30.8.18

Uma vergonha!

Miradouro Panorâmico de Monsanto

Nem sei o que pensar! 
E ainda dizem que em 2017, procederam a limpeza e instalaram segurança…
Se é para deixar o edificado no estado em que se encontra, o melhor é deitá-lo abaixo.
Senhor Presidente da Câmara, Fernando Medina, vá até lá e diga-nos se tal edifício vai continuar no estado em que encontra…

29.8.18

Com a porta fechada

Mesmo com a porta fechada, há forma de se saber se estamos dentro se fora… O que parece é que escancaramos cada vez mais as portas na esperança de que nos reconheçam algum mérito, não interessa qual. 
Desde que superemos o outro, o método pouco interessa. Do outro, esperamos que simplesmente nos dê alguma atenção, que nos inveje…
Talvez seja por isso que começámos a fechar as portas - o outro também quer ser invejado… e chama-lhe direito.

28.8.18

Longe de mim dizer mal...


Longe de mim dizer mal, mas há evidências que não enganam. Estas fotos foram tiradas esta manhã, aqui, na Portela de Sacavém / Loures (?), num percurso de 150 metros...
Evidências de quê? 

- Falta de limpeza
- Falta de organização
- Falta de responsabilidade

Disseram-me, entretanto, que há na freguesia (Moscavide e Portela) um "novo dono disto tudo", que não faz nada a não ser propaganda... Será verdade?
O lixo fica nos passeios esburacados, as plantas medram, as obras de urgência deixam vestígios… até o que devia estar devidamente protegido se oferece despudoradamente aos incautos: crianças, adolescentes desocupados…

Isto não significa que não haja espaços urbanos bem cuidados, o que não se entende é o critério…
Por exemplo, nuns sítios os candeeiros públicos estão apagados, noutros até há lâmpadas "tutti frutti"..., para não ficar atrás da Amadora…
Nem toda a responsabilidade será da Junta - dir-me-ão que é da CM de Loures! Pode ser. Mas para que é que serve a Junta?


27.8.18

O olhar preso

Se a perda de memória impressiona, a fixação em certas memórias ainda impressiona mais, sobretudo, quando o desfecho era inevitável…
O olhar preso destrói a vida, torna-a absurda, como se o único objetivo fosse recuar até um ponto descontínuo e desconfigurado…
Se me perguntam por que motivo rasgo tantos papéis, é porque sei, agora, que eles se tornaram um peso inútil; sei agora que o importante é a sombra das árvores… tanto sol!

26.8.18

O que impressiona

«O que impressiona é a perda da memória, o sair das relações reais… A própria perda da memória insensibiliza. Você não tem ternura nem ódio às pessoas, porque não se lembra delas, não as conhece...» José Cardoso Pires, entrevista ao JL, 21.05.1997

a rasgar papéis, continuo... 
como aquelas oliveiras que não chegaram a ser minhas…
as figueiras, asfixiadas
perdem sentido
porque um dia por pensar
parti
papéis em vez de árvores
Já nem a sombra!

25.8.18

A rasgar papéis

Estou aqui a rasgar papéis,
a rasgar o tempo
e só me lembra a sombra de árvores, 
desejada…
Enchi papéis, 
preenchi o tempo e só choro a sombra das árvores, 
perdidas…
Tenho pena de rasgar estes papéis, 
de rasgar aquele tempo, 
que hei de fazer... 
Talvez ainda sobre uma árvore…
A rasgar papéis inúteis,  
rasgo outro tempo, 
quem quer saber daquelas árvores…
Por mim, deixava aqui todos estes papéis,
todas estas árvores,
não, o melhor é esquecer aqueles incêndios...

24.8.18

O comboio de Caminha

Passava o comboio, nele viajava sua excelência o presidente do conselho. Discreto. Parecia um relógio suíço...
Passava, lento, o comboio, nele o adubo mergulhava na noite que o dia era de sementeira...
Passava o comboio, nele a tropa adormecida seguia viagem sem bilhete de volta. Partia em defesa da pátria do outro lado do mar...
Passa o comboio, vai para Caminha ao encontro do Primeiro. Leva o rebanho, seguro que a Hora não pode ser desperdiçada...
No cais, estamos nós a ver passar o comboio...

