E a confiança mole
Na hora fugitiva.
Ricardo Reis, 1/6/1916
(...)
Apesar do que é habitual afirmar-se sobre a indiferença de Ricardo Reis em relação aos acontecimentos exteriores, creio que este heterónimo é mais a expressão do desconforto de Pessoa perante o sacrifício da vida humana (8642 homens) em guerras que nada acrescentam à vida do que uma posição de alheamento da realidade envolvente.
Este poema foi escrito precisamente quando terminou a Batalha da Jutlândia:

Segundo os historiadores, trata-se da mais importante batalha naval da I Guerra Mundial. Ocorreu no dia 31 de maio de 1916, nas águas da península da Jutlândia (Dinamarca), e opôs a frota britânica comandada por Sir John Jellicoe e a frota de Alto Mar alemã do almirante Reinhard Scheer. Tal como outros combates desta guerra, a batalha teve pelo menos duas fases e viria a terminar com a fuga da frota germânica. A dureza do combate fez-se sentir nas baixas de cada lado. Nesse combate os ingleses perderam 3 cruzadores, 8 contratorpedeiros e 6097 homens contra 1 couraçado, 1 cruzador pesado, 4 cruzadores, 5 contratorpedeiros e 2545 homens por parte dos alemães. Contudo, apesar de, aparentemente, as perdas britânicas terem sido superiores às germânicas, depois deste confronto os ingleses tornaram-se senhores dos mares controlando toda a navegação. A tal ponto que, até ao final da guerra, a frota alemã de superfície teve de permanecer imobilizada nas suas bases. (Infopédia)

18.7.18

Aprendizagens essenciais. Em que século estamos nós?

As Aprendizagens Essenciais (AE) são documentos de orientação curricular base na planificação, realização e avaliação do ensino e da aprendizagem, e visam promover o desenvolvimento das áreas de competências inscritas no Perfil dos Alunos à Saída da Escolaridade ObrigatóriaA educação literária do ministério da educação

Sempre me ensinaram que, em matéria de ensino, é fundamental dar um passo de cada vez - do conhecido para o desconhecido, do simples para o complexo, do observável para o reflexivo, do perto para o distante, do literal para o simbólico…
Sempre me ensinaram que, em matéria de educação, o perfil do indivíduo deve ser desenhado em função do modelo de sociedade em construção…
A verdade é que devo ter aprendido tudo ao contrário. Por exemplo, pensava que Garrett e Herculano eram personalidades distintas ou que A Relíquia e Os Maias, embora do mesmo autor, teriam um papel bem diferente na formação do cidadão…
De qualquer modo, resta-me a esperança de que, eliminados Os Maias e quase todos os romances escritos no século XX, o ministério da educação elimine também a poesia - matérias que exigem tempo de leitura, de interiorização, de reflexão, pois o que nos falta é tempo… e juízo…
Em síntese, os professores de Português já não são necessários, a não ser para recitar meia dúzia de disparates propostos por volumosos manuais produzidos pelas editoras do regime… 

 LISTA DE OBRAS E TEXTOS PARA EDUCAÇÃO LITERÁRIA – 10.º ANO

POESIA TROVADORESCA 
Cantigas de amigo Cantigas de amor Cantigas de escárnio e maldizer  - (quatro)  (duas)  (duas)
AUTORES E OBRAS  
Gil Vicente Farsa de Inês Pereira (integral) OU Auto da Feira (integral) 
Luís de Camões
Rimas: redondilhas (escolher 4) e sonetos (escolher 8) 
Os Lusíadas  Canto I, ests. 1 a 18; canto IX, ests. 52, 53, 66 a 70, 89 a 95; canto X, ests. 75 a 91 (a constituição da matéria épica)  Canto I, ests. 105 e 106; canto V, ests. 92 a 100; canto VII, ests. 78 a 87; canto VIII, ests. 96 a 99; canto IX, ests. 88 a 95; canto X, ests. 145 a 156 (reflexões do Poeta)

LISTA DE OBRAS E TEXTOS PARA EDUCAÇÃO LITERÁRIA – 11.º ANO

AUTORES E OBRAS  
Padre António Vieira “Sermão de Santo António. Pregado na cidade de S. Luís do Maranhão, ano de 1654” 
Almeida Garrett, Frei Luís de Sousa 
Almeida Garrett ou  Alexandre Herculano ou   Camilo Castelo Branco, uma obra narrativa 
Eça de Queirós, um romance 
Antero de Quental, três poemas
Cesário Verde, três poemas

