30.11.22

Mais uma vez...

«Nascemos sem saber falar e morremos sem ter sabido dizer. Passa-se nossa vida entre o silêncio de quem está calado e o silêncio de quem não foi entendido, como uma abelha em torno de onde não há flores, paira incógnito um inútil destino.» Pessoa Inédito, No Jardim de Epicteto

Lembro mais uma vez que Fernando Pessoa nos deixou a 30 de novembro de 1935. O Tejo continua o mesmo do amanhecer e do entardecer do Livro das Horas. Embora o Poeta tenha dito que do Tejo se vai para o mundo, a verdade é que o Tejo no-lo devolveu inteiro para que nele pudéssemos descansar nas boas e nas más horas...
Com ou sem flores, continuamos à espera que o gládio se ilumine e nos faça descortinar a praia da Verdade. De tempos a tempos, o sino tange, e nós apressamos os passos inúteis...
Queremos falar, mas não sabemos o que dizer. Esvoaçamos apenas!

Lembro mais uma vez o tempo em que, juntos, encetámos um caminho sem lhe conhecer o rumo. Deu os frutos esperados da «besta sadia». Já decorreram 48 anos em que fomos falando mas, na verdade, ainda não sabemos o que dizer... e provavelmente nunca saberemos. A vida não passa de um INTERVALO no caminho que só os deuses podem antever.

Nota: O texto primeiro data de 30-11-2014. De lá até hoje, pouco foi acrescentado, a não ser o cansaço da Humanidade... e não, apenas, o cansaço do Ser.

26.11.22

A corrupção das verdades

«O que têm de mal as verdades é que, para se tornarem claras, acabam por ser corrompidas. A verdade é incompatível com a mística da sua utilidade.» Agustina Bessa-Luís, A Peste Emocional, Alegria do Mundo II.

Por exemplo: A Rússia está a destruir a Ucrânia. Outro exemplo: os Direitos Humanos não são respeitados em Portugal.
À força de quererem clarificar o conflito, os comentadores acabam por obscurecer a verdade.
Ir ao Catar falar de Direitos Humanos e das Mulheres é uma manobra de diversão, quando se é Presidente  de um país, onde a violência contra as mulheres cresce diariamente e os imigrantes 'vivem' em condições degradantes.

23.11.22

Não há alternativa

 

«Sempre os povos tomaram o ruído como manifestação de força...» Agustina Bessa-Luís, Alegria do Mundo II, 3-01-1973.
O título da crónica de Agustina 'Estrondo' é cada vez mais atual. Não há alternativa - vivemos num tempo ruidoso, em que o poder se constrói através do grito, do míssil, do atrofiamento do ouvido... 
Viver em silêncio deixou de ser opção. Ninguém quer ser dado como morto e por isso vamos assistindo a manifestações de afirmação cada vez mais disruptivas, em nome da glória pessoal.
Só o passado mergulha no esquecimento ou quem insiste em fugir do ruído.

19.11.22

O Futebol e os Direitos do Homem

 

Os Direitos do Homem estão magistral e presidencialmente suspensos.

Prioridade ao futebol!

De facto, já há muito que os Direitos do Homem eram uma causa perdida... como o Clima, de resto... e a Terra...

16.11.22

A democracia é uma empresa difícil


mcg /94 

(Da intenção pouco ou nada terá sobrado... a não ser registos esquecidos.)







 

Vetusta casa de madeira-e-zinco
castelo de esconderijos na Mafalala.
Nem a mim confiaste
onde a bom recato esconderas
" A Mãe " do Gorki.
Dos esbirros à paisana
inúteis foram as mil perguntas
sobre segredos absolutamente só meus
e livros por ti guardados
onde nem eu sabia.
.............................
Teu sigilo valeu-me.

José Craveirinha, Maria, 1988

A Camões
Quando nalma pesar de tua raça
A névoa da apagada e vil tristeza,
Busque ela sempre a glória que não passa,
Em teu poema de heroísmo e beleza.
Génio purificado  na desgraça,
Tu resumiste em ti toda a grandeza:
Poeta e soldado... Em ti brilhou sem jaça
O amor da grande pátria portuguesa.
E enquanto o fero canto ecoar na mente
Da estirpe que em perigos sublimados
Plantou a cruz em cada continente,
Não morrerá sem poetas nem soldados
A língua em que cantaste rudemente
As armas e os barões assinalados.
Manuel Bandeira, A cinza das horas

Hoje a realidade é de cristal
Duma delicadeza transparente
que mete medo
quando os olhos atravessam as coisas
até ao fumo do sal.
Continentes com tentáculos
esqueletos de sangue,
enlace
do Sol com o verde-mar esmaecido...
De vez em quando
alguém toca nas árvores,
nas flores, na pele 
- e é como tudo se quebrasse
em flores de vidro. 
José Gomes Ferreira, Poesia V