23.8.18

Paciência

Praia da Cabana do Pescador
- Eu não tenho paciência para esta Madalena! (Avó)
- Para a bebé ao colo: A Madalena já vem! (Mãe)
Estou à espera que a Madalena surja das águas do mar...
Por enquanto só as bolas de berlim e o ondulado da banda sonora...
À volta, um país rico de sol, de pó, de lixo, de cabeças vazias... Uma toalha que se estende fácil, dois velhos que comem umas pevides... Uma fila desalinhada avança na linha de água e as bolinhas de berlim apregoadas no areal.

22.8.18

Credor forçado

O que é novo seduz, mesmo que haja mil entraves financeiros, ecológicos e humanos...
Talvez seja por isso que ninguém defende o alargamento do aeroporto Humberto Delgado…
Hoje, por exemplo, fui ao Parque Quinta das Conchas… Ao caminhar, comecei a ouvir os motores dos aviões… Segui o ruído, e ao longe avistei as aeronaves…
Será que não seria mais inteligente libertar os terrenos necessários para o alargamento e criação de novas pistas?
Confesso, no entanto, que não percebo nada do assunto, mas, como credor, interessa-me saber onde é que o meu contributo vai ser aplicado, já que quero crer que o Estado Português está disposto a amortizar a dívida resultante de todas as decisões precipitadas e megalómanas dos seus governantes nas últimas décadas...
Agora que se discute o Orçamento para 2019, gostaria que os Partidos impusessem um número objetivo para o progressivo ressarcimento de todos os credores, mas sem privilégios nem cedência a interesses corporativos.

21.8.18

Na roda de náusea

Um Adeus Português


Nos teus olhos altamente perigosos
vigora ainda o mais rigoroso amor
a luz de ombros puros e a sombra
de uma angústia já purificada

Não tu não podias ficar presa comigo
à roda em que apodreço
apodrecemos
a esta pata ensanguentada que vacila
quase medita
e avança mugindo pelo túnel
de uma velha dor

Não podias ficar nesta cadeira
onde passo o dia burocrático
o dia-a-dia da miséria
que sobe aos olhos vem às mãos
aos sorrisos
ao amor mal soletrado
à estupidez ao desespero sem boca
ao medo perfilado
à alegria sonâmbula à vírgula maníaca
do modo funcionário de viver

Não podias ficar nesta cama comigo
em trânsito mortal até ao dia sórdido
canino
policial
até ao dia que não vem da promessa
puríssima da madrugada
mas da miséria de uma noite gerada
por um dia igual

Não podias ficar presa comigo
à pequena dor que cada um de nós
traz docemente pela mão
a esta dor portuguesa
tão mansa quase vegetal

Não tu não mereces esta cidade não mereces
esta roda de náusea em que giramos
até à idiotia
esta pequena morte
e o seu minucioso e porco ritual
esta nossa razão absurda de ser

Não tu és da cidade aventureira
da cidade onde o amor encontra as suas ruas
e o cemitério ardente
da sua morte
tu és da cidade onde vives por um fio
de puro acaso
onde morres ou vives não de asfixia
mas às mãos de uma aventura de um comércio puro
sem a moeda falsa do bem e do mal

*

Nesta curva tão terna e lancinante
que vai ser que já é o teu desaparecimento
digo-te adeus
e como um adolescente
tropeço de ternura
por ti.


Alexandre O'Neill, in 'Poesia Completas' 

Em 1950, Alexandre O'Neill ( 19.12.1924 - 21.08.1986) viu-se impedido pela PIDE, na sequência de uma cunha de um familiar seu, de ir ao encontro de Nora Mitrani. Esta surrealista francesa viera a Lisboa proferir uma conferência, La Raison Ardente... O 'Neill apaixona-se e neste belo poema de amor vinga-se "da roda de náusea em que giramos"...

20.8.18

Uma palavra de agradecimento a João David Pinto Correia (1939-2018)


Conheci o professor João David Pinto Correia no ano letivo de 1977/78. 
Na Faculdade de Letras de Lisboa, orientava o Seminário de Literatura Oral e Tradicional com que conclui a Licenciatura em Literatura.
Dele ficou-me sempre a ideia do investigador rigoroso, do didata abnegado e indulgente e, sobretudo, de um homem que apostava numa educação assente num modelo autóctone esclarecido…
E era raro, à época, encontrar professores com este perfil. Mas não tão raro como hoje.