LISTA DE OBRAS E TEXTOS PARA EDUCAÇÃO LITERÁRIA – 12.º ANO 

OBRAS DE FERNANDO PESSOA
Poesia lírica Fernando Pessoa ortónimo 
Alberto Caeiro, Ricardo Reis e Álvaro de Campos 
Prosa - Livro do desassossego, de Bernardo Soares (fragmentos) 
Poesia épica Mensagem (seis poemas)

POEMAS DE POETAS PORTUGUESES CONTEMPORÂNEOS
(três poetas de entre os que se indicam) 
Miguel Torga, Jorge de Sena, Eugénio de Andrade, Alexandre O’Neill, António Ramos Rosa, Herberto Helder, Ruy Belo, Manuel Alegre, Luiza Neto Jorge, Vasco Graça Moura, Nuno Júdice, Ana Luísa Amaral

ROMANCE DE JOSÉ SARAMAGO, Memorial do Convento ou O Ano da morte de Ricardo Reis 

Em que século estamos nós aqui nesta nossa terra? (eco camiliano…, o tal que é equivalente a Garrett ou a Herculano.)
 

17.7.18

Caio no ininteligível

«Je sais (…) que je ne cherche pas ce qui est universel, mais ce qui est vrai.» Albert Camus, L'espoir et l'absurde dans l'oeuvre de Franz Kafka

Como não consigo lidar com o universal, pois isso pressupõe uma conceção religiosa, para mim, inatingível, limito-me a procurar a verdade, o que se me afigura cada vez mais difícil, porque, à força de tratar da mentira, caio no ininteligível, não tanto porque sejamos todos mentirosos, mas porque, a cada momento, fechamos os olhos, deixando-nos levar ora por ondas de antipatia ora de simpatia…
Perante a morte, essas ondas súbitas de simpatia levantam-se para posteriormente rebentarem na areia que tudo apaga, a não ser que uma qualquer religião decida prolongar o angelismo que as típica…
Hoje, faleceu o dr. João Semedo (1951-2018), virtuoso como é de tradição. Depois de amanhã, a onda desfalecerá…

Deve ser mentira!

De acordo com a legislação, cada partido arriscava-se a pagar entre 4.289 e 171.560 euros, enquanto no caso dos dirigentes podia ir de 2.144 a 85.780 euros. O Tribunal Constitucional (TC) deixou passar o prazo para aplicar multas aos partidos e políticos pelas irregularidades detetadas nas contas de 2009, de acordo com a TSF. Praticamente todos os partidos ficam, assim, livres das coimas, além dos 24 responsáveis financeiros. O Tribunal Constitucional

Deve ser mentira! Neste país, o Tribunal Constitucional ia lá esquecer-se. Impossível!

16.7.18

Placa informativa obsoleta




A Carris despreza os utentes e esquece as placas informativas cheias de ferrugem...

Exemplo da falta de zelo da carris

15.7.18

A extensão

A extensão tem sido descurada, mas só ela nos permite iludir o tempo.
Sem ela, não passamos de almas penadas a lastimar o tempo decorrido…
O melhor é sairmos de nós próprios e deixarmos que os pés nos levem e os olhos se deixem cativar…

14.7.18

A questão geracional

Jacinto Lucas Pires, a propósito da publicação da peça de teatro "Universos e Frigoríficos", em entrevista a Maria Teresa Horta (DN, 27.12.1997), caracteriza a (sua) geração dos anos 90 do seguinte modo: Somos uma geração que cresceu a ver televisão, que leu menos livros e outros livros do que os nossos pais, leu mais banda desenhada, viu outros filmes. Tudo isto tem de trazer formas novas para as formas já existentes.

É possível que Jacinto Lucas Pires tenha razão quanto ao retrato que faz da sua geração. A memória diz-me que sim: os jovens viam muita televisão, liam menos, revelavam fastio ao ler os clássicos, preferindo leituras menos incomodativas, iam ao cinema, assunto totalmente ignorado nas salas de aula.
Quanto à recriação das formas já existentes, não parece que tenha havido uma verdadeira revolução, sobretudo se considerarmos o "cânone" estabelecido pelo Ministério da Educação.
Ao olhar para esta última geração, parece que, em muitos casos, estamos a assistir à travessia do deserto - nem televisão, nem cinema, nem banda desenhada… leitura só a dos títulos oferecidos pela Internet… e muitas imagens de SI, muitos gracejos apatetados, muita torpeza…

Mais uma razão para «persistir como Sísifo».

