31.12.21

Um ano triste

 

De facto, a tristeza veio para ficar a 1 de abril de 2020... Não é que as expectativas fossem enormes. De qualquer modo, há sempre a esperança de que a mudança, mesmo se lenta, pudesse dar pequenos passos. (Até à data nunca os passos tinham sidos firmes, apesar das convicções... mas o melhor é não olhar para trás, nem sequer pedir contas. Para quê?)
O Vírus instalou-se, dando asas ao imobilismo  suportado parcialmente pelo Estado e, por um tempo indeterminado, gerou a debiltação das vontades e aumentou dependências asfixiantes sem retorno...
Por mais pontos de fuga criados, a verdade é que mais não são do que novas formas de dissimulação. Formas trabalhosas capazes de enganar os dias, mas que, no cômputo final, apontam a um fim sem esperança, apenas triste se a cobardia soçobrar.
De nada serve este balanço, bem sei, exarado num dia em que se celebra não sei o quê, nem porquê.
Fungo de mim próprio, mais cedo do que tarde, serei ceifado sem que isso tenha qualquer significado.

30.12.21

2022: longe do bolor...

 

Já que não navegamos a sério, então brinquemos no próximo ano, como se ainda fôssemos crianças...
O problema é que há muita gente que nunca foi criança e, sobretudo, há muitas crianças que nunca saberão o que é brincar na areia...
Por ora, os sinais são de falta de bom humor em todos os continentes.
Habituados ao uso da máscara, vamos tolerando o chicote, procurando mais a festa do que a reflexão sobre as causas das várias pandemias que vão castigando a Terra...
Esperemos que, em 2022, nos queiramos libertar do bolor que se foi instando neste milénio.

26.12.21

A opção

 

A opção parece ter sido a simplicidade e creio que o resultado foi conseguido.

À beira do caminho, num bairro de ricos e pobres, o presépio entra-nos pelos olhos dentro, mesmo se andarmos distraídos...

Na verdade, não sei se assim será e isso pouca importa... 

Amanhã, teremos um novo almirante com nome... e Melo; ainda recordo o Thomaz, o Coutinho e o Azevedo...

25.12.21

Sem conteúdo

                         

Praia de Carcavelos
           O conteúdo de um dia como o de Natal é necessariamente insuficiente ou insignificante ou incongruente.

           A ideia não é minha, mas agrada-me. Só o Sol e o Mar são capazes de me libertar da nulidade destes dias festivos em que as desigualdades se acentuam sem sequer assegurar aos desprotegidos o prometido reino dos céus...
         Diz-me a(o) Google que as minhas considerações não evidenciam qualquer pertinência em termos comerciais... e eu estou capaz de concordar, sobretudo, quando no dia de Natal, me sento numa esplanada deserta no passeio marítimo da praia de Carcavelos.

23.12.21

O presépio de Loures

 


Esta ocultação do espírito geométrico incomoda-me. Lembra-me os séculos em que a cultura clássica foi escondida, probida... eliminada.

Haveria certamente um outro lugar onde colocar o presépio...

21.12.21

Inverno com chuva e COVID

Igr Jesus Cristo Santos Últimos Dias
Parece que o inverno chegou com chuva, cumprindo a expectativa de quem ainda tem memória das cheias que mergulhavam os campos em trabalhos de proteção dos muros para que as terras não partissem em definitivo. 
(A memória urbana das chuvas apenas regista o incómodo dos guarda-chuvas e de outros acessórios, apesar de tudo, da moda...)
Dizem-nos que a chuva veio gozar a quadra natalícia e a passagem de ano, depois, só a espaços e de forma intensiva, cairá.
Não sei se assim será, mas desconfio que não a valorizamos o suficiente - já ninguém convida a chuva para ficar, para nos fazer companhia... 
Já lá vão os tempos em que se ficava à escuta por detrás das vidraças ou, então, à lareira a pensar no infeliz menino deitado num estábulo distante e frio.
Na Palestina, nos próximos dias, vai chover, mas no dia 25, o sol estará de regresso.
Com chuva ou sem ela, desejo a todos um BOM NATAL e um 2022 sem COVID!

18.12.21

Outrora e outros tempos


Olga Tokarczuk no romance 'Outrora e Outros Tempos' leva-nos ao centro da tragédia de um país encravado entre estados expansionistas, utilizando uma estratégia narrativa peculiar - o tempo recorrente de diversas personagens prisioneiras do território e, sobretudo, do seu próprio corpo.
Nem Deus nem a Alma lhes valem de todo, quando os exércitos estrangeiros se enfrentam, roubando-lhes a vida ou, pior, mutilando-lhes definitivamente os corpos. E, absurdamente, na guerra todos morrem, sejam invadidos ou invasores...
A desumanização é uma consequência da guerra, tal como o esquecimento é a melhor solução para o fim da vida:
«Aprendeu a esquecer e o esquecimento trazia-lhe alívio (:..) Bastava-lhe não pensar durante um dia ...»