18.8.18

Pessoa "Fora da Arca"

Há umas horas li uma entrevista "Pessoa visto de Perto"... 
A ideia aprofundada, durante 10 anos por Zetho Cunha Gonçalves, pareceu-me interessante. Afinal, ainda há outra Pessoa…
Mas esse havia que procurá-lo "Fora da Arca" e o investigador fez-se ao caminho e descobriu um Pessoa divertido, encantador… em particular na prosa, na polémica consigo próprio - um Pessoa histriónico!
Aquilo dentro da Arca afigurava-se incompreensível, demasiado frequentado, bolorento. O melhor era ouvir e ler os amigos e conhecidos, mesmo se falecidos… O melhor era folhear e ler os jornais, esses educadores da plebe…O melhor era suspeitar que na correspondência perdida ou sonegada só havia jovialidade
O Pessoa do futuro está agora ao alcance de todos aqueles que sempre revelaram relutância em entrar na Arca...

17.8.18

Pessoas obsoletas - o que fazer?

Leonardo da Vinci (1452-1519) distingue a capacidade de ver da possibilidade de representação do real (fazendo-a depender do lugar ocupado pelo observador). Ana Vaz Milheiro (Público, 14 de março de 1998, a propósito da obra "Perspectiva, Perspectiva Acelerada e Contraperspectiva", de João Pedro Xavier)

Agora que o programa de Português (ensino secundário) insiste tanto na representação do real levada a cabo pelos autores, como, por exemplo, José Saramago ou Cesário Verde, valeria a pena repensar a distinção de Leonardo da Vinci. Caso contrário, o aluno, incapaz de imaginar o lugar ocupado pelo observador, acabará por se limitar a reproduzir meia dúzia de ideias feitas sem conseguir questioná-las…
É neste ponto que o diálogo interdisciplinar poderia ter significado, pois habitualmente o professor de Português não percebe nada de "perspectiva"... Por exemplo, será que somos capazes de determinar o lugar do observador n'Os Lusíadas, quando o Poeta faz a sua apreciação crítica?

Esta vacuidade em que habitamos leva-me a compreender o receio de Meg Temark (Live 3.0) quando afirma que «há pressão económica para tornar as pessoas obsoletas» Pessoas obsoletas

Não há apenas pressão económica, há, principalmente, um sistema educativo que nos torna obsoletos… Assim se compreende que o mundo esteja cada vez mais à mercê daqueles que medram na sombra dos Trumps...

16.8.18

As portas do futuro

Valentín y Molina, los protagonistas de la novela, transcurren prisioneros y comienzan, al mejor estilo de un diálogo socrático, a interpelarse desde sus subjetividades. Puig elige crear una situación ideal en la que un militante revolucionario y un homosexual puedan iniciar un intercambio personal, como si lo hicieran bajo la consigna de las feministas de los 70: “lo personal es político”. En este sentido Molina se narra a partir de diferentes películas de clase B, posicionándose desde un lugar más personal, más experimental y subjetivo. Su contrapartida es Valentín, quien desautomatiza el procedimiento subjetivo del lenguaje de Molina intentando darle una explicación racional destructora de mitos sociales. Un homosexual que representa la sentimentalidad, la delicadeza, el deseo y el cuidado materno y, por otro lado, un militante marxista que representa la objetividad, la racionalidad y la disciplina. Si bien uno podría pensar que la figura del homosexual representaría la feminidad y la de Valentín la masculinidad, en el devenir de la novela las representaciones van mutando y se complementan entre sí.Manuel Puig

Acabo de ler El beso de la mujer araña, do argentino Manuel Puig, 1976, novela censurada pela ditadura militar. Uma obra perturbadora, pois coloca em causa muitas das certezas do leitor e, sobretudo, esta leitura deixa-me com a sensação de que cheguei demasiado tarde… deveria ter lido esta obra nos anos 70, quando a ideologia e a psicanálise se me apresentavam como as portas do futuro…
Infelizmente, a minha chegada tardia não é única neste mundo cada vez mais retrógrado, em que as portas do passado se vão escancarando...

14.8.18

Enigmático e suspeito


Esta seriedade é enigmática, mas tem uma explicação: procurava situar-me no percurso. 
 Já não me lembro de nada do que fui ouvindo em francês ou em castelhano (por ali, o português é lingua desconhecida!)… Apenas, recordo o que vi…
A verdade é que, para mim, o conhecimento pressupõe a caminhada pausada, muitas vezes, sobre si própria…
(…) 
O que também foi enigmático foi o modo como fui controlado no aeroporto de Barcelona - ainda cheguei a pensar que seria um perigoso cadastrado… 
No entanto, acabaram por concluir que era "português"... Fiquei sem saber o que é que lhes terá passado pela cabeça para me pincelarem as palmas e as costas das mãos...
Alguém me disse que a minha seriedade fez de mim suspeito.