13.7.18

Sísifo

Il n'est pas de punition plus terrible que le travail inutile et sans espoir. Albert Camus
(Não há castigo mais horroroso do que o trabalho inútil e sem esperança.)

Não tenho mais nada a acrescentar, a não ser persistir como Sísifo.

12.7.18

Não pode ser!

Estou mesmo cansado porque o esforço de mais um ano foi defraudado. Já o sabia, e o resultado dos exames comprova-o… E como diria o Cesário Verde, estou com "as tonturas de uma apoplexia", pois há quem queira ganhar na secretaria depois de ter abandonado o terreno… com a minha ajuda…

11.7.18

Ad kalendas graecas soluturos

Governo e professores vão analisar custos da recuperação do tempo de serviço congelado…
Fantástico! O que é que andaram a fazer até hoje?
Bem me parecia que, para já, iam todos de férias… Em setembro, os contabilistas começam a trabalhar para o OGE de 2020... Ou será que já ninguém sabe fazer contas?

(Aldrabice!)

Dia D?

Professores e governo têm hoje o ‘Dia D’
"D"?
Em português (em francês), o que me vem de imediato à mente, é 'derrota', 'desastre'... Ainda se fosse Dia "V"...
O meu ceticismo não é saudável, mas não acredito nestes jogos de verão - construções na areia para ocupar o tempo…
De qualquer modo, estou com os ingénuos que acreditam na mudança. Só não entendo, como é que é possível chegar-se lá, se os protagonistas continuam a ser os mesmos de sempre...

10.7.18

E este Tempo já não é o meu...

Doze menores, um adulto e quatro mergulhadores. A operação na gruta Tham Luang, em Chiang Rai, na Tailândia, chegou ao fim com toda a gente a salvo. Num dia que é de vitória, lamenta-se porém a morte de Saman Guman, ex-membro da marinha tailandesa, que faleceu no passado dia 6 de julho, depois de levar uma reserva de ar às crianças.
Bem sei que o que vou escrevendo não passa de um acerto de contas com o Tempo e, como tal, intransmissível e, por vezes, incompreensível, mas não posso deixar de expressar a minha satisfação pela mobilização internacional na evacuação do grupo de jovens tailandeses, tal como saúdo a coragem de Cristiano Ronaldo ao transferir-se para o futebol italiano, ou o apuramento da França para a final do Mundial de futebol…
Quando quer, o homem mobiliza-se, aplaude, reconhece a competência do Outro… só que o mesmo homem esquece  as dezenas de milhar de crianças migrantes que se afogam ou vivem em miseráveis campos de acolhimento ou, simplesmente, são objeto do apetite sexual de inúmeros predadores…
E este Tempo já não é o meu - da emoção ou da resignação - mas o daqueles aquém o Tempo falha em definitivo...

9.7.18

A criação

«De toutes les écoles de la patience et de la lucidité, la création est la plus efficace. Elle est aussi le bouleversant témoignage de la seule dignité de l'homme: la révolte contre sa condition, la persévérance dans un effort tenu pour stérile.» Albert Camus, La création absurde

O pensamento absurdo caracteriza-se, a meu ver, pela capacidade de formular perguntas que jamais obterão resposta, o que poderia conduzir ao desespero total e suicida, tendo em conta os limites da condição humana.
No entanto, aquilo que Camus propõe, ao defender o pensamento absurdo, é que o homem se revolte contra essa condição através da ação criativa - a única verdadeiramente libertadora - que, no entanto, exige paciência, perseverança e lucidez… E são estas qualidades que a todo o instante vislumbro nos criadores com que me vou cruzando ao longo dos dias, apesar da dificuldade em acompanhá-los…

8.7.18

Maria José Ferreira no MU.SA, Sintra

Para evitar apreciar o que certamente está para além do que vi hoje, em Sintra, no MU.SA - "35 ANOS DE PINTURA" de Maria José Ferreira -, proponho ao visitante deste blogue que ignore os meus "ditos" e visite o seguinte site: http://mariajoseferreira.pt/
O que eu vi na sala Claraboia, foi um mundo construído sobre uma nostalgia matriarcal africana, envolvido numa geometria falsamente surreal, pois há sempre uma linha invisível que assegura o volume dos corpos, e em que a cor deslumbra porque cria a sensação de que a solidez se pode desmaterializar a qualquer momento… 
Há por ali um ponto de equilíbrio desconcertante, genesíaco… algo, apesar de tudo, maternal.
(Peço desculpa se o que acabo de escrever não passa de desconchavo, mas é sentido.)