14.11.22

De Costa à contracosta

A falta de decoro acentua-se.
Em democracia, governa quem recebe o mandato do povo. No entanto, em Portugal, sob a capa da luta política, o voto significa cada vez menos... 
O Ministério Público tem uma agenda própria cujo objetivo principal é gerar instabilidade. E a oposição, bem informada, aproveita, apesar dos rabos-de-palha...
Por seu turno, o Costa Primeiro há muito que se deixou enredar nas malhas clientelistas do Partido, imaginando que a maioria absoluta lhe permite passar pelas brasas sem se chamuscar. Agora, ameaça processar o Costa Banqueiro, porque este perdeu o decoro que a função lhe exigia... Sem esquecer o Costa Economista que, por estes tempos, terá voltado as costas ao petróleo e lá vai apoiando uma juventude que quer defender a Terra, mas de forma cómoda... bem agasalhada e nutrida.
Só falta o Costa de Educação vir defender que o melhor é acabar com os exames porque os jovens merecem surfar a onda do momento...

Em matéria de falta de decoro, parece que o Cristiano Ronaldo também decidiu navegar de costa à contracosta, esperando que o mundo se ajoelhe a seus pés. De qualquer modo, vamos ver se ainda se redime no Catar, onde, não fosse a falta de decoro, ninguém deveria pôr os pés  no 'mundial de futebol'...

11.11.22

Estava longe de imaginar, o Duarte...


Talvez Ela já soubesse, mas no momento em que a fotografei,  estava longe de imaginar que iria reencontrar o Duarte e conhecer o Frei Bartolomeu de Santa Maria... (Ela, pensativa, expressava um certo desdém ou seria apenas surpresa?)
O Duarte, jovem cheio de convicções, sempre pronto a mostrar a sua admiração pela monarquia espanhola e a sua proximidade com o amigo Marcelo Rebelo de Sousa...
Encontrei-o numa nova fase da vida, preparando-se para o sacerdócio, que, naquele momento, esperava Frei Bartolomeu para o levar a almoçar ali ao lado, no Seminário dos Olivais...
Por instantes, a figura do frade fez-me regressar ao século XIX, a certos personagens de Almeida Garrett que, apesar de tudo, animavam a paisagem. (Apenas o smartphone destoava.)
Quem é que ainda se lembra desses tempos!?

8.11.22

Da resolução...

Volto atrás. 
Hoje, tratei de uma série de questões. Pensara escrever 'resolvi' ..., mas dei conta de que a resolução é um ato de ilusionismo.
Por exemplo, pensava que o Biden tinha resolvido o problema 'Trump', mas não, este está de volta para alegria dos destemperados deste mundo.
'Resolução' e 'solução' rimam, mas não mais, a não ser que estejamos a pensar em extermínio, individual ou coletivo.
Por agora, sinto  uma vibração que não vem da alma... um zumbido persistente - sem insectos - o que acaba por me sossegar...
Acreditar na mudança não passa de um ato ímpio de quem perdeu a noção do tempo.
No entanto, ainda chove. De vez em quando, copiosamente.

5.11.22

Na Trofa, o Presidente saiu do cargo

Este é um dia super feliz, mas há dias super infelizes. E verdadeiramente super infeliz para si será o dia em que eu descubra que a taxa de execução dos fundos europeus não é aquela que eu acho que deve ser. Nesse caso não lhe perdoo  (dirigindo-se à ministra da Coesão Territorial, Ana Abrunhosa). Espero que esse dia não chegue, mas estarei atento para o caso de chegar”, acentuou Marcelo.
Hoje, o Presidente saiu do cargo e vestiu a pele do cabo de esquadra. Pouco mais há a acrescentar... o homem desce a escada cada vez que abre a boca...

2.11.22

Cemitério de automóveis

Ainda a pensar 'nos corpos pesados do seu próprio esquecimento', hoje atravessei um cemitério de automóveis. De nada serve localizá-lo, pois todos os que procuram peças de substituição sabem a onde ir...
Cercado por estradas e viadutos, entra-se num mundo fechado, onde a cada passo somos olhados como intrusos. Várias ruas não têm saída, por isso o melhor é fazer de conta que se procura alguma lápide ou algum jazigo...
A vida não parece ser muita intensa, apesar de um ou outro forasteiro se aventurar a perguntar pela peça que lhe falta... No geral, a resposta é muda, apenas um gesto desprendido...
De qualquer modo, percebi que este cemitério abriga os restos de milhares de veículos, em tempos tão idolatrados, e não gostei do que vi... 
Entretanto, não pude deixar de pensar naqueles milhares de camiões que atolam o Brasil... Em nome do quê? Ainda não percebi bem!