12.8.18

A laranja de V. S. Naipaul

V.S. Naipaul morreu.

Dele só li Uma Casa para Mr. Biswas.
Li-o lentamente, abrindo o romance ao acaso e retomando a leitura, já esquecido do que lera anteriormente.
A edição portuguesa era das Publicações Dom Quixote e, até hoje, mantenho a sensação de que a tradução portuguesa é péssima
Perante a notícia da morte de V.S.Naipaul (1932-2018), verifico que os encómios se mantêm, o que significa que a minha dificuldade em lidar com a escrita deste Nobel da Literatura não terá uma causa exógena…
(Um destes dias, vou voltar a ler Uma Casa para Mr. Biswas. Se tiver tempo - é que o escritor tinha dias em que não escrevia mais do que um parágrafo. Tal como eu - também tenho dias em que não consigo chegar ao final do parágrafo… Ler exige tempo e, por vezes, enorme paciência, o que nem sempre é negativo…)

Entretanto, transcrevo um parágrafo revelador:

- O teu problema é que realmente não acreditas. Havia um homem como tu, em tempos que já lá vão. Ele queria gozar com um homem como eu. Então, um dia, quando o homem que era como eu estava a dormir, o outro homem pôs-lhe uma laranja sobre a barriga, pensando, «aposto que este parvo, quando acordar, vai dizer que foi Deus que lhe pôs a laranja aqui». O primeiro homem acordou, viu a laranja e comeu-a. O outro apareceu e disse-lhe: «Então, foi Deus que te deu essa laranja?» «Sim», respondeu o primeiro. «Então deixa-me que te diga. Não foi Deus que te deu a laranja. Fui eu». «Talvez», disse o outro, «mas eu pedi a Deus uma laranja enquanto dormia.»

11.8.18

Talvez por isso não compreenda...

«Yo no puedo vivir el momento, porque vivo en función de una lucha…»

Deliberadamente não cito na totalidade o pensamento da personagem de Manuel Puig, Il beso de la mujer araña.
Porquê? Porque objetivamente nunca me envolvi de forma direta na luta política, nunca planeei a ação, definindo uma agenda...
De facto, sempre imaginei a minha ação de uma forma mais individual: primeiramente aprender; depois ajudar os outros a aprender a viver… 
A luta política nunca a imaginei como resultado de um impulso, de um sentimento; vi-a sempre como ação responsável, assente no conhecimento do que interessaria a uma humanidade, liberta de fronteiras territoriais, religiosas, políticas e morais…
Talvez por isso não compreenda a necessidade de insistir em ideários que apostam no carpe diem horaciano, pois me parecem demasiado egoístas e acríticos...
Talvez por isso não compreenda certos ímpetos revolucionários que continuam a criar novas fronteiras…

10.8.18

Tudo muito... mas nada


Tudo muito higienizado, tudo muito refrigerado… muito calor por todo lado… tudo muito mediterrânico…
Mas nada elimina a sensação de impotência de quem entra num avião e fica ali inativo ou a fingir que lê, joga, conversa… 
Odeio essa sensação contínua que, ainda por cima, me estoira com os ouvidos e me deixa a pairar num espaço de coisa nenhuma - nem a voz se aproveita…
É assim: não fui feito para deixar o controlo à mão de uma qualquer outra entidade, mais ou menos competente, mais ou menos divina...

La Pineda

8.8.18

Páginas amaldiçoadas de Manuel Puig


Levantei-me às seis horas da manhã. A temperatura de 28 graus convidava para um passeio matinal e para o lugar comum - fotografar o nascer do sol, mas ele mostrou-se cerimonioso. Acabei por percorrer todo o passeio marítimo numa extensão de mais de três kilómetros, a pensar na novela de Manuel Puig Maldicion Eterna a quien lea estas páginas
Por lá ninguém se levantava cedo, ninguém se queria (ou podia) lembrar do passado, fosse argentino ou norte-americano. Por lá, pouco mais havia do que diálogo sobre o passado, como forma de recuperar o tempo esquecido, por força de tortura ou de trauma infantil, respetivamente… as histórias iam-se se reconstituindo, apesar dos amuos e da má vontade dos protagonistas - um velho alienado e um homem de meia idade, seu cuidador à hora e duas ou três vezes por semana…
A construção do livro intriga-me, sobretudo porque o narrador pouco diz e as personagens caem facilmente no mutismo. O final do livro, apesar do ex-professor de História querer voltar a exercer, é desesperante… A ação decorre, em grande parte, num Lar e num Hospital de Nova Iorque…
Para quem esteja interessado em mergulhar nas páginas amaldiçoadas de Puig, recomendo o que transcrevo:

La historia (casi toda) transcurre en Estados Unidos, y los personajes principales son Larry, un profesor de historia fracasado, que no confía en sí mismo lo suficiente como para dedicarse a la docencia, marxista, desempleado y divorciado, que tiene que tomar un trabajo de acompañante de gente de edad avanzada en el que conoce al señor Ramírez, el otro personaje, un anciano argentino, caprichoso, paranoico, que sufre de amnesia. Juntos irán conversando, intentando reconstruir la historia del otro, conocerla y entenderla. A Ramírez le interesa la historia de Larry porque todo le resulta novedoso y le pregunta hasta las cosas más triviales intentando, sin mucha voluntad, recordar algo de su propia vida; también a Larry le interesa la historia de Ramírez porque de a poco va descubriendo que el anciano (aunque lo niegue fervorosamente y se muestre indignado ante las insinuaciones o las afirmaciones del joven) fue en su país un militante, un importante dirigente sindical que fue apresado y torturado durante la dictadura militar y que fue por esas torturas que perdió la memoria. Es interesante ver cómo, a lo largo de la novela, y por la amnesia y los caprichos del señor Ramírez, las conversaciones pasan de ser diálogos reales, sobre la vida real de Larry (quien no parece muy contento recordando ciertas cosas, ciertos traumas) a ser historias mixtas, en las que el señor Ramírez interviene, diciendo cómo en realidad fue un episodio traumático de la vida de Larry, cómo las cosas no son en realidad como se las cuenta él sino totalmente distintas y termina contando lo que suponemos, en realidad, son anécdotas de su propia vida que conscientemente no recuerda. Estos diálogos, forzados por las interrupciones caprichosas del anciano, van volviéndose cada vez más irreales, volviéndose ficciones literarias, a medida que el anciano pregunta cosas que Larry no quiere responder y a medida que el mismo anciano evita otros temas que le traen sensaciones extrañas, indescriptibles, claramente ligadas a su pasado que no puede recordar. Esto, acaso, se vea exacerbado en uno de los últimos capítulos en los que el diálogo es también entre un anciano malhumorado y un joven idealista, pero en la Rusia zarista, en el contexto inmediatamente anterior a la Revolución rusa. Estos personajes son tan similares a los de Larry y Ramírez que también es hacia el final del capítulo que el joven se da cuenta de que el viejo, a pesar de su mal carácter, también es antizarista y apoya a los revolucionarios. O Fascínio das palavras

Más allá de esto, la pregunta de Larry es interesante: ¿Maldición eterna a quién? ¿A quien lea qué? A lo largo de toda la novela, la acción de leer toma un protagonismo especial. Desde el principio, Ramírez dice que todo lo que recuerda es lo que leyó en la enciclopedia en sus días en el hogar de ancianos de Nueva York; de hecho, dice que recuerda todo lo que lee. Dice que tiene que buscar el sentido de las palabras. Sólo conoce a través de las lecturas, y lo que piensa tiene que anotarlo en un papel, para que no se le olvide, y poder leérselo a Larry (pero siempre se olvida de agarrar el papel donde anotó sus pensamientos). También Larry lo acusa de no "saber leer las expresiones humanas". Todo el tiempo está obsesionado con las palabras, y su significado, pero también dice "Por favor, emplee palabras que signifiquen más. Conozco las palabras, pero no lo que estaba pasando dentro suyo" o, cuando Larry le cuenta sobre su infancia y su madre "Larry, por favor dígame otras palabras que usaba su madre." a lo que Larry responde "Mi madre no tenía palabras propias. Ni sabía pensar por su cuenta".

7.8.18

Três fotos de Tarragona


Três fotos - perspetivas distintas. Delas nada direi, pois o leitor detesta maçadas de veraneante...
(…)
Prometo voltar um destes dias,  se a ameaça não se abater sobre mim, pois estou a acabar de ler uma novela de Manuel Puig, intitulada  Maldicion eterna a quien lea estas páginas

Entretanto, será que a sandia deve ser considerada a esposa do sandeu? Por aqui, ela serve-se bem fresquinha; quanto ao sandeu, de momento, só me lembro do epíteto vicentino.