7.7.18

Trata-se de sobreviver

Neste interminável ficheiro de autores e respetivas obras, surge-me  o amigo e poeta Silva Carvalho. 
Desta vez, folheio o livro "Ao Acaso" (1986), suspendo o registo, e vou lendo algumas das 300 oitavas, pensando que o Poeta merecia melhor sorte, isto é, merece ser lido e discutido…
e de súbito fixo-me em três versos:

      Trata-se de sobreviver, não de sentir ida
      a memória por algum desejo ou desperdício.
      Sentir, sabe-o bem, é o maior e árduo vício.

Afinal, é isso: trata-se de sobreviver, liberto da (in)voluntária memória - duplo fardo, na ausência e na presença - e, sobretudo, de evitar o sentir, porque este prende, aliena, queima a energia que ainda resta...

6.7.18

Uma classe esgotada

exaustão emocionalMais de 60% dos professores portugueses sofrem de exaustão emocional, provocada por causas como a excessiva burocracia e a indisciplina dos alunos, revela um estudo nacional com base em mais de 15 mil respostas de docentes.

Estou há tanto tempo no sistema que a conclusão não me surpreende em nada. Basta entrar numa sala de professores e ouvi-los…
Na verdade, as causas do cansaço são antigas. A diferença entre o passado e o presente reside no modo como na última década a classe política desclassificou os professores… e mais não é preciso dizer: todos sabem porquê e como… 
Uma classe política medíocre e, em muitos casos, analfabeta - culpa dos professores que os deixaram transitar...

5.7.18

Pensar aqui, para quê?

«Penser, c'est avant tout vouloir créer un monde (ou limiter le sien, ce qui revient au même).»                        Albert Camus, La Création Absurde 

Criar um mundo aqui, para quê? 
O que sei é que o simples registo daqueles que encontrei é inviável, primeiramente porque a memória pessoal se foi debilitando, talvez porque no momento certo faltou o tempo; depois porque o outro pode não sentir qualquer necessidade de integrar o mundo a preservar…
Ainda se escrevesse um romance, poderia limitar esse mundo às relações de antipatia e de simpatia, mas se no momento certo faltou o tempo, a única saída seria dificílima porque as personagens nunca chegariam a ter relevo, consistência, uma ideia - não passariam de traços inconsistentes, absurdos…
Pensar aqui, para quê?
Apenas, para dizer ao Tempo que estamos aqui  e que, apesar de sós,  não estamos sozinhos na sua companhia...

4.7.18

A alma caridosa

 A folha de Excel contraída numa página impressa.
(A vista cansada.)
- Vamos lá conferir as classificações das provas com os dados impressos! 
- Mas como se os não consigo ler?
Entretanto, uma alma caridosa decidiu que o melhor era fazer de mim. Deu tudo certo, felizmente!

Na 2ª fase, estarei de regresso, certamente, um pouco mais míope. Que importa desde que conte com a benevolência de nova alma!

Ontem, em silêncio paciente

Andei tão ocupado que não registei nada, não porque não houvesse nada para contar, mas por falta de tempo. Porém, a verdade é que estive mais de quatro horas à espera… em silêncio paciente, a beber água, só água com uma mistura intragável, para depois ser sondado do pescoço aos pés por umas criaturas brancas que se faziam de cordeirinhos mas não tinham nada de angélico…
Claro, histórias não faltariam se ainda valesse a pena contá-las, como a da velhinha incontinente, duplamente, que insistia na sua narrativa, independentemente do interlocutor a compreender ou não… ou até na ausência dele.

2.7.18

Que importa?

Que importa o lugar, só o tempo me foge!
Só hoje já estive numa dezena de lugares, sempre com uma preocupação: chegar a tempo, cumprir um prazo...
Mesmo no momento em que registo este pensamento, lastimo que a pressa me tenha feito esquecer do livro que tencionava continuar a ler, aproveitando a pausa forçada...
Só o tempo me foge!

1.7.18

No país das equivalências

Por paradoxal que possa parecer, cada vez fujo mais da opinião, até porque ter uma opinião implica partilhá-la.  Pressupõe pôr-se de acordo, tomar como sua uma ideia alheia… que, no íntimo, não se quer coletiva, porque o que queremos é impor a verdade, que enunciamos majestaticamente como nossa…
Por absurdo que possa parecer, estou há dias a ler textos de opinião em que o examinado é convidado a defender "numa perspetiva pessoal (…) o poder das palavras nas relações humanas."
Estou para aqui a fingir que a "opinião" e a "perspectiva pessoal" se equivalem, mas não consigo aceitar tal equivalência...