Este romance é, por um lado, extremamente cruel e, por outro lado, apaziguador: «Ignorar que se existe é libertar-se do tempo e da morte.»
Ainda assim, a leitura desta obra incita-me a aventurar-me um pouco mais na literatura polaca, já que a Polónia me está cada vez mais distante...

16.12.21

A avezinha

 

A avezinha é matreira, desaparece antes do clique ou esconde-se para que eu não possa sorrir...

A avezinha não imagina que o Natal se aproxima e que de tão minúcula escapará certamente à gula festiva.

A avezinha não quer saber que haja quem sonhe com um almirante na presidência e nostalgicamente com um presidente do conselho ditador...

A avezinha ignora que os príncipes da renascença são matreiros e que, sempre que pressentem o clique, sorriem e sacodem a cauda.

No entanto, pelo que observei, esta avezinha não é franciscana, pois detesta o Ideal.

15.12.21

O juiz e o arguido

Casal dos Machados


O dinheiro falta um pouco por todo o lado - há pedintes que já só pedem 50 cêntimos!

No entanto, o Juiz, em nome do Estado, chega a pedir 6 milhões para que o arguido possa ir esticar a pernas sem ser incomodado... 

Esta manhã, dei comigo a pensar que, longe de Deus, todos podemos almejar ser príncipes da renascença... e tem havido mesmo uns tantos que o têm conseguido ou, talvez, o Juiz tenha enlouquecido... 

Será que Deus o escolheu para cobrar o que lhe é devido?


14.12.21

Barcelona, lugar de poetização

 



De Barcelona a Barcelona com passagem por Frankfurt... assim desenho a viagem do António Manuel Venda. 

Em Frankfurt, tudo poderia ter sido diferente, mas não foi... a indecisão do momento gerou uma nostalgia impossível de superar, mesmo através da sublimação poética.

De facto, a arte, por mais que se defenda o contrário, não resolve a vida. Barcelona é assim um lugar em que o Autor poetiza o prosaico da realidade.

11.12.21

Dissonâncias 1


A notícia do dia, de tão repetida e comentada, ofende os ouvidos de quem ousa ligar o aparelho de televisão.
Não há político que não aproveite para se pronunciar sobre o 'crime' do rendeiro que ousou driblar os senhores que lhe alugaram bens e capitais, com a indispensável compensação.
Não há jurísta que não aproveite para se posicionar mediaticamente, à espera que os senhores não se esqueçam deles nos próximos arrendamentos...
Parece que o dia se esgota neste rosário de dissonâncias,  sob o olhar enigmático de Fernando Pessoa em Durban.

9.12.21

A mentira e a corrupção

 

As estatísticas vão engrossando, não faz mal, é a vontade do Senhor dos Tempos...

Ai a Idade! Para onde vão todas as Idades?

A  Mentira, cheia de compaixão, diz que seremos bem acolhidos e, sobretudo, libertados da solidão, da doença, da decadência do corpo - as almas elevar-se-ão à espera da ressurreição!

A verdade é que gostamos da Mentira, já não sabemos viver sem ela. E por estes dias, celebramo-la princepescamente...

E ainda há quem queira combater a corrupção, como se esta não fosse uma das faces da Mentira.

6.12.21

Esperamos, todos os anos

 


Esperamos que as luzes se acendam, mas para quê se nada muda?

Se ainda reconhecêssemos que vivemos na escuridão, talvez a espera  fizesse sentido, talvez a estrela nos pudesse sinalizar o caminho…

Quais magos, procuramos o reinício, mas sem ter consciência do caminho que seguimos…

Deixamo-nos embalar, deixamo-nos cativar… sem perceber que é tempo de romper com a inação…

de romper com a decadência.

3.12.21

O passageiro

 

«A ideia do além, do mundo-verdade foi inventada apenas para depreciar o único mundo que existe - para destituir a nossa realidade terrestre de todo o fim, razão e propósito!» Frederico Nietzche, Eu sou uma fatalidade, Ecce Homo.

Confesso que este alemão, que detestetava alemães, nacionalistas, e parecia apostar no homem europeu, me tem dado que pensar, sobretudo no que se refere ao peso da moral cristã no alastrar da cegueira humana...

Ao tomarmos como a válida a ideia de que todos estamos de passagem, estamos, afinal, a matar a a nossa razão de ser: criar. Deixamos a criação aos deuses e vamos arrastando os pés para o nada, ou, em alternativa, para o além, com maior ou menor compromisso.

Não fosse o servo cabrita ter desabafado que naquele carro mais não era que um passageiro, eu não teria tido a coragem de, no fervor natalício, me pronunciar sobre o mal-estar civilizacional em que mergulhámos - vamos lá celebrar o Natal, pouco importa se a morte chega em janeiro!

De passagem,  o condestável cabrita só terá de prestar contas ao criador que, certamente, terá em conta os serviços prestados...