5.8.18

Ao sabor do tempo

Com o aumento da temperatura, a inteligência diminui - a tese não é minha, é de um monge medieval que, no essencial, defendia que o Equador não podia ser habitado pelo homem, ser inteligente...
Por aqui, não é fácil encontrar um jornal ou uma revista e a televisão é insuportável, tal é a algaraviada…
No entanto, hoje consegui comprar o Diari de Tarragona, uma espécie de JN de outros tempos com revista e tudo… e ainda, conforme o local referenciado, escrito em castelhano ou em catalão… o que dá que pensar sobre a geografia regional e humana…
Lido o jornal, ataquei a Revista XL Semanal, nº 1606, e depois de ter dado uma vista de olhos aos disparates verbais de Arturo Pérez-Reverte (meu conhecido de outras viagens), parei no artigo Agenda cultural, de Juan Manuel de Prada, e estacionei no seguinte parágrafo:
La cultura, en el sentido originario da palabra, es el alimento que el alma necesita, para no consumirse ni rendirse a la barbarie; pero lo que nuestra época llama 'cultura' no es otra cosa sino 'vivir com los tiempos' o 'estar a la moda', que como Tacito nos enseñaba no consiste en otra cosa sino em «corromper y ser corrompido».

O motivo desta reflexão terá sido o impulso «del doctor Pedro Sanchez, que para poder assistir a un corcertito de rock en Benicassim tomó el avión oficial»… Parece que esta doença é, afinal, ibérica, embora o grau de servilismo possa ser distinto...

4.8.18

Deve ser do calor...




Apesar dos 35 graus, lá apanhámos o autocarro para B..Cambrils, dando voltas a Salou… O passeio permite perceber como é que a sociedade espanhola se distribui dos mais ricos aos menos pobres… Sim, porque os pobres trabalham em condições deploráveis…
Salou é o coração da riqueza e assim o que vi nesta ida e volta basta-me…
De regresso a La Pineda, senti que os espanhóis quando vislumbram um português é como se estivessem a reencontrar um parente pobre...

3.8.18

Árvores de metal

Não sei se a ideia é homenagear se substituir as árvores - uma ideia com futuro…
A própria água talvez venha a ser de metal... Entretanto, já há quem mergulhe apenas os pés no oceano…
Compreende-se: a senhora se mergulhasse já não conseguiria levantar-se, o que levou as amigas a dar-lhe banho, despejando-lhe baldes por entre os seios, de forma pouco discreta…
Ainda olhei em torno à procura do Almodôvar, mas só avistei um enorme paquete atracado no cais não muito distante…
O resto, pelo que observo, resume-se a mais espaço, a mais gente burguesa, vinda de todos os lugares de Espanha, com alguns franceses à mistura...

2.8.18

Lá fiz a viagem!

A primeira dificuldade encontrei-a na letra S. Em nada facilita o despacho das bagagens - de tanta digitalização, bovinos desorientados, andamos às voltas à espera de um esclarecimento...
A segunda dificuldade resultou dos meus ouvidos não terem sido preparados para voar - qualquer dia hão de parecer chagas de cristo…
À chegada, o mundo parecia outro, as portas acolhiam sossegadamente os passageiros e até as malas surgiram no lugar certo…
Depois, o transbordo decorreu sem incidentes e dentro do tempo previsto…
Mas ainda havia uma derradeira dificuldade - a porta do alojamento. Recebido o código que permitia abrir a porta, alguém tinha dado cabo do sistema… Tudo sem falar na canícula, na desertificação, nas praias repletas de gente...

1.8.18

Bem longe da foz

Eu até posso fingir que vou (estou) de férias, mas, para mim, se as temperaturas sobem acima de 25 graus, elas tornam-se um martírio.
Estranho, não é? Mas sou assim: canso-me, irrito-me, perco a vontade de fazer o que quer que seja…
Com tanta gente a desejar não fazer nada, logo eu procuro estar sempre ativo, mesmo se oficialmente de férias.
Em conclusão, vou passar as férias a fugir do calor, só que não me deixam. Ninguém compreende esta minha particularidade, cuja origem remonta à praia da figueira, bem longe da foz ou, se a canícula aumenta, talvez mais perto...